Clube de Reflexão Política: Histórias do “relógio suíço” ou como a culpa é sempre dos outros

29-09-2009
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Um dos jornais de ampla distribuição gratuita em Cascais publica uma extensa entrevista eleitoral com António Capucho. É uma conversa feita ao jeito aristocrático e 'messiânico' que o presidente da Câmara gosta de cultivar.Diz ele que “a falta de transparência e a arrogância do PS atingiram o cúmulo” mas a entrevista ilustra à saciedade que, em tais desvarios, o PS fica muito aquém do ilustre autarca. Ele, que em seu redor só vê, como melhor que a sua augusta obra, “o Palácio do Marquês, em Oeiras, o Palácio da Pena, em Sintra e o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa” reivindica para si a glória de ter resolvido uma situação catastrófica que herdou com uma ”malha urbana que, em alguns aspectos, vem da era medieval” e assegura que, com ele, “a qualidade de vida melhorou substancialmente”.Qual 'messias das gentes cascalenses' ilustra a superior dimensão da sua obra atestando que para além da “Quinta do Barão e da Loja do Cidadão tenho mais de vinte [20!] coisas que estão em marcha”. Reconhece que tão majestática obra lhe tem dificultado dar os conselhos à Drª Manuela Ferreira Leite quanto esta tanto gostaria mas, desde já, tranquiliza que tem assegurada a sucessão em Carlos Carreiras, pessoa”de funções políticas muito relevantes”.Mas para além desta habitual 'presunção e água benta', de que o altivo autarca tanto gosta, há, na entrevista, indicações curiosas sobre os vectores eleitorais da sua próxima candidatura. Ainda que sendo estes, no essencial, iguais aos de há quatro anos não deixa de surpreender verificar que persiste o vazio total de projecto e a costumeira vitimização mas acresce, em doses massivas, o recurso a expedientes de manipulação.Em síntese a visão do homem que há oito anos dirige, com poder absoluto, a Câmara de Cascais reduz-se a três linhas essências.• Primeira, tudo o que está mal foi culpa da vereação de José Luís Judas.• Segundo, apesar da 'pesada herança' ele, Capucho, salvou Cascais.• Terceiro, tudo o que de melhor acontece, ou possa vir a acontecer, em Cascais é obra sua (mesmo tendo sido outros a fazê-la).Quando, em 2009, um governante que está em exercício com maioria absoluta, há já oito anos, invoca a obra realizada entre 1993 e 2001, ou seja entre há 16 e 8 anos, como justificação dos seus próprios erros, insuficiências e omissões só é possível confirmar que esse (isto é, o Dr António Capucho) falhou rotundamente e é irresponsável.. Francisco Sá Carneiro terá avisado um dia os seus ministros «meus senhores têm seis meses para criticar o anterior governo, a partir daí a culpa é nossa» mas o actual presidente camarário pensa que pode esconder-se eternamente por detrás de uma pressuposta acção realizada outrora pelo PS.Acresce, e é tempo que tal se diga claramente, que esse 'mito do betão' é uma construção falseada pelo PSD e outros aliados para fins político-partidários mas só muito parcialmente tem alguma correspondência com a realidade. De facto o período de gestão da Câmara liderado por José Luís Judas foi o mais dinâmico das últimas décadas tendo respondido adequadamente a muitos dos problemas que Cascais acumulara e alguns erros então cometidos constituem aspectos menores que, de modo algum, ofuscam o conjunto da obra que deixou em Cascais.A tentativa de assassinato político e cívico de que José Luís Judas foi alvo ao longo dos últimos anos, e que finalmente se saldou na confirmação pública e inequívoca da sua total inocência face às acusações que contra ele foram erguidas, facilitou a permanência do 'mito do betão' como seguro de vida para a incompetência do PSD e de outros.Essa é uma história subterrânea que importa esclarecer com rigor e total transparência mas, na verdade, a vereação PS da Câmara teve, nos anos 90, que resolver o grave problema dos muitos bairros de barracas e das enormes manchas de construção clandestina que existiam no concelho. Em meia dúzia de anos isso foi feito com iniludível determinação e capacidade de resposta numa autarquia que não dispunha de terrenos próprios suficientes e onde pesaram interesses territoriais poderosos como, nomeadamente, os da Quinta da Marinha. Tal teve como consequência que, num período relativamente curto, em algumas zonas a construção habitacional , directa e indirectamente resultante dos realojamentos, teve um significativo e talvez excessivo incremento.Transformar essa realidade, de que o Centro Comercial junto à estação foi erigido em indesejável símbolo, no mito de que o concelho se havia convertido num estaleiro de permanente construção foi, sobretudo, uma sábia habilidade do aparelho de propaganda do PSD/CDS e de alguns seus estranhos aliados.