Golpistas e democratas na URSS

08-09-2014
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“Qual foi a origem da criação do estado social? E penso que estamos todos de acordo, surgiu como uma necessidade de uma Europa fazer frente a um bloco comunista que era necessário combater. E evidentemente que não era possível faze-lo criando riqueza e não dando protecção social aos trabalhadores.”

Estas palavras são de Manuela Ferreira Leite. É uma mulher que sabe bem de que lado da barricada está. Sabe que o Estado social foi uma concessão das burguesias ocidentais à classe trabalhadora num período em que o prestígio da URSS não tinha fronteiras. Foi precisamente o que admitiu numa entrevista com Judite de Sousa e Medina Carreira na TVI.

Ainda assim, há quem à esquerda não consiga admitir o que a própria burguesia tem dificuldade em esconder. A URSS teve um papel fundamental nos avanços civilizacionais que se deram durante o século XX. Entre as contradições que mais me fascinam em determinados sectores políticos que se dizem de esquerda é a absoluta tolerância com que encaram o sistema eleitoral das democracias burguesas. A passividade com que aceitam os resultados do sufrágio contrasta com a violência com que rejeitam as decisões tomadas por povos que optaram por outro tipo de modelo político. Será assim tão difícil aceitar que a maioria dos que viviam na União Soviética podiam ter discordâncias particulares sobre várias questões políticas, económicas, sociais e culturais mas que, no fundamental, apoiavam o modelo socialista?

Uma longa história de mentiras: os golpistas e os democratas

Em 1991, quando o povo soviético foi chamado a dar a sua opinião sobre a manutenção da URSS, houve um ataque generalizado por parte da imprensa ocidental à credibilidade do sistema eleitoral do país dos sovietes. Essa ofensiva mediática não foi mais do que a exaltação das mentiras fabricadas pelo imperialismo norte-americano e europeu. Nessa campanha, participaram muitos dirigentes políticos que se afirmavam de esquerda.

A participação foi elevada. Oitenta por cento dos cidadãos acorreu à s urnas apesar do apelo ao boicote em seis das Repúblicas Soviéticas. Mais de 77 por cento – contra 22,2 por cento – apoiou a manutenção da URSS. Contudo, quando cinco meses depois, em Agosto, um grupo de dirigentes tentou reverter o processo contra-revolucionário em curso e defender o que havia sido democraticamente decidido pelo povo soviético, em Março, rapidamente se lançou um clamor contra os golpistas.

Quando, mais tarde, em 1993, o presidente da Rússia Boris Ieltsin violou a constituição e decidiu dissolver o Congresso dos Deputados do Povo e o Soviete Supremo ninguém questionou o carácter anti-democrático da decisão. A imprensa ocidental, a direita e a esquerda social-democrata navegaram entre o silêncio e o apoio declarado. Mas quando o Congresso dos Deputados do Povo destituiu Boris Ieltsin e nomeou para o seu lugar, como mandava a constituição, o vice-presidente Alexandre Rutskoi, o terror tomou conta das ruas.

Boris Ieltsin que controlava as forças armadas ordenou o bombardeamento do parlamento russo. A Casa Branca ficou destruída e debaixo dos escombros ficaram alguns dos deputados que ali se haviam encerrado para defender a constituição e a democracia. Nas barricadas que se levantaram por toda a capital russa e nos confrontos que se geraram com a polícia e o exército morreram várias centenas de pessoas. E que diferente era o discurso mediático e político sobre os acontecimentos. Em momento algum, Ieltsin foi apelidado de golpista e isto quando, agora sim, se tratava de um golpe de Estado.

Três anos mais tarde, em 1996, no rescaldo dos acontecimentos de 1993 e nas únicas eleições, até hoje, em que houve segunda volta desde o fim da URSS, Boris Ieltsin obteve, pelos dados oficiais, 53,82 por cento dos votos contra 40,31 por cento de Guennadi Ziuganov, secretário-geral do Partido Comunista da Federação Russa. Contudo, membros da equipa de Ieltsin admitiram há poucos meses que manipularam as eleições presidenciais de 1996.

Uma das notícias que nos chega através do El País indica que o próprio presidente da Rússia Medveded admite que se tenham forjado os resultados do sufrágio de 1996. Hoje, quando está mais do que claro quem é que violou a vontade do povo soviético, em 1991, a constituição, em 1993, e as eleições presidenciais, em 1996, há quem à esquerda continue a acompanhar todo o tipo de preconceitos contra os comunistas e o povo soviético. A quem servem, aos golpistas ou aos democratas?

