Conspiração às sete: O Sr. Cinema

28-06-2009
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Pelos vistos, Martin Scorcese voltou a perder. Nada que não se esperasse já que, rezam as críticas, o “Aviador” não sendo um mau filme, não é, nem de perto nem de longe, uma obra-prima.O melhor de Scorcese já tem anos. “Taxi Driver”, de 1976 - se calhar, o meu filme favorito –, é um tributo ao cinema. “Touro Enraivecido”, filmado em 1980 é muito bom. O segmento “Life Lessons”, no genial Histórias de Nova York (um “tríptico” de homenagem à verdadeira capital do mundo ocidental), de 1989, é simplesmente delicioso, de longe o melhor do filme.O começo da saga do “Padrinho” marcou, se calhar, o auge da carreira do realizador nova-iorquino. Quanto aos mais recentes, “Casino” e “Kundun” não são particularmente inspirados ou inspiradores. “Gangs of New York”, de 2002, ficou aquém das expectativas.Apesar de tudo, Scorcese já merecia um Oscar. Pelo que fez em prol do cinema. E vai ganhá-lo. “One of these days”...Se La Palice fosse vivo e jogasse no F.C. Porto diria que quando há vencidos também há vencedores. E este ano, Clint Eastwood voltou a vencer. Francamente, ainda não vi o Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos, por isso não posso opinar sobre o filme ou sobre a justiça da atribuição do prémio.Mas, em verdade vos digo, Eastwood deve ser, neste momento, o maior cineasta americano em actividade – que me perdoem os incondicionais de Linch, Tarantino, ou outros.A diversidade da sua obra enquanto realizador, e enquanto actor, é notável. Desde “Per un pugno di dollari”, filme de 1964, dirigido por Sérgio Leone, que o tornou conhecido, passaram quarenta anos.Eastwood foi cowboy, agente secreto, guarda-costas. Foi herói e poucas vezes vilão. Foi um fotógrafo apaixonado nas “Pontes de Madison County”, excelente filme.Mas em 1992, com “Unforgiven”, subiu ao patamar dos eleitos. O filme valeu-lhe o primeiro Oscar da carreira - melhor Realizador mas, curiosamente, não lhe deu a estatueta para melhor actor, perdida para Tom Hanks. “Unforgiven” ganhou ainda o prémio do Melhor Filme.Andou pelo espaço em “Space Cowboy”, de 2000. Em 2002 voltou a ser polícia, em “Blood Work”. Realizou o genial “Mystic River” em 2003 (só perdeu para a trilogia do “Senhor dos Anéis”, mas deu a Sean Penn a estatueta de melhor actor).Agora, transformou-se em agente de uma pugilista profissional. Passaram muitos anos desde que em 1971 Eastwood se estreou como realizador, com “Play Misty for Me”. Passaram muitos anos e hoje Clint Eastwood é, de facto, o “Senhor cinema”. Americano, pelo menos... O segundo Oscar “individual” que recebe confirma-o.Já agora, o cinema espanhol também está de parabéns. Esta madrugada, Alejandro Amenábar foi premiado com o Oscar para o melhor filme estrangeiro, com Mar Adentro. A película conta a história verídica de Ramón Sampedro, homem que lutou, durante 30 anos, pelo direito a morrer.Amenábar é o quinto realizador espanhol a vencer um Oscar. O primeiro foi Buñuel, com “O Charme Discreto da Burguesia”, de 1972. Seguiram-se José Luis Garcí, com “Volver a Empezar”, de 1982, Fernando Trueba, em 1993, com o genial “Belle Èpoque”, e o inevitável Almodovar, em 1999, com “Tudo Sobre Mi Madre”. Três Oscares em pouco mais de 10 anos provam a vitalidade, e a crescente aceitação, do cinema espanhol.Refira-se ainda que Amenábar é o 10 espanhol a receber o mais ambicionado galardão do cinema. Almodovar já venceu dois (junta o de melhor filme estrangeiro ao de melhor argumento, com “Hable com Ella”, de 2002). Gil Parrondo também ganhou dois, que premiaram a direcção artística. Néstor Almendros ganhou pela melhor fotografia, em 1978.Gonçalo Nuno Santos