É desse mito propagandistico que Capucho se continua a querer valer numa despudorada mistificação com a qual pretende desculpabilizar os níveis de construção que a sua vereação alimenta. A diferença é que José Luís Judas, a seu tempo, confrontou-se com esse problema porque tinha que erradicar as barracas e recuperar os clandestinos mas Capucho encontrou essas questões resolvidas e a construção excessiva que promove é apenas para benefícios privados e especulação imobiliária.Mas a herança de que o actual presidente constantemente se queixa tem muitos outros aspectos assaz curiosos.O exemplo do Plano Director Municipal (PDM) é ilustrativo. Em 1993 o planeamento urbanístico da Câmara era um absoluto caos, por todos reconhecido. Qualquer um que tenha tido, nessa época, a simples experiência de se dirigir aos serviços da Câmara para se informar sobre as regras de construção terá podido comprovar porque é que a Câmara de Cascais era considerada uma das que, em todo o país, se encontrava em pior situação de planeamento.Partindo de uma situação de quase total paralisia deste sector camarário, a vereação PS promoveu uma mudança total dessa realidade. Reorganizou os serviços, informatizou todo o sector tornando-o um exemplo nacional, definiu regras claras e transparentes, concebeu, aprovou e viu promulgado um PDM originado quase a partir do zero. Não precisou de muitos anos para o fazer e para pôr em execução esse novo PDM.Em 2001, António Capucho, no quadro do mito do betão, fez do PDM o seu principal inimigo assegurando que, se fosse eleito, desde logo o substituiria por um outro mais conforme com a sua proclamada vontade de “parar a construção”.Palavras leva-as o vento e, volvidos oito anos, o dito 'péssimo' PDM promovido por José Luís Judas continua a servir a contento para o planeamento do concelho pela actual vereação PSD/CDS. Aliás, as excessivas alterações de pormenor que têm sido feitas a esse PDM não pretenderam diminuir a construção mas, antes pelo contrário, foram feitas para facilitar mais construção onde o PDM o não consente.Queixa-se o Dr. Capucho que um PDM demora muito a rever e que os oito anos não lhe foram suficientes. Vale a pena comentar ? Afinal ele, que tem maioria absoluta na Câmara, não consegue rever em oito anos aquilo que o PS fez, de raiz e sem ter essa facilitadora maioria absoluta, em muito menos tempo. É apenas uma das diferenças entre quem faz e quem se desculpa por não saber fazer.Mas os exemplos de inconsequente vitimização de António Capucho são a constante do seu discurso. Esquece-se, claro está, de referir os muitos aspectos positivos da obra dos seus antecessores. Não diz que encontrou uma Autarquia com um orçamento equilibrado e reservas financeiras confortáveis, não refere que a anterior vereação resolveu quase completamente os gravíssimos problemas do saneamento básico do concelho e que o pouco que ficou por fazer não foi mais completado, que a despoluição das praias do concelho estava feita, que a recuperação da faixa litoral do Guincho e a Casa da Guia foram feitas pelada gestão de José Luís Judas, que o palácio dos Congressos também é desse período assim como a recuperação da Feira do Artesanato, que foi o PS que promoveu a marina bem como o Centro Cultural de Cascais, o Museu Verdades de Faria e muito mais.Mas, pior que a omissão da obra realizada, em oito anos, pela vereação PS é o facto de António Capucho pouco mais ter para apresentar como obra sua do que aquilo que resultou do anterior trabalho ou da iniciativa governamental. Nisso os exemplos são inúmeros.O plano de erradicação das barracas (PER) foi inquestionavelmente um vasto programa concebido e incrementado pela vereação PS (ainda que em algumas situações a finalização se tenha