Vias de Facto: Os Seres Humanos em geral e o PCP em particular

21-01-2012
marcar artigo


Se eu fosse cientista político, um dia fazia uma tipologia intitulada “Os Seres Humanos em Geral e o PCP em Particular”. Inventariaria então vários tipos, aqui alinhados de modo algo aleatório: a) os seres humanos que são membros do secretariado do Comité Central do PCP; b) os restantes dirigentes do PCP; c) os militantes do PCP que não são dirigentes; d) os eleitores da CDU que não são militantes do PCP; e) os que não são do PCP mas são comunistas; f) os que não são comunistas mas não são anti-comunistas; g) os ex-militantes do PCP que votam no PCP; h) os ex-militantes do PCP que odeiam o PCP; i) os que votam no PS ou no BE porque o PCP será demasiado provinciano; j) os que votam no PCP porque apesar de tudo no PCP ninguém rouba; k) os que gostam do PCP porque o gajo do sindicato é chato mas mais vale ele existir do que ele não existir; l) o José Pacheco Pereira; m) alguns pequenos negociantes, como um meu ex-vizinho, que era incapaz de não sorrir no dia do funeral do Cunhal; n) o povo anti-comunista em geral, como o gajo que passou por mim num Renault 5 no dia do funeral do Cunhal e começou a chamar nomes a uns camaradas que levavam consigo uma bandeira vermelha; o) os militantes do PCP que não querem uma aliança com o PS mas que não fazem disso uma questão de princípio; p) os militantes do PCP que jamais quererão uma aliança com o PS; q) os militantes brejnevistas; r) os militantes estalinistas; s) os militantes que se estão a cagar para a História da URSS; t) os militantes de Os Verdes; u) o grande capital, mas também o médio e o pequeno; v) os esquerdistas em geral, embora com diferenças importantes entre si; w) os jornalistas em geral, e neste caso digo bem quando digo em geral; x) os dirigentes comunistas chineses (já alguém se perguntou o que eles pensarão acerca do PCP, que lugar lhe reservam no quadro das suas relações internacionais?); y) a direcção do jornal Avante!; z) eu próprio, é claro, que isto de fazer tipologias com a vida dos outros é demasiado fácil.Além do abecedário, há ainda os tipos que, de tanto se quererem identificar com o PCP, acabam por dele se desviar num estilo cada vez menos confundível. No pequno jardim blogoesférico em que me movo, há dois casos do género: o primeiro é o caso de Carlos Vidal, que agora se lembrou de achar que lhe seria indiferente que fosse um nazi ou outro tipo qualquer a dizer mal do Sócrates, porque o valor jurídico do que se diz não se mede por quem o diz. Esquece, e nisso é surpreendentemente secundado por outros camaradas de blogue, que o problema jurídico é apenas e só um problema jurídico. A mim, sinceramente, não é algo que me preocupe por aí além. A política pode também passar por aí, mas não passará, seguramente, apenas por aí. A política é também outras coisas e algumas delas obrigam qualquer comunista, próximo ou não ao PCP, a traçar uma linha de fronteira absolutamente rígida entre si e um nazi. Aqui, não há que poupar na ortodoxia. O segundo caso é o do jovem intelectual comunista marxista-leninista do PCP João Valente Aguiar (está bem assim?), que por mais do que uma vez insiste em vir a este blogue lembrar os nossos três leitores diários que eu não sou comunista, entre outras coisas porque não defendo a ditadura do proletariado. O Miguel Serras Pereira, sobre isto, já escreveu um post em relação ao qual pouco tenho a adiantar. Mas não queria deixar de dizer o seguinte: nem eu defendo a ditadura do proletariado nem o PCP defende a ditadura do proletariado. É questão de ler os documentos do partido. Não custa, aprende-se alguma coisa, consta que é um dever do militante e ainda conseguimos evitar incorrer no chamado friendly fire. Porque de uma coisa o PCP não precisa: é de dirigentes e militantes que fujam à linha decidida de modo democrático (ainda que de modo centralista) pelo colectivo partidário. E essa linha tanto critica o camarada Estaline como abandonou qualquer ideia de ditadura do proletariado. Haja respeito. (E escrevo-o sem ponta de ironia).


