Exilio de Andarilho: Constâncio mete os pés pelas mãos

21-07-2009
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Vitor Constâncio foi à Assembleia da República prestar contas da sua actuação [e da instituição que dirige] nos processos do BCP e do BPN. E ao longo da sessão de perguntas e respostas com os deputados revelou insegurança e desconhecimento das reais funções do BP como entidade supervisora do sistema bancário e segurador. Escudando-se na desculpa de que o BP não é polícia nem espião, o antigo líder do PS revela que não sabe o que anda a fazer e as responsabilidades que lhe cabem. O líder do PP, Paulo Portas, pediu que Vitor Constâncio se demitisse, o que o governador do BP declinou. Em género de contra-argumentação exigiu alterações à legislação vigente e "mais meios".Em representação do PSD, o deputado Hugo Velosa afirmou que essa alteração legislativa não vai resolver o problema já que este reside "numa actuação frágil, de não supervisão da parte do Governador do Banco de Portugal".Creio ser esse, na realidade, o tom e a questão fundamental que importa visionar.O Governador do Banco de Portugal tem uma visão minimalista da acção da instituição que dirige e acha que não tem que intervir quando as regras do jogo são violadas, descaradamente, pelos bancos. Como é o caso. Quem se der ao trabalho de ler os estatutos do Banco de Portugal percebe que os instrumentos de acção estão lá todos. Basta usá-los. Ninguém perguntaria ao Banco Federal norte-americano se deve ou não actuar quando há ilegalidades no sistema bancário americano. Ele actua e os eventuais lesados reagem, depois, nos tribunais.É esta a natureza das coisas; assim funciona uma economia de mercado com regulação.O deputado Hugo Velosa pôs na verdade o dedo na ferida e quem acompanhou minimamente os problemas da supervisão bancária percebe do que aqui se fala.O Dr. Vitor Constâncio vive num mar de "trutas" financeiros, convive com eles, vai aos almoços, aos seminários e aos contactos promovidos pelos banqueiros. Gosta da sua companhia e dos temas que tratam e espera - percebe-se - ser um deles um dia destes. Nada de mais extraordinário. Mas na leitura "funcionalista" que o Dr. Constâncio faz da actuação do Banco de Portugal ele entende que o BP deve ser após a entrada de Portugal na Euro-Zone uma instituição de referência, um parceiro do Banco Europeu, tout court. Ir às reuniões do Conselho dos Governadores da Euro-Zone e representar institucionalmente o sistema financeiro português é a principal aspiração do Dr. Constâncio. Dá-lhe estatuto, respalda o seu ego, que já vimos que é grande.Mas não é isso que se espera de um Governador de um Banco Nacional, como de qualquer autoridade regulamentar de um sector nevrálgico como é a banca. Espera-se que esteja atento, vigilante, que peça contas, que insista, que pressione. Sem medo das consequências.Mas o Dr. Constâncio é um paladino do calculismo, da prudência, e da comiseração. E tem enormes dificuldades em decidir, em assumir riscos. Como se viu quando liderou o PS e agora como Governador do Banco de Portugal.O tempo do Dr. Constâncio está a passar. Durante 20 anos o país habituou-se a ver nele uma espécie de senador da República, de pedagogo de quem se ouve a lição [ou discurso] com respeito e em silêncio e se sai com a convicção que o professor "falou muito bem".Mas o sistema financeiro dificilmente funciona com alguém que "fala muito bem". Esse é o domínio da academia, da Universidade. Não dos bancos, dos banqueiros e da actividade financeira que tem a ver como uma questão decisiva: o dinheiro que os depositantes põem à disposição dos bancos, sustentada numa relação de confiança.Será infantil esperar alguma tomada de posição do governo socialista a este respeito. O Dr. Constâncio é socialista e amigo do Eng.o Sócrates e ele nunca lhe faria a "maldade" de o dispensar como se dispensa a governanta ou o mordomo. É que o Dr. Constâncio é o garante dos malabarismos financeiros do governo do Eng. Sócrates. E com o país em recessão já no primeiro trimestre do próximo ano, o Eng.o Sócrates precisa de alguém que olhe para o lado, que faça de conta que não vê as engenharias financeiras que o seu governo se prepara para fazer, para esconder o déficite real e o crescimento negativo do PIB.Aí o Dr. Constâncio voltará a ser muito útil.


