Jorge Palinhos: Histórias mesmo curtas

09-09-2014
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Um dia, Hemingway escreveu uma história em seis palavras: “Vende-se: sapatos de bebé. Nunca usados”, e chamou-lhe a sua melhor história. Isto inspirou a revista Wired a pedir a vários escritores famosos (por razões do público-alvo da revista, maioritariamente ligados à ficção científica) a escreverem contos igualmente curtos, e inspirou-me a mim a traduzir alguns dos que gostei mais, com as únicas restrições de ser fiel ao espírito da história e fazê-lo também em 6 palavras. Razão para isso? Nenhuma além do gosto pessoal. Ou para os mais pensantes entre nós, porque a concisão é o elemento mais desejado da comunicação hoje, e eu estava curioso para ver como funcionaria exemplo tão extremo.

Aqui estão elas:

Computador, nós trouxemos pilhas? Computador? Computador?

– Eileen Gunn

Camisa tirada à pressa. Cabeça não.

– Joss Whedon

do tempo. Inesperadamente, inventara uma máquina

– Alan Moore

Eu desejei-o. Eu tive-o. Que merda.

– Margaret Atwood

O pénis dele rasgou-se; ele engravidou!

– Rudy Rucker

A Internet acordou? Estupi… Unknown error.

– Charles Stross

Com as mãos sangrentas, digo adeus.

– Frank Miller

Dia perdido. Vida perdida. A sobremesa.

– Steven Meretzky

Demasiado caro continuar a ser humano.

– Bruce Sterling

Atrás de ti! Corre antes que

– Rockne S. O’Bannon

Morri. E tive saudades tuas. Beijas-me?

– Neil Gaiman

O Kirby nunca tinha comido unhas.

– Kevin Smith

Para salvar a humanidade, morreu outra vez.

– Ben Bova

“Não acreditava que disparara sobre mim.”

– Howard Chaykin

Coração partido, 45, desejo conhecer mutilado.

– Mark Millar

Tic tac, tic tac, tic tic.

– Neal Stephenson

Epitáfio: Não o devia ter alimentado.

– Brian Herbert

Pensei que tinha razão. Não tinha.

– Graeme Gibson

Por favor, é tudo. Eu juro.

– Orson Scott Card

Isto serve? – perguntou o escritor preguiçoso.

– Ken MacLeod

No começo a Palavra já existia

– Gregory Maguire

Escândalo sexual mediático. Molusco gigante suspeito.

– Margaret Atwood

Leia: “É teu filho.” Luke: “Ups…”

– Steven Meretzky

Estas histórias no original, e outras, estão aqui: http://wired.com/wired/archive/14.11/sixwords.html

Que conclusão tirar? Não serão muitas, mas nota-se que a concisão em extremo tem a necessidade de partir do que o leitor já conhece, e não ir mais além. Isto porque a brevidade, tanto na ficção como no comentário ou na notícia, pressupõe retirar do texto todas as nuances e elementos estranhos que necessitem de explicação adicional. E sem corpos estranhos, o texto torna-se mais do mesmo, a confirmação do que já se conhece. Por isso, quem defende mais brevidade na comunicação, tem de considerar se não está a defender uma informação mais conformista e obediente ao mundo que temos.

P.S. – Quem se interessar por histórias curtas (talvez não tão curtas), tem uma boa fonte aqui: http://www.minguante.com

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Um dia, Hemingway escreveu uma história em seis palavras: “Vende-se: sapatos de bebé. Nunca usados”, e chamou-lhe a sua melhor história. Isto inspirou a revista Wired a pedir a vários escritores famosos (por razões do público-alvo da revista, maioritariamente ligados à ficção científica) a escreverem contos igualmente curtos, e inspirou-me a mim a traduzir alguns dos que gostei mais, com as únicas restrições de ser fiel ao espírito da história e fazê-lo também em 6 palavras. Razão para isso? Nenhuma além do gosto pessoal. Ou para os mais pensantes entre nós, porque a concisão é o elemento mais desejado da comunicação hoje, e eu estava curioso para ver como funcionaria exemplo tão extremo.

Aqui estão elas:

Computador, nós trouxemos pilhas? Computador? Computador?

– Eileen Gunn

Camisa tirada à pressa. Cabeça não.

– Joss Whedon

do tempo. Inesperadamente, inventara uma máquina

– Alan Moore

Eu desejei-o. Eu tive-o. Que merda.

– Margaret Atwood

O pénis dele rasgou-se; ele engravidou!

– Rudy Rucker

A Internet acordou? Estupi… Unknown error.

– Charles Stross

Com as mãos sangrentas, digo adeus.

– Frank Miller

Dia perdido. Vida perdida. A sobremesa.

– Steven Meretzky

Demasiado caro continuar a ser humano.

– Bruce Sterling

Atrás de ti! Corre antes que

– Rockne S. O’Bannon

Morri. E tive saudades tuas. Beijas-me?

– Neil Gaiman

O Kirby nunca tinha comido unhas.

– Kevin Smith

Para salvar a humanidade, morreu outra vez.

– Ben Bova

“Não acreditava que disparara sobre mim.”

– Howard Chaykin

Coração partido, 45, desejo conhecer mutilado.

– Mark Millar

Tic tac, tic tac, tic tic.

– Neal Stephenson

Epitáfio: Não o devia ter alimentado.

– Brian Herbert

Pensei que tinha razão. Não tinha.

– Graeme Gibson

Por favor, é tudo. Eu juro.

– Orson Scott Card

Isto serve? – perguntou o escritor preguiçoso.

– Ken MacLeod

No começo a Palavra já existia

– Gregory Maguire

Escândalo sexual mediático. Molusco gigante suspeito.

– Margaret Atwood

Leia: “É teu filho.” Luke: “Ups…”

– Steven Meretzky

Estas histórias no original, e outras, estão aqui: http://wired.com/wired/archive/14.11/sixwords.html

Que conclusão tirar? Não serão muitas, mas nota-se que a concisão em extremo tem a necessidade de partir do que o leitor já conhece, e não ir mais além. Isto porque a brevidade, tanto na ficção como no comentário ou na notícia, pressupõe retirar do texto todas as nuances e elementos estranhos que necessitem de explicação adicional. E sem corpos estranhos, o texto torna-se mais do mesmo, a confirmação do que já se conhece. Por isso, quem defende mais brevidade na comunicação, tem de considerar se não está a defender uma informação mais conformista e obediente ao mundo que temos.

P.S. – Quem se interessar por histórias curtas (talvez não tão curtas), tem uma boa fonte aqui: http://www.minguante.com

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