Caso Isaltino Morais
Frigideiras, sacos de cimento e corrupção
Explicações das defesas não convenceram juiz de instrução. Isaltino e mais quatro arguidos vão a julgamento
O PSD juntou-se ao PS e aprovou o Orçamento proposto por Isaltino Morais FOTO TIAGO MIRANDA
O que é que umas frigideiras, uns sacos de cimento e uma acusação de corrupção podem ter em comum? À partida nada, mas os três elementos constam do processo de Isaltino Morais relacionado com as contas bancárias na Suíça. Esta semana, o autarca de Oeiras e mais quatro arguidos foram pronunciados por um juiz de instrução criminal e serão julgados em Oeiras.
Uma das suspeitas investigadas pelo Ministério Público (MP) prendeu-se com a elevada quantidade de depósitos em numerário que a ex-mulher de Isaltino, Maria Franco Morais, fez nas suas contas bancárias. Os investigadores suspeitaram que se tratava de dinheiro entregue por empreiteiros ao autarca. Mas, Maria Morais deu outra explicação: a mãe não gostava de bancos. Por isso, guardava dinheiro em casa em frigideiras e num cofre. Já o tio da ex-mulher do autarca preferia, segundo o depoimento de Maria Franco Morais, sacos de cimento para acondicionar notas.
Confrontado com as explicações de Maria Morais, o juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Investigação Criminal, ironizou: Caricata a alegada guarda de dinheiro pela mãe em frigideiras (por uma comerciante? Depende do tamanho delas!!) parado em casa, e pelo tio em sacos de cimento, lê-se no despacho.
A ligação de Isaltino ao ex-jornalista da Lusa, Fernando Trigo, é outro dos pontos focados no despacho de pronúncia. Trigo terá abusado da sua posição na Agência para recolher notícias e editar o boletim municipal de Oeiras.
No processo consta ainda um relatório do Núcleo de Assessoria Técnica do MP que traçou a evolução do património de Isaltino. Em 1986, ao TC, Isaltino declarou que tinha 326 contos (1635 euros) em contas bancárias, algum património proveniente de heranças e um andar de quatro assoalhadas. Num levantamento actualizado, o MP descobriu um lote em Altura, no Algarve, uma loja e uma casa com seis assoalhadas em Carnaxide, outra, com cinco assoalhadas em Miraflores, uma sala na Avenida de Berna, em Lisboa e uma loja em Alcântara.
As pazes com o PSD
Este processo pode adiar o regresso de Isaltino Morais ao PSD, mas não tem afectado a pacificação das relações do autarca com o partido que abandonou em 2005, quando concorreu à autarquia contra Teresa Zambujo, escolhida por Marques Mendes. Esta semana, na votação do Orçamento da Câmara, Isaltino teve quase a unanimidade, não fora o voto contra da CDU. E, se o apoio dos vereadores socialistas não constitui novidade - o PS tem sido um aliado de Isaltino - já a concordância do PSD surpreende. Para Pedro Paulo, líder da Concelhia do PSD de Oeiras, é natural que os vereadores sociais-democratas votem favoravelmente: O PSD teria muitas dificuldades em reprovar um orçamento que segue a política que defendemos nas autarquias onde presidimos.
Helena Lopes da Costa, líder da concelhia de Algés, é da mesma opinião: As Grandes Opções do Plano assentam em preocupações sociais que são as do PSD. Não fazia sentido votarmos contra.
Mas, a aproximação não se ficará por aqui. Como disse Pedro Paulo, a direcção nacional é outra e os sociais-democratas que numa determinada altura abandonaram o partido, por questões internas, são bem-vindos. Ou, como referiu Helena Lopes da Costa: Não faz sentido que o PSD, nas próximas autárquicas se divida em duas listas.
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Caso Isaltino Morais
Frigideiras, sacos de cimento e corrupção
Explicações das defesas não convenceram juiz de instrução. Isaltino e mais quatro arguidos vão a julgamento
O PSD juntou-se ao PS e aprovou o Orçamento proposto por Isaltino Morais FOTO TIAGO MIRANDA
O que é que umas frigideiras, uns sacos de cimento e uma acusação de corrupção podem ter em comum? À partida nada, mas os três elementos constam do processo de Isaltino Morais relacionado com as contas bancárias na Suíça. Esta semana, o autarca de Oeiras e mais quatro arguidos foram pronunciados por um juiz de instrução criminal e serão julgados em Oeiras.
Uma das suspeitas investigadas pelo Ministério Público (MP) prendeu-se com a elevada quantidade de depósitos em numerário que a ex-mulher de Isaltino, Maria Franco Morais, fez nas suas contas bancárias. Os investigadores suspeitaram que se tratava de dinheiro entregue por empreiteiros ao autarca. Mas, Maria Morais deu outra explicação: a mãe não gostava de bancos. Por isso, guardava dinheiro em casa em frigideiras e num cofre. Já o tio da ex-mulher do autarca preferia, segundo o depoimento de Maria Franco Morais, sacos de cimento para acondicionar notas.
Confrontado com as explicações de Maria Morais, o juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Investigação Criminal, ironizou: Caricata a alegada guarda de dinheiro pela mãe em frigideiras (por uma comerciante? Depende do tamanho delas!!) parado em casa, e pelo tio em sacos de cimento, lê-se no despacho.
A ligação de Isaltino ao ex-jornalista da Lusa, Fernando Trigo, é outro dos pontos focados no despacho de pronúncia. Trigo terá abusado da sua posição na Agência para recolher notícias e editar o boletim municipal de Oeiras.
No processo consta ainda um relatório do Núcleo de Assessoria Técnica do MP que traçou a evolução do património de Isaltino. Em 1986, ao TC, Isaltino declarou que tinha 326 contos (1635 euros) em contas bancárias, algum património proveniente de heranças e um andar de quatro assoalhadas. Num levantamento actualizado, o MP descobriu um lote em Altura, no Algarve, uma loja e uma casa com seis assoalhadas em Carnaxide, outra, com cinco assoalhadas em Miraflores, uma sala na Avenida de Berna, em Lisboa e uma loja em Alcântara.
As pazes com o PSD
Este processo pode adiar o regresso de Isaltino Morais ao PSD, mas não tem afectado a pacificação das relações do autarca com o partido que abandonou em 2005, quando concorreu à autarquia contra Teresa Zambujo, escolhida por Marques Mendes. Esta semana, na votação do Orçamento da Câmara, Isaltino teve quase a unanimidade, não fora o voto contra da CDU. E, se o apoio dos vereadores socialistas não constitui novidade - o PS tem sido um aliado de Isaltino - já a concordância do PSD surpreende. Para Pedro Paulo, líder da Concelhia do PSD de Oeiras, é natural que os vereadores sociais-democratas votem favoravelmente: O PSD teria muitas dificuldades em reprovar um orçamento que segue a política que defendemos nas autarquias onde presidimos.
Helena Lopes da Costa, líder da concelhia de Algés, é da mesma opinião: As Grandes Opções do Plano assentam em preocupações sociais que são as do PSD. Não fazia sentido votarmos contra.
Mas, a aproximação não se ficará por aqui. Como disse Pedro Paulo, a direcção nacional é outra e os sociais-democratas que numa determinada altura abandonaram o partido, por questões internas, são bem-vindos. Ou, como referiu Helena Lopes da Costa: Não faz sentido que o PSD, nas próximas autárquicas se divida em duas listas.