dissonantes

25-02-2008
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Debate parlamentar animado e elucidativo

Procurei acompanhar o debate parlamentar quinzenal com alguma atenção. Perdi o início, a informação do primeiro-ministro sobre a decisão tomada em relação ao Tratado de Lisboa. Da sua ratificação ser por via parlamentar. No entanto, apanhei os argumentos ao longo do debate.

O debate foi muito animado, a meu ver. Mais instrutivo do que é hábito. E com menos espaço para os sermões de Breviário Socialista com que o primeiro-ministro nos tem saturado os tímpanos e a paciência.

E houve até um momento delicioso, verdadeiramente delicioso! Que levou o Parlamento à gargalhada geral! Após a ronda pelas diversas bancadas da oposição, que terminou com a Heloísa Apolónia dos Verdes, não é que o Presidente da Assembleia da República se esqueceu da bancada mimética do PS? É demasiado delicioso! E sintomático.

Voltando ao início do debate propriamente dito, Santana Lopes lembrou a situação do país, com destaque para o SNS. Risível, apesar de dramático, trocar-se uma urgência por uma ambulância: “se dois tiverem um ataque ao mesmo tempo, um terá de ir no tejadilho…” É, a meu ver, uma metáfora perfeita para as reformas actuais do SNS. Ainda se tocou na questão do BCP, mas aqui o primeiro-ministro foi uma vez mais deselegante.

Paulo Portas colocou as questões fundamentais: em relação ao Tratado, a preferência dada aos outros dirigentes europeus em detrimento do próprio país; em relação ao pagamento dos retroactivos das pensões, inicialmente proposto ao longo do ano (68 cêntimos/mês) e posteriormente corrigido para Fevereiro, se esse facto traria consequências políticas, isto é, “aposentar o secretário de Estado” que tinha defendido no dia anterior tal decisão e com os argumentos utilizados… Referiu-se ainda ao Banco de Portugal e à possibilidade de um inquérito se os esclarecimentos do seu governador não se revelarem suficientes.

Jerónimo lembrou igualmente a situação precária “de tantos trabalhadores” e referiu-se ao discurso de Natal do primeiro-ministro… “um pouco plastificado”. Em relação ao Tratado de Lisboa: “que o nome não interessa, até podia ser o Tratado de Freixo de Espada à Cinta ou da Arrentela”, que o importante é o seu conteúdo, como algumas das alterações em termos de soberania, por exemplo. E mostrando que conhece a História de Portugal, referiu-se ao papel do Povo na nossa História (momento delicioso este…) “a soberania é do Povo…”, ao longo da História “foi quem sempre defendeu a nossa soberania” (visualizei-nos em 1385 com o Povo ao lado de D. João I e a maioria dos nobres ao lado de Espanha…). E fixou-se no compromisso eleitoral, através de uma quadra do poeta Aleixo em que para uma mentira passar por verdade… tem de ter um fundo de verdade.

Louçã lançou a pergunta: “O senhor telefonou à Ângela Merkel antes de falar com o Parlamento?” Todos ficámos a saber, depois das explicações atabalhoadas do PM que o seu compromisso é com a Europa e a sua prioridade é a Europa. Em relação ao BCP, algumas perguntas inconvenientes que receberam a mesma resposta de sempre: o governo nada tem a ver com isso.

E finalmente, Heloísa Apolónia a lembrar o medo do referendo, o medo de um “Não” ao Tratado.

Passemos, então, às gafes e aos lapsos linguísticos, pois, não tendo sido ensaiadas, reflectem as “verdades inconvenientes”. Já me referi à gafe sintomática do Presidente da Assembleia da República: esquecer a bancada mimética do PS, mas não me canso de a recordar…

Gafes e lapsos linguísticos do primeiro-ministro:

Quando Santana Lopes utilizou a sua expressão “Porreiro, pá!”: “Não uso plebeísmos” (leia-se: da “plebe”);

Em relação ao compromisso com o país: “O meu compromisso é com a Europa”, “eu sou muito constante em defesa do projecto europeu”, a agenda “é marcada por essa prioridade” (palavras para quê? Está tudo dito);

Para as questões colocadas por Paulo Portas, em relação à subida do preço dos géneros e serviços: “Perguntas de algibeira” (leia-se, a “plebe não me interessa”);

