Foram os nossos melhores Jogos Olímpicos de sempre, diz o Comité Olímpico Português, liderado por Vicente de Moura.A alegria demonstrada revela bem a nossa pequenez. É inacreditável qualificar de positiva uma participação de nos garantiu um honroso (deveria escrever horroroso?) 61º lugar entre os países medalhados.Ainda ninguém percebeu que ficámos atrás de “potências desportivas” como a Suíça? Ou como a Áustria? Como a Irlanda? Como a Letónia? Como a Lituânia? – só para falar de países europeus demográfica e geograficamente mais pequenos que nós! Ou nações como os Camarões, a Republica Dominicana e os Emiratos Árabes Unidos. Ou como as Bahamas, Israel, Taipé, Irão, Geórgia, Tailândia, Etiópia, Uzbequistão, entre muitos outros! Ainda ninguém percebeu que ganhámos duas medalhas por engano (apesar do mérito indiscutível de Paulinho e de Rui Silva), e que perdemos medalhas que, à partida, estariam nas previsões de toda a gente (vejam-se os casos da vela, do tiro e do futebol)!Ainda ninguém percebeu que a maioria dos atletas lusos chegam aos Jogos e fazem tempos miseráveis, bem longe dos seus recordes pessoais, e bem longe dos recordes nacionais (na natação, o caso é sintomático)!Ainda ninguém percebeu que, durante as olimpíadas, registaram-se vários casos de indisciplina que ficaram sem qualquer punição (veja-se a miserável equipa de futebol que apresentámos, recheada de “bebés-vedeta”, que ainda não perceberam que para ganhar jogos é necessário correr mais que o adversário, que ignoram as mais elementares regras de fair-play, e que se comportam como selvagens sempre que são contrariados. Veja-se ainda o caso do atleta que fez acusações gravíssimas ao Comité Olímpico Português, e que foi “perdoado”, à boa maneira lusa)!Ainda ninguém percebeu que existem atletas que vão aos Jogos para passear e para “não ficar em último”, casos da velejadora Joana Pratas (que após ter conseguido um “honroso” penúltimo lugar classificou como “muito positiva” a sua desastrada participação), ou como o madeirense Vasconcelos, que apontou como objectivo para Atenas “passar uma eliminatória”! Ainda ninguém percebeu que desportistas com este discurso não chegam a lado nenhum, pois aquilo que diferencia os atletas, para além das capacidades física e técnica, é a mentalidade ganhadora, ou seja, a vontade de vencer, de superar obstáculos e barreiras!Ainda ninguém percebeu que quem paga a pândega são os contribuintes! E que por isso seria melhor levar aos Jogos delegações mais pequenas, sem atletas que só não querem ficar em último!Ainda ninguém percebeu que nesta bosta de país poucos são aqueles que gostam de desporto, e que muitos são aqueles que gostam de futebol (coisa bem diferente) e, particularmente, dos clubes dos quais são adeptos. E que o investimento desportivo deveria começar nas escolas. E que as condições para a prática de desporto, em Portugal, são surrealistas. E que o gosto pelo desporto (e pela prática desportiva) deveria ser cultivado, particularmente entre as novas gerações!Ainda ninguém percebeu que os Jogos Olímpicos de Atenas 2004 foram a merda do costume, com resultados abaixo das expectativas, com queixas do sol, e do calor, e da água, e de tudo e de mais alguma coisa! E que o cenário só vai mudar quando se conseguir terminar com a omnipotência do futebol, quando se conseguir alargar a prática desportiva à esmagadora maioria dos jovens portugueses, com INVESTIMENTO sério, e não com medidas de cosmética!Parece, no fundo, que ninguém percebeu nada!Gonçalo Nuno SantosPost-Scriptum: Em Atenas, algumas participações portuguesas escaparam à mediocridade geral. O ciclista Paulinho, os atletas Rui Silva, Francis Obikwelo ou Alberto Chaísa, os velejadores João Rodrigues e Gustavo Lima. O canoísta Emanuel Silva. O que me parece muito pouco para uma delegação de quase 80 “atletas”.