prolongado para além de 2001) mas a actual maioria continua a tentar tirar partido do que não fez e o Dr. Capucho diz candidamente que “os bairros do Fim-do-Mundo e das Marianas já não existem” sugerindo que o facto de ir proceder a algumas atribuições de casas significa que foi ele o promotor do PER.Invoca como grande conquista sua os novos Centros de Saúde e a construção do novo Hospital de Cascais. Mas a rede de serviços de saúde (excepto de algumas clínicas privadas de luxo que têm vindo a proliferar no concelho) é uma competência e uma iniciativa do Governo central e o papel da actual Câmara tem sido mais o de um efectivo dificultador, como aliás é público em relação ao Hospital cuja construção estava em vias de concretização em 2001 e o Dr. António Capucho apenas interveio para fazer parar e atrasar uma obra que é realizada pelo Governo nacional. O que falta explicar é a verdadeira razão porque o actual presidente da Câmara, utilizando duvidosos argumentos pseudo-ambientalistas, bloqueou a construção do novo Hospital que em 2001 se iniciara em S. Domingos de Rana a fim de o deslocar para a zona do Shoping Cascais. Talvez os habitantes da Quinta da Marinha tenham tido a vantagem de ficar com o Hospital mais próximo, mas a maioria dos cidadãos de Cascais foi prejudicada pelos oito anos perdidos com o reinício do processo e com os efeitos de uma localização que prejudica o interior do concelho e acarretará problemas complicados de circulação viária para Alcabideche e Estoril.Quanto à deterioração do concelho que todos os cascalenses sentem o Dr. António Capucho distancia-se sobranceiramente. Sobre a qualidade de vida só sabe que “não há volta a dar se as pessoas continuam a querer trazer para os centros das vilas os seus automóveis e a estacionar em cima do passeio para fazer as suas compras”, quanto à morte lenta e preocupante de grande parte do comércio local, nomeadamente o de lazer, só tem a dizer que a “lei geral do ruído faz com que hoje em dia seja extremamente difícil manter um estabelecimento aberto” e que ele próprio “não é um empresário da noite e a Câmara também não é...” e sobre a deterioração visível do interior do concelho apenas constata 'lapalissianamente' que “as assimetrias territoriais combatem-se, designadamente, com mais investimento nas zonas degradadas e deprimidas do concelho” (ao contrário do que a Câmara faz, acrescentamos nós).Esta é a visão idílica, distanciada e algo paroquial que o Presidente tem do concelho por que deveria ser responsável. Em contrapartida apresenta como grandes obras da sua vereação “a Quinta do Barão que vai aproveitar uma casa do sec XVIII para pousada de charme (...)” e as novas torres do Estoril Sol sobre as quais, afirma,“quase poderia dizer, com alguma demagogia, que as pessoas votaram no Estoril Sol”. Curiosamente, nesta sua entrevista, deixa escapar que a importância essencial deste monstruoso arranha-céus à beira mar decorre de que ele “substitui um edifício que estava falido - 20% dos seus quartos já estavam inviáveis (...)”. Compreende-se, assim, que a preocupação do Presidente da Câmara ao viabilizar este atentado urbanístico ao concelho é o de resolver um problema do negócio da Estoril Sol e que todo o restante discurso mais ou menos justificatório serve apenas para diluir a razão fundamental do favorecimento dos interesses comerciais privados daquela empresa mesmo que à custa do património ambiental comum dos cascalenses.As três páginas de auto-propaganda do dr. Capucho merecem ser lidas. Melhor do que os retratos sorridentes que a acompanham ela ilustra aquilo que é auto-satisfação iludida e ilusória de uma pessoa que, sendo seguramente respeitável, não consegue ter qualquer resquício de sentido auto-critico sobre o mal que tem causado ao concelho alimentando-se na etérea ilusão de que a alcunha de “relógio suíço” que lhe puseram se deve a uma sua possível pontualidade, como explica à entrevistadora.Infelizmente não é assim. Quando na Câmara se generalizou o chamarem-lhe o “relógio suiço” foi apenas porque educadamente constatavam que como presidente camarário não atrasa nem adianta ou como muitos preferem dizer utilizando uma expressão bastante brejeira...que significa “ele nem faz nem deixa fazer”.Será preciso explicar? V.G.


