A política da verdade...

25-09-2009
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António Preto e Helena Lopes da Costa, sim, os mesmos que Manuela Ferreira Leite escolheu para as listas às eleições, são acusados de comprarem votos dos militantes do PSD nas eleições internas do partido por 25 euros.

As acusações são graves - em primeiro lugar, porque se percebe como valem pouco os votos dos militantes partidários - e devem ser investigados pela justiça. Mas Ferreira Leite, que tanto fala de verdade, não deve, não pode simplesmente afirmar que não quer falar do assunto, porque, ao contrário do que afirma, este é mesmo um assunto de campanha. Mais, é um assunto de regime e uma candidata a líder do Governo tem de ter opinião sobre matérias de Estado, como são a organização dos partidos políticos, porque os partidos são uma das bases do funcionamento da Democracia. Não é apenas um ‘caso' de campanha, como sabem todos os que alguma vez tiveram contacto com a realidade das estruturas distritais dos partidos, de todos, especialmente dos de poder.

A presidente do PSD condenou de forma clara, e bem, a alegada compra de votos, bem pode tentar fazer ‘desaparecer' este assunto, mas não vai consegui-lo. As escolhas que fez, depois das bandeiras políticas que ergueu, vão persegui-la até ao dia 27 de Setembro. Porque o passado daqueles dois militantes - historicamente activos na carreira político-partidária de Ferreira Leite - é demasiado obscuro, tem demasiados casos. E Ferreira Leite perde votos, especialmente dos indecisos, que não gostam de Sócrates, mas que exigem a prometida política de verdade.

... E AS COLIGAÇÕES

O Diário Económico revelou na edição de ontem que José Sócrates propôs aos seus colegas europeus a criação de uma taxa sobre as operações financeiras. Os bancos têm de mudar de vida, têm de corrigir comportamentos, têm de devolver à sociedade os apoios de que beneficiaram no pico da crise. Mas isso deve ser assegurado sem penalizar a criação de riqueza.

A proposta está, obviamente, a dar os seus primeiros passos em termos europeus, mas tem um objectivo de política interna importante. Esta proposta - fácil, popular, quase populista - mostra que Sócrates acredita ser possível ganhar as eleições com os votos dos que estão próximos do Bloco de Esquerda.

Depois do que fez nos debates, particularmente com Francisco Louçã, Sócrates deveria preocupar-se com o eleitorado que votou no PS há quatro anos e meio e que agora está indeciso, e que pode transferir-se para a abstenção ou para o PSD. Ora, esta proposta, muito do agrado dos radicais de esquerda, dá um sinal errado, o sinal de que o PS está disponível para fazer um acordo com o BE. Faz mal, não deve dar esse sinal, mais ainda, não deve fazer essa coligação, porque há coligações que criam mais instabilidade do que governabilidade.

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António Costa, Director

antonio.costa@economico.pt

António Preto e Helena Lopes da Costa, sim, os mesmos que Manuela Ferreira Leite escolheu para as listas às eleições, são acusados de comprarem votos dos militantes do PSD nas eleições internas do partido por 25 euros.

As acusações são graves - em primeiro lugar, porque se percebe como valem pouco os votos dos militantes partidários - e devem ser investigados pela justiça. Mas Ferreira Leite, que tanto fala de verdade, não deve, não pode simplesmente afirmar que não quer falar do assunto, porque, ao contrário do que afirma, este é mesmo um assunto de campanha. Mais, é um assunto de regime e uma candidata a líder do Governo tem de ter opinião sobre matérias de Estado, como são a organização dos partidos políticos, porque os partidos são uma das bases do funcionamento da Democracia. Não é apenas um ‘caso' de campanha, como sabem todos os que alguma vez tiveram contacto com a realidade das estruturas distritais dos partidos, de todos, especialmente dos de poder.

A presidente do PSD condenou de forma clara, e bem, a alegada compra de votos, bem pode tentar fazer ‘desaparecer' este assunto, mas não vai consegui-lo. As escolhas que fez, depois das bandeiras políticas que ergueu, vão persegui-la até ao dia 27 de Setembro. Porque o passado daqueles dois militantes - historicamente activos na carreira político-partidária de Ferreira Leite - é demasiado obscuro, tem demasiados casos. E Ferreira Leite perde votos, especialmente dos indecisos, que não gostam de Sócrates, mas que exigem a prometida política de verdade.

... E AS COLIGAÇÕES

O Diário Económico revelou na edição de ontem que José Sócrates propôs aos seus colegas europeus a criação de uma taxa sobre as operações financeiras. Os bancos têm de mudar de vida, têm de corrigir comportamentos, têm de devolver à sociedade os apoios de que beneficiaram no pico da crise. Mas isso deve ser assegurado sem penalizar a criação de riqueza.

A proposta está, obviamente, a dar os seus primeiros passos em termos europeus, mas tem um objectivo de política interna importante. Esta proposta - fácil, popular, quase populista - mostra que Sócrates acredita ser possível ganhar as eleições com os votos dos que estão próximos do Bloco de Esquerda.

Depois do que fez nos debates, particularmente com Francisco Louçã, Sócrates deveria preocupar-se com o eleitorado que votou no PS há quatro anos e meio e que agora está indeciso, e que pode transferir-se para a abstenção ou para o PSD. Ora, esta proposta, muito do agrado dos radicais de esquerda, dá um sinal errado, o sinal de que o PS está disponível para fazer um acordo com o BE. Faz mal, não deve dar esse sinal, mais ainda, não deve fazer essa coligação, porque há coligações que criam mais instabilidade do que governabilidade.

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António Costa, Director

antonio.costa@economico.pt

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