André Silva: “Há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa em coma”

17-10-2015
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O líder do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), o único dos pequenos partidos que conseguiu eleger um deputado, rejeita as categorias esquerda-centro-direita e diz que está disponível para negociar tanto com a coligação PSD/CDS como com o PS

Segundo a distribuição de lugares no Parlamento, deverá ficar sentado entre o PSD e o PS. Este lugar corresponde ao posicionamento político do PAN? Definem-se como um partido de centro?

Não sei se a distribuição dos lugares já está decidida. Houve uma sugestão, que foi feita sem que o deputado eleito do PAN tenha sido ouvido. Não houve esse cuidado e essa cortesia connosco.

Se lhe fosse permitido escolher, onde gostaria de sentar-se no hemiciclo?

Na primeira fila, porque sou um líder parlamentar como outro qualquer. E ao meio, entre o PSD e o PS, porque a distribuição dos lugares assim o dita. O PAN não se revê na categorização esquerda-centro-direita. O que defendemos não visa um eleitorado de esquerda ou de direita. Visa todas as pessoas. Defendemos valores que são transversais a todos os movimentos políticos e sociais.

Ainda assim, o seu programa tem medidas mais associadas à esquerda, como a adoção por casais homossexuais.

Somos claramente aliados da causa LGBT porque são pessoas vítimas de discriminação e o PAN luta contra todas as formas de discriminação. Agora se isso é entendido como uma medida de esquerda, deixamos isso à consideração dos jornalistas, dos comentadores e das outras pessoas. É preciso salientar que entre a comunidade LGBT há pessoas de esquerda e pessoas de direita.

Se o Presidente da República der posse a Passos Coelho e houver no Parlamento uma moção de rejeição do Governo PSD/CDS, qual será o seu voto?

É prematuro falar disso. Vamos ser ouvidos pelo Presidente da República na próxima quarta-feira. Ainda faltam alguns dias e a atualidade política muda ao minuto. Não sei se virá ou não a existir essa moção de que fala, mas se acontecer teremos que perceber o que ela traz e o que pretende. E perceber qual foi o posicionamento da PàF. Em função de tudo isso, tomaremos uma decisão.

António Costa classificou como construtivo o encontro que teve com o PAN. Poderá ajudar a viabilizar um Governo do PS com apoio da esquerda no Parlamento?

Foi uma primeira reunião exploratória para debatermos a atualidade política. Não se falou da possibilidade de existir uma coligação com o PAN. O PS disse-nos que está em conversações para a formação de um eventual governo de esquerda com o PCP e com o Bloco de Esquerda e deu a entender que poderemos convergir em algumas questões. O PAN está aqui para fazer parte da solução e não para dividir. O nosso papel poderá ser feito de várias formas, sem necessariamente fazer parte de um governo.

Acha estranho que o PS já vos tenha contactado e que a coligação PSD/CDS ainda não o tenha feito?

Fizeram-no esta manhã, através do secretário-geral do PSD, para a marcação de uma reunião informal e sem agenda, que terá lugar segunda-feira à tarde. O PAN dialogará e sentar-se-á à mesa com todos.

Tendo em conta o equilíbrio de forças no Parlamento, que solução de governo lhe parece dar mais garantias de estabilidade aos portugueses?

Depende daquilo que os partidos de esquerda consigam ou não acordar. Já tivemos vários governos minoritários e tudo depende da vontade de estabilidade política que os vários partidos queiram oferecer aos portugueses. Há várias soluções possíveis.

Ainda agora foi eleito e já me está a dar uma resposta de político, muito redonda...

Acho que os principais partidos portugueses devem ser suficientemente responsáveis para viabilizar entre eles a vontade dos portugueses. E o que os portugueses têm dito cada vez mais é que não querem maiorias absolutas de nenhum partido. Querem que os partidos se entendam. Daí que o voto nos partidos emergentes seja cada vez maior. Por isso, o PAN conseguiu uma eleição. E se tivéssemos um outro sistema eleitoral, com um único círculo, como defendemos e como acontece nas eleições presidenciais e nas europeias, o espetro político seria completamente diferente. O PAN teria 3 deputados e teríamos também deputados eleitos pelo PDR, pelo Livre e pelo MRPP.

