Algibeira: Nevões de areia do Zimbabwe em Portugal

03-10-2009
marcar artigo


Fiquei muito contente por saber que o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, já está a ganhar algum polimento. Já começou a adoptar algumas medidas políticas não apenas racistas e nazis, como até aqui. Refinou-se um pouco! Aprendeu alguma coisa com os nossos governantes, presumo. Já tomou, por exemplo, uma medida que parece aprendida com a nossa ministra da Educação.A ministra cá decretou o abaixamento do nível de exigência dos exames de matemática e depois congratulou-se com o aumento das notas dos alunos em tão «difícil» disciplina graças ao seu trabalho. O Mugabe decretou que a epidemia de cólera que havia no Zimbabwe acabou. Por decreto, portanto, mas isso lá não interessa.Não haverá mais mortos por cólera, porque ela foi extinta pelo Presidente. No Zimbabwe, a partir de agora, se alguém morrer de cólera a certidão de óbito deve dizer «ira» ou «nervos». A nós, portugueses, só nos falta habituarmo-nos a ser tratados como zimbabweanos. Mais quatro anos disto e vão ver que quem souber 2+2 já entra em engenharia.Os deputados faltaram a uma votação importante para a oposição e para o país. Mas isso é habitual (ia a escrever «normal», mas não me pareceu correcto). O que não me parece normal é haver uma série de deputados a justificar a coisa como normal e até o Presidente da Assembleia dizer que não poderá haver faltas, porque não faltar é uma questão de ética. Por esta ordem de ideias não deveria haver multas para quem fala ao telemóvel no carro (na realidade parece que não há, de tal forma é «normal» ver gente a falar, principalmente naqueles carros de topo de gama?), nem penas de prisão para quem mata pessoas. É, também, tudo uma questão de ética. Quando é que eles começam a perceber que já é demais a defesa irracional que fazem uns dos outros? Já chegámos ao Zimbabwe?!Continuamos a ver notícias, como todos os anos, de estradas cortadas por causa da neve. Em Trás-os-Montes principalmente, e na serra da Estrela. Na serra da Estrela chega a ser ridículo a neve impedir as pessoas que querem ir fazer esqui («ir para a neve») de chegarem aos sítios que estão o ano inteiro à espera da neve para poderem trabalhar.Nos noticiários já ninguém questiona isto, levando-nos a pensar que será uma coisa «normal», do destino, da natureza, inevitável, para quem vive nas zonas mais frias do país.Quero testemunhar que já estive em aldeias em França e na Alemanha (que não eram estâncias de esqui, muito longe disso!) onde não havia pinga de neve ou gelo nas estradas, mesmo quando saía de casa às 6 da manhã, ainda noite, e tinha de esperar que o gelo saísse do vidro do carro. Ah, e já não põem sal nas estradas, mas sim uma outra substância para retardar a formação de gelo. Isto é, não tratem os beirões e transmontanos como habitantes do Zimbabwe, porque já não é há muito tempo inevitável ter estradas cortadas pela neve nos sítios onde isso acontece todos os anos. «Nevões» em Portugal são, a maior parte das vezes, areia atirada para os olhos dos indígenas das beiras ou de Trás-os-Montes.Fiquei a saber entretanto, por alguns leitores, que afinal já existe uma lei que obriga as novas construções de prédios a instalarem painéis solares de aquecimento de águas. Só que ninguém faz cumprir esta lei, como sabemos todos, aqui no Zimbabwe.José Pedro Gomeszpgomes@sapo.ptin SEXTABob Marley - ZimbabweEvery man got a right to decide his own destiny.


Fiquei muito contente por saber que o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, já está a ganhar algum polimento. Já começou a adoptar algumas medidas políticas não apenas racistas e nazis, como até aqui. Refinou-se um pouco! Aprendeu alguma coisa com os nossos governantes, presumo. Já tomou, por exemplo, uma medida que parece aprendida com a nossa ministra da Educação.A ministra cá decretou o abaixamento do nível de exigência dos exames de matemática e depois congratulou-se com o aumento das notas dos alunos em tão «difícil» disciplina graças ao seu trabalho. O Mugabe decretou que a epidemia de cólera que havia no Zimbabwe acabou. Por decreto, portanto, mas isso lá não interessa.Não haverá mais mortos por cólera, porque ela foi extinta pelo Presidente. No Zimbabwe, a partir de agora, se alguém morrer de cólera a certidão de óbito deve dizer «ira» ou «nervos». A nós, portugueses, só nos falta habituarmo-nos a ser tratados como zimbabweanos. Mais quatro anos disto e vão ver que quem souber 2+2 já entra em engenharia.Os deputados faltaram a uma votação importante para a oposição e para o país. Mas isso é habitual (ia a escrever «normal», mas não me pareceu correcto). O que não me parece normal é haver uma série de deputados a justificar a coisa como normal e até o Presidente da Assembleia dizer que não poderá haver faltas, porque não faltar é uma questão de ética. Por esta ordem de ideias não deveria haver multas para quem fala ao telemóvel no carro (na realidade parece que não há, de tal forma é «normal» ver gente a falar, principalmente naqueles carros de topo de gama?), nem penas de prisão para quem mata pessoas. É, também, tudo uma questão de ética. Quando é que eles começam a perceber que já é demais a defesa irracional que fazem uns dos outros? Já chegámos ao Zimbabwe?!Continuamos a ver notícias, como todos os anos, de estradas cortadas por causa da neve. Em Trás-os-Montes principalmente, e na serra da Estrela. Na serra da Estrela chega a ser ridículo a neve impedir as pessoas que querem ir fazer esqui («ir para a neve») de chegarem aos sítios que estão o ano inteiro à espera da neve para poderem trabalhar.Nos noticiários já ninguém questiona isto, levando-nos a pensar que será uma coisa «normal», do destino, da natureza, inevitável, para quem vive nas zonas mais frias do país.Quero testemunhar que já estive em aldeias em França e na Alemanha (que não eram estâncias de esqui, muito longe disso!) onde não havia pinga de neve ou gelo nas estradas, mesmo quando saía de casa às 6 da manhã, ainda noite, e tinha de esperar que o gelo saísse do vidro do carro. Ah, e já não põem sal nas estradas, mas sim uma outra substância para retardar a formação de gelo. Isto é, não tratem os beirões e transmontanos como habitantes do Zimbabwe, porque já não é há muito tempo inevitável ter estradas cortadas pela neve nos sítios onde isso acontece todos os anos. «Nevões» em Portugal são, a maior parte das vezes, areia atirada para os olhos dos indígenas das beiras ou de Trás-os-Montes.Fiquei a saber entretanto, por alguns leitores, que afinal já existe uma lei que obriga as novas construções de prédios a instalarem painéis solares de aquecimento de águas. Só que ninguém faz cumprir esta lei, como sabemos todos, aqui no Zimbabwe.José Pedro Gomeszpgomes@sapo.ptin SEXTABob Marley - ZimbabweEvery man got a right to decide his own destiny.

marcar artigo