O Carmo e a Trindade: O PÚBLICO percorreu o centro da cidade com o arquitecto Manuel Graça Dias

26-06-2009
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PUBLICO-Câmara "parece estar no bom caminho", mas já podia ter feito algo pelos transportes-21.07.2008, Ana HenriquesO PÚBLICO percorreu o centro da cidade com o arquitecto Manuel Graça Dias, apoiante de António Costa na campanha eleitoral, para fazer o balanço de um ano de mandato autárquico(...) Não é a indigência que faz mossa ao arquitecto Manuel Graça Dias, enquanto observa a figura da mulher a circular pela rua pedonal: "Não acho graça a estas mariquices para turistas." O que o irrita é o cenário de uma Baixa morta aos fins-de-semana - "Em Milão há magotes de gente às compras ao sábado à tarde", atira - e um Terreiro do Paço que a autarquia tenta animar com actividades "mixurucas", à mistura com esplanadas precárias, quiosques e roulotes de farturas. "Depois contrataram um monos da Escola de Circo. Quem quer ver palhaços vai ao Coliseu." .Apoiante de António Costa para a presidência da câmara, Graça Dias faz um balanço positivo deste primeiro ano de mandato -- mas deixa críticas à actuação do executivo. "Não tem interesse nenhum tirar o trânsito do Terreiro do Paço aos fins-de-semana", observa, qualificando a concretização desta promessa eleitoral como "patética". Animação de jeito nas arcadas sim; mas reservando a placa central para grandes acontecimentos espontâneos, como as ligadas ao futebol ou a manifestação de polícias contra polícias de 1989. .O arquitecto sabe que muita da revitalização do centro da cidade passa por quebrar a teimosia dos comerciantes, mas pensa que à autarquia cabe um papel: "Tem de haver maneira de envolver esta gente, nem que seja com vantagens fiscais para praticarem horários alargados." A seguir aponta para o lado, para o Martinho da Arcada: "É um restaurante bestial, mas uns amigos meus chegaram cá às 22h e já não lhes deram jantar." Por trás, até à Praça da Figueira, desenvolvem-se quarteirões de prédios pardacentos e esvaziados de habitantes. "Se não houver estacionamento, quem é que vem para aqui morar?" Os obstáculos que o seu colega de profissão Manuel Salgado, vereador do Urbanismo, parece estar a ultrapassar para facilitar obras destinadas a tornar mais habitáveis os edifícios da Baixa - como a introdução de elevadores, essencial para incentivar o povoamento desta zona - merecem a sua admiração. .De resto, o alívio da carga burocrática associada aos licenciamentos parece estar a fazer-se sentir no resto de Lisboa: "Já o senti e colegas meus também." Podem ser boas notícias para os arquitectos de renome com trabalhos à espera de aprovação. "[Até porque] não temos assim tanta qualidade arquitectónica em Lisboa para desprezarmos Renzo Piano, Norman Foster ou Jean Nouvel.".Para estancar a desertificação da Baixa, a redução do IMI e a eliminação das taxas que incidem sobre as obras de reabilitação são instrumentos para salvaguardar a diversidade social, evitando que esta zona da cidade se transforme num ghetto de ricos. A promoção de habitação a custos controlados no centro, para gente de todas as idades, deveria, por outro lado, ser o principal objectivo da Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, defende o arquitecto. .Acabar com a praga"São muitos problemas para resolver num ano. Há alguns indícios de que a Câmara de Lisboa está no bom caminho, Não há certeza absoluta", analisa, enquanto passa por carros estacionados em segunda fila e no passeio. Acabar com esta praga fazia parte das medidas que Costa tinha garantido levar por diante. Foi uma promessa "um pouco demagógica" - impossível de cumprir sem ser através de um policiamento avassalador. "Ainda não há uma oferta de transporte público que pela sua qualidade, preço e conforto desencoraje o uso do automóvel", refere. A mobilidade é das áreas em que o executivo menos pontuou: "Ainda não vi nada. É fundamental dar um murro na mesa e conseguir-se entrar em negociações com os operadores." E se algumas promessas foram tolhidas pelo facto de o Tribunal de Contas ter chumbado o empréstimo para saldar dívidas a fornecedores, este não será o caso. A nível cultural, entregar a Casa dos Bicos à Fundação Saramago foi uma decisão "feliz", mas o mesmo não se passou com a arte pública com letras e números gigantes que invadiu a cidade, mostra que custou ao município 290 mil euros: "Foi como comprar uma enciclopédia inútil a um vendedor porta a porta." .Que nota merece então este executivo, de zero a 20? O arquitecto opta pelo B, numa escala de A a D. A meio do mandato é cedo para fazer juízos definitivos... Acima de tudo, a vida na cidade só melhorará com medidas de fundo, defende. E essas não se põem em prática do pé para a mão. "Prometer que as passadeiras defronte das escolas vão ser pintadas? Faz parte das atribuições da câmara!"


