Palavrar

21-07-2005
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Eis que surge de novo o esplendor deste Portugal. Alguns meses depois de relativa inactividade no blog, eis que ressurge este de forma sistemática e diária, ou nocturna, conforme o respectivo caso em apreço: desta feita ressurge este com um factor novidade. Dada a actual situação profissional e geográfica do Grande Líder do Blog (GLB), desta feita algures na área metropolitana da capital da pátria na qualidade ou falta dela de free-lancer (ou, em português técnico, Lanceiro Livre), tendo para já como principal ocupação ser correspondente daqui para lá. Sendo lá Coimbra. E cá Lisboa. Escreve o GLB para o insígne semanário Campeão das Provincias. E que coisa nova é essa neste regresso para que não seja pífio? Nada menos que entrevistas na íntegra. Ou seja, o jornal publica a entrevista editada e devidamente subordinada à feroz ditadura da paginação para papel, e o GLB publica-as na sua versão XXL. Iniciamos esta nova gesta com um deputado, que no jornal teve hoje (quinta-feira) direito a cerca de 16 mil caracteres, e aqui tem mais de 55 mil o que é óptimo para quem aprecia muitos caracteres e igual conversa. Trata-se de Gonçalo Capitão, moço de gabarito, PSD e/mas bom rapaz, conimbricense de gema e/mas eleito por Lisboa, já adiante se percebe melhor porquê, e com direito a "Perfil". Deverá suceder-lhe (apenas dentro de duas semanas, quando a entrevista retalhada sair no jornal, naturalmente pois que assim é que me parece bem), neste novo ciclo de integrais, o sub-director do Público Eduardo Dâmaso, que sim senhor, também tem alguma coisa a ver com Coimbra. “Temos de deixar de ser tacanhos”Campeão das Províncias – Estás em Lisboa há quatro anos, como tens visto, “de fora”, a evolução de Coimbra?Gonçalo Capitão – Sou hoje em dia um conimbricense de fim-de-semana, mas continuo a ir a Coimbra, inclusivamente estou a comprar lá casa, continua a ser a minha cidade, mas hoje sou apenas um membro da sua sociedade civil, uma vez que politicamente estou completamente inactivo, nem sempre de moto próprio, na política de Coimbra e no PSD de Coimbra. Vejo, sobretudo, desde que mudou o elenco camarário, e sou suspeito, sou do PSD e, sempre que tive voz, fui um dos opositores mais ferozes da política, ou da falta dela, do dr. Machado, e o que vejo é que Coimbra começou a ter um ar mais moderno, mais arejado. E em pequenas coisas, também ai por acção quer do presidente Carlos Encarnação, quer do vereador Nuno Freitas, e todo o elenco, mas destaco aqui o papel modernizador e catalizador destas duas figuras, nota-se que havia pequenas coisas como os espaços verdes, por exemplo, o aprumo nos espaços públicos, que era uma coisa que o dr. Machado, com a falta de gosto que Deus lhe deu, nem isso conseguia fazer. Segundo sei, está-se a por mão naquele descontrole urbanístico que o dr. Machado deixou. Diria que a primeira grande reforma é a nível do bom senso e do bom gosto. Por outro lado, surgem projectos inovadores, e acabam-se obras de que se falava, vê-se finalmente o Polis a avançar em força, vemos São Francisco finalmente a funcionar, vemos projectos inovadores para a Baixa… Sente-se modernidade e sente-se bom gosto. Por exemplo, o apoio que este presidente de Câmara foi capaz de dar à Capital da Cultura, quando, se calhar, foi um momento difícil, porque os deputados de Coimbra questionaram a parte de gestão da Capital, e acho que o fizeram legitimamente…CP – E questionaram outras coisas, como uma colectânea de poesia…GC – Sim, mas o grande cavalo de batalha foi em relação à parte da gestão e da contratualização, e acho que fizeram bem, já que estão lá para isso, para vigiar a gestão dos dinheiros públicos, mas, por outro lado, sabendo gerir essa apreensão, o presidente da Câmara foi capaz de dar um grande empurrão à parte cultural da Capital, que eu sinceramente acho que teve uma oferta absolutamente diversificada, foi dos Rolling Stones ao projecto Percursos, acho que foi um ano notável…CP – E passamos então ao balanço da Capital da Cultura.GC – Faço um balanço positivo. Acho que tivemos uma oferta cultural, para já, como eu defendo, não-elitista. Tivemos lá, desde o Pedro Cabrita Reis, um triunfador na Bienal de Veneza, até ao Mick Jager, que é um triunfador nos palcos de todo o mundo, isto é, houve para todos os gostos. Ou o Percursos, que veio gerar novos públicos, a intervenção na