Entre as brumas da memória: Rescaldo

01-07-2011
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Não vou citar percentagens. Não contabilizarei vencedores ou vencidos porque está quase tudo dito.
Às 20 h de ontem, o meu primeiro sentimento foi uma enorme compaixão por todos nós, o povo deste país, como se uma fatalidade continuasse a perseguir-nos e a castigar-nos por malfeitorias de que não somos responsáveis. Demasiado trágico e também falso: cinco anos não são uma eternidade e fomos nós que decidimos o que se passou.
Confirmados os péssimos resultados de Alegre, um outro sentimento igualmente incorrecto - «fiz o que pude e a mais não sou obrigada» - ou, em bom vernáculo, «que se lixem!».
E, no entanto:
- Se ainda fossem necessárias provas, o desfecho desta campanha veio confirmar o estado calamitoso a que chegámos, bem reflectido na gigantesca abstenção, no número significativo de brancos e de nulos, no peso do voto de protesto (difícil de identificar mas mais do que real) e na escolha de alguém que ficou simbólica e definitivamente retratado em dois vergonhosos «discursos de vitória».
- 23 de Janeiro de 2011 só pode ser um estímulo e uma porta escancarada para uma nova fase de luta, agora mais a sério e com carácter de urgência. É hoje – e não amanhã, muito menos daqui a cinco anos – que o descontentamento e a tristeza estão à espera de ser capitalizados. Para sairmos da crise que atravessamos sem servilismos ou espírito de martírio, para que não sejam permitidos silêncios quando há muitas explicações por dar, para impormos que os inquilinos de Belém e de S. Bento nos respeitem. Pura e simplesmente, porque queremos viver num país decente.
(Publicado também aqui.)
......

Não vou citar percentagens. Não contabilizarei vencedores ou vencidos porque está quase tudo dito.
Às 20 h de ontem, o meu primeiro sentimento foi uma enorme compaixão por todos nós, o povo deste país, como se uma fatalidade continuasse a perseguir-nos e a castigar-nos por malfeitorias de que não somos responsáveis. Demasiado trágico e também falso: cinco anos não são uma eternidade e fomos nós que decidimos o que se passou.
Confirmados os péssimos resultados de Alegre, um outro sentimento igualmente incorrecto - «fiz o que pude e a mais não sou obrigada» - ou, em bom vernáculo, «que se lixem!».
E, no entanto:
- Se ainda fossem necessárias provas, o desfecho desta campanha veio confirmar o estado calamitoso a que chegámos, bem reflectido na gigantesca abstenção, no número significativo de brancos e de nulos, no peso do voto de protesto (difícil de identificar mas mais do que real) e na escolha de alguém que ficou simbólica e definitivamente retratado em dois vergonhosos «discursos de vitória».
- 23 de Janeiro de 2011 só pode ser um estímulo e uma porta escancarada para uma nova fase de luta, agora mais a sério e com carácter de urgência. É hoje – e não amanhã, muito menos daqui a cinco anos – que o descontentamento e a tristeza estão à espera de ser capitalizados. Para sairmos da crise que atravessamos sem servilismos ou espírito de martírio, para que não sejam permitidos silêncios quando há muitas explicações por dar, para impormos que os inquilinos de Belém e de S. Bento nos respeitem. Pura e simplesmente, porque queremos viver num país decente.
(Publicado também aqui.)
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