mind this gap

04-07-2009
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Romana, Licenciatura em Assessoria de Administração e pós-graduação em Gestão internacional, Dublin Desde que decidi de mudar para a Irlanda, já me perguntaram uma centena de vezes o que me trouxe por cá. Nunca consegui dar uma resposta directa…. Começava sempre "Pois…. Várias razões…. A experiência de viver noutro país, melhores condições de trabalho, abrir o meu mundo a novas realidades, …"A verdade é que foram tantas as razões que me levaram a este passo que é difícil dar uma resposta concreta. Desde que me lembro como pessoa que tenho um insaciável desejo de viajar, mas nunca tive oportunidade (ou nunca fiz por ter!). Os pais não podiam e os trabalhos de verão eram para ajudar nas despesas da escola.Quis fazer erasmus, mas não pude por razões financeiras e concorri ao INOV Jovem mas não fui aceite.Terminei a licenciatura em Dezembro de 2003. Voltei para a casa dos meus pais e comecei a procurar trabalho. Entre muitos CV's enviados para a minha área, tentei também um trabalho como Au pair, mas não gostei das condições, tentei trabalhar em cruzeiros mas não tinha experiência. A ideia de sair de Portugal, de poder finalmente viajar era algo que não me saia da cabeça.Comecei a trabalhar em Fevereiro de 2004 a ganhar uns míseros 500€ com contratos mensais. Apesar da miséria de ordenado poupei dinheiro para finalmente fazer a minha primeira viagem. Tinha 23 anos. Depois desta viagem percebi quanto tempo tinha perdido… não queria parar.Entretanto, por ingenuidade achei que seria boa ideia fazer uma pós-graduação em gestão internacional no ISCTE. Achei que me iria abrir novas portas no mundo do trabalho.Custou-me os olhos da cara, mas não me arrependo. Apesar de não me ter proporcionado grandes mais valias a nível profissional (e de deixar muito a desejar considerando o custo) foi o empurrão que precisava para mudar a minha vida.Vivi pela primeira vez num ambiente multicultural e fiquei fascinada! Tive professores desde a Alemanha ao Japão e colegas de todos os pontos do mundo.Ter conhecido estas pessoas abriu-me os olhos… vi que existe outra realidade fora do meu "mundinho".O meu ordenado e a minha situação no trabalho melhorou ligieramente, mas continuava com um ordenado que não me permitia sequer sair da casa dos meus pais. Sentia-me a sufocar… precisava de uma mudança!Comecei então a sondar a oferta de trabalho no Reino Unido e na Irlanda. Depois de muito pesquisar percebi que a Irlanda – Dublin - seria melhor opção por ser um país acolhedor, muita oferta de trabalhos, cidade pequena, menor taxa de desemprego da EU (era, certamente a situação já se alterou), grande abertura a estrangeiros, entre outros.Em Setembro de 2006 decidi: Vou viver para a Irlanda!! Enviei vários CV's, recebi muitas respostas, mas todos me aconselhavam a mudar para cá pois seria mais fácil para a deslocação a entrevistas.Felizmente tive o apoio de todos os amigos e família, mas as perguntas repetiam-se entre estes e também entre os curiosos:"Mas tens trabalho?" Não!"E tens casa?" Não!"E tens quem te ajude?" Não!"E vais assim?" Vou!Não, não tinha nada, para além de umas poupanças para recomeçar a minha vida e um hostel marcado para uma noite.Não me queria transformar numa conformista. Frases como: "pois é assim a vida", "é o país que temos", "sempre quis fazer isto ou aquilo, mas nunca fiz porque…" deixavam-me a pensar "não, definitivamente não quero passar o resto da vida a queixar-me sem fazer nada para mudar a minha situação. Ou adapto-me ou mudo!". Resolvi mudar.Conseguimos sempre arranjar desculpas e justificações para não fazermos o que queremos, quando a realidade é que somos comodistas e temos medo de mudanças e dos "e se's" – "e se não corre bem?", "E se não me consigo adaptar?", "E se não arranjo trabalho?!"Eu já tinha adiado tempo demais!No dia 1 de Janeiro de 2007 parti para a Irlanda. Ano novo, vida nova!Comecei por trabalhar num pequeno escritório de contabilidade no centro de Dublin. Não gostei! Mas fiquei feliz porque consegui este trabalho ao fim de uma semana e meia, só precisava de algo para começar.Apesar de ter conseguido com bastante rapidez, recebi um mail de Portugal ao fim de uma semana a perguntar "Afinal não é assim tão fácil arranjar trabalho como tinhas pensado?" HUMMM???? Não vim para cá à espera de ter todos os empregadores à minha espera no aeroporto com cartazes com o meu nome!!!!!!Casa arranjei ao fim de dois dias. Muito simples, partilhada com irlandeses e era que precisava para por as minhas coisas e ter uma morada para tratar de conta bancária e PPS.Dois meses mais tarde mudei de casa e devo ter arranjado o apartamento mais barato do centro