Relvinha, fomos do Derrida ao Eduardo Lourenço, passando pela poesia, que foi tão polémica pelas escolhas que se fez… mas teve uma política de edições e de espectáculos, de divulgação cultural, de criação de novos públicos, de satisfação dos públicos já existentes, aquela exposição do Gótico ao Maneirismo foi uma coisa notável, acho que foi excelente, as realizações… na parte contratual, como digo, estou retirado da política de Coimbra, e não interferiria nesse círculo eleitoral, que está servido por deputados de qualidade, mas diria que, para um consumidor de cultura, usando um termo de mercado que arrepia tanto a esquerda, acho que foi um triunfo para Coimbra.CP – O teu balanço é então positivo…GC – Muito. Positivo. Eu gostei muito, fui um mero espectador, repito. E como mero espectador, tive ofertas que me satisfizeram.CP – Achas então um bom modelo a seguir por este Governo, o das capitais nacionais da cultura? Ou resultou em Coimbra mas pode não resultar noutro sítio?GC – Aí estou de acordo com o ministro da Cultura, é preciso não banalizar o modelo. Isto é, fez-se; fez-se no ano devido, não foi como a Porto Capital Europeia da Cultura, está bem que era uma coisa de outra dimensão, envolveu outras infra-estruturas, etc., mas fez-se tudo a tempo, e horas, e bem, mas… Primeiro, não banalizar o modelo, por outro lado, temos de ser realistas: estamos a falar de um elenco anterior, em que desde o ministro Carrilho, por exemplo, era gastar à tripa-forra, sem qualquer preocupação de encaixe, de uma política cultural, que originou este modelo das capitais da cultura, que se permitiu arrendar um teatro na Expo, o Teatro Camões, por mil contos por dia, com um contrato blindado a trinta anos… Estamos a falar do mesmo governo que nunca se preocupou, por exemplo, nos apoios ao cinema, em ver qual era a receptividade das obras, e dai termos apoiado a Branca de Neve (controverso filme de João César Monteiro), e por outro lado nunca se preocupou por exemplo com apoios pluri-anuais. Estamos a falar de uma casa da Música no Porto, que ainda não está pronta, e cujo orçamento disparou para milhões acima do previsto, capital da cultura essa, cuja maior parte das realizações, das mais importantes, não se realizou no ano em que era capital da cultura. Portanto, assim é possível, pensando assim a cultura é possível fazer isso todos os anos, e até nem sei como é que eles não se lembraram de o fazer todos os dias, promovendo a “esquina da cultura”, cada esquina podia ter uma realização cultural. Ou seja, resultou em Coimbra, acho que foi um sítio muito bem escolhido, não pode provincianizar-se, no mau sentido, a iniciativa, e por outro lado tem de se ter a preocupação do encaixe. Há muitas questões na cultura a resolver, antes de podermos avançar para isso. Quando ainda faltam tantas infra-estruturas culturais, e essa foi uma das principais queixas em Coimbra. CP – Mudando de assunto e apelando à tua veia academista. Como vês o actual momento do clube? Não está famoso, o panorama para a Académica...GC – Não, aliás, não sei se era inevitável, mas a venda do Dário foi um punhal cravado em pleno coração da Académica. Nós éramos “Dário-dependentes”, isso não há dúvida. Uma estrutura, ou um clube, que ainda continua a ter traços sui-géneris mas que tem de viver no mundo do futebol actual, que é um mundo também muito empresarial, tem que se modernizar rapidamente, e não espanta que Coimbra, também com o espírito tacanho que houve em termos de desenvolvimento industrial… Penso que se tinha muito aquela visão de que Coimbra era muito uma cidade de serviços e de intelectualidade e isso da indústria e dessas porcarias, eram para aqueles tipo de Aveiro e de Leiria, porque é muito sujo, é uma coisa muito desagradável, e hoje o futebol de Coimbra reflecte isso. Porque é que Leiria, que tem meia-dúzia de “gatos pingados”, com todo o respeito, tem a União de Leiria a lutar para cima do meio da tabela? Porque teve um projecto empresarial. Não estou a dizer que a Académica passe a ser totalmente empresarial, muito do nosso charme está em conservarmos o carácter sui-generis do clube, agora, efectivamente, temos de começar a gerir aquilo com outra cabeça…CP – E não achas que há demasiada política à volta da Académica?GC – Há alguma, e sobretudo é a política dos bolsos furados. Há muita gente que enche a boca a dizer que é da Académica, e depois quando chega a altura de arranjar apoios, não