O BAR DO OSSIAN: NOTÍCIAS DE VERA CRUZ, Afonso Félix de Sousa, Volta ao Lar em Brasília

02-10-2009
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Foto e arte digital: Adriana Costa. Os Candangos, escultura de Bruno Giorgi, erguida em 1959 na Praça dos Três Poderes em BrasíliaVolta ao Lar em BrasíliaA Lina e José Francisco Del PelosoÉbrio de céus e nuvens, vi num amanhecer esseshorizontes multimilionários. Armei a tendae entrei. Aqui cumprir-se-ia por certo meusonho atávico de prometido Eldorado.Em pouco percebi que a altura, pródiga embora, nãodespejava no meu feudo as esperadas chuvasde deslumbramentos. E nem na imaginaçãopodia devassar as fraldas familiares dasserras dos Pirineus e de Jaraguá, detrásdos horizontes. Ao mesmo tempo minha alma,infensa à geometria, desaprendida de andarnas retas e ângulos que se fechavam a meusacenos e investidas.Até que um dia, com o ânimo de um foragido, parti.E eu era como essas aves de arribação queà medida que voam vão descobrindo o seucaminho entre encruzilhadas de ar e de distâncias.Agora, feito em guerreiro sem apetite de conquistae glória, estou de volta. Encontro a tendaainda armada. A seu redor erguem-se árvoreshospitaleiras que antes não existiam. Armouma rede à sombra das copas sonolentas, ecomo a evocar o regaço materno deito a cabeçapesada dos caminhos do mundo. Presas aostroncos das árvores, legiões de cigarrasparecem zombar de mim com seu canto depássaros ensandecidos.Afonso Félix de Sousa, poesia publicada na antologia "Poesia de Brasília", organizada por Joanyr de Oliveira, 1998.Afonso Félix de Sousa (1925-2002) é goiano de Jaguará, economista, especialista pela Sorbonne, cronista, poeta, jornalista e tradutor. Obras: "O túnel", 1948; "Do sonho e da esfinge", 1959; "O amoroso e a terra", 1953; "Memorial do errante", 1956; "Íntima parábola", 1960; "Álbum do Rio", 1965; "Antologia poética", 1966; "Pretérito imperfeito", 1976; "Chão básico & itinerário leste", 1978; "As engrenagens do belo", 1981; "Quinquagésima hora & horas anteriores", 1987; "À beira do teu corpo", 1990; "Nova antologia poética", 1991; e "Chamados e escolhidos", 2001. E na prosa "Do ouro ao urânio", crônicas, 1969.Traduziu García Lorca, John Donne e François Villon.Em 1957 foi agraciado com o Prêmio Olavo Bilac, em 1961 com o Prêmio Álvarez de Azevedo, em 1982 com o Prêmio Nacional Pen Club do Brasil, em 1990 com o Troféu Jaburu e o Prêmio Nacional de Poesia 2001 da Academia Brasileira de Letras.


Foto e arte digital: Adriana Costa. Os Candangos, escultura de Bruno Giorgi, erguida em 1959 na Praça dos Três Poderes em BrasíliaVolta ao Lar em BrasíliaA Lina e José Francisco Del PelosoÉbrio de céus e nuvens, vi num amanhecer esseshorizontes multimilionários. Armei a tendae entrei. Aqui cumprir-se-ia por certo meusonho atávico de prometido Eldorado.Em pouco percebi que a altura, pródiga embora, nãodespejava no meu feudo as esperadas chuvasde deslumbramentos. E nem na imaginaçãopodia devassar as fraldas familiares dasserras dos Pirineus e de Jaraguá, detrásdos horizontes. Ao mesmo tempo minha alma,infensa à geometria, desaprendida de andarnas retas e ângulos que se fechavam a meusacenos e investidas.Até que um dia, com o ânimo de um foragido, parti.E eu era como essas aves de arribação queà medida que voam vão descobrindo o seucaminho entre encruzilhadas de ar e de distâncias.Agora, feito em guerreiro sem apetite de conquistae glória, estou de volta. Encontro a tendaainda armada. A seu redor erguem-se árvoreshospitaleiras que antes não existiam. Armouma rede à sombra das copas sonolentas, ecomo a evocar o regaço materno deito a cabeçapesada dos caminhos do mundo. Presas aostroncos das árvores, legiões de cigarrasparecem zombar de mim com seu canto depássaros ensandecidos.Afonso Félix de Sousa, poesia publicada na antologia "Poesia de Brasília", organizada por Joanyr de Oliveira, 1998.Afonso Félix de Sousa (1925-2002) é goiano de Jaguará, economista, especialista pela Sorbonne, cronista, poeta, jornalista e tradutor. Obras: "O túnel", 1948; "Do sonho e da esfinge", 1959; "O amoroso e a terra", 1953; "Memorial do errante", 1956; "Íntima parábola", 1960; "Álbum do Rio", 1965; "Antologia poética", 1966; "Pretérito imperfeito", 1976; "Chão básico & itinerário leste", 1978; "As engrenagens do belo", 1981; "Quinquagésima hora & horas anteriores", 1987; "À beira do teu corpo", 1990; "Nova antologia poética", 1991; e "Chamados e escolhidos", 2001. E na prosa "Do ouro ao urânio", crônicas, 1969.Traduziu García Lorca, John Donne e François Villon.Em 1957 foi agraciado com o Prêmio Olavo Bilac, em 1961 com o Prêmio Álvarez de Azevedo, em 1982 com o Prêmio Nacional Pen Club do Brasil, em 1990 com o Troféu Jaburu e o Prêmio Nacional de Poesia 2001 da Academia Brasileira de Letras.

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