O Comércio do Porto

14-04-2005
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"Sou muito solidário com mulheres" em tribunal devido ao aborto SERVIÇOS Imprimir esta página Contactar Anterior Voltar Seguinte

Presidente da República espera solução equilibrada e pede um debate sossegado e esclarecido

ANA CRISTINA GOMES

Com cautelas, e admitindo ter de ser "prudente" em relação ao tema do aborto, que em breve será discutido na Assembleia da República, Jorge Sampaio afirmou ontem, no decorrer da sua visita oficial a França (ver mais noticiário na página 18), ser "muito solidário com aquelas que sofrem e com aquelas que se sentam no banco dos acusados" e mostrou-se favorável a uma "evolução" da situação em Portugal relativamente a esta matéria, o que parece significar que é favorável a uma alteração legal que, pelo menos, discriminalize o aborto.

O Presidente da República considerou, ainda, que Portugal deve "encontrar uma solução que evite partir o país, porque parece que o país está sempre a partir-se, não importa porquê". "Esta é a minha posição pessoal", sublinhou, em resposta a Jessica, uma aluna do francês Liceu Molière, que não esteve com meias medidas e atirou com um "não acha que o atraso na legalização do aborto dá uma imagem retrógrada e hipócrita de Portugal?".

"A minha posição pessoal é favorável à evolução, em Portugal, nessa matéria", começou por responder Sampaio, elogiando a estudante que fez a "pergunta mais difícil e actual".

Depois, o Presidente da República observou que o debate sobre o aborto "divide muito as pessoas" e que "gostaria que não dividisse tanto".

Assim, numa altura em que se aproxima o debate, Sampaio espera que ele possa ser "sossegado e esclarecido e que não seja visto como ´nós e os outros´", um pouco como quem diz que o debate não deve extremar-se entre as questões da vida e da morte.

"A minha posição pessoal é que há, aqui, uma questão importante, dos direitos das mulheres e da sua profunda necessidade de serem amparadas e acompanhadas num momento muito difícil das suas vidas", acrescentou.

Sampaio afirma-se, portanto, solidário com as mulheres que, por praticarem o aborto, têm de se sentar "no banco dos acusados" e pede uma solução "equilibrada" que não divida o país. "Olala, como dizem os franceses", desabafou Sampaio, no fim da resposta.

CDS critica "oportunidade" das declarações

"Não faz sentido, em vésperas de referendo, o Presidente da República pronunciar-se a favor de uma das posições", defendeu Telmo Correia aos jornalistas, à margem da sessão plenária da Assembleia da República. "Se (o Presidente da República) quer um debate sereno não faz sentido que tome posição por um dos lados", criticou Telmo Correia, salientando que "tudo indica" que vai haver novo referendo sobre o aborto, dada a actual maioria de esquerda no Parlamento.

Em declarações aos jornalistas, a deputada do PS Sónia Fertuzinhos considerou "lamentável" a crítica feita pelo CDS-PP ao PR e acusou os democratas-cristãos de fazerem "chantagem política sobre problemas graves do país".

"O Presidente fez uso da sua independência e da sua função para responder a uma pergunta que lhe foi feita de forma muito natural", disse a deputada socialista. O líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, argumentou que as declarações do chefe de Estado em resposta a uma estudante, em França, "permitem constatar que a lei portuguesa sobre a IVG é motivo de desprestígio de Portugal no exterior". "O Presidente da República tem o poder de se pronunciar sobre todos os assuntos, de convocar referendos e até de participar neles", defendeu também a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto. O grupo parlamentar do PSD não teceu quaisquer comentários.

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O Comércio do Porto é um produto da Editorial Prensa Ibérica.

Fica expressamente proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos oferecidos através deste meio, salvo autorização expressa de O Comércio do Porto

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Presidente da República espera solução equilibrada e pede um debate sossegado e esclarecido

ANA CRISTINA GOMES

Com cautelas, e admitindo ter de ser "prudente" em relação ao tema do aborto, que em breve será discutido na Assembleia da República, Jorge Sampaio afirmou ontem, no decorrer da sua visita oficial a França (ver mais noticiário na página 18), ser "muito solidário com aquelas que sofrem e com aquelas que se sentam no banco dos acusados" e mostrou-se favorável a uma "evolução" da situação em Portugal relativamente a esta matéria, o que parece significar que é favorável a uma alteração legal que, pelo menos, discriminalize o aborto.

O Presidente da República considerou, ainda, que Portugal deve "encontrar uma solução que evite partir o país, porque parece que o país está sempre a partir-se, não importa porquê". "Esta é a minha posição pessoal", sublinhou, em resposta a Jessica, uma aluna do francês Liceu Molière, que não esteve com meias medidas e atirou com um "não acha que o atraso na legalização do aborto dá uma imagem retrógrada e hipócrita de Portugal?".

"A minha posição pessoal é favorável à evolução, em Portugal, nessa matéria", começou por responder Sampaio, elogiando a estudante que fez a "pergunta mais difícil e actual".

Depois, o Presidente da República observou que o debate sobre o aborto "divide muito as pessoas" e que "gostaria que não dividisse tanto".

Assim, numa altura em que se aproxima o debate, Sampaio espera que ele possa ser "sossegado e esclarecido e que não seja visto como ´nós e os outros´", um pouco como quem diz que o debate não deve extremar-se entre as questões da vida e da morte.

"A minha posição pessoal é que há, aqui, uma questão importante, dos direitos das mulheres e da sua profunda necessidade de serem amparadas e acompanhadas num momento muito difícil das suas vidas", acrescentou.

Sampaio afirma-se, portanto, solidário com as mulheres que, por praticarem o aborto, têm de se sentar "no banco dos acusados" e pede uma solução "equilibrada" que não divida o país. "Olala, como dizem os franceses", desabafou Sampaio, no fim da resposta.

CDS critica "oportunidade" das declarações

"Não faz sentido, em vésperas de referendo, o Presidente da República pronunciar-se a favor de uma das posições", defendeu Telmo Correia aos jornalistas, à margem da sessão plenária da Assembleia da República. "Se (o Presidente da República) quer um debate sereno não faz sentido que tome posição por um dos lados", criticou Telmo Correia, salientando que "tudo indica" que vai haver novo referendo sobre o aborto, dada a actual maioria de esquerda no Parlamento.

Em declarações aos jornalistas, a deputada do PS Sónia Fertuzinhos considerou "lamentável" a crítica feita pelo CDS-PP ao PR e acusou os democratas-cristãos de fazerem "chantagem política sobre problemas graves do país".

"O Presidente fez uso da sua independência e da sua função para responder a uma pergunta que lhe foi feita de forma muito natural", disse a deputada socialista. O líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, argumentou que as declarações do chefe de Estado em resposta a uma estudante, em França, "permitem constatar que a lei portuguesa sobre a IVG é motivo de desprestígio de Portugal no exterior". "O Presidente da República tem o poder de se pronunciar sobre todos os assuntos, de convocar referendos e até de participar neles", defendeu também a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto. O grupo parlamentar do PSD não teceu quaisquer comentários.

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