da cidade (tendo em conta as boas condições).A casa trazia um brinde :-) Conheci nesta casa aquele que será o meu marido no próximo ano.Seis meses depois mudei de trabalho. Estou agora numa multinacional a trabalhar como account manager, onde existe uma grande variedade cultural.Tenho um ordenado com que nunca sonhei em Portugal. No primeiro ano consegui viajar todos os meses (algumas viagens de trabalho), enquanto que em Portugal só o conseguía uma vez por ano. Neste momento estamos em regime de poupanças porque eu e o meu namorado decidimos casar no próximo ano e fazer um gap year para viajar pelo mundo de malas às costas. Aqui consigo poupar um montante superior ao que era o meu ultimo ordenado em Portugal.Estou feliz aqui, mas tal como em Portugal não me queixo muito. Sim, como todos, tive muitas dificuldades de adaptação a alguns hábitos estranhos dos irlandeses e claro, ao tempo!Mas mais uma vez disse a mim mesma "ou adaptas-te ou mudas". Resolvi adaptar-me.Da comida nem me queixo! É verdade que não consigo encontrar bacalhau salgado, nem pastéis de nata e tenho que pagar mais de 2.50€ por um café, mas sempre comi do bom e do melhor da cozinha italiana e portuguesa. Um dia, um casal de italianos disse que não tinham gostado de Portugal porque não tinham encontrado boa pasta. Fiquei chocada!! Como é que eles podiam ir para Portugal à procura de pasta??Desde que ouvi este comentário, percebi que estava a fazer o mesmo… como é que posso vir para aqui e dizer que não gosto porque não há pastéis de nata?As saudades… essas sim… doem… mas estamos perto. Há telefones e Internet! Quando a minha mãe me disse "filha, vais para tão longe" eu respondi "nem tudo o que parece é. O tempo que demoro da Irlanda para Portugal é o mesmo tempo que demorava para chegar a casa quando estudava em Portalegre."Estou satisfeita com o que tenho aqui! Estou muito feliz ter mudado a minha vida e muito ansiosa com as mudanças que ainda estão para vir. Portugal? Talvez seja optimista, talvez seja ingénua, mas acredito que as coisas vão melhorar. Talvez seja a nossa geração, a tal que é rasca, que terá o poder de revolucionar os velhos hábitos que minam a cultura portuguesa.PS: Pensava que éramos uma espécie rara em Dublin, mas parece que há muitos portugueses por cá. Onde andam escondidos? Visitem http://www.lusosinireland.eu/ www.thepimbas.blogspot.com


Romana, Licenciatura em Assessoria de Administração e pós-graduação em Gestão internacional, Dublin Desde que decidi de mudar para a Irlanda, já me perguntaram uma centena de vezes o que me trouxe por cá. Nunca consegui dar uma resposta directa…. Começava sempre "Pois…. Várias razões…. A experiência de viver noutro país, melhores condições de trabalho, abrir o meu mundo a novas realidades, …"A verdade é que foram tantas as razões que me levaram a este passo que é difícil dar uma resposta concreta. Desde que me lembro como pessoa que tenho um insaciável desejo de viajar, mas nunca tive oportunidade (ou nunca fiz por ter!). Os pais não podiam e os trabalhos de verão eram para ajudar nas despesas da escola.Quis fazer erasmus, mas não pude por razões financeiras e concorri ao INOV Jovem mas não fui aceite.Terminei a licenciatura em Dezembro de 2003. Voltei para a casa dos meus pais e comecei a procurar trabalho. Entre muitos CV's enviados para a minha área, tentei também um trabalho como Au pair, mas não gostei das condições, tentei trabalhar em cruzeiros mas não tinha experiência. A ideia de sair de Portugal, de poder finalmente viajar era algo que não me saia da cabeça.Comecei a trabalhar em Fevereiro de 2004 a ganhar uns míseros 500€ com contratos mensais. Apesar da miséria de ordenado poupei dinheiro para finalmente fazer a minha primeira viagem. Tinha 23 anos. Depois desta viagem percebi quanto tempo tinha perdido… não queria parar.Entretanto, por ingenuidade achei que seria boa ideia fazer uma pós-graduação em gestão internacional no ISCTE. Achei que me iria abrir novas portas no mundo do trabalho.Custou-me os olhos da cara, mas não me arrependo. Apesar de não me ter proporcionado grandes mais valias a nível profissional (e de deixar muito a desejar considerando o custo) foi o empurrão que precisava para mudar a minha vida.Vivi pela primeira vez num ambiente multicultural e fiquei fascinada! Tive professores desde a Alemanha ao Japão e colegas de todos os pontos do mundo.Ter conhecido estas pessoas abriu-me os olhos… vi que existe outra realidade fora do meu "mundinho".O meu ordenado e a minha situação no trabalho melhorou ligieramente, mas continuava com um ordenado que não me permitia sequer sair da casa dos meus pais. Sentia-me a sufocar… precisava de uma mudança!Comecei então a sondar a oferta de