Um dos jornais de ampla distribuição gratuita em Cascais publica uma extensa entrevista eleitoral com António Capucho. É uma conversa feita ao jeito aristocrático e 'messiânico' que o presidente da Câmara gosta de cultivar.Diz ele que “a falta de transparência e a arrogância do PS atingiram o cúmulo” mas a entrevista ilustra à saciedade que, em tais desvarios, o PS fica muito aquém do ilustre autarca. Ele, que em seu redor só vê, como melhor que a sua augusta obra, “o Palácio do Marquês, em Oeiras, o Palácio da Pena, em Sintra e o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa” reivindica para si a glória de ter resolvido uma situação catastrófica que herdou com uma ”malha urbana que, em alguns aspectos, vem da era medieval” e assegura que, com ele, “a qualidade de vida melhorou substancialmente”.Qual 'messias das gentes cascalenses' ilustra a superior dimensão da sua obra atestando que para além da “Quinta do Barão e da Loja do Cidadão tenho mais de vinte [20!] coisas que estão em marcha”. Reconhece que tão majestática obra lhe tem dificultado dar os conselhos à Drª Manuela Ferreira Leite quanto esta tanto gostaria mas, desde já, tranquiliza que tem assegurada a sucessão em Carlos Carreiras, pessoa”de funções políticas muito relevantes”.Mas para além desta habitual 'presunção e água benta', de que o altivo autarca tanto gosta, há, na entrevista, indicações curiosas sobre os vectores eleitorais da sua próxima candidatura. Ainda que sendo estes, no essencial, iguais aos de há quatro anos não deixa de surpreender verificar que persiste o vazio total de projecto e a costumeira vitimização mas acresce, em doses massivas, o recurso a expedientes de manipulação.Em síntese a visão do homem que há oito anos dirige, com poder absoluto, a Câmara de Cascais reduz-se a três linhas essências.• Primeira, tudo o que está mal foi culpa da vereação de José Luís Judas.• Segundo, apesar da 'pesada herança' ele, Capucho, salvou Cascais.• Terceiro, tudo o que de melhor acontece, ou possa vir a acontecer, em Cascais é obra sua (mesmo tendo sido outros a fazê-la).Quando, em 2009, um governante que está em exercício com maioria absoluta, há já oito anos, invoca a obra realizada entre 1993 e 2001, ou seja entre há 16 e 8 anos, como justificação dos seus próprios erros, insuficiências e omissões só é possível confirmar que esse (isto é, o Dr António Capucho) falhou rotundamente e é irresponsável.. Francisco Sá Carneiro terá avisado um dia os seus ministros «meus senhores têm seis meses para criticar o anterior governo, a partir daí a culpa é nossa» mas o actual presidente camarário pensa que pode esconder-se eternamente por detrás de uma pressuposta acção realizada outrora pelo PS.Acresce, e é tempo que tal se diga claramente, que esse 'mito do betão' é uma construção falseada pelo PSD e outros aliados para fins político-partidários mas só muito parcialmente tem alguma correspondência com a realidade. De facto o período de gestão da Câmara liderado por José Luís Judas foi o mais dinâmico das últimas décadas tendo respondido adequadamente a muitos dos problemas que Cascais acumulara e alguns erros então cometidos constituem aspectos menores que, de modo algum, ofuscam o conjunto da obra que deixou em Cascais.A tentativa de assassinato político e cívico de que José Luís Judas foi alvo ao longo dos últimos anos, e que finalmente se saldou na confirmação pública e inequívoca da sua total inocência face às acusações que contra ele foram erguidas, facilitou a permanência do 'mito do betão' como seguro de vida para a incompetência do PSD e de outros.Essa é uma história subterrânea que importa esclarecer com rigor e total transparência mas, na verdade, a vereação PS da Câmara teve, nos anos 90, que resolver o grave problema dos muitos bairros de barracas e das enormes manchas de construção clandestina que existiam no concelho. Em meia dúzia de anos isso foi feito com iniludível determinação e capacidade de resposta numa autarquia que não dispunha de terrenos próprios suficientes e onde pesaram interesses territoriais poderosos como, nomeadamente, os da Quinta da Marinha. Tal teve como consequência que, num período relativamente curto, em algumas zonas a construção habitacional , directa e indirectamente resultante dos realojamentos, teve um significativo e talvez excessivo incremento.Transformar essa realidade, de que o Centro Comercial junto à estação foi erigido em indesejável símbolo, no mito de que o concelho se havia convertido num estaleiro de permanente construção foi, sobretudo, uma sábia habilidade do aparelho de propaganda do PSD/CDS e de alguns seus estranhos aliados.