O Comércio do Porto

22-12-2004
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Inspectores da PJ evitam telemóvel com o medo das escutas telefónicas Novos dirigentes da Polícia Judiciária apostam em recuperar a establidade na Directoria do Porto SERVIÇOS Imprimir esta página Contactar Anterior Voltar Seguinte Multimédia Imagens

O novo director da PJ do Porto já recebeu o pessoal da instituição e vai prosseguir hoje com visitas a departamentos da Directoria do Porto

JOAQUIM GOMES

O receio generalizado entre a Directoria do Porto da PJ por causa das escutas telefónicas, na sequência do caso "Apito Dourado", causou grande desconfiança junto dos próprios inspectores, que evitam falar ao telemóvel, incluindo também os ex-dirigentes segundo apurou o COMÉRCIO.

"Neste momento quase não se fala ao telefone, a não ser para as coisas mais banais", segundo um investigador criminal da Polícia Judiciária (PJ) face ao clima pesado que se vive na Directoria.

Dos mais altos dirigentes até aos homens do terreno, evita-se falar ao telefone, porque nem no seio da Judiciária se pensava ser possível andar a escutar tantas pessoas durante tanto tempo, às escondidas. "Quem sabe como as coisas se fazem, agora toma todas as precauções, porque embora não se tenha nada a temer, não é possível falar ao telemóvel à vontade", referiu um investigador, contactado fora das instalações da PJ do Porto, pois "ninguém confia em ninguém" e espera-se ansiosamente que seja mudada a forma de trabalhar na PJ do Porto.

A forma de secretismo de que se rodeou a investigação ao caso "Apito Dourado" conduziu a um clima nunca visto dentro da PJ do Porto, pelo menos desde há quase 20 anos, quando rebentou o escândalo "Sãobentogate", a propósito da corrupção no seio da Directoria do Porto da PJ.

Daí a preocupação da nova direcção da PJ do Porto em falar com os profissionais. No dia de ontem, os três dirigentes, Ataíde das Neves, Reis Martins e Dias da Silva receberam dentro do anfiteatro da instituição, em Pereira Reis, todos os inspectores e demais pessoal, uma vez que na expressão de um responsável da PJ do Porto, "há gente quase estropiada com as situações que se viviam até há pouco tempo".

O juiz Ataíde das Neves quis conhecer, um a um, todos os seus novos subordinados, pelo que o anfiteatro foi pequeno para receber os profissionais que iam passando pelas instalações. Mas o novo director ainda não teve tempo de conhecer todos os cantos à casa. Aatíde das Neves já reuniu com os coordenadores da investigação criminal e sabe-se que é ponto de honra não mudar a equipa que investiga o "Apito Dourado". Pelo contrário, até se equaciona a hipótese de reforçar a brigada do inspector-chefe da PJ, António Gomes. "É uma boa investigação e o que não correu bem foram aspectos laterais, pois a questão de fundo, a corrupção na arbitragem do futebol, foi um belo trabalho". O resto não tanto.

A ida de Ataíde das Neves, de Coimbra para o Porto, não foi nada fácil, o que se percebeu na sua tomada de posse, em Lisboa, dada a emotividade com que leu um soneto do pai, um antigo juiz de Coimbra, falecido domingo e sepultado terça-feira, na véspera da posse.

João Manuel Ataíde das Neves, de 82 anos, um distinto magistrado, tinha dois filhos, igualmente juízes: o novo director da PJ do Porto, João Albino Raínho Ataíde das Neves, de 46 anos, bem como o seu irmão, Nuno Ângelo, mais novo dois anos, actualmente nas funções de Inspector-Geral do Trabalho.

O dia de ontem foi trágico na família de um dos visados com a operação "Apito Dourado", que não sendo arguido, teve em casa uma busca da PJ. O empreiteiro Joaquim Camilo Nunes da Silva perdeu o filho, Emanuel, com 28 anos, arquitecto, que morreu em acidente de viação perto de Leiria. O jovem andava abalado com a busca ao domicílio dos pais, em Canidelo, Vila do Conde, devido à reacção da mãe à situação vivida a 20 de Abril, na operação"Apito Dourado".

Entretanto, Teófilo Santiago, um dos dois subdirectores que se demitiu da PJ do Porto, disse ao COMÉRCIO "estar a gozar umas merecidíssimas férias", mas que em breve regressará à Inspecção da PJ de Aveiro, para o trabalho.

Curiosamente, o coordenador Teófilo Santiago foi o único dos profissionais da PJ que não teve qualquer receio de falar pelo seu telemóvel com o COMÉRCIO.

Entretanto, Durão Barroso pediu para os partidos políticos não se imiscuirem na Justiça, a propósito dos pedidos do PS e PCP para a audição parlamentar de Adelino Salvado, o director nacional da PJ. O magistrado presidiu ao primeiro julgamento do processo "FP-25" e esteve a trabalhar depois em Nova Iorque, junto da missão de Portugal na ONU.

