Da Literatura: ELES SABEM O QUE ELA VIU

30-09-2009
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Um advogado adere com zelo à lista dos apoiantes de Bénard da Costa (entre outros, Manoel de Oliveira, Vasco Pulido Valente, Maria João Avillez, Eduardo Prado Coelho e Pedro Costa). Nada contra. Nisto tudo, uma evidência: depois do affaire Lagarto, a ministra da Cultura ficou refém do terror. Mas assim não vai a lado nenhum. As personalidades que tenta amolecer, propondo a recondução de Bénard, todos os dias lembram que é uma intrusa. Hoje, no Público, o advogado aderente afirma: «Evidentemente que a senhora ministra nunca viu o único filme que Charles Laughton realizou. É uma pena.» Estas pessoas sabem exactamente o que Isabel Pires de Lima viu ou deixou de ver. Adiante. Sobre o actual presidente da Cinemateca escrevi aqui o que penso. E acerca de governos que andam a reboque de abaixo-assinados, aqui. Já agora, em nome da equidade, convinha que a ministra da Cultura meditasse nas palavras de António-Pedro Vasconcelos: «Em termos de programação, de organização de ciclos temáticos, a Cinemateca Portuguesa é do melhor que há. Mas exclusivamente no que diz respeito à divulgação dos clássicos. Além disso, dispõe de uma biblioteca excepcional. Onde os problemas começam é no conservadorismo e na política relativamente ao cinema português, onde reina um sectarismo inadmissível, uma política do gosto inaceitável e contraditória, aliás, com o culto dos “clássicos”. [...] Uma Cinemateca, como uma Biblioteca, um Teatro Nacional ou um Museu devem servir, antes de mais, para preservar e manter vivo o património nacional. Ora, sobre esse aspecto, as confessadas simpatias e antipatias, muitas vezes pessoais, do seu Presidente, o laureado Dr. João Bénard da Costa (a quem não saiba, convém lembrar que não foi João César Monteiro, nem Joaquim Leitão, nem João Canijo, mas o director da Cinemateca quem recebeu o Prémio Pessoa pela sua “obra”!), são inadmissíveis num responsável por uma instituição pública como é a Cinemateca. [...] Muitos dos protagonistas morreram sem que o Dr. Bénard da Costa, preocupado sobretudo em deliciar-se com a exibição perpétua dos clássicos nas suas salas e em promover os seus protegidos, tenha mexido um dedo para lhes recolher o testemunho: onde está a memória da comédia dos anos 1930 e 40? E mesmo do chamado Cinema Novo? [...] É urgente, agora que atingiu o limite de idade, que o Dr. João Bénard da Costa ceda o seu lugar a alguém que revele dinamismo, isenção e respeito por todos os que contribuíram e contribuem para que esta indigente realidade que é o cinema português não fique ainda mais empobrecida depois da sua passagem.» É sintomático que num inquérito dirigido pelo Público a realizadores, produtores e programadores, divulgado no passado domingo, cinco das dezassete personalidades contactadas recusassem responder. Os silêncios que se ouvem do lado do cinema fazem cada vez mais barulho. Das doze que responderam, dez ignoraram o dilema, Paulo Branco apoiou Bénard, e, conforme citado, Vasconcelos desapoiou. Isto diz muito do melindre. E não é só Nuno Sena a bramar por atenção à contemporaneidade. Alberto Seixas Santos também o faz.

Um advogado adere com zelo à lista dos apoiantes de Bénard da Costa (entre outros, Manoel de Oliveira, Vasco Pulido Valente, Maria João Avillez, Eduardo Prado Coelho e Pedro Costa). Nada contra. Nisto tudo, uma evidência: depois do affaire Lagarto, a ministra da Cultura ficou refém do terror. Mas assim não vai a lado nenhum. As personalidades que tenta amolecer, propondo a recondução de Bénard, todos os dias lembram que é uma intrusa. Hoje, no Público, o advogado aderente afirma: «Evidentemente que a senhora ministra nunca viu o único filme que Charles Laughton realizou. É uma pena.» Estas pessoas sabem exactamente o que Isabel Pires de Lima viu ou deixou de ver. Adiante. Sobre o actual presidente da Cinemateca escrevi aqui o que penso. E acerca de governos que andam a reboque de abaixo-assinados, aqui. Já agora, em nome da equidade, convinha que a ministra da Cultura meditasse nas palavras de António-Pedro Vasconcelos: «Em termos de programação, de organização de ciclos temáticos, a Cinemateca Portuguesa é do melhor que há. Mas exclusivamente no que diz respeito à divulgação dos clássicos. Além disso, dispõe de uma biblioteca excepcional. Onde os problemas começam é no conservadorismo e na política relativamente ao cinema português, onde reina um sectarismo inadmissível, uma política do gosto inaceitável e contraditória, aliás, com o culto dos “clássicos”. [...] Uma Cinemateca, como uma Biblioteca, um Teatro Nacional ou um Museu devem servir, antes de mais, para preservar e manter vivo o património nacional. Ora, sobre esse aspecto, as confessadas simpatias e antipatias, muitas vezes pessoais, do seu Presidente, o laureado Dr. João Bénard da Costa (a quem não saiba, convém lembrar que não foi João César Monteiro, nem Joaquim Leitão, nem João Canijo, mas o director da Cinemateca quem recebeu o Prémio Pessoa pela sua “obra”!), são inadmissíveis num responsável por uma instituição pública como é a Cinemateca. [...] Muitos dos protagonistas morreram sem que o Dr. Bénard da Costa, preocupado sobretudo em deliciar-se com a exibição perpétua dos clássicos nas suas salas e em promover os seus protegidos, tenha mexido um dedo para lhes recolher o testemunho: onde está a memória da comédia dos anos 1930 e 40? E mesmo do chamado Cinema Novo? [...] É urgente, agora que atingiu o limite de idade, que o Dr. João Bénard da Costa ceda o seu lugar a alguém que revele dinamismo, isenção e respeito por todos os que contribuíram e contribuem para que esta indigente realidade que é o cinema português não fique ainda mais empobrecida depois da sua passagem.» É sintomático que num inquérito dirigido pelo Público a realizadores, produtores e programadores, divulgado no passado domingo, cinco das dezassete personalidades contactadas recusassem responder. Os silêncios que se ouvem do lado do cinema fazem cada vez mais barulho. Das doze que responderam, dez ignoraram o dilema, Paulo Branco apoiou Bénard, e, conforme citado, Vasconcelos desapoiou. Isto diz muito do melindre. E não é só Nuno Sena a bramar por atenção à contemporaneidade. Alberto Seixas Santos também o faz.

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