aparecem. Espero é que, a partir do momento em que a Académica adopte um perfil mais empresarial, essas pessoas convertam o seu academismo em recursos.CP – Já que falamos de futebol, o que achas do Euro 2004. Achas que é um desperdício ou pelo contrário, o evento que vai dar o pontapé de saída a este país?GC – Não vou tão longe. Apoiei na altura e apoio hoje o Euro 2004. Vamos ser vistos por milhões de pessoas, vamos ter turismo, vai dar a conhecer melhor o país e vai criar o apetite para nos visitarem mais pessoas ainda. E é também uma questão de orgulho e de ímpeto nacional…CP – E será esse tipo de turismo, dos adeptos de futebol, que o país precisa?GC – Mas não são só esses. Esses virão em massa, ver os jogos, mas se calhar à boleia vêm as famílias e se calhar, para além disso, com os documentários e outro material promocional que estão a circular, mais gente virá para outro género de turismo. Agora, não podemos subestimar a indústria de futebol. Estamos a falar de clubes em Inglaterra que compram jogadores de países asiáticos, que sabem que nunca vão por a jogar, mas que só o dinheiro que vendem em camisolas nesses países compensa a contratação. Estamos a falar de milhões de espectadores gerados em cadeias televisivas em todo o mundo, não podemos subestimar isto.Quanto aos dez estádios, parece-me manifestamente exagerado. Lembro-me é que o actual Governo desafiou o PS a dar a sua anuência, porque sabemos o que é que isto envolve para que fossem só seis, mas sabemos o que isto envolve, havia quatro sítios que iam ficar sem o estádio no Euro, e por isso desafiaram-se os autores do projecto a vir a terreiro dizer “sim senhor, concordamos só com seis estádios”. O que é que fez o PS? Ficaram mudos e quedos.CP – E o país? Que sentimentos te suscita este país deprimido e em crise?GC – Nós estamos a viver um momento de apreensão, quer dizer, abateu-se sobre nós uma catástrofe. Contávamos anedotas sobre os miúdos belgas, que o povo português é óptimo para anedotas, toda a gente as contava, e hoje temos a pedofilia cá, cá dentro, e isso tem contribuído muitíssimo para desanimar as pessoas porque de facto é um processo grave, que enoja qualquer cidadão de bom senso, etc.. Por outro lado o cenário também não é muito feliz do ponto de vista da produtividade económica, ou seja, não estamos na época de vacas gordas, em que possamos dizer às pessoas gastem ai à tripa forra, consumam, divirtam-se, sejam felizes, nem o PSD e o CDS fariam isso, essa era a mensagem do Governo anterior, que chegou a ter famílias endividadas em mais de cem por cento dos seus rendimentos. Portanto, não estamos num momento feliz. Por outro lado há uma coisa que se tem de debater, que é a questão dos média. A comunicação social, hoje em dia, entretém-se a acossar os políticos. Isto é, o quarto poder decidiu aliar-se a um deles, o judicial, e a acossar os outros dois, o executivo e o legislativo. Isto porque hoje é fácil vender encurralando os políticos. Fui assistir às estreias do filme Portugal SA e do espectáculo “Deixem-me Rir, do António Feio. Ambos são notáveis, mas o tema é os políticos… Por outro lado, é preciso não esquecer que hoje grande parte dos média, e bem, são privados, portanto, são entidades que visam o lucro, têm que vender; em segundo lugar, é preciso ver que hoje se viola, em muitos casos grosseiramente, o princípio do contraditório. Por outro lado, deve punir-se quem viola o segredo de justiça, não deve obrigar-se os média a revelar as suas fontes de informação, que é essencial para que eles possam continuar a trabalhar, agora, não sei se os média podem continuar impunemente a divulgar informação que viola o segredo de justiça. Ou seja, enquanto os políticos convencionais não acabarem com aquela resistência que têm, de considerar os média como actores políticos teremos um poder, de facto, com mais direitos do que deveres, enquanto não os obrigarmos a jogar com outras regras.CP – Defendes, por exemplo, restrições à sacrossanta liberdade de imprensa?GC – Se com isso se entender uma interpretação mediática do princípio do contraditório, que os média não devem veicular informações sob segredo de justiça embora não sejam eles os culpados dessa violação, sou. Agora, não encaro isso como uma restrição à liberdade de imprensa, acho isso uma restrição à libertinagem de imprensa. Educação: O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) abriu recentemente uma linha