Falou noutros pequenos partidos que acabaram por não conseguir eleger, mas que tiveram bastante mais cobertura mediática do que o PAN como o Livre ou o PDR. Como explica o sucesso da vossa campanha?

Lamentavelmente, os media preferiram dar cobertura, dentro dos partidos emergentes, a quem já tinha um rosto conhecido. O PAN chega à Assembleia da República porque tem causas bem definidas e valores que são transversais a toda a sociedade, mas que não são falados por nenhuma outra força política. Por outro lado, fizemos um grande trabalho de comunicação, sobretudo no último ano e meio. Alterámos a nossa presença nas redes sociais e atingimos padrões muito elevados no Facebook. Antes de começar a campanha, já tínhamos cerca de 75 mil "amigos" no Facebook. O segundo partido com mais amigos era o PS, com metade. Foi também isso, e muito trabalho feito no terreno, que nos catapultou para este resultado.

Para muitas pessoas é incompreensível que numa das maiores crises dos últimos anos, com um desemprego recorde e um aumento significativo da pobreza, haja cerca de 75 mil eleitores que parecem mais preocupados com os animais do que com as pessoas... Como responde a essas críticas?

Em primeiro lugar, o PAN não defende apenas a causa animal. É muito mais do que isso. Mais de metade do nosso programa político são medidas sociais, para as pessoas. Mas consideramos que não é possível defender as pessoas sem defender os animais e a Natureza, que é a nossa casa comum. Em última análise, a forma como estamos a viver, a produzir e a consumir está a pôr em risco a nossa própria sobrevivência, fazendo desaparecer os solos. Andamos a viver acima das possibilidades do planeta. A agricultura e a pecuária intensiva consomem 80% da água em Portugal e são a atividade que mais gases de efeito de estufa emite para o ambiente - 50%. Muito mais do que todos os transportes do mundo juntos. Mas não há coragem política para falar nestas questões.

Uma das primeiras medidas do programa do PAN é a redefinição do conceito de pessoa, o que pode parecer um bocadinho esotérico... O que quer dizer com isto?

O que é que define uma pessoa? A capacidade de pensar, a capacidade de sentir e a capacidade de interagir. Se sairmos do paradigma antropocêntrico, vamos perceber que há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa que está em coma, por exemplo. A capacidade de interação é superior. Neste momento, os animais têm o mesmo estatuto jurídico que uma mesa ou uma cadeira. São tidos como objetos. Têm consciência de si, sentem dor ou angústia, mas não têm qualquer tipo de direito. Por isso, a lei estabelece que se alguém maltratar um animal tem de indemnizar o dono do animal sobre o qual foi cometido o dano. Mas temos de ir muito mais além. Se as empresas têm personalidade jurídica, por que razão os animais não podem ter?

Uma medida que causou alguma polémica nas redes sociais foi a promoção dos copos menstruais. Como justifica esta medida?

É uma medida que não é nova no mundo. No Brasil muitas mulheres já usam os copos menstruais. É uma alternativa que fica financeiramente mais em conta para as mulheres e que tem um impacto ambiental muito menor. Em Portugal, 4% do lixo produzido tem a ver com a higiene íntima, nomeadamente tampões e pensos higiénicos. E temos tido um grande feedback a propósito dessa medida. Muitas mulheres têm entrado em contacto connosco a saber onde podem comprar. A maioria das farmácias ainda não vende, mas com esta exposição mediática se calhar vão passar a ter.

Outra das medidas que também provocou alguma celeuma foi a proibição do foie gras. Aliás, a palavra proibir aparece algumas vezes no programa. O PAN tem uma veia proibicionista?

Não. Mas é uma questão de dignidade mínima para os animais. O foie gras é um produto de luxo produzido de uma forma indigna, que provoca um sofrimento atroz aos patos e aos gansos. Deve ser proibido por uma questão ética.

O programa fala também em proibir a mutilação dos leitões. Não quer acabar com os leitões da Bairrada, não?

Relativamente aos leitões, o que se passa é que são criados em espaços muito exíguos e o rabo e os dentes são-lhes tirados a sangue frio para minimizar os atritos entre eles. Não queremos proibir a produção da carne, mas queremos seguramente proibir estas práticas.

Tem saudades de comer carne?

