Quem terá sido o gajo que teve a ideia peregrina de inventar a frase que diz que, para que a tua vida seja completa, terás de cumprir três tarefas: «plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro»? Cheira-me a rigor germânico ou a sabedoria oriental, que é como quem diz: uma chinesice qualquer. Eu sei que quem inventou o descanso foi um grande homem. Agora, inventar adágios sem pensar nas consequências? Isso até eu.Plantar uma árvore, ainda vá que não vá, no meio de tanto caroço cuspido, algum deve ter germinado. Ter um filho, quem quiser assumir um monte de responsabilidades, com um bocadinho de sorte e a colaboração de outra pessoa, a coisa faz-se. Agora, escrever um livro? E se eu não tiver nada para dizer? E se não me apetecer dizer nada? Melhor: e se o que tiver para dizer não interessar nem ao menino Jesus? Sou menos completo do que os outros que já o fizeram? Para além do mais, esta ideia é perigosa e propaga-se mais do que a gripe A, tendo em conta a quantidade de gente que anda por aí a escrever livros. Há uns que até o anunciam antes de o terem escrito, para que, no caso de lhes acontecer alguma coisa (bate na madeira), possam dizer que só não chegaram ao fim por mero azar. A ideia de que cada um de nós tem o direito de ser ouvido é completamente inexequível. Como dizia o filósofo mexicano Gabriel Zaid: «Numa hipotética assembleia universal, não teríamos tempo de vida suficiente sequer para nos cumprimentarmos uns aos outros.» E porque não, em vez de escrever um livro, escrever num blogue? Eh pá! Espera aí… O gajo se calhar até tem razão, falhou foi na terceira hipótese. Sinto-me tão completo... -- Jaime Bulhosa
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Quem terá sido o gajo que teve a ideia peregrina de inventar a frase que diz que, para que a tua vida seja completa, terás de cumprir três tarefas: «plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro»? Cheira-me a rigor germânico ou a sabedoria oriental, que é como quem diz: uma chinesice qualquer. Eu sei que quem inventou o descanso foi um grande homem. Agora, inventar adágios sem pensar nas consequências? Isso até eu.Plantar uma árvore, ainda vá que não vá, no meio de tanto caroço cuspido, algum deve ter germinado. Ter um filho, quem quiser assumir um monte de responsabilidades, com um bocadinho de sorte e a colaboração de outra pessoa, a coisa faz-se. Agora, escrever um livro? E se eu não tiver nada para dizer? E se não me apetecer dizer nada? Melhor: e se o que tiver para dizer não interessar nem ao menino Jesus? Sou menos completo do que os outros que já o fizeram? Para além do mais, esta ideia é perigosa e propaga-se mais do que a gripe A, tendo em conta a quantidade de gente que anda por aí a escrever livros. Há uns que até o anunciam antes de o terem escrito, para que, no caso de lhes acontecer alguma coisa (bate na madeira), possam dizer que só não chegaram ao fim por mero azar. A ideia de que cada um de nós tem o direito de ser ouvido é completamente inexequível. Como dizia o filósofo mexicano Gabriel Zaid: «Numa hipotética assembleia universal, não teríamos tempo de vida suficiente sequer para nos cumprimentarmos uns aos outros.» E porque não, em vez de escrever um livro, escrever num blogue? Eh pá! Espera aí… O gajo se calhar até tem razão, falhou foi na terceira hipótese. Sinto-me tão completo... -- Jaime Bulhosa