portugal dos pequeninos: TELENOVELAS

15-02-2008
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O Jorge Ferreira desafia-me a dizer das telenovelas "Morangos com açúcar" e "Floribella" tão ou mais "mal" do que disse do "mundial" nas televisões. Já percebi que, quer a TVI, para a primeira, quer a SIC, para a segunda, não se poupam, nem nas horas infinitas de transmissão, nem nos horários. Sobre os "Morangos" - que constituem o maior "pastelão" da TVI desde há não sei quantos anos - já várias vezes me pronunciei. É um "retrato" da adolescência light - haverá outra? -, com diálogos primitivos, "amores" previsíveis e "enredos" idiotas, tudo na transição entre o "secundário", a universidade ou o nada. O casting espreme-se por arranjar meninos e meninas com umas carinhas larocas e os meninos e as meninas espremem-se para aparecer na telenovela. Pelo meio houve um drama - a morte "real" de um dos actores - que infelizmente foi explorado até à exaustão. Ainda o mês passado, estando de férias no Algarve, quando liguei a televisão manhã cedo, lá estava a repetição de uma série anterior dos "Morangos" com o morto. Da "Floribella" nada posso dizer, mas imagino que a "ideia" - se é que aqui há lugar a ideias - é "concorrer" com a outra, com a publicidade inerente promovida pelo grupo Balsemão. Dá resultado. O filho da minha empregada, com quatro anos, sabe as músicas de cor e identifica uma a uma as personagens nuns gigantescos "suplementos" coloridos que o Expresso oferece aos sábados. "Morangos com açúcar" e "Floribella" cumprem - não interessa se mediocremente ou não - a sua função de entretenimento. Como lhes compete, são frívolas e esquecíveis, como o é o quotidiano dos putativos espectadores. Quem as vê, revê-se naquilo porque aquilo limita-se ao que as imagens contam. Não exige pensamento, não compromete e até tem pretensões "pedagógicas", como, no caso dos "Morangos", "ensinar" o sexo seguro, a grande mitomania dos tempos correntes. E a intriga é sempre acessível a qualquer analfabeto. As televisões generalistas lá fora, quer na Europa, quer nos EUA, não são, nesta matéria, exemplo que se recomende. Produtos deste género fazem parte do livre arbítrio da democracia. Quem quer, vê, quem não quer, desliga. Todavia não confundo as coisas. A bola, seja na forma de campeonato ou de "liga", invade outro território que é o da informação. Os telejornais transformaram a bola numa telenovela e, no caso do "mundial", chegámos a ter a telenovela durante quase 24 horas quando ocorria um jogo "importante". Aliás, a RTP, "serviço público", que não tinha acesso aos jogos, não se poupou nessa patriótica missão. A diferença é que as telenovelas, por mais básicas que sejam, não pretendem salvar a pátria. Quando muito, podem aliviá-la momentaneamente e distraí-la. Com a bola, como o Jorge sabe, já não é bem assim. Confunde-se com a política e, através dela, faz-se política. Cada vez que a selecção solta um murmúrio ou mete um golo, a pátria sente-se redimida. Mesmo ficando tudo na mesma - como fica - não há instituição do Estado que não se entregue às pernas salvívicas dos jogadores. Ainda a "liga" não começou, e já não se pode ouvir o "sr. presidente". Tudo serve de pretexto para minutos infinitos nos telejornais, desde o autocarro do sr. Pinto da Costa até às azias do sr. Vieira. Presumo que o sr. Hermínio Loureiro, ilustre deputado da nação e que foi secretário de Estado dos Desportos do dr. Barroso, não quis ir para presidente da "liga" só para passar o tempo, ou o bastonário da Ordem dos Advogados para presidente da assembleia geral do Sporting, por não ter mais nada que fazer. O futebol cumpre fielmente uma função política e a função política não dispensa o futebol. O resto - as telenovelas, o macaco Adriano, o "noddy" e outros que tais -, para já, ainda não atrai a política. Só o sr. Avelino Torres, por acaso um subproduto circense da política e do futebol, é que se sentiu "atraído". E vejam só como acabou.


