da literatura: IDEIAS E MEDIDAS ESTRUTURAIS

21-07-2005
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A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, deu uma entrevista ao Público que foi publicada anteontem. Começo por dizer que faço parte da minoria de excêntricos que não vê necessidade na existência de um ministério da Cultura. Era mais do que suficiente uma direcção-geral de Património e Assuntos Culturais, com autonomia administrativa e financeira (os actuais institutos disto e daquilo deviam ser divisões dessa DG). Um ministério da Cultura tende ao dirigismo. Paradigma autoritário: a lei do preço fixo do livro. Mas isso é outra conversa. Já que há ministro, neste caso ministra, que seja competente. A entrevista de Isabel Pires de Lima dá bons sinais. Perguntada várias vezes sobre ideias e medidas estruturais, sem que a jornalista fosse capaz de tipificar qualquer delas (ao menos um exemplo, para que o leitor pouco versado pudesse avaliar a justeza da insistência), a ministra referiu a nova Lei Orgânica, bem como legislação atinente a áreas de intervenção, serviços e instituições dependentes do ministério: património, cinema e audiovisual, Casa da Música, Museu do Douro, etc. Entre outras coisas, ficámos a saber que o MC conseguiu a descativação total de verbas, e ainda um reforço suplementar (5,5 + 8,5 milhões de euros), o que representa 16% de aumento no orçamento de funcionamento. Na realidade, essa percentagem sobe para 22%, uma vez que «os salários [...] serão assegurados integralmente pelo ministério das Finanças.» Em tempo de vacas magras... Discurso directo - «Todos os problemas de funcionamento ficam resolvidos: na Companhia Nacional de Bailado, no Teatro Nacional de S. João, no Instituto Português de Arqueologia, no Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, e no Instituto Português dos Museus.» Óptimo. Aparentemente, nada sobre o Instituto Camões. Mas talvez só aparentemente, porque: «Há espaços que nós sistematicamente não exploramos, como a área do livro, onde descuramos toda a área anglo-saxónica, onde o livro português não penetra. [...] Nunca fomos à feira do livro de Londres. Praticamente não traduzimos para inglês. Abandonámos uma frente que é fundamental. Tem que haver redefinição de políticas a esse nível.» Até que enfim. Também ficámos a saber que o Estado contribui com mais de 60% do orçamento de Serralves, o que não deixa de ser uma curiosa informação tendo em vista o juízo corrente. Relativamente à gestão da Casa da Música, ficou a saber-se que Whitworth-Jones «não está interessado em continuar como director artístico», mas sim «como consultor». Elementar, meu caro Watson. A sua contratação como director fez todo o sentido. Para consultor, há alternativas de qualidade (Burmester, por exemplo) a metade do preço. Percebe-se a intenção de resolver de vez o problema da colecção Berardo, não necessariamente no CCB, mas em Lisboa. Igualmente se percebe que está por desatar o nó cego do Instituto das Artes. O tom geral promete. Isabel Pires de Lima aposta em tudo menos no foguetório. Para decepção da entrevistadora, ser um carimbo não está no seu horizonte. Ainda bem.

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, deu uma entrevista ao Público que foi publicada anteontem. Começo por dizer que faço parte da minoria de excêntricos que não vê necessidade na existência de um ministério da Cultura. Era mais do que suficiente uma direcção-geral de Património e Assuntos Culturais, com autonomia administrativa e financeira (os actuais institutos disto e daquilo deviam ser divisões dessa DG). Um ministério da Cultura tende ao dirigismo. Paradigma autoritário: a lei do preço fixo do livro. Mas isso é outra conversa. Já que há ministro, neste caso ministra, que seja competente. A entrevista de Isabel Pires de Lima dá bons sinais. Perguntada várias vezes sobre ideias e medidas estruturais, sem que a jornalista fosse capaz de tipificar qualquer delas (ao menos um exemplo, para que o leitor pouco versado pudesse avaliar a justeza da insistência), a ministra referiu a nova Lei Orgânica, bem como legislação atinente a áreas de intervenção, serviços e instituições dependentes do ministério: património, cinema e audiovisual, Casa da Música, Museu do Douro, etc. Entre outras coisas, ficámos a saber que o MC conseguiu a descativação total de verbas, e ainda um reforço suplementar (5,5 + 8,5 milhões de euros), o que representa 16% de aumento no orçamento de funcionamento. Na realidade, essa percentagem sobe para 22%, uma vez que «os salários [...] serão assegurados integralmente pelo ministério das Finanças.» Em tempo de vacas magras... Discurso directo - «Todos os problemas de funcionamento ficam resolvidos: na Companhia Nacional de Bailado, no Teatro Nacional de S. João, no Instituto Português de Arqueologia, no Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, e no Instituto Português dos Museus.» Óptimo. Aparentemente, nada sobre o Instituto Camões. Mas talvez só aparentemente, porque: «Há espaços que nós sistematicamente não exploramos, como a área do livro, onde descuramos toda a área anglo-saxónica, onde o livro português não penetra. [...] Nunca fomos à feira do livro de Londres. Praticamente não traduzimos para inglês. Abandonámos uma frente que é fundamental. Tem que haver redefinição de políticas a esse nível.» Até que enfim. Também ficámos a saber que o Estado contribui com mais de 60% do orçamento de Serralves, o que não deixa de ser uma curiosa informação tendo em vista o juízo corrente. Relativamente à gestão da Casa da Música, ficou a saber-se que Whitworth-Jones «não está interessado em continuar como director artístico», mas sim «como consultor». Elementar, meu caro Watson. A sua contratação como director fez todo o sentido. Para consultor, há alternativas de qualidade (Burmester, por exemplo) a metade do preço. Percebe-se a intenção de resolver de vez o problema da colecção Berardo, não necessariamente no CCB, mas em Lisboa. Igualmente se percebe que está por desatar o nó cego do Instituto das Artes. O tom geral promete. Isabel Pires de Lima aposta em tudo menos no foguetório. Para decepção da entrevistadora, ser um carimbo não está no seu horizonte. Ainda bem.

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