O Cachimbo de Magritte: Repitam a receita. Eu agradeço.

03-07-2011
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Aproximam-se as presidenciais e lá vamos ter de ouvir e ler nova torrente de wishful thinking de opinadores e comentadores - os mesmos ou os herdeiros dos que há cinco anos afirmavam, com certeza absoluta, que Cavaco não conseguia tirar um voto à esquerda a Soares, que Soares era imbatível, que Cavaco (político calculista, frio, avesso ao risco, além de outras aleivosias como ser demasiado amigo do bolo rei) provavelmente repensaria a candidatura amedrontado com a possibilidade de se ver obrigado a defrontar o gigante Soares. Depois foi o que se sabe: Cavaco ganhou na primeira volta contra quatro candidatos de esquerda. E está por contabilizar o número de votos que Alegre recebeu de eleitores que queriam Cavaco na presidência, que votariam nele numa segunda volta, mas que quiseram, na primeira, dar uma lição a um Soares muito ressabiado e com a ideia de que era dono da república. Eu conheço muitos casos destes.Também nos devemos preparar para uma ronda de exibição de snobismo de esquerda, que não perdoa que alguém de origens humildes - como Cavaco Silva - ocupe um cargo que, para esta esquerda snob, moralmente pertence a alguém de 'boas famílias'. Mas, enfim, a esquerda sempre tendeu para igualizar por baixo as classes sociais e nunca viu com bons olhos quem quer subir na vida (excepto, claro, aqueles que sobem na vida apenas e só através da política).Assim, não é cedo de mais para começarmos a desmontar as certezas e as opiniões dos que, à esquerda, se engasgam por Cavaco ter vencido Soares e tudo o que desejam é que seja agora humilhado, e dos que, à direita (dizem eles, e eu não acredito), não apreciam um PR conservador nas questões fracturantes.Alguém com juízo considera que Alegre, o menino (salvo seja) querido do BE e apreciado pelo PCP seja o candidato preferencial do centro-esquerda? O tal centro-esquerda que votou em Cavaco em 1987, 1991 e 2006? Alegre, como no PS vozes sensatas já reconheceram, não faz o pleno da esquerda. De resto o problema da esquerda é que nenhum candidato de esquerda faz o pleno da esquerda. Jaime Gama não tem percurso para um embate com Cavaco Silva (Alegre, aliás, também não tem; o exílio, que lhe poderia dar uma aura romântica, não interessa nada à minha geração e às mais novas, que não têm paciência para discutir se alguém esteve na revolução ou na reacção) e é uma personagem mais ou menos indiferente. Guterres, o Monsieur Déficit (título que disputa com Sócrates), se for inteligente nunca mais se envolverá na política nacional; de qualquer forma, dificilmente um socialista moderado católico seria apoiado por BE e PCP.Por outro lado vai-se criando a ideia de que Alegre seria uma pedra no sapato de Sócrates maior do que Cavaco. Nada mais falso. Alegre sabe que só conseguirá (e ainda ainda assim com poucas probabilidades) chegar à presidência com o patrocínio do PS e não deixaria de lhe ser devidamente reconhecido. Se há coisa que não se cultiva no PS é a independência dos seus militantes. Nos momentos chave, o partido poderia estar descansado. Olhemos para outra irrelevância política que dá pelo nome de Jorge Sampaio: deixou, sem perceber o que se passava, que Guterres rebentasse com as contas públicas numa época de crescimento económico; a Durão Barroso e a Manuela Ferreira Leite disse que havia vida para além do défice; já Sócrates e a sua subida de impostos voltou a não o incomodar.Por fim, a morte política de Cavaco Silva foi manifestamente exagerada. O amuo dos eleitores não foi muito grande, sendo que se curou apenas com a aplicação de uma boa dose de realidade num discurso de Ano Novo. Melhor mesmo (para Cavaco) do que uma nova candidatura de Alegre, só uma candidatura de Alegre acompanhada de outra de Mário Soares.


