portugal dos pequeninos: O MURO DAS LAMENTAÇÕES

24-10-2008
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Quando dei início a este blogue, pouco tempo depois de ter largado a direcção do Teatro Nacional de São Carlos, perpetrei muito sobre a "cultura" e o seu ministério. Cheguei a afirmar publicamente, no Expresso, que Manuel Maria Carrilho tinha sido "o" ministro da Cultura e que, daí para diante, só apareceram fantasmas. Como é que se explica isto? Carrilho tinha o dinheiro que Sousa Franco lhe deu - pastavam, nesse tempo, as "vacas gordas" - e tinha, em relação ao assunto, a cabeça relativamente bem arrumada. Sabia, em suma, mandar. Na melhor - ou pior, conforme as opiniões - tradição francesa, Carrilho imaginou, legislando em conformidade, um Estado culturalmente activo, fosse no sentido das artes e espectáculos, fosse no sentido da preservação dos bens culturais. Não me lembro, porém admito que tenha atingido o mítico 1% do OE que, tendo-lhe sido retirado a dada altura, o levou a abandonar o barco e a ser um dos mais eficazes e virulentos críticos de António Guterres. Isabel Pires de Lima, coitada, foi forçada a recuar até aos 0,4% o que, no PIB, representa 0,1% "em cultura". Esta decadência da instituição "MC" fez-me pensar duas vezes e - não por que seja liberal ou outra treta congénere - defender a sua extinção. Cabe ao Estado, agora tão emproado na sua "inovação" e "reforma", encontrar novas formas de empregar o dinheiro atribuído à cultura, privilegiando a subsistência do património nacional, intelectual e físico, e deixando para outra coisa qualquer - tipo "conselho geral das artes e espectáculos" (onde teriam assento o Estado, os mecenas que não compete apenas ao Estado "arranjar" mas, e sobretudo, a quem precisa deles e os representantes destes) - a gestão do subsídio. É bem mais realista do que fingir um ministério que mais parece um muro das lamentações.


Quando dei início a este blogue, pouco tempo depois de ter largado a direcção do Teatro Nacional de São Carlos, perpetrei muito sobre a "cultura" e o seu ministério. Cheguei a afirmar publicamente, no Expresso, que Manuel Maria Carrilho tinha sido "o" ministro da Cultura e que, daí para diante, só apareceram fantasmas. Como é que se explica isto? Carrilho tinha o dinheiro que Sousa Franco lhe deu - pastavam, nesse tempo, as "vacas gordas" - e tinha, em relação ao assunto, a cabeça relativamente bem arrumada. Sabia, em suma, mandar. Na melhor - ou pior, conforme as opiniões - tradição francesa, Carrilho imaginou, legislando em conformidade, um Estado culturalmente activo, fosse no sentido das artes e espectáculos, fosse no sentido da preservação dos bens culturais. Não me lembro, porém admito que tenha atingido o mítico 1% do OE que, tendo-lhe sido retirado a dada altura, o levou a abandonar o barco e a ser um dos mais eficazes e virulentos críticos de António Guterres. Isabel Pires de Lima, coitada, foi forçada a recuar até aos 0,4% o que, no PIB, representa 0,1% "em cultura". Esta decadência da instituição "MC" fez-me pensar duas vezes e - não por que seja liberal ou outra treta congénere - defender a sua extinção. Cabe ao Estado, agora tão emproado na sua "inovação" e "reforma", encontrar novas formas de empregar o dinheiro atribuído à cultura, privilegiando a subsistência do património nacional, intelectual e físico, e deixando para outra coisa qualquer - tipo "conselho geral das artes e espectáculos" (onde teriam assento o Estado, os mecenas que não compete apenas ao Estado "arranjar" mas, e sobretudo, a quem precisa deles e os representantes destes) - a gestão do subsídio. É bem mais realista do que fingir um ministério que mais parece um muro das lamentações.

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