Vitor Constâncio foi à Assembleia da República prestar contas da sua actuação [e da instituição que dirige] nos processos do BCP e do BPN. E ao longo da sessão de perguntas e respostas com os deputados revelou insegurança e desconhecimento das reais funções do BP como entidade supervisora do sistema bancário e segurador. Escudando-se na desculpa de que o BP não é polícia nem espião, o antigo líder do PS revela que não sabe o que anda a fazer e as responsabilidades que lhe cabem. O líder do PP, Paulo Portas, pediu que Vitor Constâncio se demitisse, o que o governador do BP declinou. Em género de contra-argumentação exigiu alterações à legislação vigente e "mais meios".Em representação do PSD, o deputado Hugo Velosa afirmou que essa alteração legislativa não vai resolver o problema já que este reside "numa actuação frágil, de não supervisão da parte do Governador do Banco de Portugal".Creio ser esse, na realidade, o tom e a questão fundamental que importa visionar.O Governador do Banco de Portugal tem uma visão minimalista da acção da instituição que dirige e acha que não tem que intervir quando as regras do jogo são violadas, descaradamente, pelos bancos. Como é o caso. Quem se der ao trabalho de ler os estatutos do Banco de Portugal percebe que os instrumentos de acção estão lá todos. Basta usá-los. Ninguém perguntaria ao Banco Federal norte-americano se deve ou não actuar quando há ilegalidades no sistema bancário americano. Ele actua e os eventuais lesados reagem, depois, nos tribunais.É esta a natureza das coisas; assim funciona uma economia de mercado com regulação.O deputado Hugo Velosa pôs na verdade o dedo na ferida e quem acompanhou minimamente os problemas da supervisão bancária percebe do que aqui se fala.O Dr. Vitor Constâncio vive num mar de "trutas" financeiros, convive com eles, vai aos almoços, aos seminários e aos contactos promovidos pelos banqueiros. Gosta da sua companhia e dos temas que tratam e espera - percebe-se - ser um deles um dia destes. Nada de mais extraordinário. Mas na leitura "funcionalista" que o Dr. Constâncio faz da actuação do Banco de Portugal ele entende que o BP deve ser após a entrada de Portugal na Euro-Zone uma instituição de referência, um parceiro do Banco Europeu, tout court. Ir às reuniões do Conselho dos Governadores da Euro-Zone e representar institucionalmente o sistema financeiro português é a principal aspiração do Dr. Constâncio. Dá-lhe estatuto, respalda o seu ego, que já vimos que é grande.Mas não é isso que se espera de um Governador de um Banco Nacional, como de qualquer autoridade regulamentar de um sector nevrálgico como é a banca. Espera-se que esteja atento, vigilante, que peça contas, que insista, que pressione. Sem medo das consequências.Mas o Dr. Constâncio é um paladino do calculismo, da prudência, e da comiseração. E tem enormes dificuldades em decidir, em assumir riscos. Como se viu quando liderou o PS e agora como Governador do Banco de Portugal.O tempo do Dr. Constâncio está a passar. Durante 20 anos o país habituou-se a ver nele uma espécie de senador da República, de pedagogo de quem se ouve a lição [ou discurso] com respeito e em silêncio e se sai com a convicção que o professor "falou muito bem".Mas o sistema financeiro dificilmente funciona com alguém que "fala muito bem". Esse é o domínio da academia, da Universidade. Não dos bancos, dos banqueiros e da actividade financeira que tem a ver como uma questão decisiva: o dinheiro que os depositantes põem à disposição dos bancos, sustentada numa relação de confiança.Será infantil esperar alguma tomada de posição do governo socialista a este respeito. O Dr. Constâncio é socialista e amigo do Eng.o Sócrates e ele nunca lhe faria a "maldade" de o dispensar como se dispensa a governanta ou o mordomo. É que o Dr. Constâncio é o garante dos malabarismos financeiros do governo do Eng. Sócrates. E com o país em recessão já no primeiro trimestre do próximo ano, o Eng.o Sócrates precisa de alguém que olhe para o lado, que faça de conta que não vê as engenharias financeiras que o seu governo se prepara para fazer, para esconder o déficite real e o crescimento negativo do PIB.Aí o Dr. Constâncio voltará a ser muito útil.

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