O Jorge Ferreira desafia-me a dizer das telenovelas "Morangos com açúcar" e "Floribella" tão ou mais "mal" do que disse do "mundial" nas televisões. Já percebi que, quer a TVI, para a primeira, quer a SIC, para a segunda, não se poupam, nem nas horas infinitas de transmissão, nem nos horários. Sobre os "Morangos" - que constituem o maior "pastelão" da TVI desde há não sei quantos anos - já várias vezes me pronunciei. É um "retrato" da adolescência light - haverá outra? -, com diálogos primitivos, "amores" previsíveis e "enredos" idiotas, tudo na transição entre o "secundário", a universidade ou o nada. O casting espreme-se por arranjar meninos e meninas com umas carinhas larocas e os meninos e as meninas espremem-se para aparecer na telenovela. Pelo meio houve um drama - a morte "real" de um dos actores - que infelizmente foi explorado até à exaustão. Ainda o mês passado, estando de férias no Algarve, quando liguei a televisão manhã cedo, lá estava a repetição de uma série anterior dos "Morangos" com o morto. Da "Floribella" nada posso dizer, mas imagino que a "ideia" - se é que aqui há lugar a ideias - é "concorrer" com a outra, com a publicidade inerente promovida pelo grupo Balsemão. Dá resultado. O filho da minha empregada, com quatro anos, sabe as músicas de cor e identifica uma a uma as personagens nuns gigantescos "suplementos" coloridos que o Expresso oferece aos sábados. "Morangos com açúcar" e "Floribella" cumprem - não interessa se mediocremente ou não - a sua função de entretenimento. Como lhes compete, são frívolas e esquecíveis, como o é o quotidiano dos putativos espectadores. Quem as vê, revê-se naquilo porque aquilo limita-se ao que as imagens contam. Não exige pensamento, não compromete e até tem pretensões "pedagógicas", como, no caso dos "Morangos", "ensinar" o sexo seguro, a grande mitomania dos tempos correntes. E a intriga é sempre acessível a qualquer analfabeto. As televisões generalistas lá fora, quer na Europa, quer nos EUA, não são, nesta matéria, exemplo que se recomende. Produtos deste género fazem parte do livre arbítrio da democracia. Quem quer, vê, quem não quer, desliga. Todavia não confundo as coisas. A bola, seja na forma de campeonato ou de "liga", invade outro território que é o da informação. Os telejornais transformaram a bola numa telenovela e, no caso do "mundial", chegámos a ter a telenovela durante quase 24 horas quando ocorria um jogo "importante". Aliás, a RTP, "serviço público", que não tinha acesso aos jogos, não se poupou nessa patriótica missão. A diferença é que as telenovelas, por mais básicas que sejam, não pretendem salvar a pátria. Quando muito, podem aliviá-la momentaneamente e distraí-la. Com a bola, como o Jorge sabe, já não é bem assim. Confunde-se com a política e, através dela, faz-se política. Cada vez que a selecção solta um murmúrio ou mete um golo, a pátria sente-se redimida. Mesmo ficando tudo na mesma - como fica - não há instituição do Estado que não se entregue às pernas salvívicas dos jogadores. Ainda a "liga" não começou, e já não se pode ouvir o "sr. presidente". Tudo serve de pretexto para minutos infinitos nos telejornais, desde o autocarro do sr. Pinto da Costa até às azias do sr. Vieira. Presumo que o sr. Hermínio Loureiro, ilustre deputado da nação e que foi secretário de Estado dos Desportos do dr. Barroso, não quis ir para presidente da "liga" só para passar o tempo, ou o bastonário da Ordem dos Advogados para presidente da assembleia geral do Sporting, por não ter mais nada que fazer. O futebol cumpre fielmente uma função política e a função política não dispensa o futebol. O resto - as telenovelas, o macaco Adriano, o "noddy" e outros que tais -, para já, ainda não atrai a política. Só o sr. Avelino Torres, por acaso um subproduto circense da política e do futebol, é que se sentiu "atraído". E vejam só como acabou.

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