O curioso caso das orelhas de abano do Cosme

09-05-2015
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O curioso caso das orelhas de abano do Cosme

Anda toda a gente indignada, como é habitual, desta vez com umas orelhas paquidérmicas num programa televisivo da SIC e que não inclui – surpreendentemente – o doutor Adão e Silva. Se este assunto não o entusiasma, pode indignar-se com outra coisa qualquer, só não caia na tentação de achar por bem dizer que algo está assim-assim: não precisamos de optimistas sem noção do mal que fazem ao negócio da indignação.

Aparentemente, na pós-produção, meteram umas orelhas animadas e genericamente abonadas – mesmo para a geração botox – num concorrente dos Ídolos, um programa televisivo que pretende encontrar pessoas para serem idolatradas por outras pessoas, isto de acordo com o nome. Um dos problemas dos ídolos é que há sempre quem não goste deles: quem nunca desenhou um bigodinho hitleriano no Portas, um pénis ao 25 de Abril para o Parque Eduardo VII ou uma ruga cansada na testa do Sócrates que atire a primeira pedra. O problema aqui é que se trata de um menor com algum atraso no desenvolvimento mental, como se comprova em termos hereditários pela autorização concedida pelos pais ao permitirem explicitamente que desconhecidos de um juri televisivo assumam o dever paternal pelos segundos suficientes para poupar o mundo de cantorias futuras. Bem, isto sou eu, que tendo a proteger os meus filhos de potenciais embaraços. Eu sei: um pai à moda antiga, pouco compatível com o mundo moderno da idolatria by proxy.

Bem, a SIC não se portou lá muito bem. Era óbvio que o miúdo ia ficar traumatizado, eventualmente lembrando pais e educadores que uma determinada quantia – em dinheiro, cheque não! – é terapia adequada para travar a insustentabilidade da espiral de sofrimento. Vai daí, arranja-se logo uma cena virtual, das que não exigem muito trabalho a preencher, como o pessoal da esquerda indignada e unionista conhece, tipo petição, e isto só termina quando o Presidente da República em pessoa excomungar para sempre o mau gosto televisivo (eu começaria pela RTP, mas isso é outro assunto).

Quem ainda não parece estar traumatizado com as orelhas de burro que os indignados lhe metem é o Cosme. Confesso, não sabia quem era a pessoa mas, entretanto, já vi a sua foto esparramada em tudo que é jornal, como é suposto acontecer sempre que alguém se indigna sem se preocupar com as consequências da sua indignação para o indignante. Aparentemente, até a procuradoria geral da república, cansada de coisas pouco importantes, vai investigar se o professor Cosme tem opiniões que publica. Eu podia ajudar dizendo já que sim, que publica opiniões. Isto da investigação é um risco enorme porque há sempre a hipótese de haver um investigador inteligente que chegue à conclusão que, afinal, o Cosme estava era a gozar com os indignados, o que seria indignante.

Mas quem me garante que o Cosme não está mesmo traumatizado em casa, com vergonha de sair à rua, ansioso que a petição ao senhor Presidente da República feche de uma vez por todas os blogues?

A minha proposta de resolução deste problema é a SIC comprometer-se a meter umas orelhas de burro no Cosme enquanto o miúdo aplaude e não se fala mais nisto. Outra hipótese é em dinheiro, cheque não.

O curioso caso das orelhas de abano do Cosme

Anda toda a gente indignada, como é habitual, desta vez com umas orelhas paquidérmicas num programa televisivo da SIC e que não inclui – surpreendentemente – o doutor Adão e Silva. Se este assunto não o entusiasma, pode indignar-se com outra coisa qualquer, só não caia na tentação de achar por bem dizer que algo está assim-assim: não precisamos de optimistas sem noção do mal que fazem ao negócio da indignação.

Aparentemente, na pós-produção, meteram umas orelhas animadas e genericamente abonadas – mesmo para a geração botox – num concorrente dos Ídolos, um programa televisivo que pretende encontrar pessoas para serem idolatradas por outras pessoas, isto de acordo com o nome. Um dos problemas dos ídolos é que há sempre quem não goste deles: quem nunca desenhou um bigodinho hitleriano no Portas, um pénis ao 25 de Abril para o Parque Eduardo VII ou uma ruga cansada na testa do Sócrates que atire a primeira pedra. O problema aqui é que se trata de um menor com algum atraso no desenvolvimento mental, como se comprova em termos hereditários pela autorização concedida pelos pais ao permitirem explicitamente que desconhecidos de um juri televisivo assumam o dever paternal pelos segundos suficientes para poupar o mundo de cantorias futuras. Bem, isto sou eu, que tendo a proteger os meus filhos de potenciais embaraços. Eu sei: um pai à moda antiga, pouco compatível com o mundo moderno da idolatria by proxy.

Bem, a SIC não se portou lá muito bem. Era óbvio que o miúdo ia ficar traumatizado, eventualmente lembrando pais e educadores que uma determinada quantia – em dinheiro, cheque não! – é terapia adequada para travar a insustentabilidade da espiral de sofrimento. Vai daí, arranja-se logo uma cena virtual, das que não exigem muito trabalho a preencher, como o pessoal da esquerda indignada e unionista conhece, tipo petição, e isto só termina quando o Presidente da República em pessoa excomungar para sempre o mau gosto televisivo (eu começaria pela RTP, mas isso é outro assunto).

Quem ainda não parece estar traumatizado com as orelhas de burro que os indignados lhe metem é o Cosme. Confesso, não sabia quem era a pessoa mas, entretanto, já vi a sua foto esparramada em tudo que é jornal, como é suposto acontecer sempre que alguém se indigna sem se preocupar com as consequências da sua indignação para o indignante. Aparentemente, até a procuradoria geral da república, cansada de coisas pouco importantes, vai investigar se o professor Cosme tem opiniões que publica. Eu podia ajudar dizendo já que sim, que publica opiniões. Isto da investigação é um risco enorme porque há sempre a hipótese de haver um investigador inteligente que chegue à conclusão que, afinal, o Cosme estava era a gozar com os indignados, o que seria indignante.

Mas quem me garante que o Cosme não está mesmo traumatizado em casa, com vergonha de sair à rua, ansioso que a petição ao senhor Presidente da República feche de uma vez por todas os blogues?

A minha proposta de resolução deste problema é a SIC comprometer-se a meter umas orelhas de burro no Cosme enquanto o miúdo aplaude e não se fala mais nisto. Outra hipótese é em dinheiro, cheque não.

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