O BAR DO OSSIAN: O ZELATOR E O SOL

02-10-2009
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O Grito, Edvard Munch, 1893«Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.» Edvard MunchOs objectos que trazes na mão queimam-me a vista. O sonho acaba sempre a seguir. Tu desces a rua sobre a calçada e desapareces naquele ponto em que o céu e a terra deixam de ter um significado específico.Contemplei a vida nas mulheres, nas estatuetas de bronze, nos quadros negros e vermelhos. Saboreei a história dos livros e a teoria dos que se calaram para sempre nas suas páginas. Mas as mulheres caíram, como muralhas, a estátua qual granizo, e cai o negro vermelho como o negro branco da neve, a história desfaz-se como pincel contra a pele. Arrepio-me, projectando os rasgos, a mancha vítrea, o sangue no lábio, a orelha acariciada, as rachas no estuque, a sala imóvel, a esquina da rua, o silêncio das casas, os corações que param, os corações que acendem, os peitos quietos e os peitos ondulantes, a saudade, a ressaca, a vertigem dos carros em câmara-lenta, as montras sem significado, não vejo nada. Entre mim e estas coisas estão todas as coisas, entre mim e mim, todos os estranhos, a fazer sombra às sombras uns dos outros. O teu Rosto é uma permutação.


O Grito, Edvard Munch, 1893«Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.» Edvard MunchOs objectos que trazes na mão queimam-me a vista. O sonho acaba sempre a seguir. Tu desces a rua sobre a calçada e desapareces naquele ponto em que o céu e a terra deixam de ter um significado específico.Contemplei a vida nas mulheres, nas estatuetas de bronze, nos quadros negros e vermelhos. Saboreei a história dos livros e a teoria dos que se calaram para sempre nas suas páginas. Mas as mulheres caíram, como muralhas, a estátua qual granizo, e cai o negro vermelho como o negro branco da neve, a história desfaz-se como pincel contra a pele. Arrepio-me, projectando os rasgos, a mancha vítrea, o sangue no lábio, a orelha acariciada, as rachas no estuque, a sala imóvel, a esquina da rua, o silêncio das casas, os corações que param, os corações que acendem, os peitos quietos e os peitos ondulantes, a saudade, a ressaca, a vertigem dos carros em câmara-lenta, as montras sem significado, não vejo nada. Entre mim e estas coisas estão todas as coisas, entre mim e mim, todos os estranhos, a fazer sombra às sombras uns dos outros. O teu Rosto é uma permutação.

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