Sociedade de Debates: These are a few of my favorite things ...

02-10-2009
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Há já alguns anos que, de uma forma ou de outra, tenho com o Tiago uma discussão sobre as revoluções. Quando a MJ disse, em comentário ao último post, que não achava que eram precisas revoluções senti-me triste, porque acho que cada vez mais elas são desprezadas num mundo que tanto precisa delas. Eu acho que o mundo precisa de mais revoluções. Não precisam de rolar cabeças, nem de correr sangue e às vezes nem precisam de sair nos jornais. Nem sempre basta que as pessoas saiam à rua de laranja (ou de branco, ou de azul, ou de amarelo às bolinhas). Não basta barricar umas ruas e colar uns cartazes. Basta que se diga basta. Mas bem alto e com força. Com aquela força quem têm os que durante muito tempo foram fracos. E nem é preciso gritar. Às vezes basta um livro, uma folha, uma página corajosa avidamente lida de olhos abertos.Há quem diga que morreram os heróis. Eu espero que não. Recuso-me a acreditar. Até porque toda a gente sabe que os heróis, a morrer, só morrem no fim do livro quando todos os vilões foram embora. Eles devem andar por aí, escondidos. Como o Rei Artur que voltará quando sentir o reino em perigo.Pode ser infantil, mas não é egoísta. Pode ser insensato, mais não é cruel. Acho que a humanidade precisa de heróis e o mundo de revoluções. E daí nasceu este texto. "Um dia vamos mudar o mundo. Hoje é o dia."Eu gosto de revoluções. Gosto do idealismo e da simplicidade revolucionárias. Gosto da falta de compromissos. Gosto da ideia de que podemos mudar o mundo todo de uma vez, de que amanhã o Sol brilhará com mais força. Gosto de grande tiradas em vozes roucas com suor, daquelas que são gravadas em pedra e fazem arrepiar. Gosto de discursos que fazem crescer lágrimas nos olhos e qualquer coisa grande, gigante, enorme no peito, quando se torna dificil respirar e temos vontade de gritar alto. Gosto de multidões até perder de vista, de pessoas a sair à rua, com perigo para as suas vidas, só porque tem de ser. Gosto de músicas com pratos e tambores, que falam de coisas maiores que a vida. Gosto de avôs que dizem "eu estive lá" e contam coisas que não vêm nos livros de História. Gosto de cartazes nas paredes pintadas de fresco com murais vermelhos. Gosto de grandes ideias e de pequenos gestos, como os cravos na ponta das armas. Gosto da ousadia, da incerteza, do heroísmo, da coragem e do medo. Gosto de David a vencer Golias, de cargas de cavalaria, dos trezentos de Termópilas, da Invencível Armada, do Napoleão e de Júlio César, da Cleópatra e da Maria Antonieta. Gosto da queda do muro de Berlim e do Homem a pisar a lua. Gosto de fronteiras que são quebradas, de mares que são rasgados, de nuvens que se deixam atravessar. Gosto da maçã do Newton e da morte de Sócrates. Gosto de Leonardo e de Stalin, de Rafael e de Lenine, de Fidel e de Picasso. Gosto de Malcom X e de Luther King. Gosto da grande marcha e da de um milhão de homens. Gosto da Bíblia e do livro vermelho, do Príncipe, do Mein Kampf e das declarações de direitos. Gosto das bandeiras, das tochas, das armas, dos hinos, do "sangue, da espuma e [dos] cânticos nos lábios". Gosto das pegadas em areia virgem, dos aplausos, dos assobios. Gosto dos pulos da História, e de vê-la a correr diante dos nossos olhos, à nossa beira, ao nosso lado, dentro de nós. Gosto de sentir que vivemos no melhor dos tempos e no pior dos tempos. Gosto de sentir que algo importa, que algo fica e que as coisas mudam. Angustia-me a morte, o esquecimento, o vazio, o frio, o nada. Quero tudo! Quero dizer que valeu a pena, que estive lá, que vi fazer e fiz; que o mundo ficou diferente e afinal alguma coisa importa. Eu sou assim: gosto de revoluções, de palavras, de abraços e de sumo de limão.


