o tempo das cerejas*: Sobre a Convenção do BE

01-07-2011
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Um sofisma como arma eleitoral Não desejo fazer comentários excessivamente desenvolvidos à Convenção do BE, não vá logo saltar a ideia de que lá está um comunista a «atacar» o delicado e polido Bloco de Esquerda que faz gala de não atacar ninguém (excepto as dezenas e dezenas de vezes em que o fez nos últimos 10 anos).Apenas desejo observar que raras vezes se terá visto um Congresso de um partido ser envolto e embrulhado num sofisma a meu ver tão notório e tão patente mas que nem a generalidade da comunicação social e dos comentadores nem centenas de democratas conseguem detectar.Na verdade, acabou ontem uma Convenção que decorreu sob o lema «Juntar forças», depois desenvolvido em variadas intervenções mas em que, tudo espremido, o que se conclui é que o BE reafirma a intenção de concorrer sozinho às três eleições deste ano (salvo onde precisar de encontrar um tábua de salvação como é o caso das autárquicas em Lisboa). E, por mais voltas que se dêem, a única conclusão que se tem de tirar é que, em ano eleitoral, aquele «juntar forças» só quer dizer «juntar forças» para reforçar a votação do BE, ambição alías perfeitamente legitima e natural que o PCP também proclamou sem encontrar tanta compreensão mediática e antes vendo esse seu objectivo transfigurado numa alegada hostilidade à «convergência à esquerda» (que, para quem não saiba, foi durante décadas qualificada como um dos mais cansativos «chavões» do PCP).Continuamos pois no reino dos sofismas e das prestidigitações que já tinham como antecedentes o facto de dois protagonistas políticos - o BE e Manuel Alegre - se fazerem campeões da «convergência» ao mesmo tempo que, por duas vezes, deliberadmente excluiam uma incontornável força de esquerda como o PCP de iniciativas apresentadas nesse âmbito e também o facto de de Manuel Alegre conseguir considerar que se rompeu o «tabu» da «incomunicabilidade» entre as forças de esquerda só porque o BE falou com ele, esquecidos um e outro que não quiseram falar com um terceiro.Acresce que é o facto de se aproximarem três eleições que porão à vista o que acabei de escrever no terceiro parágrafo que, para amortecer o choque futuro, obriga Francisco Louçã a advertir que o «entendimento» é para fazer «com tempo» e sem «nenhuma pressa» ao mesmo tempo que, para prolongar uma boa imagem junto dos apoiantes de Alegre, lhe acena já com o seu apoio a uma sua futura candidatura presidencial ( que, a meu ver, os dirigentes do PS, que no seu intímo devem julgar ser uma disputa eleitoral para perder, talvez não se importem de apoiar oficialmente).Uma coisa devo reconhecer: para os tempos de superficialidade que vivemos e também para a respeitável aspiração que compreensivelmente existe entre gente séria que quer, milagrosa e rapidamente, acabar com a trágica alternância PS-PSD, esta táctica não está nada mal pensada, não sendo por acaso que há quem diga que o PCP anda com «visões» mas já não chame «visão» à ilusão de que um conglomerado de forças à esquerda do PS (mesmo que incluisse o PCP) seria só por si bastante para construir uma alternativa de governo que representasse também uma política alternativa.Sim, a táctica, ou mais rigorosamente, o tacticismo não está mal pensado mas o seu êxito depende de uma coisa externa ao Bloco. É que boa parte deste tacticismo e dos seus lucros eleitorais para o Bloco vai por água abaixo se Manuel Alegre voltar a ser candidato à AR e voltar, como fez nos últimos 34 anos, a apelar ao voto no PS (que será também um voto em Sócrates).Tudo visto, está agora ainda mais claro porque é que ninguém respondeu séria e decentemente às questões que anteriormente levantei aqui, aqui e aqui.À esquerda, a primeira página do Público ( zero referências) sobre o primeiro dia de trabalhos do Congresso do PCP. À direita, a primeira página do mesmo jornal sobre o primeiro dia da Convenção do BE. Entendamo-nos porém: a segunda é que está certa e a primeira é que não o está.