PUBLICO-Câmara "parece estar no bom caminho", mas já podia ter feito algo pelos transportes-21.07.2008, Ana HenriquesO PÚBLICO percorreu o centro da cidade com o arquitecto Manuel Graça Dias, apoiante de António Costa na campanha eleitoral, para fazer o balanço de um ano de mandato autárquico(...) Não é a indigência que faz mossa ao arquitecto Manuel Graça Dias, enquanto observa a figura da mulher a circular pela rua pedonal: "Não acho graça a estas mariquices para turistas." O que o irrita é o cenário de uma Baixa morta aos fins-de-semana - "Em Milão há magotes de gente às compras ao sábado à tarde", atira - e um Terreiro do Paço que a autarquia tenta animar com actividades "mixurucas", à mistura com esplanadas precárias, quiosques e roulotes de farturas. "Depois contrataram um monos da Escola de Circo. Quem quer ver palhaços vai ao Coliseu." .Apoiante de António Costa para a presidência da câmara, Graça Dias faz um balanço positivo deste primeiro ano de mandato -- mas deixa críticas à actuação do executivo. "Não tem interesse nenhum tirar o trânsito do Terreiro do Paço aos fins-de-semana", observa, qualificando a concretização desta promessa eleitoral como "patética". Animação de jeito nas arcadas sim; mas reservando a placa central para grandes acontecimentos espontâneos, como as ligadas ao futebol ou a manifestação de polícias contra polícias de 1989. .O arquitecto sabe que muita da revitalização do centro da cidade passa por quebrar a teimosia dos comerciantes, mas pensa que à autarquia cabe um papel: "Tem de haver maneira de envolver esta gente, nem que seja com vantagens fiscais para praticarem horários alargados." A seguir aponta para o lado, para o Martinho da Arcada: "É um restaurante bestial, mas uns amigos meus chegaram cá às 22h e já não lhes deram jantar." Por trás, até à Praça da Figueira, desenvolvem-se quarteirões de prédios pardacentos e esvaziados de habitantes. "Se não houver estacionamento, quem é que vem para aqui morar?" Os obstáculos que o seu colega de profissão Manuel Salgado, vereador do Urbanismo, parece estar a ultrapassar para facilitar obras destinadas a tornar mais habitáveis os edifícios da Baixa - como a introdução de elevadores, essencial para incentivar o povoamento desta zona - merecem a sua admiração. .De resto, o alívio da carga burocrática associada aos licenciamentos parece estar a fazer-se sentir no resto de Lisboa: "Já o senti e colegas meus também." Podem ser boas notícias para os arquitectos de renome com trabalhos à espera de aprovação. "[Até porque] não temos assim tanta qualidade arquitectónica em Lisboa para desprezarmos Renzo Piano, Norman Foster ou Jean Nouvel.".Para estancar a desertificação da Baixa, a redução do IMI e a eliminação das taxas que incidem sobre as obras de reabilitação são instrumentos para salvaguardar a diversidade social, evitando que esta zona da cidade se transforme num ghetto de ricos. A promoção de habitação a custos controlados no centro, para gente de todas as idades, deveria, por outro lado, ser o principal objectivo da Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, defende o arquitecto. .Acabar com a praga"São muitos problemas para resolver num ano. Há alguns indícios de que a Câmara de Lisboa está no bom caminho, Não há certeza absoluta", analisa, enquanto passa por carros estacionados em segunda fila e no passeio. Acabar com esta praga fazia parte das medidas que Costa tinha garantido levar por diante. Foi uma promessa "um pouco demagógica" - impossível de cumprir sem ser através de um policiamento avassalador. "Ainda não há uma oferta de transporte público que pela sua qualidade, preço e conforto desencoraje o uso do automóvel", refere. A mobilidade é das áreas em que o executivo menos pontuou: "Ainda não vi nada. É fundamental dar um murro na mesa e conseguir-se entrar em negociações com os operadores." E se algumas promessas foram tolhidas pelo facto de o Tribunal de Contas ter chumbado o empréstimo para saldar dívidas a fornecedores, este não será o caso. A nível cultural, entregar a Casa dos Bicos à Fundação Saramago foi uma decisão "feliz", mas o mesmo não se passou com a arte pública com letras e números gigantes que invadiu a cidade, mostra que custou ao município 290 mil euros: "Foi como comprar uma enciclopédia inútil a um vendedor porta a porta." .Que nota merece então este executivo, de zero a 20? O arquitecto opta pelo B, numa escala de A a D. A meio do mandato é cedo para fazer juízos definitivos... Acima de tudo, a vida na cidade só melhorará com medidas de fundo, defende. E essas não se põem em prática do pé para a mão. "Prometer que as passadeiras defronte das escolas vão ser pintadas? Faz parte das atribuições da câmara!"

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