Nenhumas. Sou vegetariano estrito há 4 anos, o que significa que não como nenhum produto de origem animal, nem ovos, nem leite, queijo ou manteiga. Sei que não correspondo ao estereótipo do vegetariano. Sou um tipo gordinho, dá ideia que gosto de comer uns bifes. Mas o consumo de carne provoca-me alguma confusão.

Tendo apenas um lugar no Parlamento, terá pouca margem de atuação. Se só conseguisse fazer aprovar uma medida, qual seria?

Isso é uma pergunta muito ingrata porque eu acredito que vou conseguir aprovar mais. Mas diria talvez o fim dos abates nos canis. 100 mil animais são mortos todos os anos, só por uma questão de controlo populacional, que pode ser feito de outras formas. É preciso criar políticas de adoção eficazes, com benefícios fiscais para as pessoas que aceitem adotar e ter um animal. Daí defendermos que os tratamentos médico-veterinários devem ter uma taxa reduzida de IVA.

Qual foi a primeira coisa que fez quando percebeu que tinha sido eleito?

Dei um berro de alegria e abracei os meus companheiros. Vieram-me as lágrimas aos olhos porque são muitos anos de luta e é uma nova forma de ver o mundo. A primeira coisa que fiz foi esse abraço. Um gesto de afeto, que é uma coisa que fazemos muito no PAN. Manifestamos afetos, brincamos muito, dizemos asneiras... O ócio, o lazer, o dizer piadolas é extremamente importantes para nós.

E acha que vai conseguir encontrar esse ambiente no Parlamento?

Numa sessão legislativa isso não vai ser possível, obviamente. Mas já conheço algumas pessoas que são muito bem-dispostas.

B. I.

• nasceu a 2 de abril de 1976. tem 39 anos e é porta-voz do PAN desde 2012

• é engenheiro civil, especializado na reabilitação de património arquitetónico

• é vegan ou "vegetariano estrito", como prefere chamar-lhe, há quatro anos. Não come carne, peixe, nem qualquer produto de origem animal, incluindo lacticínios. E garante que não tem saudades

• pratica mergulho e biodança

• adoptou um cão há um ano e meio. Chamou-lhe "Nilo"

• acampar é o seu ideal de férias

O líder do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), o único dos pequenos partidos que conseguiu eleger um deputado, rejeita as categorias esquerda-centro-direita e diz que está disponível para negociar tanto com a coligação PSD/CDS como com o PS

Segundo a distribuição de lugares no Parlamento, deverá ficar sentado entre o PSD e o PS. Este lugar corresponde ao posicionamento político do PAN? Definem-se como um partido de centro?

Não sei se a distribuição dos lugares já está decidida. Houve uma sugestão, que foi feita sem que o deputado eleito do PAN tenha sido ouvido. Não houve esse cuidado e essa cortesia connosco.

Se lhe fosse permitido escolher, onde gostaria de sentar-se no hemiciclo?

Na primeira fila, porque sou um líder parlamentar como outro qualquer. E ao meio, entre o PSD e o PS, porque a distribuição dos lugares assim o dita. O PAN não se revê na categorização esquerda-centro-direita. O que defendemos não visa um eleitorado de esquerda ou de direita. Visa todas as pessoas. Defendemos valores que são transversais a todos os movimentos políticos e sociais.

Ainda assim, o seu programa tem medidas mais associadas à esquerda, como a adoção por casais homossexuais.

Somos claramente aliados da causa LGBT porque são pessoas vítimas de discriminação e o PAN luta contra todas as formas de discriminação. Agora se isso é entendido como uma medida de esquerda, deixamos isso à consideração dos jornalistas, dos comentadores e das outras pessoas. É preciso salientar que entre a comunidade LGBT há pessoas de esquerda e pessoas de direita.

Se o Presidente da República der posse a Passos Coelho e houver no Parlamento uma moção de rejeição do Governo PSD/CDS, qual será o seu voto?

É prematuro falar disso. Vamos ser ouvidos pelo Presidente da República na próxima quarta-feira. Ainda faltam alguns dias e a atualidade política muda ao minuto. Não sei se virá ou não a existir essa moção de que fala, mas se acontecer teremos que perceber o que ela traz e o que pretende. E perceber qual foi o posicionamento da PàF. Em função de tudo isso, tomaremos uma decisão.