Um sofisma como arma eleitoral Não desejo fazer comentários excessivamente desenvolvidos à Convenção do BE, não vá logo saltar a ideia de que lá está um comunista a «atacar» o delicado e polido Bloco de Esquerda que faz gala de não atacar ninguém (excepto as dezenas e dezenas de vezes em que o fez nos últimos 10 anos).Apenas desejo observar que raras vezes se terá visto um Congresso de um partido ser envolto e embrulhado num sofisma a meu ver tão notório e tão patente mas que nem a generalidade da comunicação social e dos comentadores nem centenas de democratas conseguem detectar.Na verdade, acabou ontem uma Convenção que decorreu sob o lema «Juntar forças», depois desenvolvido em variadas intervenções mas em que, tudo espremido, o que se conclui é que o BE reafirma a intenção de concorrer sozinho às três eleições deste ano (salvo onde precisar de encontrar um tábua de salvação como é o caso das autárquicas em Lisboa). E, por mais voltas que se dêem, a única conclusão que se tem de tirar é que, em ano eleitoral, aquele «juntar forças» só quer dizer «juntar forças» para reforçar a votação do BE, ambição alías perfeitamente legitima e natural que o PCP também proclamou sem encontrar tanta compreensão mediática e antes vendo esse seu objectivo transfigurado numa alegada hostilidade à «convergência à esquerda» (que, para quem não saiba, foi durante décadas qualificada como um dos mais cansativos «chavões» do PCP).Continuamos pois no reino dos sofismas e das prestidigitações que já tinham como antecedentes o facto de dois protagonistas políticos - o BE e Manuel Alegre - se fazerem campeões da «convergência» ao mesmo tempo que, por duas vezes, deliberadmente excluiam uma incontornável força de esquerda como o PCP de iniciativas apresentadas nesse âmbito e também o facto de de Manuel Alegre conseguir considerar que se rompeu o «tabu» da «incomunicabilidade» entre as forças de esquerda só porque o BE falou com ele, esquecidos um e outro que não quiseram falar com um terceiro.Acresce que é o facto de se aproximarem três eleições que porão à vista o que acabei de escrever no terceiro parágrafo que, para amortecer o choque futuro, obriga Francisco Louçã a advertir que o «entendimento» é para fazer «com tempo» e sem «nenhuma pressa» ao mesmo tempo que, para prolongar uma boa imagem junto dos apoiantes de Alegre, lhe acena já com o seu apoio a uma sua futura candidatura presidencial ( que, a meu ver, os dirigentes do PS, que no seu intímo devem julgar ser uma disputa eleitoral para perder, talvez não se importem de apoiar oficialmente).Uma coisa devo reconhecer: para os tempos de superficialidade que vivemos e também para a respeitável aspiração que compreensivelmente existe entre gente séria que quer, milagrosa e rapidamente, acabar com a trágica alternância PS-PSD, esta táctica não está nada mal pensada, não sendo por acaso que há quem diga que o PCP anda com «visões» mas já não chame «visão» à ilusão de que um conglomerado de forças à esquerda do PS (mesmo que incluisse o PCP) seria só por si bastante para construir uma alternativa de governo que representasse também uma política alternativa.Sim, a táctica, ou mais rigorosamente, o tacticismo não está mal pensado mas o seu êxito depende de uma coisa externa ao Bloco. É que boa parte deste tacticismo e dos seus lucros eleitorais para o Bloco vai por água abaixo se Manuel Alegre voltar a ser candidato à AR e voltar, como fez nos últimos 34 anos, a apelar ao voto no PS (que será também um voto em Sócrates).Tudo visto, está agora ainda mais claro porque é que ninguém respondeu séria e decentemente às questões que anteriormente levantei aqui, aqui e aqui.À esquerda, a primeira página do Público ( zero referências) sobre o primeiro dia de trabalhos do Congresso do PCP. À direita, a primeira página do mesmo jornal sobre o primeiro dia da Convenção do BE. Entendamo-nos porém: a segunda é que está certa e a primeira é que não o está.

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