10 de Março de 2008

26-03-2008
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Este Portugal à moda de Sócrates

Hoje apenas usarei as palavras de outros para descrever o actual estado da nação. Esta é a nação à maneira Sócrates, ou antes, o estado a que chegou Portugal com Sócrates.

(Os sublinhados são opção minha)

Desorientação

«Para lá das razões do descontentamento, há duas leituras da manifestação dos professores em Lisboa que não podem ser ignoradas.

A primeira é social. O movimento de contestação a este Governo tem assumido, desde Março de 2007, uma escalada sem precedentes. Sabendo que as alternativas ao PS são frouxas, sabendo que o diálogo social e político é inexistente, estando cada vez mais presentes as más políticas e menos as boas, só resta ao português médio exigir atenção na rua. É assim que este Governo socialista corre o risco de ficar para a história como tendo liberalizado as relações laborais, desmantelado a Saúde, feito reformas atabalhoadas na Educação, mexido a medo na Função Pública. A raiva que os portugueses têm alimentado faz esquecer o que de positivo se tem feito. E a tolerância parece ter limites, mesmo depois dos dois governos desastrosos de Durão e Santana.

A segunda leitura é política e tem como expoente máximo o ministro Augusto Santos Silva - o mesmo que alarmou para um golpe constitucional se Cavaco fosse presidente da República -, a chamar fascistas aos manifestantes de Chaves. Mostra a desorientação de um Governo irritado com a falta de gratidão que acha que os portugueses lhe devem, que não sabe sequer como explicar o "voluntarismo" da PSP, que foi às escolas para tentar saber quantos iam à manifestação. Mas, enfim, esperamos ansiosamente por ver polícias nas sedes do Partido Socialista a perguntar quantos militantes vão estar presentes no comício/manifestação a favor do Governo do próximo sábado, no Porto.

O que se percebe é que a estratégia de Sócrates de atirar os portugueses uns contra os outros, como se fosse o 'Robin dos Bosques' dos sem- -privilégio, já não engana ninguém. Porque entre os professores há pais e os pais já começam a perceber que a instabilidade na Educação é a mesma que se viveu na Saúde, em que os casos de Alijó e de Anadia contribuíram para a queda do ministro. Se o arrependimento levasse ao céu, Sócrates já lá estaria desde o dia em que decidiu manter Maria de Lurdes Rodrigues. E agora é tarde. Não pode demitir a ministra, sob pena de mostrar fraqueza. Não a pode manter, sob pena de perder o controlo da rua. E o poder na rua pode ter efeitos perversos.»

Domingos de Andrade, Chefe de Redacção. JN de 10-03-08

Desnorte total

«Santos Silva adora o papel de ideólogo ao serviço das políticas de direita. A propósito de tudo e de nada mete a colherada e teoriza sobre as fronteiras entre a esquerda e a direita. Dá-lhe gozo subir a escadaria parlamentar, puxar do léxico académico, citar metáforas doutorais e convocar a retórica em socorro do imaginário esquerdismo das políticas do seu governo. É o académico travestido em político que se deleita a disfarçar a vida e as consequências dramáticas das suas políticas. Este é o retrato robot de Santos Silva, ministro da propaganda, retrato de um homem que abusa da metáfora para se reclamar de esquerda, esquecendo que o que verdadeiramente distingue as políticas são os interesses que servem e quem delas beneficia.

Sendo uma espécie de estereótipo político, era também expectável que fosse dos primeiros a vergar perante as ondas de choque de oposição ao seu Governo. É sempre assim, quem mais usa a retórica como máscara mais depressa a deixa cair quando se tornam evidentes as consequências negativas das suas políticas. Foi o que lhe sucedeu, sobretudo depois do Governo ter julgado que a contestação popular seria estancada com a mudança de caras na Saúde. Ao contrário do imaginado, a oposição alargou-se e converteu-se num gigantesco protesto na educação, área onde o autoritarismo impera desde o início da legislatura. O desnorte instalou-se no núcleo duro de José Sócrates, a falta de discernimento começou a tocar de forma mais marcante os seus principais arautos, a começar por Santos Silva.

O espectro avassalador de dezenas de milhares de professores nas ruas de Lisboa foi a gota de água em direcção à desorientação generalizada. Valeu tudo para tentar impedir e intimidar, desde a cegueira de ver comunistas em todo o lado até à ordem - igualmente fascizante - para indagar nas escolas o número de aderentes. Era, porém, tarde demais, nada seria já capaz de suster a torrente de protesto de uma classe profissional profundamente espezinhada por José Sócrates.