António Costa classificou como construtivo o encontro que teve com o PAN. Poderá ajudar a viabilizar um Governo do PS com apoio da esquerda no Parlamento?

Foi uma primeira reunião exploratória para debatermos a atualidade política. Não se falou da possibilidade de existir uma coligação com o PAN. O PS disse-nos que está em conversações para a formação de um eventual governo de esquerda com o PCP e com o Bloco de Esquerda e deu a entender que poderemos convergir em algumas questões. O PAN está aqui para fazer parte da solução e não para dividir. O nosso papel poderá ser feito de várias formas, sem necessariamente fazer parte de um governo.

Acha estranho que o PS já vos tenha contactado e que a coligação PSD/CDS ainda não o tenha feito?

Fizeram-no esta manhã, através do secretário-geral do PSD, para a marcação de uma reunião informal e sem agenda, que terá lugar segunda-feira à tarde. O PAN dialogará e sentar-se-á à mesa com todos.

Tendo em conta o equilíbrio de forças no Parlamento, que solução de governo lhe parece dar mais garantias de estabilidade aos portugueses?

Depende daquilo que os partidos de esquerda consigam ou não acordar. Já tivemos vários governos minoritários e tudo depende da vontade de estabilidade política que os vários partidos queiram oferecer aos portugueses. Há várias soluções possíveis.

Ainda agora foi eleito e já me está a dar uma resposta de político, muito redonda...

Acho que os principais partidos portugueses devem ser suficientemente responsáveis para viabilizar entre eles a vontade dos portugueses. E o que os portugueses têm dito cada vez mais é que não querem maiorias absolutas de nenhum partido. Querem que os partidos se entendam. Daí que o voto nos partidos emergentes seja cada vez maior. Por isso, o PAN conseguiu uma eleição. E se tivéssemos um outro sistema eleitoral, com um único círculo, como defendemos e como acontece nas eleições presidenciais e nas europeias, o espetro político seria completamente diferente. O PAN teria 3 deputados e teríamos também deputados eleitos pelo PDR, pelo Livre e pelo MRPP.

Falou noutros pequenos partidos que acabaram por não conseguir eleger, mas que tiveram bastante mais cobertura mediática do que o PAN como o Livre ou o PDR. Como explica o sucesso da vossa campanha?

Lamentavelmente, os media preferiram dar cobertura, dentro dos partidos emergentes, a quem já tinha um rosto conhecido. O PAN chega à Assembleia da República porque tem causas bem definidas e valores que são transversais a toda a sociedade, mas que não são falados por nenhuma outra força política. Por outro lado, fizemos um grande trabalho de comunicação, sobretudo no último ano e meio. Alterámos a nossa presença nas redes sociais e atingimos padrões muito elevados no Facebook. Antes de começar a campanha, já tínhamos cerca de 75 mil "amigos" no Facebook. O segundo partido com mais amigos era o PS, com metade. Foi também isso, e muito trabalho feito no terreno, que nos catapultou para este resultado.

Para muitas pessoas é incompreensível que numa das maiores crises dos últimos anos, com um desemprego recorde e um aumento significativo da pobreza, haja cerca de 75 mil eleitores que parecem mais preocupados com os animais do que com as pessoas... Como responde a essas críticas?

Em primeiro lugar, o PAN não defende apenas a causa animal. É muito mais do que isso. Mais de metade do nosso programa político são medidas sociais, para as pessoas. Mas consideramos que não é possível defender as pessoas sem defender os animais e a Natureza, que é a nossa casa comum. Em última análise, a forma como estamos a viver, a produzir e a consumir está a pôr em risco a nossa própria sobrevivência, fazendo desaparecer os solos. Andamos a viver acima das possibilidades do planeta. A agricultura e a pecuária intensiva consomem 80% da água em Portugal e são a atividade que mais gases de efeito de estufa emite para o ambiente - 50%. Muito mais do que todos os transportes do mundo juntos. Mas não há coragem política para falar nestas questões.

Uma das primeiras medidas do programa do PAN é a redefinição do conceito de pessoa, o que pode parecer um bocadinho esotérico... O que quer dizer com isto?