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O Comércio do Porto é um produto da Editorial Prensa Ibérica.

Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos oferecidos através deste meio, salvo autorização expressa de O Comércio do Porto

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JOAQUIM GOMES

O receio generalizado entre a Directoria do Porto da PJ por causa das escutas telefónicas, na sequência do caso "Apito Dourado", causou grande desconfiança junto dos próprios inspectores, que evitam falar ao telemóvel, incluindo também os ex-dirigentes segundo apurou o COMÉRCIO.

"Neste momento quase não se fala ao telefone, a não ser para as coisas mais banais", segundo um investigador criminal da Polícia Judiciária (PJ) face ao clima pesado que se vive na Directoria.

Dos mais altos dirigentes até aos homens do terreno, evita-se falar ao telefone, porque nem no seio da Judiciária se pensava ser possível andar a escutar tantas pessoas durante tanto tempo, às escondidas. "Quem sabe como as coisas se fazem, agora toma todas as precauções, porque embora não se tenha nada a temer, não é possível falar ao telemóvel à vontade", referiu um investigador, contactado fora das instalações da PJ do Porto, pois "ninguém confia em ninguém" e espera-se ansiosamente que seja mudada a forma de trabalhar na PJ do Porto.

A forma de secretismo de que se rodeou a investigação ao caso "Apito Dourado" conduziu a um clima nunca visto dentro da PJ do Porto, pelo menos desde há quase 20 anos, quando rebentou o escândalo "Sãobentogate", a propósito da corrupção no seio da Directoria do Porto da PJ.

Daí a preocupação da nova direcção da PJ do Porto em falar com os profissionais. No dia de ontem, os três dirigentes, Ataíde das Neves, Reis Martins e Dias da Silva receberam dentro do anfiteatro da instituição, em Pereira Reis, todos os inspectores e demais pessoal, uma vez que na expressão de um responsável da PJ do Porto, "há gente quase estropiada com as situações que se viviam até há pouco tempo".

O juiz Ataíde das Neves quis conhecer, um a um, todos os seus novos subordinados, pelo que o anfiteatro foi pequeno para receber os profissionais que iam passando pelas instalações. Mas o novo director ainda não teve tempo de conhecer todos os cantos à casa. Aatíde das Neves já reuniu com os coordenadores da investigação criminal e sabe-se que é ponto de honra não mudar a equipa que investiga o "Apito Dourado". Pelo contrário, até se equaciona a hipótese de reforçar a brigada do inspector-chefe da PJ, António Gomes. "É uma boa investigação e o que não correu bem foram aspectos laterais, pois a questão de fundo, a corrupção na arbitragem do futebol, foi um belo trabalho". O resto não tanto.

A ida de Ataíde das Neves, de Coimbra para o Porto, não foi nada fácil, o que se percebeu na sua tomada de posse, em Lisboa, dada a emotividade com que leu um soneto do pai, um antigo juiz de Coimbra, falecido domingo e sepultado terça-feira, na véspera da posse.

João Manuel Ataíde das Neves, de 82 anos, um distinto magistrado, tinha dois filhos, igualmente juízes: o novo director da PJ do Porto, João Albino Raínho Ataíde das Neves, de 46 anos, bem como o seu irmão, Nuno Ângelo, mais novo dois anos, actualmente nas funções de Inspector-Geral do Trabalho.

O dia de ontem foi trágico na família de um dos visados com a operação "Apito Dourado", que não sendo arguido, teve em casa uma busca da PJ. O empreiteiro Joaquim Camilo Nunes da Silva perdeu o filho, Emanuel, com 28 anos, arquitecto, que morreu em acidente de viação perto de Leiria. O jovem andava abalado com a busca ao domicílio dos pais, em Canidelo, Vila do Conde, devido à reacção da mãe à situação vivida a 20 de Abril, na operação"Apito Dourado".

Entretanto, Teófilo Santiago, um dos dois subdirectores que se demitiu da PJ do Porto, disse ao COMÉRCIO "estar a gozar umas merecidíssimas férias", mas que em breve regressará à Inspecção da PJ de Aveiro, para o trabalho.

Curiosamente, o coordenador Teófilo Santiago foi o único dos profissionais da PJ que não teve qualquer receio de falar pelo seu telemóvel com o COMÉRCIO.

Entretanto, Durão Barroso pediu para os partidos políticos não se imiscuirem na Justiça, a propósito dos pedidos do PS e PCP para a audição parlamentar de Adelino Salvado, o director nacional da PJ. O magistrado presidiu ao primeiro julgamento do processo "FP-25" e esteve a trabalhar depois em Nova Iorque, junto da missão de Portugal na ONU.

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