telefónica de caça à cunha, e já tem recebido inúmeras denuncias…GC – Se por um lado, é saudável que a sociedade civil se organize para fiscalizar ela própria a política, e o próprio funcionamento das coisas públicas, é de louvar a ideia, mas a intenção do dr. Mário Nogueira (coordenador do SPRC) é outra, ele, o PCP, a FENPROF e todas essas organizações estão completamente furibundos porque com a reformulação dos concursos dos professores, e com o fim do Carnaval do mini-concursos, deixou-se de poder gerir uma certa ocupação de vagas de acordo com calendários muito próprios, cujos dias eram escolhidos a vermelho. Portanto, compreendo a exasperação. Aliás, o dr. Mário Nogueira veio ele próprio denunciar que era possível gerir as coisas de acordo com conveniências, ou seja, ele está a admitir que o sistema até hoje em vigor permitia certas conveniências. Já estou como o Jô Soares, “sou só eu? Cadê os outros?”. Não estou a acusar o dr. Mário Nogueira de nada, o que estou a dizer é que corria que havia ai calendários de ocupação de vagas escritos a vermelho…CP – Isso quer dizer o quê exactamente?GC – O senhor ministro, em quem eu confio, e os governantes deste país na área da Educação diziam que era possível administrar as vagas, com o sistema anterior, de acordo com a conveniência dada aos sindicatos, que avia vagas guardadas para os amigos… Agora, eu resisto a transformar a política no circo de Moscovo, quer dizer, o dr. Mário Nogueira não está nem bem na política portuguesa nem bem no circo de Moscovo. Se a caça à cunha é boa, se eu espero que o dr. Mário Nogueira e toda a gente denunciem situações de irregularidade, a forma como ela é apresentada, o tom, é claramente um aríete, uma arma de arremesso contra o Governo. Ou seja, ainda bem que o dr. Mário Nogueira, o SPRC, estão vigilantes, eu agradeço em nome do PSD esse serviço que estão a prestar à nação, mas é bom que não extraiam dai corolário sobre um governo de corruptos, sobre o sistema de corrupção implantado, porque não tem nada a ver. Ou seja, o dr. Mário Nogueira teria prestado um serviço melhor ao sindicalismo, aos professores, ao Governo, e aos portugueses, se tivesse feito uma linha para denúncia de situações irregulares e não tivesse procurado colher dai dividendos pessoais.Aborto: Tem sido um pouco desconfortável, a tua situação nesta matéria…GC – Nada, porquê?CP – Há muitos mais dirigentes do teu partido ou da direita a favor da despenalização do aborto?GC – Acho que sim, mas eles falarão por eles. E não defendo, precisamente, só a descriminalização, defendo a despenalização. Por várias razões, mas não sem antes, e isto para mim é fundamental, que se invista muitíssimo nas causas a montante, isto é, tem de se ir para as escolas, falar as coisas como elas são, temos que deixar aquele puritanismo algo serôdio de resistirmos a falar com os nossos jovens, não só dos cuidados que devem ter, mas também na prevenção, até contraceptiva que também podem adoptar, temos de ser claros, e caramba, estamos num mundo em que eles acedem a canais por cabo, por satélite, à Internet, sabem tudo. Agora, se continuarmos a achar que é melhor não falar com eles de certas coisas porque Deus nosso senhor acharia mal, quer dizer, é no mesmo mundo que Deus nosso senhor criou que existe a Internet, onde os nossos jovens se informam sobre tudo o que querem.CP – A educação sexual é um ponto mais ou menos consensual…GC – Mas onde temos ido pouco. Por outro lado, ao nível da rede de saúde também temos que difundir isto, por outro temos de ver a questão concreta das prisões, agora, quanto ao aborto, o problema é este: se houver quem o faça de ânimo leve, será uma percentagem ínfima; por outro lado, quem o quer fazer, fá-lo sempre, a questão é se tem recursos para ir a Espanha, e há rumores que dizem, por alto, que mesmo em Portugal há quem faça abortos, não é à toa que está alguém em tribunal, mas diz-se que por ai, por Portugal, há gente que faz abortos, se calhar também na região centro, não sei… Ou seja, depende das condições que têm para pagar e do acesso que têm aos sítios. Que nós sabemos que, desde a contracção à introdução de medicamentos altamente corrosivos pela jovem que está grávida, à parteira de vão de escada, com tantas lesões e mortes à conta disso, até à clínica mais fina no estrangeiro, toda a gente que queira abortar hoje em dia aborta, não há ninguém que não aborte! E por isso prefiro várias