Foi sem surpresa que se assistiu ao desespero completo tomar conta de Santos Silva, fazendo-lhe cair a máscara com fragor. Insultou os comunistas e os democratas portugueses. O país sabe há muito, e muito bem, quem mais lutou e sofreu - com a prisão e a própria vida - pela liberdade em Portugal. Mas no sábado, o que o país não sabia e ficou a saber foi que Santos Silva nunca lá esteve, na luta contra Salazar e pela Democracia. Mas se tivesse querido, e tivesse tido coragem, até já tinha boa idade para se ter dado por ele...»

Honório Novo, Deputado do PCP. JN de 10-03-08

Tudo normal

«100 000 dos 140 000 professores portugueses manifestaram-se em Lisboa exigindo a demissão da ministra. Mas, para esta, "o país não tem escolha". Por isso, "continuará a trabalhar". Anteriormente, em várias localidades do país que não tem escolha polícias à paisana andaram pelas escolas a perguntar quem iria manifestar-se a Lisboa, "coisa - para o porta-voz do PS, Vitalino Canas - perfeitamente normal", com a PSP a cumprir "simplesmente as suas funções". Por sua vez, na área de serviço de Aveiras, a BT, também cumprindo simplesmente as suas funções, interceptou 20 autocarros cheios de professores impedindo-os de chegar a tempo à manifestação, para confirmar se todos traziam os cintos de segurança devidamente postos. Em Chaves, um perplexo ministro, confrontado com mais manifestantes, informou-os de que "a liberdade é algo que o país deve a Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre. Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira". Excluiu-se modestamente a si próprio da lista de credores do país mas cumpriu também simplesmente as suas funções, e Chaves é um sítio como outro qualquer para reescrever a História. Como os xadrezistas de que fala a lenda, o Governo parece tão absorvido no seu próprio jogo que não dá conta de que a cidade está em chamas.»

Crónica diária de Manuel António Pina. JN de 10-03-08

Opiniões sintomáticas!...

Justifica-se plenamente a frase muito utilizada ultimamente nas ruas de Portugal:

"Está na hora, está na hora, do governo ir embora!"

Este Portugal à moda de Sócrates

Hoje apenas usarei as palavras de outros para descrever o actual estado da nação. Esta é a nação à maneira Sócrates, ou antes, o estado a que chegou Portugal com Sócrates.

(Os sublinhados são opção minha)

Desorientação

«Para lá das razões do descontentamento, há duas leituras da manifestação dos professores em Lisboa que não podem ser ignoradas.

A primeira é social. O movimento de contestação a este Governo tem assumido, desde Março de 2007, uma escalada sem precedentes. Sabendo que as alternativas ao PS são frouxas, sabendo que o diálogo social e político é inexistente, estando cada vez mais presentes as más políticas e menos as boas, só resta ao português médio exigir atenção na rua. É assim que este Governo socialista corre o risco de ficar para a história como tendo liberalizado as relações laborais, desmantelado a Saúde, feito reformas atabalhoadas na Educação, mexido a medo na Função Pública. A raiva que os portugueses têm alimentado faz esquecer o que de positivo se tem feito. E a tolerância parece ter limites, mesmo depois dos dois governos desastrosos de Durão e Santana.

A segunda leitura é política e tem como expoente máximo o ministro Augusto Santos Silva - o mesmo que alarmou para um golpe constitucional se Cavaco fosse presidente da República -, a chamar fascistas aos manifestantes de Chaves. Mostra a desorientação de um Governo irritado com a falta de gratidão que acha que os portugueses lhe devem, que não sabe sequer como explicar o "voluntarismo" da PSP, que foi às escolas para tentar saber quantos iam à manifestação. Mas, enfim, esperamos ansiosamente por ver polícias nas sedes do Partido Socialista a perguntar quantos militantes vão estar presentes no comício/manifestação a favor do Governo do próximo sábado, no Porto.

O que se percebe é que a estratégia de Sócrates de atirar os portugueses uns contra os outros, como se fosse o 'Robin dos Bosques' dos sem- -privilégio, já não engana ninguém. Porque entre os professores há pais e os pais já começam a perceber que a instabilidade na Educação é a mesma que se viveu na Saúde, em que os casos de Alijó e de Anadia contribuíram para a queda do ministro. Se o arrependimento levasse ao céu, Sócrates já lá estaria desde o dia em que decidiu manter Maria de Lurdes Rodrigues. E agora é tarde. Não pode demitir a ministra, sob pena de mostrar fraqueza. Não a pode manter, sob pena de perder o controlo da rua. E o poder na rua pode ter efeitos perversos.»