E ainda em relação aos referidos aumentos, muito superiores à actualização das pensões: “Há uns anos o Dr. Portas defendia os lavradores, depois os ex-combatentes, agora é os reformados…” (leia-se, a “plebe”), e considerou essa política como “populista”;

Para tentar designar o BCP: “Banco Central europeu… Banco Central… perdão, Comercial…”;

À frase de Louçã, “O senhor aparece hoje no Parlamento com a corda ao pescoço”, numa clara alusão à quebra de promessas eleitoral: “O senhor não tem autoridade para pôr a corda ao pescoço de ninguém, porque não tem votos para isso” (pensava eu que toda a gente da minha geração conhecia a história de Egas Moniz… Saltando então essa falha: a partir de quantos votos já se podem “pôr cordas ao pescoço” das pessoas?)

sinto-me: perplexa

música: Re-awakening - Peter Hammill - Foll's Mate

Parabéns à Oposição!

Quem ganhou o debate do Orçamento de Estado, neste primeiro dia, foi a oposição. Pelo seu sentido de estado e cidadania. Pela sua interiorização de uma democracia com qualidade. Porque é isso que está em causa. O exercício da democracia e da representação dos interesses de um país e de cidadãos! É por isso que cada vez me é mais difícil e penoso ler as análises políticas e outras nos jornais… Pela sua superficialidade e vistas curtas… Raramente percebem o que está verdadeiramente em causa.

É que, francamente, defender que o actual primeiro-ministro ganhou o debate é de deitar as mãos à cabeça! Mas ganhou o quê, em quê? No sarcasmo? Na propaganda de feira? Nos argumentos previamente gravados no ship e repetidos até à exaustão? Mas isso é que é debater coisa alguma? Irei analisar este espécimen com mais pormenor daqui a pouco…

Aliás, toda a oposição esteve inspirada. Santana Lopes, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas, Francisco Louçã, Heloísa Apolónia. Assim como Patinha Antão, José Mendes Martins, Honório Novo, Teresa Caeiro… não me lembro agora de todos…

Sentido de estado, de cidadania, de serviço público, de exercício da democracia com qualidade e dignidade. Porque é isso precisamente que os cidadãos deste país precisam e desejam há anos! Está toda a oposição de Parabéns!

A indelicadeza e o sarcasmo com que o primeiro-ministro saudou Santana Lopes não são próprios de um espaço nobre como é o Parlamento. Santana Lopes não quis responder no mesmo registo e guardou-se para outras fases do debate.

Discordo dos que dizem que este “duelo” ocupou a primeira parte do debate. Não pode haver duelo quando um dos adversários escolhe sempre a mesma artilharia: as piadas de mau gosto e o sarcasmo… com a claque mimética, a triste bancada do PS…

Jerónimo já aprendeu a não valorizar a gravação do ship com que o actual primeiro-ministro brinda sempre a bancada comunista… Falou bem e depressa, inflamado, corado até! Por momentos temi pela sua pressão arterial… Hilariante é ver como as posições se invertem quando são os próprios comunistas a dizer a um socialista no poder: é sempre a mesma cassete…

Paulo Portas também levou com epítetos completamente desajustados (“frases feitas”, “narcísico”, e outros do género). O actual primeiro-ministro, que não tem dotes de oratória, investe nos adversários políticos com a linguagem que lhe é mais acessível… não respondendo novamente a nenhuma das questões…

A argumentação de Paulo Portas baseou-se em factos, constatações e propostas. E ancorou a credibilidade política no trabalho e na competência. Que defendeu com unhas e dentes.

Louçã agarra-se aos documentos, mostra as páginas, simplifica o discurso e, como sempre, não vê respondida nenhuma das questões que apresenta…

Um momento particularmente delicioso, para descomprimir, o da deputada do CDS/PP, Teresa Caeiro, numa fabulosa “interpelação” que pretendia (e conseguiu), ser uma resposta a algumas provocações do primeiro-ministro! Foi a vacina de prevenção do cancro do colo do útero que acabou por estar na origem deste momento delicioso, com Teresa Caeiro a “interpelar a mesa”… a responder à provocação… e reparem bem no nível da provocação do primeiro-ministro… de suposta “ciumeira” por não ter sido o CDS a implementar a medida…

Por segundos, e isto é absolutamente inédito!, todos os deputados se uniram naquele momento verdadeiramente delicioso! Há momentos assim…

Parabéns à Oposição!

sinto-me: com esperança

música: "Don't Give Up", de Peter Gabriel & Kate Bush

Debate parlamentar animado e elucidativo

Procurei acompanhar o debate parlamentar quinzenal com alguma atenção. Perdi o início, a informação do primeiro-ministro sobre a decisão tomada em relação ao Tratado de Lisboa. Da sua ratificação ser por via parlamentar. No entanto, apanhei os argumentos ao longo do debate.