coisas: que o façam em segurança, que o façam perante um profissional de saúde que até pode ser que consiga demover a pessoa de o fazer, e prefiro que o façam com o acesso aos melhores medicamentos e métodos. Em suma, prefiro que ninguém aborte, e por isso sou a favor da aposta nas escolas, da erradicação da pobreza que leva a que muita gente aborte, sou a favor de um esclarecimento geral, para que não haja gravidezes indesejadas, agora, já que há, já que toda a gente que quer põe termo à gravidez, prefiro que o faça em segurança, e, por outro lado, também prefiro que não haja crianças deixadas à porta ou em baldes de lixo. Agora, atacarei todas as causas do aborto, sempre, acho é que não adianta taparmos o sol com a peneira: quem quer abortar, aborta.CP – E relativamente ao novo referendo?GC – Respeito o compromisso do primeiro-ministro, isto é, não me é agradável, na substância da causa, mas respeito. Realmente o que o PSD disse, e bem, que não podemos estar a fazer referendos até ganhar. Faz-me impressão, em certos países europeus, quando se perde um referendo sobre a Europa se diz “faz-se já outro daqui a quinze dias, que é para o resultado…”, então mais valia repetirmos os jogos da Académica até ganharmos. Não pode ser, temos de deixar um prazo razoável para que o resultado do referendo, ainda que não tenha sido juridicamente vinculativo, mas que foi politicamente aceite por toda a gente, tenha o seu período, quer dizer…CP – Aceite por toda gente não sei se foi…GC – O PS, na altura, também se comprometeu a respeitá-lo, o CDS, por razões óbvias…CP – O facto é que nem metade da população participou.GC – Que sirva de lição, que sirva de lição para quando reabrirmos o processo…CP – Há quem diga que hoje a população, fruto do debate suscitado, está hoje mais preparada e disponível para esta matéria.GC – Há várias causas. E aí no aborto funcionou também a sobre-mobilização dos movimentos de convicção religiosa. Isto é, enquanto que os apoiantes da despenalização se acomodaram, pensando que “estava no papo”, os movimentos hiper-activos, muitos de convicção religiosa, trabalharam qual formigas e acabaram por ganhar. Agora, se a população não foi votar e não foi juridicamente vinculativo é uma coisa, mas politicamente, os vários partidos disseram que iriam respeitar, por isso, não é justo fazer-se um referendo, imediatamente a seguir ou pouco tempo depois simplesmente porque há gente que diz que a causa se mantém. Não, acho que devemos, pelo menos até 2006, deixar as coisas como estão, e respeito por isso o argumento do primeiro-ministro, houve um compromisso do PSD, e acho que temos de ser leais com os nossos compromissos, senão as pessoas ainda acreditam menos nos políticos.CP – Parto então do princípio que vais respeitar sem grande dificuldade a disciplina de voto partidária quando isto for votado na Assembleia.GC – Vou respeitar a disciplina de voto. Se fosse só, se me dissessem assim: “não há compromisso eleitoral em relação a referendos, e tal, mas você vota contra o aborto”, aí santa paciência, contra a despenalização da interrupção voluntária, santa paciência, era trair inclusive os primórdios do PSD, que deixou este assunto para a consciência das pessoas. Mas como o argumento invocado, é de compromisso eleitoral, e tem a ver simplesmente com a forma de rever a questão, que tem de ser novamente por referendo, aceito. E mais, muito do que hoje se passou é fruto de uma esquerda que ou foi inábil ou esteve de má fé. Quando eu vejo a deputada do Partido Comunista, Odete Santos, a celebrar em Aveiro quando saíram as primeiras notícias a dizer que o PSD e o CDS admitiam rever esta questão, quando a vejo a dizer que “é a derrota do argumento de protecção do direito à vida!”, quando vejo muitos sectores do PS a dizer que o PSD tinha recuado, quando vejo o Bloco de Esquerda em êxtase é, ou não perceber ou não estar interessado na causa. Sabem que o eleitorado do PSD e do CDS, sociologicamente é mais conservador, sabem que o PSD e o CDS teriam problemas acrescidos em explicar ao seu eleitorado porquê é que avançaram para a descriminalização, e explicar que isso não era a despenalização. Sabemos, e há estudos hoje que já o provam, que as pessoas que quando votaram contra o aborto, votaram contra o aborto, ponto. Não foi contra descriminalização, despenalização, etc.. Portanto, PSD e CDS já iam ter dificuldades em explicar ao seu eleitorado, sociologicamente