Domingos de Andrade, Chefe de Redacção. JN de 10-03-08

Desnorte total

«Santos Silva adora o papel de ideólogo ao serviço das políticas de direita. A propósito de tudo e de nada mete a colherada e teoriza sobre as fronteiras entre a esquerda e a direita. Dá-lhe gozo subir a escadaria parlamentar, puxar do léxico académico, citar metáforas doutorais e convocar a retórica em socorro do imaginário esquerdismo das políticas do seu governo. É o académico travestido em político que se deleita a disfarçar a vida e as consequências dramáticas das suas políticas. Este é o retrato robot de Santos Silva, ministro da propaganda, retrato de um homem que abusa da metáfora para se reclamar de esquerda, esquecendo que o que verdadeiramente distingue as políticas são os interesses que servem e quem delas beneficia.

Sendo uma espécie de estereótipo político, era também expectável que fosse dos primeiros a vergar perante as ondas de choque de oposição ao seu Governo. É sempre assim, quem mais usa a retórica como máscara mais depressa a deixa cair quando se tornam evidentes as consequências negativas das suas políticas. Foi o que lhe sucedeu, sobretudo depois do Governo ter julgado que a contestação popular seria estancada com a mudança de caras na Saúde. Ao contrário do imaginado, a oposição alargou-se e converteu-se num gigantesco protesto na educação, área onde o autoritarismo impera desde o início da legislatura. O desnorte instalou-se no núcleo duro de José Sócrates, a falta de discernimento começou a tocar de forma mais marcante os seus principais arautos, a começar por Santos Silva.

O espectro avassalador de dezenas de milhares de professores nas ruas de Lisboa foi a gota de água em direcção à desorientação generalizada. Valeu tudo para tentar impedir e intimidar, desde a cegueira de ver comunistas em todo o lado até à ordem - igualmente fascizante - para indagar nas escolas o número de aderentes. Era, porém, tarde demais, nada seria já capaz de suster a torrente de protesto de uma classe profissional profundamente espezinhada por José Sócrates.

Foi sem surpresa que se assistiu ao desespero completo tomar conta de Santos Silva, fazendo-lhe cair a máscara com fragor. Insultou os comunistas e os democratas portugueses. O país sabe há muito, e muito bem, quem mais lutou e sofreu - com a prisão e a própria vida - pela liberdade em Portugal. Mas no sábado, o que o país não sabia e ficou a saber foi que Santos Silva nunca lá esteve, na luta contra Salazar e pela Democracia. Mas se tivesse querido, e tivesse tido coragem, até já tinha boa idade para se ter dado por ele...»

Honório Novo, Deputado do PCP. JN de 10-03-08

Tudo normal

«100 000 dos 140 000 professores portugueses manifestaram-se em Lisboa exigindo a demissão da ministra. Mas, para esta, "o país não tem escolha". Por isso, "continuará a trabalhar". Anteriormente, em várias localidades do país que não tem escolha polícias à paisana andaram pelas escolas a perguntar quem iria manifestar-se a Lisboa, "coisa - para o porta-voz do PS, Vitalino Canas - perfeitamente normal", com a PSP a cumprir "simplesmente as suas funções". Por sua vez, na área de serviço de Aveiras, a BT, também cumprindo simplesmente as suas funções, interceptou 20 autocarros cheios de professores impedindo-os de chegar a tempo à manifestação, para confirmar se todos traziam os cintos de segurança devidamente postos. Em Chaves, um perplexo ministro, confrontado com mais manifestantes, informou-os de que "a liberdade é algo que o país deve a Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre. Não deve a Álvaro Cunhal nem a Mário Nogueira". Excluiu-se modestamente a si próprio da lista de credores do país mas cumpriu também simplesmente as suas funções, e Chaves é um sítio como outro qualquer para reescrever a História. Como os xadrezistas de que fala a lenda, o Governo parece tão absorvido no seu próprio jogo que não dá conta de que a cidade está em chamas.»

Crónica diária de Manuel António Pina. JN de 10-03-08

Opiniões sintomáticas!...

Justifica-se plenamente a frase muito utilizada ultimamente nas ruas de Portugal:

"Está na hora, está na hora, do governo ir embora!"

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