Pelos vistos, Martin Scorcese voltou a perder. Nada que não se esperasse já que, rezam as críticas, o “Aviador” não sendo um mau filme, não é, nem de perto nem de longe, uma obra-prima.O melhor de Scorcese já tem anos. “Taxi Driver”, de 1976 - se calhar, o meu filme favorito –, é um tributo ao cinema. “Touro Enraivecido”, filmado em 1980 é muito bom. O segmento “Life Lessons”, no genial Histórias de Nova York (um “tríptico” de homenagem à verdadeira capital do mundo ocidental), de 1989, é simplesmente delicioso, de longe o melhor do filme.O começo da saga do “Padrinho” marcou, se calhar, o auge da carreira do realizador nova-iorquino. Quanto aos mais recentes, “Casino” e “Kundun” não são particularmente inspirados ou inspiradores. “Gangs of New York”, de 2002, ficou aquém das expectativas.Apesar de tudo, Scorcese já merecia um Oscar. Pelo que fez em prol do cinema. E vai ganhá-lo. “One of these days”...Se La Palice fosse vivo e jogasse no F.C. Porto diria que quando há vencidos também há vencedores. E este ano, Clint Eastwood voltou a vencer. Francamente, ainda não vi o Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos, por isso não posso opinar sobre o filme ou sobre a justiça da atribuição do prémio.Mas, em verdade vos digo, Eastwood deve ser, neste momento, o maior cineasta americano em actividade – que me perdoem os incondicionais de Linch, Tarantino, ou outros.A diversidade da sua obra enquanto realizador, e enquanto actor, é notável. Desde “Per un pugno di dollari”, filme de 1964, dirigido por Sérgio Leone, que o tornou conhecido, passaram quarenta anos.Eastwood foi cowboy, agente secreto, guarda-costas. Foi herói e poucas vezes vilão. Foi um fotógrafo apaixonado nas “Pontes de Madison County”, excelente filme.Mas em 1992, com “Unforgiven”, subiu ao patamar dos eleitos. O filme valeu-lhe o primeiro Oscar da carreira - melhor Realizador mas, curiosamente, não lhe deu a estatueta para melhor actor, perdida para Tom Hanks. “Unforgiven” ganhou ainda o prémio do Melhor Filme.Andou pelo espaço em “Space Cowboy”, de 2000. Em 2002 voltou a ser polícia, em “Blood Work”. Realizou o genial “Mystic River” em 2003 (só perdeu para a trilogia do “Senhor dos Anéis”, mas deu a Sean Penn a estatueta de melhor actor).Agora, transformou-se em agente de uma pugilista profissional. Passaram muitos anos desde que em 1971 Eastwood se estreou como realizador, com “Play Misty for Me”. Passaram muitos anos e hoje Clint Eastwood é, de facto, o “Senhor cinema”. Americano, pelo menos... O segundo Oscar “individual” que recebe confirma-o.Já agora, o cinema espanhol também está de parabéns. Esta madrugada, Alejandro Amenábar foi premiado com o Oscar para o melhor filme estrangeiro, com Mar Adentro. A película conta a história verídica de Ramón Sampedro, homem que lutou, durante 30 anos, pelo direito a morrer.Amenábar é o quinto realizador espanhol a vencer um Oscar. O primeiro foi Buñuel, com “O Charme Discreto da Burguesia”, de 1972. Seguiram-se José Luis Garcí, com “Volver a Empezar”, de 1982, Fernando Trueba, em 1993, com o genial “Belle Èpoque”, e o inevitável Almodovar, em 1999, com “Tudo Sobre Mi Madre”. Três Oscares em pouco mais de 10 anos provam a vitalidade, e a crescente aceitação, do cinema espanhol.Refira-se ainda que Amenábar é o 10 espanhol a receber o mais ambicionado galardão do cinema. Almodovar já venceu dois (junta o de melhor filme estrangeiro ao de melhor argumento, com “Hable com Ella”, de 2002). Gil Parrondo também ganhou dois, que premiaram a direcção artística. Néstor Almendros ganhou pela melhor fotografia, em 1978.Gonçalo Nuno Santos

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