O que é que define uma pessoa? A capacidade de pensar, a capacidade de sentir e a capacidade de interagir. Se sairmos do paradigma antropocêntrico, vamos perceber que há características mais humanas num chimpanzé ou num cão do que numa pessoa que está em coma, por exemplo. A capacidade de interação é superior. Neste momento, os animais têm o mesmo estatuto jurídico que uma mesa ou uma cadeira. São tidos como objetos. Têm consciência de si, sentem dor ou angústia, mas não têm qualquer tipo de direito. Por isso, a lei estabelece que se alguém maltratar um animal tem de indemnizar o dono do animal sobre o qual foi cometido o dano. Mas temos de ir muito mais além. Se as empresas têm personalidade jurídica, por que razão os animais não podem ter?

Uma medida que causou alguma polémica nas redes sociais foi a promoção dos copos menstruais. Como justifica esta medida?

É uma medida que não é nova no mundo. No Brasil muitas mulheres já usam os copos menstruais. É uma alternativa que fica financeiramente mais em conta para as mulheres e que tem um impacto ambiental muito menor. Em Portugal, 4% do lixo produzido tem a ver com a higiene íntima, nomeadamente tampões e pensos higiénicos. E temos tido um grande feedback a propósito dessa medida. Muitas mulheres têm entrado em contacto connosco a saber onde podem comprar. A maioria das farmácias ainda não vende, mas com esta exposição mediática se calhar vão passar a ter.

Outra das medidas que também provocou alguma celeuma foi a proibição do foie gras. Aliás, a palavra proibir aparece algumas vezes no programa. O PAN tem uma veia proibicionista?

Não. Mas é uma questão de dignidade mínima para os animais. O foie gras é um produto de luxo produzido de uma forma indigna, que provoca um sofrimento atroz aos patos e aos gansos. Deve ser proibido por uma questão ética.

O programa fala também em proibir a mutilação dos leitões. Não quer acabar com os leitões da Bairrada, não?

Relativamente aos leitões, o que se passa é que são criados em espaços muito exíguos e o rabo e os dentes são-lhes tirados a sangue frio para minimizar os atritos entre eles. Não queremos proibir a produção da carne, mas queremos seguramente proibir estas práticas.

Tem saudades de comer carne?

Nenhumas. Sou vegetariano estrito há 4 anos, o que significa que não como nenhum produto de origem animal, nem ovos, nem leite, queijo ou manteiga. Sei que não correspondo ao estereótipo do vegetariano. Sou um tipo gordinho, dá ideia que gosto de comer uns bifes. Mas o consumo de carne provoca-me alguma confusão.

Tendo apenas um lugar no Parlamento, terá pouca margem de atuação. Se só conseguisse fazer aprovar uma medida, qual seria?

Isso é uma pergunta muito ingrata porque eu acredito que vou conseguir aprovar mais. Mas diria talvez o fim dos abates nos canis. 100 mil animais são mortos todos os anos, só por uma questão de controlo populacional, que pode ser feito de outras formas. É preciso criar políticas de adoção eficazes, com benefícios fiscais para as pessoas que aceitem adotar e ter um animal. Daí defendermos que os tratamentos médico-veterinários devem ter uma taxa reduzida de IVA.

Qual foi a primeira coisa que fez quando percebeu que tinha sido eleito?

Dei um berro de alegria e abracei os meus companheiros. Vieram-me as lágrimas aos olhos porque são muitos anos de luta e é uma nova forma de ver o mundo. A primeira coisa que fiz foi esse abraço. Um gesto de afeto, que é uma coisa que fazemos muito no PAN. Manifestamos afetos, brincamos muito, dizemos asneiras... O ócio, o lazer, o dizer piadolas é extremamente importantes para nós.

E acha que vai conseguir encontrar esse ambiente no Parlamento?

Numa sessão legislativa isso não vai ser possível, obviamente. Mas já conheço algumas pessoas que são muito bem-dispostas.

B. I.

• nasceu a 2 de abril de 1976. tem 39 anos e é porta-voz do PAN desde 2012

• é engenheiro civil, especializado na reabilitação de património arquitetónico

• é vegan ou "vegetariano estrito", como prefere chamar-lhe, há quatro anos. Não come carne, peixe, nem qualquer produto de origem animal, incluindo lacticínios. E garante que não tem saudades

• pratica mergulho e biodança

• adoptou um cão há um ano e meio. Chamou-lhe "Nilo"

• acampar é o seu ideal de férias

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