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Foram os nossos melhores Jogos Olímpicos de sempre, diz o Comité Olímpico Português, liderado por Vicente de Moura.A alegria demonstrada revela bem a nossa pequenez. É inacreditável qualificar de positiva uma participação de nos garantiu um honroso (deveria escrever horroroso?) 61º lugar entre os países medalhados.Ainda ninguém percebeu que ficámos atrás de “potências desportivas” como a Suíça? Ou como a Áustria? Como a Irlanda? Como a Letónia? Como a Lituânia? – só para falar de países europeus demográfica e geograficamente mais pequenos que nós! Ou nações como os Camarões, a Republica Dominicana e os Emiratos Árabes Unidos. Ou como as Bahamas, Israel, Taipé, Irão, Geórgia, Tailândia, Etiópia, Uzbequistão, entre muitos outros! Ainda ninguém percebeu que ganhámos duas medalhas por engano (apesar do mérito indiscutível de Paulinho e de Rui Silva), e que perdemos medalhas que, à partida, estariam nas previsões de toda a gente (vejam-se os casos da vela, do tiro e do futebol)!Ainda ninguém percebeu que a maioria dos atletas lusos chegam aos Jogos e fazem tempos miseráveis, bem longe dos seus recordes pessoais, e bem longe dos recordes nacionais (na natação, o caso é sintomático)!Ainda ninguém percebeu que, durante as olimpíadas, registaram-se vários casos de indisciplina que ficaram sem qualquer punição (veja-se a miserável equipa de futebol que apresentámos, recheada de “bebés-vedeta”, que ainda não perceberam que para ganhar jogos é necessário correr mais que o adversário, que ignoram as mais elementares regras de fair-play, e que se comportam como selvagens sempre que são contrariados. Veja-se ainda o caso do atleta que fez acusações gravíssimas ao Comité Olímpico Português, e que foi “perdoado”, à boa maneira lusa)!Ainda ninguém percebeu que existem atletas que vão aos Jogos para passear e para “não ficar em último”, casos da velejadora Joana Pratas (que após ter conseguido um “honroso” penúltimo lugar classificou como “muito positiva” a sua desastrada participação), ou como o madeirense Vasconcelos, que apontou como objectivo para Atenas “passar uma eliminatória”! Ainda ninguém percebeu que desportistas com este discurso não chegam a lado nenhum, pois aquilo que diferencia os atletas, para além das capacidades física e técnica, é a mentalidade ganhadora, ou seja, a vontade de vencer, de superar obstáculos e barreiras!Ainda ninguém percebeu que quem paga a pândega são os contribuintes! E que por isso seria melhor levar aos Jogos delegações mais pequenas, sem atletas que só não querem ficar em último!Ainda ninguém percebeu que nesta bosta de país poucos são aqueles que gostam de desporto, e que muitos são aqueles que gostam de futebol (coisa bem diferente) e, particularmente, dos clubes dos quais são adeptos. E que o investimento desportivo deveria começar nas escolas. E que as condições para a prática de desporto, em Portugal, são surrealistas. E que o gosto pelo desporto (e pela prática desportiva) deveria ser cultivado, particularmente entre as novas gerações!Ainda ninguém percebeu que os Jogos Olímpicos de Atenas 2004 foram a merda do costume, com resultados abaixo das expectativas, com queixas do sol, e do calor, e da água, e de tudo e de mais alguma coisa! E que o cenário só vai mudar quando se conseguir terminar com a omnipotência do futebol, quando se conseguir alargar a prática desportiva à esmagadora maioria dos jovens portugueses, com INVESTIMENTO sério, e não com medidas de cosmética!Parece, no fundo, que ninguém percebeu nada!Gonçalo Nuno SantosPost-Scriptum: Em Atenas, algumas participações portuguesas escaparam à mediocridade geral. O ciclista Paulinho, os atletas Rui Silva, Francis Obikwelo ou Alberto Chaísa, os velejadores João Rodrigues e Gustavo Lima. O canoísta Emanuel Silva. O que me parece muito pouco para uma delegação de quase 80 “atletas”.