Almas Douradas: CASO MAL RESOLVIDO

12-10-2009
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© Maria Alice EstrellaDe um caso mal resolvido ninguém escapa. Alguma relação que se perdeu no meio do caminho sem maiores explicações e nos deixou “a ver navios”, esperando em vão por uma resposta e que, no entanto, vive a nos rodear como uma ameaça, um incômodo, uma pressão.Para não fugir à regra, tenho eu um caso mal resolvido, que me ronda e me perturba.E o mais difícil é conviver com o assédio que sofro, constantemente, nas idas e vindas desse intruso que me fascina e enfeitiça.Acabo cedendo as suas artimanhas. Ele se insinua, se oferece e me oferece promessas momentâneas e efêmeras, que se esvaem em minutos, mas apesar de saber disso, caio nas suas armadilhas.Ele se aproveita da minha fragilidade, abusa das minhas carências, invade a privacidade por dentro e por fora, desarruma tudo ao meu redor.Em contrapartida, o meu sossego se desassossega num piscar de olhos, basta que ele desapareça, tamanho o fascínio que ele me causa.E o pior é saber que todos, os que me querem bem, o detestam. Pedem, imploram que eu resolva de uma vez por todas com essa relação nociva e sem sentido.Mas caso mal resolvido exige muita força para sofrer solução de continuidade. Tem que se ter muita valentia, muita coragem para romper com laços que, na verdade, são muito mais frágeis do que se imagina.A gente insiste em guardar recordações de “bons momentos” para justificar a reincidência consciente ou inconsciente em que resvalamos, mais dia, menos dia.Tenho que me render ao fato de que gosto muito da companhia dele. De alguma forma, criei um vínculo doentio com esse caso tormentoso, que, muitas vezes, me tira o sono, me rouba a vida aos poucos porque usa, com perícia, mil disfarces para me agradar e logo depois, desaparece como fumaça que se esvai no ar.Já consegui me ver liberta dele por alguns períodos. No entanto, o danado, sempre descobre um jeito de se infiltrar e se aproveita dos meus medos e das minhas angústias e num piscar de olhos, me faz cair na tentação de voltar.Entretanto, não me engano mais com suas falsas promessas e seu falso comprometimento. Tenho que dar um basta nesse boicote. Preciso encarar o caso mal resolvido de frente, às claras, sem subterfúgios.E nem vou precisar me encantar por outro alguém para me livrar dele. Prescindo de substituições.Estou aprendendo a enterrá-lo e comecei as lições de enterrar, também, a dependência que tenho dele.Preciso confessar que um poema do Affonso Romano de Sant’Anna, está me ajudando a romper com esse caso mal resolvido. “Estou aprendendo a enterrar amigos, corpos conhecidos, e começo as lições de enterrar alguns tipos de esperança. Ainda hoje sepultei um braço e um desejo de vingança. Ontem, fui mais fundo: sepultei a tíbia esquerda e apaguei três nomes da lembrança.”No meu caso, estou apagando o CIGARRO. E ponto final.http://marialicestrella.blogspot.com/


© Maria Alice EstrellaDe um caso mal resolvido ninguém escapa. Alguma relação que se perdeu no meio do caminho sem maiores explicações e nos deixou “a ver navios”, esperando em vão por uma resposta e que, no entanto, vive a nos rodear como uma ameaça, um incômodo, uma pressão.Para não fugir à regra, tenho eu um caso mal resolvido, que me ronda e me perturba.E o mais difícil é conviver com o assédio que sofro, constantemente, nas idas e vindas desse intruso que me fascina e enfeitiça.Acabo cedendo as suas artimanhas. Ele se insinua, se oferece e me oferece promessas momentâneas e efêmeras, que se esvaem em minutos, mas apesar de saber disso, caio nas suas armadilhas.Ele se aproveita da minha fragilidade, abusa das minhas carências, invade a privacidade por dentro e por fora, desarruma tudo ao meu redor.Em contrapartida, o meu sossego se desassossega num piscar de olhos, basta que ele desapareça, tamanho o fascínio que ele me causa.E o pior é saber que todos, os que me querem bem, o detestam. Pedem, imploram que eu resolva de uma vez por todas com essa relação nociva e sem sentido.Mas caso mal resolvido exige muita força para sofrer solução de continuidade. Tem que se ter muita valentia, muita coragem para romper com laços que, na verdade, são muito mais frágeis do que se imagina.A gente insiste em guardar recordações de “bons momentos” para justificar a reincidência consciente ou inconsciente em que resvalamos, mais dia, menos dia.Tenho que me render ao fato de que gosto muito da companhia dele. De alguma forma, criei um vínculo doentio com esse caso tormentoso, que, muitas vezes, me tira o sono, me rouba a vida aos poucos porque usa, com perícia, mil disfarces para me agradar e logo depois, desaparece como fumaça que se esvai no ar.Já consegui me ver liberta dele por alguns períodos. No entanto, o danado, sempre descobre um jeito de se infiltrar e se aproveita dos meus medos e das minhas angústias e num piscar de olhos, me faz cair na tentação de voltar.Entretanto, não me engano mais com suas falsas promessas e seu falso comprometimento. Tenho que dar um basta nesse boicote. Preciso encarar o caso mal resolvido de frente, às claras, sem subterfúgios.E nem vou precisar me encantar por outro alguém para me livrar dele. Prescindo de substituições.Estou aprendendo a enterrá-lo e comecei as lições de enterrar, também, a dependência que tenho dele.Preciso confessar que um poema do Affonso Romano de Sant’Anna, está me ajudando a romper com esse caso mal resolvido. “Estou aprendendo a enterrar amigos, corpos conhecidos, e começo as lições de enterrar alguns tipos de esperança. Ainda hoje sepultei um braço e um desejo de vingança. Ontem, fui mais fundo: sepultei a tíbia esquerda e apaguei três nomes da lembrança.”No meu caso, estou apagando o CIGARRO. E ponto final.http://marialicestrella.blogspot.com/

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