O debate foi muito animado, a meu ver. Mais instrutivo do que é hábito. E com menos espaço para os sermões de Breviário Socialista com que o primeiro-ministro nos tem saturado os tímpanos e a paciência.

E houve até um momento delicioso, verdadeiramente delicioso! Que levou o Parlamento à gargalhada geral! Após a ronda pelas diversas bancadas da oposição, que terminou com a Heloísa Apolónia dos Verdes, não é que o Presidente da Assembleia da República se esqueceu da bancada mimética do PS? É demasiado delicioso! E sintomático.

Voltando ao início do debate propriamente dito, Santana Lopes lembrou a situação do país, com destaque para o SNS. Risível, apesar de dramático, trocar-se uma urgência por uma ambulância: “se dois tiverem um ataque ao mesmo tempo, um terá de ir no tejadilho…” É, a meu ver, uma metáfora perfeita para as reformas actuais do SNS. Ainda se tocou na questão do BCP, mas aqui o primeiro-ministro foi uma vez mais deselegante.

Paulo Portas colocou as questões fundamentais: em relação ao Tratado, a preferência dada aos outros dirigentes europeus em detrimento do próprio país; em relação ao pagamento dos retroactivos das pensões, inicialmente proposto ao longo do ano (68 cêntimos/mês) e posteriormente corrigido para Fevereiro, se esse facto traria consequências políticas, isto é, “aposentar o secretário de Estado” que tinha defendido no dia anterior tal decisão e com os argumentos utilizados… Referiu-se ainda ao Banco de Portugal e à possibilidade de um inquérito se os esclarecimentos do seu governador não se revelarem suficientes.

Jerónimo lembrou igualmente a situação precária “de tantos trabalhadores” e referiu-se ao discurso de Natal do primeiro-ministro… “um pouco plastificado”. Em relação ao Tratado de Lisboa: “que o nome não interessa, até podia ser o Tratado de Freixo de Espada à Cinta ou da Arrentela”, que o importante é o seu conteúdo, como algumas das alterações em termos de soberania, por exemplo. E mostrando que conhece a História de Portugal, referiu-se ao papel do Povo na nossa História (momento delicioso este…) “a soberania é do Povo…”, ao longo da História “foi quem sempre defendeu a nossa soberania” (visualizei-nos em 1385 com o Povo ao lado de D. João I e a maioria dos nobres ao lado de Espanha…). E fixou-se no compromisso eleitoral, através de uma quadra do poeta Aleixo em que para uma mentira passar por verdade… tem de ter um fundo de verdade.

Louçã lançou a pergunta: “O senhor telefonou à Ângela Merkel antes de falar com o Parlamento?” Todos ficámos a saber, depois das explicações atabalhoadas do PM que o seu compromisso é com a Europa e a sua prioridade é a Europa. Em relação ao BCP, algumas perguntas inconvenientes que receberam a mesma resposta de sempre: o governo nada tem a ver com isso.

E finalmente, Heloísa Apolónia a lembrar o medo do referendo, o medo de um “Não” ao Tratado.

Passemos, então, às gafes e aos lapsos linguísticos, pois, não tendo sido ensaiadas, reflectem as “verdades inconvenientes”. Já me referi à gafe sintomática do Presidente da Assembleia da República: esquecer a bancada mimética do PS, mas não me canso de a recordar…

Gafes e lapsos linguísticos do primeiro-ministro:

Quando Santana Lopes utilizou a sua expressão “Porreiro, pá!”: “Não uso plebeísmos” (leia-se: da “plebe”);

Em relação ao compromisso com o país: “O meu compromisso é com a Europa”, “eu sou muito constante em defesa do projecto europeu”, a agenda “é marcada por essa prioridade” (palavras para quê? Está tudo dito);

Para as questões colocadas por Paulo Portas, em relação à subida do preço dos géneros e serviços: “Perguntas de algibeira” (leia-se, a “plebe não me interessa”);

E ainda em relação aos referidos aumentos, muito superiores à actualização das pensões: “Há uns anos o Dr. Portas defendia os lavradores, depois os ex-combatentes, agora é os reformados…” (leia-se, a “plebe”), e considerou essa política como “populista”;