mais conservador, o porquê… CP – Não se deviam então ter manifestado?GC – Obviamente que os partidos de esquerda ao fazerem aquele Carnaval em torno do aborto e contra a direita, o centro-direita, retiraram espaço de manobra às lideranças, para que pudessem conversar com os seus eleitores sobre o assunto. Portanto, ou houve má fé, ou inabilidade… É o modo de fazer política, que eu critico. Era preciso festejar o recuo da direita? Se estivessem interessados em resolver já a questão do aborto, em vez de amealhar pontinhos para o campeonato político, na disputa da liderança da esquerda, a ver se o Bloco de Esquerda ultrapassa o PCP, se ganha potencial coligativo com o PS, dentro do PS a ver quem é que efectivamente lidera o partido, se não estivessem interessados em jogar ao sobe e desce, provavelmente, perceberiam que mais valia terem sido discretos, terem-se sentado à mesa com os partidos da maioria e terem visto se em consenso, sem alarido, sem ninguém a reclamar vitória, sem ninguém a ter que arcar com derrotas, podíamos explicar aos portugueses, que apesar do aborto ser uma coisa, apesar de tudo, que não é grande ideia, que esta é a opinião da maioria, não deveríamos criminalizar e levar a tribunal as mulheres que já tiveram que arcar com uma coisa que não é agradável, que é abortar. Não era assim que se faziam as coisas? Eu acho que sim. Mas entretiveram-se foi a dizer, nós ganhámos, os outros perderam! Má fé ou inabilidade, da esquerda, claramente.CP – Passando a outra matéria que te tem feito trabalhar aqui no Parlamento, a revisão constitucional. O que é que os portugueses podem esperar deste processo?GC – Infelizmente, se o PS continuar no ambiente de liderança fragilizada em que está e com uma política relativamente cínica, podem esperar pouca coisa, para além do reforço das autonomias insulares, pouco mais do que isso, vamos ver o que se consegue fazer em matéria de limitação de mandatos… Mas devo lembrar que o PS, é só um exemplo, que começou o processo da passagem da (Universidade) Lusíada de cooperativa a fundação, começou-o e tinha pareceres favoráveis dos gabinetes do secretário de Estado Vitalino Canas e do ministro Oliveira Martins, votou a favor de uma comissão de inquérito, apesar de ser favorável, à altura, pelos pareceres que tinham eram favoráveis, na sua grande maioria, até do centro de estudos da Presidência do Conselho de Ministros, eram favoráveis a isto. O mesmo PS que foi a favor de propinas e é a favor de prescrições, teve a abstenção do PSD, em 97, que apesar de não concordar com a propina única, concordava com o princípio. O que é que o PS fez desta vez? A lei de financiamento, que propunha uma propina, já se sabe, variável, e um sistema de prescrições, votou contra. Ou seja, o PS está nesta política táctica, que acho que tem muito a ver com a falta de liderança que tem. Portanto, em matéria de revisão constitucional, embora o PSD tenha propostas de reforma do poder legislativo, de limitação de mandatos, e tudo o mais, vamos ver… eu ainda tenho esperança...CP – Vamos continuar a ter então a nossa constituição “revolucionária”.GC – Ainda tenho esperança que o PS reconsidere, que permita uma revisão constitucional mais ampla. Por exemplo, já não é preciso porque não vamos ter o tratado que implementava a constituição europeia, mas o PS estava bastante renitente a permitir um referendo no próprio dia, vamos ver o que é que dizem em matéria de referendo constitucional, onde me parece que também não vamos em coisas muito favoráveis, são frontalmente contra o senado, vamos ver como se pronunciam em matéria de limitação de mandatos… Parece que onde pode haver entendimento é na questão das autonomias regionais, do aprofundamento da autonomia… Sabe a pouco, mas lá está o PSD a fazer alguma doutrina para o futuro, como Sá Carneiro fazia, aliás…CP – Para além de saber a pouco, não corremos o risco de banalizar um pouco estes processos?GC – Também devemos ter alguma concordância na questão da Alta Autoridade para a Comunicação Social, que é hoje comummente aceite que devia ser reformulada, mas acho que não é uma questão de banalização, nesta altura, tanto que as revisões mais próximas, como a do TPI (Tribunal Penal Internacional) em 97, antes disso a de 92, não trouxeram grandes novidades. Acho que esta podia ser uma revisão constitucional marcante, que podia mexer com algumas traves mestras do nosso sistema político. Até