A Courrier Internacional desta semana tem como destaque o debate Esquerda-Direita. A revista começar por questionar esta dicotomia, algo que não abdico. Por muito redutor que possa parecer há pilares fundamentais que caracterizam, que identificam a Esquerda e a Direita. É verdade que mudam-se os tempos mas também é verdade que há vontades que perduram. Por toda a Europa os conservadores parecem ser o rosto da reforma e da ruptura. Tomando de empréstimo figuras, métodos e discursos que a priori dir-se-iam que se tratava dos progressistas. Bom, Sarkozy e Angela Merkel apresentaram-se ao eleitorado como conservadores. O programa de ambos caracterizou-se pelas reformas que propunham. Impopulares, necessárias, rumo ao futuro. Sob o lema de preservar no país o que permite seguir em frente e mudar o que impede de o fazer. Reagan, Thatcher, Aznar, a lista dos conservadores modernos é numerosa, assim como a dos resultados alcançados. Agitar as instituições, eliminar as reminiscências políticas obsoletas, conquistar o futuro libertando-se das cadeias do passado — esta é a palavra de ordem dos novos conservadores.São os conservadores que sopram hoje o dinamismo e assumem com muita seriedade, à sua maneira, a defesa da liberdade individual dos trabalhadores e dos empresários e a liberdade do mercado. São igualmente os conservadores a conseguir dar vida aos pretensos rouxinóis moribundos da família, religião e pátria. Como escreve Andreas Zielcke no Suddeutsche Zeitungé é como se, do ponto de vista conservador, se reunissem duas mitologias: enquanto os sociais-democratas tradicionais se agarram ao Estado-providência do passado e, voltando costas ao futuro, são impulsionados para a frente pelo turbilhão da História capitalista, os novos conservadores europeus assumiram a dupla face de Jano. Na Antiguidade de Roma, Jano era o guardião das entradas e saídas, do passado e do futuro. Hoje, o espírito do Jano neoconservador olha para trás, para o apogeu da sociedade burguesa, para retomar aí as virtudes fundamentais — «a autoridade, a moral, o respeito, o mérito e o orgulho nacional», como diz Sarkozy —, e paralelamente lançar o olhar sobre um futuro cujo motor é a economia. Apesar de algumas correntes de opinião afirmarem ser contraditório, acontece que a autoridade, a identidade nacional, o respeito e a ordem, mas também a família e a vida, são factores de estabilidade essenciais, graças aos quais é possível ter-se uma economia justa e competitiva.A liberdade individual está também no coração da ideologia conservadora. É com a liberdade que as pessoas se envolvem e se dedicam. A liberdade é o valor supremo para a realização da vontade de qualquer indivíduo. A liberdade consegue, assim, mobilizar o homem. É nesta força de mobilização, eminentemente cidadã, das energias e da criatividade, que reside o fundamento legítimo do novo conservadorismo. Esta noção de liberdade defendida pelos conservadores, em associação estreita com a concorrência — que liberta as energias sociais, abre os espíritos para o mundo, vai buscar a riqueza à invenção e leva a um espírito de tolerância pragmática. É assim o novo conservadorismo. Livre, exigente, competitivo e moderno.
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A Courrier Internacional desta semana tem como destaque o debate Esquerda-Direita. A revista começar por questionar esta dicotomia, algo que não abdico. Por muito redutor que possa parecer há pilares fundamentais que caracterizam, que identificam a Esquerda e a Direita. É verdade que mudam-se os tempos mas também é verdade que há vontades que perduram. Por toda a Europa os conservadores parecem ser o rosto da reforma e da ruptura. Tomando de empréstimo figuras, métodos e discursos que a priori dir-se-iam que se tratava dos progressistas. Bom, Sarkozy e Angela Merkel apresentaram-se ao eleitorado como conservadores. O programa de ambos caracterizou-se pelas reformas que propunham. Impopulares, necessárias, rumo ao futuro. Sob o lema de preservar no país o que permite seguir em frente e mudar o que impede de o fazer. Reagan, Thatcher, Aznar, a lista dos conservadores modernos é numerosa, assim como a dos resultados alcançados. Agitar as instituições, eliminar as reminiscências políticas obsoletas, conquistar o futuro libertando-se das cadeias do passado — esta é a palavra de ordem dos novos conservadores.São os conservadores que sopram hoje o dinamismo e assumem com muita seriedade, à sua maneira, a defesa da liberdade individual dos trabalhadores e dos empresários e a liberdade do mercado. São igualmente os conservadores a conseguir dar vida aos pretensos rouxinóis moribundos da família, religião e pátria. Como escreve Andreas Zielcke no Suddeutsche Zeitungé é como se, do ponto de vista conservador, se reunissem duas mitologias: enquanto os sociais-democratas tradicionais se agarram ao Estado-providência do passado e, voltando costas ao futuro, são impulsionados para a frente pelo turbilhão da História capitalista, os novos conservadores europeus assumiram a dupla face de Jano. Na Antiguidade de Roma, Jano era o guardião das entradas e saídas, do passado e do futuro. Hoje, o espírito do Jano neoconservador olha para trás, para o apogeu da sociedade burguesa, para retomar aí as virtudes fundamentais — «a autoridade, a moral, o respeito, o mérito e o orgulho nacional», como diz Sarkozy —, e paralelamente lançar o olhar sobre um futuro cujo motor é a economia. Apesar de algumas correntes de opinião afirmarem ser contraditório, acontece que a autoridade, a identidade nacional, o respeito e a ordem, mas também a família e a vida, são factores de estabilidade essenciais, graças aos quais é possível ter-se uma economia justa e competitiva.A liberdade individual está também no coração da ideologia conservadora. É com a liberdade que as pessoas se envolvem e se dedicam. A liberdade é o valor supremo para a realização da vontade de qualquer indivíduo. A liberdade consegue, assim, mobilizar o homem. É nesta força de mobilização, eminentemente cidadã, das energias e da criatividade, que reside o fundamento legítimo do novo conservadorismo. Esta noção de liberdade defendida pelos conservadores, em associação estreita com a concorrência — que liberta as energias sociais, abre os espíritos para o mundo, vai buscar a riqueza à invenção e leva a um espírito de tolerância pragmática. É assim o novo conservadorismo. Livre, exigente, competitivo e moderno.