“Qual foi a origem da criação do estado social? E penso que estamos todos de acordo, surgiu como uma necessidade de uma Europa fazer frente a um bloco comunista que era necessário combater. E evidentemente que não era possível faze-lo criando riqueza e não dando protecção social aos trabalhadores.”

Estas palavras são de Manuela Ferreira Leite. É uma mulher que sabe bem de que lado da barricada está. Sabe que o Estado social foi uma concessão das burguesias ocidentais à classe trabalhadora num período em que o prestígio da URSS não tinha fronteiras. Foi precisamente o que admitiu numa entrevista com Judite de Sousa e Medina Carreira na TVI.

Ainda assim, há quem à esquerda não consiga admitir o que a própria burguesia tem dificuldade em esconder. A URSS teve um papel fundamental nos avanços civilizacionais que se deram durante o século XX. Entre as contradições que mais me fascinam em determinados sectores políticos que se dizem de esquerda é a absoluta tolerância com que encaram o sistema eleitoral das democracias burguesas. A passividade com que aceitam os resultados do sufrágio contrasta com a violência com que rejeitam as decisões tomadas por povos que optaram por outro tipo de modelo político. Será assim tão difícil aceitar que a maioria dos que viviam na União Soviética podiam ter discordâncias particulares sobre várias questões políticas, económicas, sociais e culturais mas que, no fundamental, apoiavam o modelo socialista?

Uma longa história de mentiras: os golpistas e os democratas

Em 1991, quando o povo soviético foi chamado a dar a sua opinião sobre a manutenção da URSS, houve um ataque generalizado por parte da imprensa ocidental à credibilidade do sistema eleitoral do país dos sovietes. Essa ofensiva mediática não foi mais do que a exaltação das mentiras fabricadas pelo imperialismo norte-americano e europeu. Nessa campanha, participaram muitos dirigentes políticos que se afirmavam de esquerda.

A participação foi elevada. Oitenta por cento dos cidadãos acorreu à s urnas apesar do apelo ao boicote em seis das Repúblicas Soviéticas. Mais de 77 por cento – contra 22,2 por cento – apoiou a manutenção da URSS. Contudo, quando cinco meses depois, em Agosto, um grupo de dirigentes tentou reverter o processo contra-revolucionário em curso e defender o que havia sido democraticamente decidido pelo povo soviético, em Março, rapidamente se lançou um clamor contra os golpistas.

Quando, mais tarde, em 1993, o presidente da Rússia Boris Ieltsin violou a constituição e decidiu dissolver o Congresso dos Deputados do Povo e o Soviete Supremo ninguém questionou o carácter anti-democrático da decisão. A imprensa ocidental, a direita e a esquerda social-democrata navegaram entre o silêncio e o apoio declarado. Mas quando o Congresso dos Deputados do Povo destituiu Boris Ieltsin e nomeou para o seu lugar, como mandava a constituição, o vice-presidente Alexandre Rutskoi, o terror tomou conta das ruas.

Boris Ieltsin que controlava as forças armadas ordenou o bombardeamento do parlamento russo. A Casa Branca ficou destruída e debaixo dos escombros ficaram alguns dos deputados que ali se haviam encerrado para defender a constituição e a democracia. Nas barricadas que se levantaram por toda a capital russa e nos confrontos que se geraram com a polícia e o exército morreram várias centenas de pessoas. E que diferente era o discurso mediático e político sobre os acontecimentos. Em momento algum, Ieltsin foi apelidado de golpista e isto quando, agora sim, se tratava de um golpe de Estado.

Três anos mais tarde, em 1996, no rescaldo dos acontecimentos de 1993 e nas únicas eleições, até hoje, em que houve segunda volta desde o fim da URSS, Boris Ieltsin obteve, pelos dados oficiais, 53,82 por cento dos votos contra 40,31 por cento de Guennadi Ziuganov, secretário-geral do Partido Comunista da Federação Russa. Contudo, membros da equipa de Ieltsin admitiram há poucos meses que manipularam as eleições presidenciais de 1996.

Uma das notícias que nos chega através do El País indica que o próprio presidente da Rússia Medveded admite que se tenham forjado os resultados do sufrágio de 1996. Hoje, quando está mais do que claro quem é que violou a vontade do povo soviético, em 1991, a constituição, em 1993, e as eleições presidenciais, em 1996, há quem à esquerda continue a acompanhar todo o tipo de preconceitos contra os comunistas e o povo soviético. A quem servem, aos golpistas ou aos democratas?

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