para adequar a política aos tempos modernos…CP – E devia, pelo menos, ser um documento não-fracturante na sociedade portuguesa, transversal e mobilizador em termos nacionais, e não é…GC – Chegámos ao ponto da “tralha ideológica”… Eu acho que sobretudo que é absolutamente anacrónico, continuarmos com a carga ideológica que esta Constituição tem, e por isso, por exemplo ao nível do ensino, da saúde, da segurança social, o PSD propõe equidade, introdução da noção de equidade, isto é, vale a pena continuarmos a falar no Estado, apenas, como motor das coisas, e no carácter gratuito das coisas, ou não será mais justo falarmos do carácter gratuito das coisas para quem realmente precisa? Isto é, há noções ideológicas e socializantes, na nossa Constituição, que não têm nada a ver com o Portugal do século XXI, para já não falar na questão simbólica de um preâmbulo que é o impingir de valores que já não são os nossos, devíamos ter um preâmbulo que fosse relativamente consensual, acho que fica muito bem na versão original, de 76, acho muito bem que os manuais de direito constitucional continuem a falar dele, mas estamos a conservar um documento anacrónico e, por outro lado, ao não aceitarmos a introdução de certas modificações, estamos a compaginar com a política, com o ritmo actual que ela deve ter. Limitação de mandatos, por exemplo, é uma coisa que já é reflexo da sociedade mediática em que vivemos, a redução dos staffs, os cortes orçamentais, a limitação de mandatos, está estudado pela ciência política, são claramente reivindicações do soberano, isto é, do povo, à classe política, promovidas muito pelo clima de política mediática que hoje temos. Não estou a dizer que esta medida constitucional iria a reboque, mas seria uma adequação aos tempos modernos, nesse capítulo.CP – Há quem diga, aliás, que o actual momento nacional, e não só, se traduz numa crise do próprio regime e do sistema político, os próprios movimentos sociais florescentes, os fóruns sociais, reflectem a procura de novos modelos de organização política. O regime está mesmo em crise, a democracia representativa, tal como existe?GC – Acho que não…CP – Os partidos ainda dão resposta às necessidades das populações?GC – Os partidos estão claramente diferentes, não é à toa que os próprios partidos de direita incluem hoje nos seus programas coisas que eram reivindicações de esquerda, estou a lembrar-me da ecologia, qual é hoje o partido que não tem um capítulo forte para a ecologia?CP – Nos programas e nas campanhas talvez, na prática é outra conversa.GC – Por acaso não concordo, mas ai já é uma questão de discutirmos a política ambiental em concreto. Agora, sistema partidário: as barreiras ideológicas estão claramente situadas, no máximo, no seguinte: eu diria que a esquerda ainda hoje procura harmonizar os resultados à chegada, isto é, acha que o Estado tem um papel correctivo a jusante; a direita, poderá continuar a acreditar, na minha opinião, na noção de mérito, e por isso prefere o estabelecimento de um limiar mínimo, abaixo do qual ninguém deve cair, mas a partir daí admite quer a liberdade individual quer a inter-acção com as instituições privadas e com as organizações ditas da sociedade civil. Tirando isso, muitas das barreiras estão esbatidas, hoje a direita aceita claramente o lado assistencial do Estado, e de correcção das desigualdades. Portanto, não creio que os partidos deixem de ser essenciais ao funcionamento da Democracia.CP – O facto é que há cada vez mais pessoas que questionam esse “status quo”, esse “regime”, apelando por exemplo a conceitos como democracia participativa.GC – Quem é que milita nos fóruns sociais? E quem é que são os grandes paladinos da democracia participativa? São figuras ligadas a que sector ideológico?... São figuras é que perceberam que o modelo partidário oferecido pela esquerda, e os modelos que caíram com Berlim, do outro lado do muro… Essa queda, em grande parte, incinerou muito do dogma que eles andaram a vender toda a vida. Basta ver quem é que anda aí… Eu quando falo em movimentos da sociedade civil, e quando vejo certas figuras, obviamente com o seu prestígio científico, como o professor Boaventura de Sousa Santos, a deificar o modelo de Porto Alegre, pergunto porque é que só gente desse sector ideológico é que representa a sociedade civil, isto é, porque é que apesar de tudo as pessoas mais de centro-direita continuam com confiança nas instituições, e