É desse mito propagandistico que Capucho se continua a querer valer numa despudorada mistificação com a qual pretende desculpabilizar os níveis de construção que a sua vereação alimenta. A diferença é que José Luís Judas, a seu tempo, confrontou-se com esse problema porque tinha que erradicar as barracas e recuperar os clandestinos mas Capucho encontrou essas questões resolvidas e a construção excessiva que promove é apenas para benefícios privados e especulação imobiliária.Mas a herança de que o actual presidente constantemente se queixa tem muitos outros aspectos assaz curiosos.O exemplo do Plano Director Municipal (PDM) é ilustrativo. Em 1993 o planeamento urbanístico da Câmara era um absoluto caos, por todos reconhecido. Qualquer um que tenha tido, nessa época, a simples experiência de se dirigir aos serviços da Câmara para se informar sobre as regras de construção terá podido comprovar porque é que a Câmara de Cascais era considerada uma das que, em todo o país, se encontrava em pior situação de planeamento.Partindo de uma situação de quase total paralisia deste sector camarário, a vereação PS promoveu uma mudança total dessa realidade. Reorganizou os serviços, informatizou todo o sector tornando-o um exemplo nacional, definiu regras claras e transparentes, concebeu, aprovou e viu promulgado um PDM originado quase a partir do zero. Não precisou de muitos anos para o fazer e para pôr em execução esse novo PDM.Em 2001, António Capucho, no quadro do mito do betão, fez do PDM o seu principal inimigo assegurando que, se fosse eleito, desde logo o substituiria por um outro mais conforme com a sua proclamada vontade de “parar a construção”.Palavras leva-as o vento e, volvidos oito anos, o dito 'péssimo' PDM promovido por José Luís Judas continua a servir a contento para o planeamento do concelho pela actual vereação PSD/CDS. Aliás, as excessivas alterações de pormenor que têm sido feitas a esse PDM não pretenderam diminuir a construção mas, antes pelo contrário, foram feitas para facilitar mais construção onde o PDM o não consente.Queixa-se o Dr. Capucho que um PDM demora muito a rever e que os oito anos não lhe foram suficientes. Vale a pena comentar ? Afinal ele, que tem maioria absoluta na Câmara, não consegue rever em oito anos aquilo que o PS fez, de raiz e sem ter essa facilitadora maioria absoluta, em muito menos tempo. É apenas uma das diferenças entre quem faz e quem se desculpa por não saber fazer.Mas os exemplos de inconsequente vitimização de António Capucho são a constante do seu discurso. Esquece-se, claro está, de referir os muitos aspectos positivos da obra dos seus antecessores. Não diz que encontrou uma Autarquia com um orçamento equilibrado e reservas financeiras confortáveis, não refere que a anterior vereação resolveu quase completamente os gravíssimos problemas do saneamento básico do concelho e que o pouco que ficou por fazer não foi mais completado, que a despoluição das praias do concelho estava feita, que a recuperação da faixa litoral do Guincho e a Casa da Guia foram feitas pelada gestão de José Luís Judas, que o palácio dos Congressos também é desse período assim como a recuperação da Feira do Artesanato, que foi o PS que promoveu a marina bem como o Centro Cultural de Cascais, o Museu Verdades de Faria e muito mais.Mas, pior que a omissão da obra realizada, em oito anos, pela vereação PS é o facto de António Capucho pouco mais ter para apresentar como obra sua do que aquilo que resultou do anterior trabalho ou da iniciativa governamental. Nisso os exemplos são inúmeros.O plano de erradicação das barracas (PER) foi inquestionavelmente um vasto programa concebido e incrementado pela vereação PS (ainda que em algumas situações a finalização se tenha prolongado para além de 2001) mas a actual maioria continua a tentar tirar partido do que