Há já alguns anos que, de uma forma ou de outra, tenho com o Tiago uma discussão sobre as revoluções. Quando a MJ disse, em comentário ao último post, que não achava que eram precisas revoluções senti-me triste, porque acho que cada vez mais elas são desprezadas num mundo que tanto precisa delas. Eu acho que o mundo precisa de mais revoluções. Não precisam de rolar cabeças, nem de correr sangue e às vezes nem precisam de sair nos jornais. Nem sempre basta que as pessoas saiam à rua de laranja (ou de branco, ou de azul, ou de amarelo às bolinhas). Não basta barricar umas ruas e colar uns cartazes. Basta que se diga basta. Mas bem alto e com força. Com aquela força quem têm os que durante muito tempo foram fracos. E nem é preciso gritar. Às vezes basta um livro, uma folha, uma página corajosa avidamente lida de olhos abertos.Há quem diga que morreram os heróis. Eu espero que não. Recuso-me a acreditar. Até porque toda a gente sabe que os heróis, a morrer, só morrem no fim do livro quando todos os vilões foram embora. Eles devem andar por aí, escondidos. Como o Rei Artur que voltará quando sentir o reino em perigo.Pode ser infantil, mas não é egoísta. Pode ser insensato, mais não é cruel. Acho que a humanidade precisa de heróis e o mundo de revoluções. E daí nasceu este texto. "Um dia vamos mudar o mundo. Hoje é o dia."Eu gosto de revoluções. Gosto do idealismo e da simplicidade revolucionárias. Gosto da falta de compromissos. Gosto da ideia de que podemos mudar o mundo todo de uma vez, de que amanhã o Sol brilhará com mais força. Gosto de grande tiradas em vozes roucas com suor, daquelas que são gravadas em pedra e fazem arrepiar. Gosto de discursos que fazem crescer lágrimas nos olhos e qualquer coisa grande, gigante, enorme no peito, quando se torna dificil respirar e temos vontade de gritar alto. Gosto de multidões até perder de vista, de pessoas a sair à rua, com perigo para as suas vidas, só porque tem de ser. Gosto de músicas com pratos e tambores, que falam de coisas maiores que a vida. Gosto de avôs que dizem "eu estive lá" e contam coisas que não vêm nos livros de História. Gosto de cartazes nas paredes pintadas de fresco com murais vermelhos. Gosto de grandes ideias e de pequenos gestos, como os cravos na ponta das armas. Gosto da ousadia, da incerteza, do heroísmo, da coragem e do medo. Gosto de David a vencer Golias, de cargas de cavalaria, dos trezentos de Termópilas, da Invencível Armada, do Napoleão e de Júlio César, da Cleópatra e da Maria Antonieta. Gosto da queda do muro de Berlim e do Homem a pisar a lua. Gosto de fronteiras que são quebradas, de mares que são rasgados, de nuvens que se deixam atravessar. Gosto da maçã do Newton e da morte de Sócrates. Gosto de Leonardo e de Stalin, de Rafael e de Lenine, de Fidel e de Picasso. Gosto de Malcom X e de Luther King. Gosto da grande marcha e da de um milhão de homens. Gosto da Bíblia e do livro vermelho, do Príncipe, do Mein Kampf e das declarações de direitos. Gosto das bandeiras, das tochas, das armas, dos hinos, do "sangue, da espuma e [dos] cânticos nos lábios". Gosto das pegadas em areia virgem, dos aplausos, dos assobios. Gosto dos pulos da História, e de vê-la a correr diante dos nossos olhos, à nossa beira, ao nosso lado, dentro de nós. Gosto de sentir que vivemos no melhor dos tempos e no pior dos tempos. Gosto de sentir que algo importa, que algo fica e que as coisas mudam. Angustia-me a morte, o esquecimento, o vazio, o frio, o nada. Quero tudo! Quero dizer que valeu a pena, que estive lá, que vi fazer e fiz; que o mundo ficou diferente e afinal alguma coisa importa. Eu sou assim: gosto de revoluções, de palavras, de abraços e de sumo de limão.

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