Se eu fosse cientista político, um dia fazia uma tipologia intitulada “Os Seres Humanos em Geral e o PCP em Particular”. Inventariaria então vários tipos, aqui alinhados de modo algo aleatório: a) os seres humanos que são membros do secretariado do Comité Central do PCP; b) os restantes dirigentes do PCP; c) os militantes do PCP que não são dirigentes; d) os eleitores da CDU que não são militantes do PCP; e) os que não são do PCP mas são comunistas; f) os que não são comunistas mas não são anti-comunistas; g) os ex-militantes do PCP que votam no PCP; h) os ex-militantes do PCP que odeiam o PCP; i) os que votam no PS ou no BE porque o PCP será demasiado provinciano; j) os que votam no PCP porque apesar de tudo no PCP ninguém rouba; k) os que gostam do PCP porque o gajo do sindicato é chato mas mais vale ele existir do que ele não existir; l) o José Pacheco Pereira; m) alguns pequenos negociantes, como um meu ex-vizinho, que era incapaz de não sorrir no dia do funeral do Cunhal; n) o povo anti-comunista em geral, como o gajo que passou por mim num Renault 5 no dia do funeral do Cunhal e começou a chamar nomes a uns camaradas que levavam consigo uma bandeira vermelha; o) os militantes do PCP que não querem uma aliança com o PS mas que não fazem disso uma questão de princípio; p) os militantes do PCP que jamais quererão uma aliança com o PS; q) os militantes brejnevistas; r) os militantes estalinistas; s) os militantes que se estão a cagar para a História da URSS; t) os militantes de Os Verdes; u) o grande capital, mas também o médio e o pequeno; v) os esquerdistas em geral, embora com diferenças importantes entre si; w) os jornalistas em geral, e neste caso digo bem quando digo em geral; x) os dirigentes comunistas chineses (já alguém se perguntou o que eles pensarão acerca do PCP, que lugar lhe reservam no quadro das suas relações internacionais?); y) a direcção do jornal Avante!; z) eu próprio, é claro, que isto de fazer tipologias com a vida dos outros é demasiado fácil.Além do abecedário, há ainda os tipos que, de tanto se quererem identificar com o PCP, acabam por dele se desviar num estilo cada vez menos confundível. No pequno jardim blogoesférico em que me movo, há dois casos do género: o primeiro é o caso de Carlos Vidal, que agora se lembrou de achar que lhe seria indiferente que fosse um nazi ou outro tipo qualquer a dizer mal do Sócrates, porque o valor jurídico do que se diz não se mede por quem o diz. Esquece, e nisso é surpreendentemente secundado por outros camaradas de blogue, que o problema jurídico é apenas e só um problema jurídico. A mim, sinceramente, não é algo que me preocupe por aí além. A política pode também passar por aí, mas não passará, seguramente, apenas por aí. A política é também outras coisas e algumas delas obrigam qualquer comunista, próximo ou não ao PCP, a traçar uma linha de fronteira absolutamente rígida entre si e um nazi. Aqui, não há que poupar na ortodoxia. O segundo caso é o do jovem intelectual comunista marxista-leninista do PCP João Valente Aguiar (está bem assim?), que por mais do que uma vez insiste em vir a este blogue lembrar os nossos três leitores diários que eu não sou comunista, entre outras coisas porque não defendo a ditadura do proletariado. O Miguel Serras Pereira, sobre isto, já escreveu um post em relação ao qual pouco tenho a adiantar. Mas não queria deixar de dizer o seguinte: nem eu defendo a ditadura do proletariado nem o PCP defende a ditadura do proletariado. É questão de ler os documentos do partido. Não custa, aprende-se alguma coisa, consta que é um dever do militante e ainda conseguimos evitar incorrer no chamado friendly fire. Porque de uma coisa o PCP não precisa: é de dirigentes e militantes que fujam à linha decidida de modo democrático (ainda que de modo centralista) pelo colectivo partidário. E essa linha tanto critica o camarada Estaline como abandonou qualquer ideia de ditadura do proletariado. Haja respeito. (E escrevo-o sem ponta de ironia).

marcar artigo