trabalho no Reino Unido e na Irlanda. Depois de muito pesquisar percebi que a Irlanda – Dublin - seria melhor opção por ser um país acolhedor, muita oferta de trabalhos, cidade pequena, menor taxa de desemprego da EU (era, certamente a situação já se alterou), grande abertura a estrangeiros, entre outros.Em Setembro de 2006 decidi: Vou viver para a Irlanda!! Enviei vários CV's, recebi muitas respostas, mas todos me aconselhavam a mudar para cá pois seria mais fácil para a deslocação a entrevistas.Felizmente tive o apoio de todos os amigos e família, mas as perguntas repetiam-se entre estes e também entre os curiosos:"Mas tens trabalho?" Não!"E tens casa?" Não!"E tens quem te ajude?" Não!"E vais assim?" Vou!Não, não tinha nada, para além de umas poupanças para recomeçar a minha vida e um hostel marcado para uma noite.Não me queria transformar numa conformista. Frases como: "pois é assim a vida", "é o país que temos", "sempre quis fazer isto ou aquilo, mas nunca fiz porque…" deixavam-me a pensar "não, definitivamente não quero passar o resto da vida a queixar-me sem fazer nada para mudar a minha situação. Ou adapto-me ou mudo!". Resolvi mudar.Conseguimos sempre arranjar desculpas e justificações para não fazermos o que queremos, quando a realidade é que somos comodistas e temos medo de mudanças e dos "e se's" – "e se não corre bem?", "E se não me consigo adaptar?", "E se não arranjo trabalho?!"Eu já tinha adiado tempo demais!No dia 1 de Janeiro de 2007 parti para a Irlanda. Ano novo, vida nova!Comecei por trabalhar num pequeno escritório de contabilidade no centro de Dublin. Não gostei! Mas fiquei feliz porque consegui este trabalho ao fim de uma semana e meia, só precisava de algo para começar.Apesar de ter conseguido com bastante rapidez, recebi um mail de Portugal ao fim de uma semana a perguntar "Afinal não é assim tão fácil arranjar trabalho como tinhas pensado?" HUMMM???? Não vim para cá à espera de ter todos os empregadores à minha espera no aeroporto com cartazes com o meu nome!!!!!!Casa arranjei ao fim de dois dias. Muito simples, partilhada com irlandeses e era que precisava para por as minhas coisas e ter uma morada para tratar de conta bancária e PPS.Dois meses mais tarde mudei de casa e devo ter arranjado o apartamento mais barato do centro da cidade (tendo em conta as boas condições).A casa trazia um brinde :-) Conheci nesta casa aquele que será o meu marido no próximo ano.Seis meses depois mudei de trabalho. Estou agora numa multinacional a trabalhar como account manager, onde existe uma grande variedade cultural.Tenho um ordenado com que nunca sonhei em Portugal. No primeiro ano consegui viajar todos os meses (algumas viagens de trabalho), enquanto que em Portugal só o conseguía uma vez por ano. Neste momento estamos em regime de poupanças porque eu e o meu namorado decidimos casar no próximo ano e fazer um gap year para viajar pelo mundo de malas às costas. Aqui consigo poupar um montante superior ao que era o meu ultimo ordenado em Portugal.Estou feliz aqui, mas tal como em Portugal não me queixo muito. Sim, como todos, tive muitas dificuldades de adaptação a alguns hábitos estranhos dos irlandeses e claro, ao tempo!Mas mais uma vez disse a mim mesma "ou adaptas-te ou mudas". Resolvi adaptar-me.Da comida nem me queixo! É verdade que não consigo encontrar bacalhau salgado, nem pastéis de nata e tenho que pagar mais de 2.50€ por um café, mas sempre comi do bom e do melhor da cozinha italiana e portuguesa. Um dia, um casal de italianos disse que não tinham gostado de Portugal porque não tinham encontrado boa pasta. Fiquei chocada!! Como é que eles podiam ir para Portugal à procura de pasta??Desde que ouvi este comentário, percebi que estava a fazer o mesmo… como é que posso vir para aqui e dizer que não gosto porque não há pastéis de nata?As saudades… essas sim… doem… mas estamos perto. Há telefones e Internet! Quando a minha mãe me disse "filha, vais para tão longe" eu respondi "nem tudo o que parece é. O tempo que demoro da Irlanda para Portugal é o mesmo tempo que demorava para chegar a casa quando estudava em Portalegre."Estou satisfeita com o que tenho aqui! Estou muito feliz ter mudado a minha vida e muito ansiosa com as mudanças que ainda estão para vir. Portugal? Talvez seja optimista, talvez seja ingénua, mas acredito que as coisas vão melhorar. Talvez seja a nossa geração, a tal que é rasca, que terá o poder de revolucionar os velhos hábitos que minam a cultura portuguesa.PS: Pensava que éramos uma espécie rara em Dublin, mas parece que há muitos portugueses por cá. Onde andam escondidos? Visitem http://www.lusosinireland.eu/ www.thepimbas.blogspot.com

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