ALMANAQUE MINEIRO: EM BH, NOS ANOS 50

26-06-2009
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O ano de 61 entrou com muitas modificações, principalmente para mim. Já ingressara no curso de Psicologia e arranjara um emprego na área. Sentia necessidade de começar a ganhar a vida e sabia que meu futuro, na dança, era limitado. Entrou em cena, também, um namoro um tanto tumultuado. Como bem dizia Klauss, com relação à formação de um grupo permanente: “namoros e noivados são os maiores obstáculos”. Realmente, eu ficaria noiva, logo no princípio do ano, durante uma apresentação do Concerto Barroco. Não sei se por isso, meu marido tem, até hoje, uma paixão pelas Quatro Estações de Vivaldi, possuindo mais de 100 gravações.

A Prefeitura organizara um programa para levar a arte ao povo. Todos os fins de semana fazíamos um espetáculo na periferia da cidade. Dançávamos o Concerto Barroco e o Teatro Experimental levava Pic-nic no Front de Arrabal. Nos apresentamos em várias favelas e bairros distantes. Lembro-me que, num determinado domingo, fomos à região chamada Matadouro, bem fora da cidade. A Prefeitura se encarregava de montar o palco e providenciar o ônibus para transporte do grupo. Nesse domingo, quando voltávamos já cansados, observamos que o ônibus não conseguia se manter na estrada e o motorista estava literalmente emborcado no volante. Ficara esperando o término das apresentações em um botequim onde “enchera a cara”. Por mais incrível que isso possa parecer, nenhum de nós sabia dirigir sequer um carro, quanto mais um ônibus! Fizemos com que ele parasse e fomos para a estrada pedir carona. Um dos carros que parou era dirigido pelo Murilo Badaró. Foi nele que cheguei em casa sã e salva. Nos próximos domingos, providenciamos para que alguém tomasse conta do motorista.

Numa das últimas apresentações, na favela Santa Lúcia, no alto de um morro, meu então namorado resolveu acabar com uma briga que parecia definitiva e me propor casamento. Decidimos nossas vidas assim que eu saí do palco ainda vestida e maquiada para o número. Na semana seguinte, Anna Marina anunciava em sua coluna no jornal: “Depois de 200 brigas e 200 reconciliações, ficaram noivos Carlos Denis Machado e Lúcia Helena Pinto Monteiro, do Balé Klauss Vianna”.

Lúcia Helena Monteiro Machado

em A Filha da Paciência

na época da geração complemento

BDMG Cultura. Belo Horizonte.

2001.

O ano de 61 entrou com muitas modificações, principalmente para mim. Já ingressara no curso de Psicologia e arranjara um emprego na área. Sentia necessidade de começar a ganhar a vida e sabia que meu futuro, na dança, era limitado. Entrou em cena, também, um namoro um tanto tumultuado. Como bem dizia Klauss, com relação à formação de um grupo permanente: “namoros e noivados são os maiores obstáculos”. Realmente, eu ficaria noiva, logo no princípio do ano, durante uma apresentação do Concerto Barroco. Não sei se por isso, meu marido tem, até hoje, uma paixão pelas Quatro Estações de Vivaldi, possuindo mais de 100 gravações.

A Prefeitura organizara um programa para levar a arte ao povo. Todos os fins de semana fazíamos um espetáculo na periferia da cidade. Dançávamos o Concerto Barroco e o Teatro Experimental levava Pic-nic no Front de Arrabal. Nos apresentamos em várias favelas e bairros distantes. Lembro-me que, num determinado domingo, fomos à região chamada Matadouro, bem fora da cidade. A Prefeitura se encarregava de montar o palco e providenciar o ônibus para transporte do grupo. Nesse domingo, quando voltávamos já cansados, observamos que o ônibus não conseguia se manter na estrada e o motorista estava literalmente emborcado no volante. Ficara esperando o término das apresentações em um botequim onde “enchera a cara”. Por mais incrível que isso possa parecer, nenhum de nós sabia dirigir sequer um carro, quanto mais um ônibus! Fizemos com que ele parasse e fomos para a estrada pedir carona. Um dos carros que parou era dirigido pelo Murilo Badaró. Foi nele que cheguei em casa sã e salva. Nos próximos domingos, providenciamos para que alguém tomasse conta do motorista.

Numa das últimas apresentações, na favela Santa Lúcia, no alto de um morro, meu então namorado resolveu acabar com uma briga que parecia definitiva e me propor casamento. Decidimos nossas vidas assim que eu saí do palco ainda vestida e maquiada para o número. Na semana seguinte, Anna Marina anunciava em sua coluna no jornal: “Depois de 200 brigas e 200 reconciliações, ficaram noivos Carlos Denis Machado e Lúcia Helena Pinto Monteiro, do Balé Klauss Vianna”.

Lúcia Helena Monteiro Machado

em A Filha da Paciência

na época da geração complemento

BDMG Cultura. Belo Horizonte.

2001.

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