Aproximam-se as presidenciais e lá vamos ter de ouvir e ler nova torrente de wishful thinking de opinadores e comentadores - os mesmos ou os herdeiros dos que há cinco anos afirmavam, com certeza absoluta, que Cavaco não conseguia tirar um voto à esquerda a Soares, que Soares era imbatível, que Cavaco (político calculista, frio, avesso ao risco, além de outras aleivosias como ser demasiado amigo do bolo rei) provavelmente repensaria a candidatura amedrontado com a possibilidade de se ver obrigado a defrontar o gigante Soares. Depois foi o que se sabe: Cavaco ganhou na primeira volta contra quatro candidatos de esquerda. E está por contabilizar o número de votos que Alegre recebeu de eleitores que queriam Cavaco na presidência, que votariam nele numa segunda volta, mas que quiseram, na primeira, dar uma lição a um Soares muito ressabiado e com a ideia de que era dono da república. Eu conheço muitos casos destes.Também nos devemos preparar para uma ronda de exibição de snobismo de esquerda, que não perdoa que alguém de origens humildes - como Cavaco Silva - ocupe um cargo que, para esta esquerda snob, moralmente pertence a alguém de 'boas famílias'. Mas, enfim, a esquerda sempre tendeu para igualizar por baixo as classes sociais e nunca viu com bons olhos quem quer subir na vida (excepto, claro, aqueles que sobem na vida apenas e só através da política).Assim, não é cedo de mais para começarmos a desmontar as certezas e as opiniões dos que, à esquerda, se engasgam por Cavaco ter vencido Soares e tudo o que desejam é que seja agora humilhado, e dos que, à direita (dizem eles, e eu não acredito), não apreciam um PR conservador nas questões fracturantes.Alguém com juízo considera que Alegre, o menino (salvo seja) querido do BE e apreciado pelo PCP seja o candidato preferencial do centro-esquerda? O tal centro-esquerda que votou em Cavaco em 1987, 1991 e 2006? Alegre, como no PS vozes sensatas já reconheceram, não faz o pleno da esquerda. De resto o problema da esquerda é que nenhum candidato de esquerda faz o pleno da esquerda. Jaime Gama não tem percurso para um embate com Cavaco Silva (Alegre, aliás, também não tem; o exílio, que lhe poderia dar uma aura romântica, não interessa nada à minha geração e às mais novas, que não têm paciência para discutir se alguém esteve na revolução ou na reacção) e é uma personagem mais ou menos indiferente. Guterres, o Monsieur Déficit (título que disputa com Sócrates), se for inteligente nunca mais se envolverá na política nacional; de qualquer forma, dificilmente um socialista moderado católico seria apoiado por BE e PCP.Por outro lado vai-se criando a ideia de que Alegre seria uma pedra no sapato de Sócrates maior do que Cavaco. Nada mais falso. Alegre sabe que só conseguirá (e ainda ainda assim com poucas probabilidades) chegar à presidência com o patrocínio do PS e não deixaria de lhe ser devidamente reconhecido. Se há coisa que não se cultiva no PS é a independência dos seus militantes. Nos momentos chave, o partido poderia estar descansado. Olhemos para outra irrelevância política que dá pelo nome de Jorge Sampaio: deixou, sem perceber o que se passava, que Guterres rebentasse com as contas públicas numa época de crescimento económico; a Durão Barroso e a Manuela Ferreira Leite disse que havia vida para além do défice; já Sócrates e a sua subida de impostos voltou a não o incomodar.Por fim, a morte política de Cavaco Silva foi manifestamente exagerada. O amuo dos eleitores não foi muito grande, sendo que se curou apenas com a aplicação de uma boa dose de realidade num discurso de Ano Novo. Melhor mesmo (para Cavaco) do que uma nova candidatura de Alegre, só uma candidatura de Alegre acompanhada de outra de Mário Soares.

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