Para tentar designar o BCP: “Banco Central europeu… Banco Central… perdão, Comercial…”;

À frase de Louçã, “O senhor aparece hoje no Parlamento com a corda ao pescoço”, numa clara alusão à quebra de promessas eleitoral: “O senhor não tem autoridade para pôr a corda ao pescoço de ninguém, porque não tem votos para isso” (pensava eu que toda a gente da minha geração conhecia a história de Egas Moniz… Saltando então essa falha: a partir de quantos votos já se podem “pôr cordas ao pescoço” das pessoas?)

sinto-me: perplexa

música: Re-awakening - Peter Hammill - Foll's Mate

Parabéns à Oposição!

Quem ganhou o debate do Orçamento de Estado, neste primeiro dia, foi a oposição. Pelo seu sentido de estado e cidadania. Pela sua interiorização de uma democracia com qualidade. Porque é isso que está em causa. O exercício da democracia e da representação dos interesses de um país e de cidadãos! É por isso que cada vez me é mais difícil e penoso ler as análises políticas e outras nos jornais… Pela sua superficialidade e vistas curtas… Raramente percebem o que está verdadeiramente em causa.

É que, francamente, defender que o actual primeiro-ministro ganhou o debate é de deitar as mãos à cabeça! Mas ganhou o quê, em quê? No sarcasmo? Na propaganda de feira? Nos argumentos previamente gravados no ship e repetidos até à exaustão? Mas isso é que é debater coisa alguma? Irei analisar este espécimen com mais pormenor daqui a pouco…

Aliás, toda a oposição esteve inspirada. Santana Lopes, Jerónimo de Sousa, Paulo Portas, Francisco Louçã, Heloísa Apolónia. Assim como Patinha Antão, José Mendes Martins, Honório Novo, Teresa Caeiro… não me lembro agora de todos…

Sentido de estado, de cidadania, de serviço público, de exercício da democracia com qualidade e dignidade. Porque é isso precisamente que os cidadãos deste país precisam e desejam há anos! Está toda a oposição de Parabéns!

A indelicadeza e o sarcasmo com que o primeiro-ministro saudou Santana Lopes não são próprios de um espaço nobre como é o Parlamento. Santana Lopes não quis responder no mesmo registo e guardou-se para outras fases do debate.

Discordo dos que dizem que este “duelo” ocupou a primeira parte do debate. Não pode haver duelo quando um dos adversários escolhe sempre a mesma artilharia: as piadas de mau gosto e o sarcasmo… com a claque mimética, a triste bancada do PS…

Jerónimo já aprendeu a não valorizar a gravação do ship com que o actual primeiro-ministro brinda sempre a bancada comunista… Falou bem e depressa, inflamado, corado até! Por momentos temi pela sua pressão arterial… Hilariante é ver como as posições se invertem quando são os próprios comunistas a dizer a um socialista no poder: é sempre a mesma cassete…

Paulo Portas também levou com epítetos completamente desajustados (“frases feitas”, “narcísico”, e outros do género). O actual primeiro-ministro, que não tem dotes de oratória, investe nos adversários políticos com a linguagem que lhe é mais acessível… não respondendo novamente a nenhuma das questões…

A argumentação de Paulo Portas baseou-se em factos, constatações e propostas. E ancorou a credibilidade política no trabalho e na competência. Que defendeu com unhas e dentes.

Louçã agarra-se aos documentos, mostra as páginas, simplifica o discurso e, como sempre, não vê respondida nenhuma das questões que apresenta…

Um momento particularmente delicioso, para descomprimir, o da deputada do CDS/PP, Teresa Caeiro, numa fabulosa “interpelação” que pretendia (e conseguiu), ser uma resposta a algumas provocações do primeiro-ministro! Foi a vacina de prevenção do cancro do colo do útero que acabou por estar na origem deste momento delicioso, com Teresa Caeiro a “interpelar a mesa”… a responder à provocação… e reparem bem no nível da provocação do primeiro-ministro… de suposta “ciumeira” por não ter sido o CDS a implementar a medida…

Por segundos, e isto é absolutamente inédito!, todos os deputados se uniram naquele momento verdadeiramente delicioso! Há momentos assim…

Parabéns à Oposição!

sinto-me: com esperança

música: "Don't Give Up", de Peter Gabriel & Kate Bush

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