"Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes

10-05-2015
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A história de cinco meninos que trabalham em vez de ir à escola tece o enredo da obra-prima de Soeiro Pereira Gomes. A miséria retratada em "Esteiros" é muito mais do que ficção, é a realidade de um país pobre, sem esperança, onde mais de metade da população não sabe ler nem escrever.

Da janela do quarto, Soeiro Pereira Gomes observava a luta trágica dos operários para sobreviver. Entre os homens havia crianças em idade de aprender as primeiras letras. Recolhiam o barro dos estreitos canais do rio Tejo, os esteiros, para dele fazerem telhas e tijolos. Trabalhavam a troco de um salário miserável, que os condenava à mendicidade, a uma vida sem saída da pobreza. O autor via tudo da janela da sua casa, em Alhandra, e refletia sobre a injustiça de uma sociedade opressora e exploradora, organizada em favor dos mais fortes. Em vez de calar, prefere denunciar com palavras e outros atos de resistência ao regime de Salazar.

Publicado em 1941, “Esteiros”, tem personagens inspiradas na realidade: Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Sagui, são “os filhos dos homens que nunca foram meninos”, dedicatória do autor a abrir o romance. A obra, uma das mais emblemáticas do movimento neorrealista português, é escrita numa linguagem acessível mas cuidada, com frases simples, privilegiando o discurso direto para dar voz aos oprimidos. A 1.ª edição tem capa e ilustrações de Álvaro Cunhal, o histórico fundador do PCP, o partido comunista português ao qual o escritor aderira em 1937.

Soeiro Pereira Gomes passa a infância no Douro, estuda em Coimbra, trabalha um ano em Angola e, finalmente, fixa residência na vila de Alhandra, onde decorre a ação deste seu primeiro romance. Antes, em 1931, escrevera o conto “O Capataz” mas a censura impede a publicação. Ele próprio é, de certa forma, um operário; trabalha nos escritórios de uma fábrica de cimento e conhece bem as condições desumanas praticadas naquela unidade fabril.

Por essa altura colabora em jornais e revistas, desenvolve atividades culturais, cria bibliotecas, ensina ginástica aos filhos dos operários e empenha-se na construção de uma piscina pública. Depois de liderar o movimento grevista da fábrica Cimento Tejo de Alhandra, é obrigado a passar à clandestinidade e afastar-se para sempre da sua mulher, entretanto presa pela PIDE para o obrigar a entregar-se.

Veja Também Prisão do Aljube: a tortura passou por aqui

O romancista militante, apanhado pela morte aos 40 anos, deixa uma obra breve, mas marcante: dois romances – “Engrenagem” e “Esteiros”- , um livro de contos – “Contos Vermelhos”- , crónicas e contos avulsos que foram sendo publicados. A produção literária é todavia suficiente para fazer de Soeiro Pereira Gomes (1909-19499) um dos nomes maiores do neorrealismo português.

Veja Também Neorrealismo na arte portuguesa

A história de cinco meninos que trabalham em vez de ir à escola tece o enredo da obra-prima de Soeiro Pereira Gomes. A miséria retratada em "Esteiros" é muito mais do que ficção, é a realidade de um país pobre, sem esperança, onde mais de metade da população não sabe ler nem escrever.

Da janela do quarto, Soeiro Pereira Gomes observava a luta trágica dos operários para sobreviver. Entre os homens havia crianças em idade de aprender as primeiras letras. Recolhiam o barro dos estreitos canais do rio Tejo, os esteiros, para dele fazerem telhas e tijolos. Trabalhavam a troco de um salário miserável, que os condenava à mendicidade, a uma vida sem saída da pobreza. O autor via tudo da janela da sua casa, em Alhandra, e refletia sobre a injustiça de uma sociedade opressora e exploradora, organizada em favor dos mais fortes. Em vez de calar, prefere denunciar com palavras e outros atos de resistência ao regime de Salazar.

Publicado em 1941, “Esteiros”, tem personagens inspiradas na realidade: Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Sagui, são “os filhos dos homens que nunca foram meninos”, dedicatória do autor a abrir o romance. A obra, uma das mais emblemáticas do movimento neorrealista português, é escrita numa linguagem acessível mas cuidada, com frases simples, privilegiando o discurso direto para dar voz aos oprimidos. A 1.ª edição tem capa e ilustrações de Álvaro Cunhal, o histórico fundador do PCP, o partido comunista português ao qual o escritor aderira em 1937.

Soeiro Pereira Gomes passa a infância no Douro, estuda em Coimbra, trabalha um ano em Angola e, finalmente, fixa residência na vila de Alhandra, onde decorre a ação deste seu primeiro romance. Antes, em 1931, escrevera o conto “O Capataz” mas a censura impede a publicação. Ele próprio é, de certa forma, um operário; trabalha nos escritórios de uma fábrica de cimento e conhece bem as condições desumanas praticadas naquela unidade fabril.

Por essa altura colabora em jornais e revistas, desenvolve atividades culturais, cria bibliotecas, ensina ginástica aos filhos dos operários e empenha-se na construção de uma piscina pública. Depois de liderar o movimento grevista da fábrica Cimento Tejo de Alhandra, é obrigado a passar à clandestinidade e afastar-se para sempre da sua mulher, entretanto presa pela PIDE para o obrigar a entregar-se.

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