.: Esquina . do . Mundo :.: Na Roça com os Tachos

01-07-2005
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"Na Roça com os Tachos" é o mais divertido, e o mais deliciosamente naif programa de televisão que conheço. O nome, aliás, deixa antever qualquer coisa de mirambolante.Produzido pela televisão de São Tomé e Principe, é transmitido pela 2, durante a semana, às 13:30 horas."Na Roça com os Tachos" alicerça-se na ideia de dar a conhecer a cozinha e as paisagens de São Tomé. É dinamizado por um cozinheiro/apresentador de nome João Carlos da Silva, que canta, dança, e diz coisas inacreditáveis enquanto prepara cozinhados. Tem, na realização, alguém de nome Kalú Mendes, ou "Kalumeno", no sotaque são-tomense.Acompanhado por um operador de câmara, pelo "Kalumeno", e por um técnico de som, o bom do Silva percorre as paisagens mágicas de São Tomé. Quando chega ao cenário escolhido, monta o estaminé, constituído por um pequeno fogão a gás e por tachos do século passado, e desata a elaborar pratos que diz serem típicos do arquipélago, embora não se perceba como é que num país onde a maioria da população não tem, e nunca teve, acesso aos bens de primeira necessidade, existam pratos "tradicionais" como bife do lombo grelhado com molho de iogurte e amendoim! A produção de "Na Roça com os Tachos" é deliciosamente amadora. De vez em quando está o Silva a cozinhar e, como é vulgar nos trópicos, cai um pé de água. O apresentador aguenta-se firme e com o lume apagado pela bátega desvaloriza a situação. "Vamos ouvir música, Kalú", dispara para o realizador. É então que aos sons da chuva a bater nos tachos, do mar - quase sempre presente - e da voz do Silva, se juntam trechos de piano próprios para as salas de espera dos consultórios de dentistas. Ou então "música de Sã Tomé", que leva o cozinheiro/apresentador ao delírio, e o "Kalumeno" e o operador de câmara ao desespero. É que não é fácil fazer um plano enquanto o Silva se abana e vai desaparecendo do enquadramento!Peripécias à parte, o Silva é um excelente comunicador. Mesmo quando repete, vezes sem conta, a palavra "bonito" com sotaque de Sã Tomé. Mesmo quando passa metade do programa a falar com o "Kalumeno" - que nunca aparece à frente da câmara - e a tratá-lo por fiel companheiro. Mesmo quando a chuva obriga a produção a procurar outro porto para acabar de preparar o almoço. Mesmo quando, a bordo de uma embarcação, debaixo de uma bátega, pede a um aterrorizado "comandanti Saraiva" para vir ao convés e explicar a rota que irá tomar. E quando desembarca numa praia e munido com um pau traça um mapa na areia, um mapa igual àqueles que faziam os piratas da nossa infância. Apesar do amadorismo, "Na Roça com os Tachos" traz-nos ainda imagens de sonho.Em resumo, o programa devia fazer corar de inveja alguns "experts" da Televisão da Gente. Se eles, pelo menos se dignassem a dar uma espreitadela àquilo que outros fazem. Mesmo sem meios.Esqueçam o Jornal da Tarde. Sigam as peripécias do Silva e do "Kalunemo". É mais útil. E mais divertido!Gonçalo Nuno Santos

"Na Roça com os Tachos" é o mais divertido, e o mais deliciosamente naif programa de televisão que conheço. O nome, aliás, deixa antever qualquer coisa de mirambolante.Produzido pela televisão de São Tomé e Principe, é transmitido pela 2, durante a semana, às 13:30 horas."Na Roça com os Tachos" alicerça-se na ideia de dar a conhecer a cozinha e as paisagens de São Tomé. É dinamizado por um cozinheiro/apresentador de nome João Carlos da Silva, que canta, dança, e diz coisas inacreditáveis enquanto prepara cozinhados. Tem, na realização, alguém de nome Kalú Mendes, ou "Kalumeno", no sotaque são-tomense.Acompanhado por um operador de câmara, pelo "Kalumeno", e por um técnico de som, o bom do Silva percorre as paisagens mágicas de São Tomé. Quando chega ao cenário escolhido, monta o estaminé, constituído por um pequeno fogão a gás e por tachos do século passado, e desata a elaborar pratos que diz serem típicos do arquipélago, embora não se perceba como é que num país onde a maioria da população não tem, e nunca teve, acesso aos bens de primeira necessidade, existam pratos "tradicionais" como bife do lombo grelhado com molho de iogurte e amendoim! A produção de "Na Roça com os Tachos" é deliciosamente amadora. De vez em quando está o Silva a cozinhar e, como é vulgar nos trópicos, cai um pé de água. O apresentador aguenta-se firme e com o lume apagado pela bátega desvaloriza a situação. "Vamos ouvir música, Kalú", dispara para o realizador. É então que aos sons da chuva a bater nos tachos, do mar - quase sempre presente - e da voz do Silva, se juntam trechos de piano próprios para as salas de espera dos consultórios de dentistas. Ou então "música de Sã Tomé", que leva o cozinheiro/apresentador ao delírio, e o "Kalumeno" e o operador de câmara ao desespero. É que não é fácil fazer um plano enquanto o Silva se abana e vai desaparecendo do enquadramento!Peripécias à parte, o Silva é um excelente comunicador. Mesmo quando repete, vezes sem conta, a palavra "bonito" com sotaque de Sã Tomé. Mesmo quando passa metade do programa a falar com o "Kalumeno" - que nunca aparece à frente da câmara - e a tratá-lo por fiel companheiro. Mesmo quando a chuva obriga a produção a procurar outro porto para acabar de preparar o almoço. Mesmo quando, a bordo de uma embarcação, debaixo de uma bátega, pede a um aterrorizado "comandanti Saraiva" para vir ao convés e explicar a rota que irá tomar. E quando desembarca numa praia e munido com um pau traça um mapa na areia, um mapa igual àqueles que faziam os piratas da nossa infância. Apesar do amadorismo, "Na Roça com os Tachos" traz-nos ainda imagens de sonho.Em resumo, o programa devia fazer corar de inveja alguns "experts" da Televisão da Gente. Se eles, pelo menos se dignassem a dar uma espreitadela àquilo que outros fazem. Mesmo sem meios.Esqueçam o Jornal da Tarde. Sigam as peripécias do Silva e do "Kalunemo". É mais útil. E mais divertido!Gonçalo Nuno Santos

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