não fez e o Dr. Capucho diz candidamente que “os bairros do Fim-do-Mundo e das Marianas já não existem” sugerindo que o facto de ir proceder a algumas atribuições de casas significa que foi ele o promotor do PER.Invoca como grande conquista sua os novos Centros de Saúde e a construção do novo Hospital de Cascais. Mas a rede de serviços de saúde (excepto de algumas clínicas privadas de luxo que têm vindo a proliferar no concelho) é uma competência e uma iniciativa do Governo central e o papel da actual Câmara tem sido mais o de um efectivo dificultador, como aliás é público em relação ao Hospital cuja construção estava em vias de concretização em 2001 e o Dr. António Capucho apenas interveio para fazer parar e atrasar uma obra que é realizada pelo Governo nacional. O que falta explicar é a verdadeira razão porque o actual presidente da Câmara, utilizando duvidosos argumentos pseudo-ambientalistas, bloqueou a construção do novo Hospital que em 2001 se iniciara em S. Domingos de Rana a fim de o deslocar para a zona do Shoping Cascais. Talvez os habitantes da Quinta da Marinha tenham tido a vantagem de ficar com o Hospital mais próximo, mas a maioria dos cidadãos de Cascais foi prejudicada pelos oito anos perdidos com o reinício do processo e com os efeitos de uma localização que prejudica o interior do concelho e acarretará problemas complicados de circulação viária para Alcabideche e Estoril.Quanto à deterioração do concelho que todos os cascalenses sentem o Dr. António Capucho distancia-se sobranceiramente. Sobre a qualidade de vida só sabe que “não há volta a dar se as pessoas continuam a querer trazer para os centros das vilas os seus automóveis e a estacionar em cima do passeio para fazer as suas compras”, quanto à morte lenta e preocupante de grande parte do comércio local, nomeadamente o de lazer, só tem a dizer que a “lei geral do ruído faz com que hoje em dia seja extremamente difícil manter um estabelecimento aberto” e que ele próprio “não é um empresário da noite e a Câmara também não é...” e sobre a deterioração visível do interior do concelho apenas constata 'lapalissianamente' que “as assimetrias territoriais combatem-se, designadamente, com mais investimento nas zonas degradadas e deprimidas do concelho” (ao contrário do que a Câmara faz, acrescentamos nós).Esta é a visão idílica, distanciada e algo paroquial que o Presidente tem do concelho por que deveria ser responsável. Em contrapartida apresenta como grandes obras da sua vereação “a Quinta do Barão que vai aproveitar uma casa do sec XVIII para pousada de charme (...)” e as novas torres do Estoril Sol sobre as quais, afirma,“quase poderia dizer, com alguma demagogia, que as pessoas votaram no Estoril Sol”. Curiosamente, nesta sua entrevista, deixa escapar que a importância essencial deste monstruoso arranha-céus à beira mar decorre de que ele “substitui um edifício que estava falido - 20% dos seus quartos já estavam inviáveis (...)”. Compreende-se, assim, que a preocupação do Presidente da Câmara ao viabilizar este atentado urbanístico ao concelho é o de resolver um problema do negócio da Estoril Sol e que todo o restante discurso mais ou menos justificatório serve apenas para diluir a razão fundamental do favorecimento dos interesses comerciais privados daquela empresa mesmo que à custa do património ambiental comum dos cascalenses.As três páginas de auto-propaganda do dr. Capucho merecem ser lidas. Melhor do que os retratos sorridentes que a acompanham ela ilustra aquilo que é auto-satisfação iludida e ilusória de uma pessoa que, sendo seguramente respeitável, não consegue ter qualquer resquício de sentido auto-critico sobre o mal que tem causado ao concelho alimentando-se na etérea ilusão de que a alcunha de “relógio suíço” que lhe puseram se deve a uma sua possível pontualidade, como explica à entrevistadora.Infelizmente não é assim. Quando na Câmara se generalizou o chamarem-lhe o “relógio suiço” foi apenas porque educadamente constatavam que como presidente camarário não atrasa nem adianta ou como muitos preferem dizer utilizando uma expressão bastante brejeira...que significa “ele nem faz nem deixa fazer”.Será preciso explicar? V.G.

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