A Europa – ou seja, a União Europeia ou a Europa polÃtica – está numa situação quase impossÃvel.
Por um lado é importante demais, e visÃvel demais, para que possa continuar a ser governada pelos faceless bureaucrats do costume, como dizia a Senhora Thatcher: a época do benign consent acabou para sempre, vai para quinze anos (o referendo dinamarquês sobre Maastricht, lembram-se?)
Por outro, não há opinião pública europeia digna desse nome e, pior, não há causas europeias – e por isso os europeus votam sempre contra a Europa (porque a U.E. é o pior de dois males: são polÃticos sem polÃticas).
Nesta encruzilhada, a ideia da Presidência alemã de relançar o processo de ratificação da Constituição europeia é de uma curteza de vistas assustadora.
Primeiro porque, por mais debates que se façam sobre o futuro da Europa, eles nunca hão-de interessar muita gente – porque ninguém se apaixona, em paÃs nenhum do mundo, e muito menos na U.E., que nem sequer é um paÃs, por discussões puramente “procedurais†(passe o galicismo): co-decisão para aqui, maiorias reforçadas para ali, subsidariedade para acolá.
Segundo, porque é não perceber nada da França nem da história francesa julgar que, depois de um referendo falhado, a ratificação pode passar agora por um simples voto parlamentar, mesmo que este seja empurrado por um(a) Presidente acabado(a) de eleger (e isto porque se presume muito justamente que, caso a Constituição Europeia vá outra vez a votos, é outra vez chumbada).
Na Alemanha, o Bundestag aprovou a moeda única contra a grande maioria do eleitorado – mas isso nunca seria possÃvel em França.
A supremacia de uma legitimidade parlamentar sobre uma legitimidade referendária só é possÃvel em dois dos três grandes da União: na Alemanha (porque razões históricas evidentes afastaram para sempre o recurso ao referendo, e porque o comportamento das massas é geralmente submisso e disciplinado) e no Reino Unido (devido ao ascendente polÃtico e simbólico do Parlamento e dos seus actos no sistema polÃtico britânico – mas mesmo aqui a questão não se põe com tanta clareza como na Alemanha, porque é sabido que a constituição deste paÃs está permanentemente aberta à revisão e o referendo está progressivamente a entrar nos seus mores polÃticos).
Em França, a legitimidade parlamentar ou representativa será sempre vista como uma representatividade formal e fraca, insusceptÃvel de concorrer com a mais forte legitimidade de um voto directo: a qui, a tradição parlamentar é fraca, a tradição referendária é forte e as massas são famosamente mal-comportadas.
Dizia ainda há poucos anos Aron (que sabia do que falava): Ce peuple, apparamment tranquille, est encore dangereux…
Ora se querem que a Europa seja percebida positivamente pelos eleitores, dêem-lhe conteúdo, dêem-lhe substância, identifiquem-na com uma causa, delimitem os seus apoiantes e definam os seus adversários – antes de se preocuparem com a Constituição.
Só há duas causas susceptÃveis de cumprir este papel: a defesa do “modelo social europeu” (contra a violência da globalização) e a defesa da paz (enquanto outro avatar da não-violência).
O Iraque foi a grande oportunidade da União Europeia: se a Europa fosse o partido da paz, a Europa seria o partido dos europeus.
Foi uma oportunidade perdida.
A Europa – ou seja, a União Europeia ou a Europa polÃtica – está numa situação quase impossÃvel.
Por um lado é importante demais, e visÃvel demais, para que possa continuar a ser governada pelos faceless bureaucrats do costume, como dizia a Senhora Thatcher: a época do benign consent acabou para sempre, vai para quinze anos (o referendo dinamarquês sobre Maastricht, lembram-se?)
Por outro, não há opinião pública europeia digna desse nome e, pior, não há causas europeias – e por isso os europeus votam sempre contra a Europa (porque a U.E. é o pior de dois males: são polÃticos sem polÃticas).
Nesta encruzilhada, a ideia da Presidência alemã de relançar o processo de ratificação da Constituição europeia é de uma curteza de vistas assustadora.
Primeiro porque, por mais debates que se façam sobre o futuro da Europa, eles nunca hão-de interessar muita gente – porque ninguém se apaixona, em paÃs nenhum do mundo, e muito menos na U.E., que nem sequer é um paÃs, por discussões puramente “procedurais†(passe o galicismo): co-decisão para aqui, maiorias reforçadas para ali, subsidariedade para acolá.
Segundo, porque é não perceber nada da França nem da história francesa julgar que, depois de um referendo falhado, a ratificação pode passar agora por um simples voto parlamentar, mesmo que este seja empurrado por um(a) Presidente acabado(a) de eleger (e isto porque se presume muito justamente que, caso a Constituição Europeia vá outra vez a votos, é outra vez chumbada).
Na Alemanha, o Bundestag aprovou a moeda única contra a grande maioria do eleitorado – mas isso nunca seria possÃvel em França.
A supremacia de uma legitimidade parlamentar sobre uma legitimidade referendária só é possÃvel em dois dos três grandes da União: na Alemanha (porque razões históricas evidentes afastaram para sempre o recurso ao referendo, e porque o comportamento das massas é geralmente submisso e disciplinado) e no Reino Unido (devido ao ascendente polÃtico e simbólico do Parlamento e dos seus actos no sistema polÃtico britânico – mas mesmo aqui a questão não se põe com tanta clareza como na Alemanha, porque é sabido que a constituição deste paÃs está permanentemente aberta à revisão e o referendo está progressivamente a entrar nos seus mores polÃticos).
Em França, a legitimidade parlamentar ou representativa será sempre vista como uma representatividade formal e fraca, insusceptÃvel de concorrer com a mais forte legitimidade de um voto directo: a qui, a tradição parlamentar é fraca, a tradição referendária é forte e as massas são famosamente mal-comportadas.
Dizia ainda há poucos anos Aron (que sabia do que falava): Ce peuple, apparamment tranquille, est encore dangereux…
Ora se querem que a Europa seja percebida positivamente pelos eleitores, dêem-lhe conteúdo, dêem-lhe substância, identifiquem-na com uma causa, delimitem os seus apoiantes e definam os seus adversários – antes de se preocuparem com a Constituição.
Só há duas causas susceptÃveis de cumprir este papel: a defesa do “modelo social europeu” (contra a violência da globalização) e a defesa da paz (enquanto outro avatar da não-violência).
O Iraque foi a grande oportunidade da União Europeia: se a Europa fosse o partido da paz, a Europa seria o partido dos europeus.
Foi uma oportunidade perdida.