Camel & Coca Cola: Delta de Vénus de Anais Nin

06-10-2009
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Depois do pequeno trauma que tive ao ler "A Casa do Incesto", decidi finalmente aventurar-me a ler outro livro de Anais Nin. Neste caso, os contos eróticos de "Delta de Vénus".Aproveito para realçar a falta de interesse das editoras por reeditar este tipo de livros. A edição que econtrei era dos anos 80, da Bertrand, traduzido nem mais nem menos do que por Luiza Neto Jorge, e com uma belíssima capa de Gustav Klimt. Aparte disto, sobre o livro propriamente dito, digo que gostei. Não foi, de todo, uma leitura enfadonha. Mas, para que a génese do livro seja entendida, em muito ajuda a introdução, com algumas passagens retiradas do famoso diário da autora, onde explica que estes contos teriam sido, originalmente, escritos para um coleccionador anónimo, que lhos encomendara, bem como a Henry Miller. Trabalho para sobrevivência, portanto. Mas o resultado é bom.Se, numa certa e polémica crítica a "Casa do Incesto", me queixei que havia um excesso de poesia, em "Delta de Vénus", a poesia surge na sua conta, peso e medida. Portanto, a leitura não é dificultada por um abuso repetitivo de metáforas. Não são, como pretendia o coleccionador que os financiou, relatos mecânicos e pornográficos. Aliás, pornografia é um adjectivo que não pode ser empregue aqui. Ainda que, nas palavras de Anaïs, que subscrevo, a linguagem do sexo ainda não foi inventada, aqui, a perspectiva é claramente feminina, como era aliás, objectivo da autora. Há uma sensibilidade, não há actos cometidos pelo próprio acto do prazer, tudo tem um sentido e um sentimento.Aparte disso, nota-se apenas uma certa "timidez" em avançar para um registo mais extenso, ou seja, o romance, uma vez que personagens como Elena, Pierre ou Bijou surgem em vários contos, estando, portanto, todos ligados.Realço o primeiro conto, "O Aventureiro Hungaro", como o menos conseguido. O ambiente e o tipo de situação são, sem dúvida, dignos de uma cultura de salão do rococó onde, para celebrar a vida, todos querem ter sífilis. É o conto mais "leviano", ainda que consiga alguns picos de interesse na medida em que a perversão do dito aventureiro atravessa situações realmente originais.No resto dos contos, a tonalidade é outra, mais facilmente associável à figura e à escrita de Anaïs Nin. Saliento "Elena" ou "O Basco" como os contos onde a originalidade está mais nivelada com a qualidade. Serão os melhores.E este é definitivamente um livro a guardar e recordar.


Depois do pequeno trauma que tive ao ler "A Casa do Incesto", decidi finalmente aventurar-me a ler outro livro de Anais Nin. Neste caso, os contos eróticos de "Delta de Vénus".Aproveito para realçar a falta de interesse das editoras por reeditar este tipo de livros. A edição que econtrei era dos anos 80, da Bertrand, traduzido nem mais nem menos do que por Luiza Neto Jorge, e com uma belíssima capa de Gustav Klimt. Aparte disto, sobre o livro propriamente dito, digo que gostei. Não foi, de todo, uma leitura enfadonha. Mas, para que a génese do livro seja entendida, em muito ajuda a introdução, com algumas passagens retiradas do famoso diário da autora, onde explica que estes contos teriam sido, originalmente, escritos para um coleccionador anónimo, que lhos encomendara, bem como a Henry Miller. Trabalho para sobrevivência, portanto. Mas o resultado é bom.Se, numa certa e polémica crítica a "Casa do Incesto", me queixei que havia um excesso de poesia, em "Delta de Vénus", a poesia surge na sua conta, peso e medida. Portanto, a leitura não é dificultada por um abuso repetitivo de metáforas. Não são, como pretendia o coleccionador que os financiou, relatos mecânicos e pornográficos. Aliás, pornografia é um adjectivo que não pode ser empregue aqui. Ainda que, nas palavras de Anaïs, que subscrevo, a linguagem do sexo ainda não foi inventada, aqui, a perspectiva é claramente feminina, como era aliás, objectivo da autora. Há uma sensibilidade, não há actos cometidos pelo próprio acto do prazer, tudo tem um sentido e um sentimento.Aparte disso, nota-se apenas uma certa "timidez" em avançar para um registo mais extenso, ou seja, o romance, uma vez que personagens como Elena, Pierre ou Bijou surgem em vários contos, estando, portanto, todos ligados.Realço o primeiro conto, "O Aventureiro Hungaro", como o menos conseguido. O ambiente e o tipo de situação são, sem dúvida, dignos de uma cultura de salão do rococó onde, para celebrar a vida, todos querem ter sífilis. É o conto mais "leviano", ainda que consiga alguns picos de interesse na medida em que a perversão do dito aventureiro atravessa situações realmente originais.No resto dos contos, a tonalidade é outra, mais facilmente associável à figura e à escrita de Anaïs Nin. Saliento "Elena" ou "O Basco" como os contos onde a originalidade está mais nivelada com a qualidade. Serão os melhores.E este é definitivamente um livro a guardar e recordar.

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