O filme adaptado do livro de Jon Krakauer e baseado na história de Christopher McCandless, e realizado por Sean Penn, data de 2007 e veio acompanhado de um cd de Eddie Vedder que ficou responsável pela banda-sonora, conseguindo encaixar perfeitamente as canções nas cenas certas, com letras cheias de sentidos quando Christopher caminha em silêncio. Confesso que quando comecei a ver o filme, achei que durante os 147 minutos ia ter de levar em cima com cenas de silêncio e um homem totalmente isolado do mundo perdido pelo Alasca. Felizmente o filme não se centra nisso e acaba por se perder em analepses e prolepses que nos levam de uns momentos para os outros e nos fazem compreender o porquê de alguém simplesmente decidir abdicar das coisas do mundo, deixar a família e todas as outras pessoas, queimar as poupanças e simplesmente seguir viagem sem deixar rasto e sem poder ser contactado. E isso acaba por tornar o filme interessante e por nos prender com atenção a tudo o que desenrola. Até porque pelo caminho Christopher, que adopta o nome de Alexander Supertramp, conhece pessoas que parecem carregar dentro de si um espírito maior do que os espaços em que se movem. E ele acaba por ver aqueles desconhecidos ocuparem na sua vida mais do que aqueles com que sempre viveu o fizeram. Existe aliás uma cena muito comovente, na despedida da última pessoa com que ele esteve antes de rumar ao Alasca e que é a última pessoa com quem ele tem contacto no mundo. Alias, é apenas no fim do filme que vemos mais tempo sobre os seus dias de solidão no Alasca, perdido entre livros e poesia e entre coisas que ele escreve num caderno. Ele aprende a viver sozinho.Além das paisagens imponentes que aparecem e das cores que dão vida a certos momentos, existe algo no filme que o torna excepcional: as narrações e as coisas que ele vai escrevendo são dotadas de uma poesia doce. Acho que qualquer pessoa que goste de literatura vai ficar entusiasmada com a forma como estão escritas essas passagens e ficar com um sorriso nos lábios tentando memorizar expressões. E é exactamente através de um desses muitos momentos em que a poesia se cruza com o cinema, que percebemos aquilo que Alex retira da sua viagem, da sua ideia de auto-realização. Ele conseguiu fazer toda a viagem e cumprir todos os seus objectivos, conseguiu isolar-se do mundo e assim viver durante alguns meses, mas no fim, vemos uma imagem debilitada que entre as linhas de um livro escreve A felicidade só é verdadeira quando partilhada. E de repente percebemos que embora ele faça questão de dizer que viveu uma vida feliz, a solidão o acabou por derrotar, porque nenhum ser humano consegue viver e criar-se e realizar-se, se não se conseguir partilhar com alguém aquilo que dentro de si se passa.
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O filme adaptado do livro de Jon Krakauer e baseado na história de Christopher McCandless, e realizado por Sean Penn, data de 2007 e veio acompanhado de um cd de Eddie Vedder que ficou responsável pela banda-sonora, conseguindo encaixar perfeitamente as canções nas cenas certas, com letras cheias de sentidos quando Christopher caminha em silêncio. Confesso que quando comecei a ver o filme, achei que durante os 147 minutos ia ter de levar em cima com cenas de silêncio e um homem totalmente isolado do mundo perdido pelo Alasca. Felizmente o filme não se centra nisso e acaba por se perder em analepses e prolepses que nos levam de uns momentos para os outros e nos fazem compreender o porquê de alguém simplesmente decidir abdicar das coisas do mundo, deixar a família e todas as outras pessoas, queimar as poupanças e simplesmente seguir viagem sem deixar rasto e sem poder ser contactado. E isso acaba por tornar o filme interessante e por nos prender com atenção a tudo o que desenrola. Até porque pelo caminho Christopher, que adopta o nome de Alexander Supertramp, conhece pessoas que parecem carregar dentro de si um espírito maior do que os espaços em que se movem. E ele acaba por ver aqueles desconhecidos ocuparem na sua vida mais do que aqueles com que sempre viveu o fizeram. Existe aliás uma cena muito comovente, na despedida da última pessoa com que ele esteve antes de rumar ao Alasca e que é a última pessoa com quem ele tem contacto no mundo. Alias, é apenas no fim do filme que vemos mais tempo sobre os seus dias de solidão no Alasca, perdido entre livros e poesia e entre coisas que ele escreve num caderno. Ele aprende a viver sozinho.Além das paisagens imponentes que aparecem e das cores que dão vida a certos momentos, existe algo no filme que o torna excepcional: as narrações e as coisas que ele vai escrevendo são dotadas de uma poesia doce. Acho que qualquer pessoa que goste de literatura vai ficar entusiasmada com a forma como estão escritas essas passagens e ficar com um sorriso nos lábios tentando memorizar expressões. E é exactamente através de um desses muitos momentos em que a poesia se cruza com o cinema, que percebemos aquilo que Alex retira da sua viagem, da sua ideia de auto-realização. Ele conseguiu fazer toda a viagem e cumprir todos os seus objectivos, conseguiu isolar-se do mundo e assim viver durante alguns meses, mas no fim, vemos uma imagem debilitada que entre as linhas de um livro escreve A felicidade só é verdadeira quando partilhada. E de repente percebemos que embora ele faça questão de dizer que viveu uma vida feliz, a solidão o acabou por derrotar, porque nenhum ser humano consegue viver e criar-se e realizar-se, se não se conseguir partilhar com alguém aquilo que dentro de si se passa.