mesmo até gente à esquerda. Há é pessoas que, ou não conseguiram, ou nunca se adaptaram, ou sobretudo se envergonharam com a queda do dogma, e que a maneira de não admitirem que se enganaram durante toda a vida, foi dizer “bem, afinal todo o sistema faliu, não foi só a nossa ideia. Acho é o seguinte: Não podemos subestimar a democracia participativa e o aprofundamento, e, por outro lado, vou mais longe: acho que temos de começar a admitir que Atenas nunca como hoje foi possível, aquele sonho da democracia directa hoje, através das novas tecnologias de informação, das televisões interactivas, das internets, etc., está cada vez mais ai. Nós hoje já temos experiências em Bolonha e em Atenas, respectivamente com a rede Hiperbol e Péricles, que já fazem experiências do ponto de vista da universalização do acesso à rede como um direito, e, por outro lado, a participação democrática directa. Portanto, mais que a democracia participativa, hoje, começamos a ter possível Atenas, isto é a democracia directa. Mas também podemos cair na Babel electrónica, se não tivermos regras… resumindo e concluindo, acho interessante o movimento da democracia participativa, acho é que está a ser muito polarizada por figuras de determinado quadrante ideológico, o que gera desconfiança, e, por outro lado, temos de ir mais longe, e pensar que em certos fóruns limitados já é possível democracia directa, eu defendi eleições directas para a eleição do presidente do PSD em 2000.CP – Não está então ainda esgotado o modelo de democracia representativa, em teu entender.GC – Honestamente acho que não. Acho que no século XIX, quando o parlamentarismo clássico deixou de existir muitas vozes disseram que era o fim da democracia e ela anda ai, a malta continua a votar, a participar até em fóruns televisivos, em fóruns informais, em fóruns sociais, partidários, em todo o lado.CP – Mas também persiste a desigualdade e a pobreza, em todo o lado…GC – Não acaba com as desigualdades. Mas atenção, o próprio ser humano é imperfeito. Se criarmos uma sociedade de autómatos, e se criarmos seres geneticamente produzidos para serem todos iguais, assépticos e completamente automatizados, ai sim teremos um mundo onde a ordem é perfeita. O ser humano em si é imperfeito, todas as suas construções são imperfeitas, e portanto, nunca a Democracia responderá a tudo. Agora, o facto é que se mantém válida aquela asserção de Churchill, que a democracia é o menos mau de todos os sistemas que até hoje se conheceram. Até hoje, nunca ninguém deu uma fórmula que funcionasse melhor, e os arautos da democracia participativa conseguem-no, em modelos à escala de Porto Alegre, mas nunca conseguiram explicar como é que faziam isso à escala de um Estado e, sobretudo, de muitos Estados. Não sou daqueles tipos que está completamente entrincheirado numa noção de democracia, sou a favor da introdução dos meios electrónicos, da expansão da participação dos cidadãos, da modernização dos partidos e das causas, agora, não vejo ainda modelo alternativo à democracia representativa.CP – E Portugal na Europa? Achas que estamos preparados para o alargamento?GC – Primeiro, não há alternativa ao alargamento. Por outro lado, há benefícios do alargamento aos países abrangidos. CP – Aos portugueses interessará mais por exemplo, que os quadros comunitários de apoio passem a ter outro destino…GC – Isso ainda é uma questão não acabada, mas em todo o caso diria o seguinte: o facto de entrarem estados de média e pequena dimensão também nos permite aqui augurar uma política de alianças internas na União Europeia que até pode ser interessante. Agora, sobre a UE, estou como para a globalização. É uma oportunidade, e não uma condenação, isto é, nós, se resistirmos, como propõe o BE e o PCP, negativamente à globalização somos cilindrados, porque o tempo não volta para trás, não vamos voltar a andar à luz da vela, a menos que seja um encontro romântico, nem vamos andar outra vez de carroça, a menos que seja uma encenação. Portanto, o mundo está ai, temos é de estar preparados. Na EU, a forma é nós reagirmos positivamente, afirmarmos o nosso lado cultural, económico, e acreditarmos em nós próprios. Este mundo das comunicações e da actividade cultural, é um mundo de oportunidades, são os novos descobrimentos, e nada diz que nós temos de ficar para trás. Se estivéssemos ainda na revolução industrial, do género de ter grandes fábricas e grandes recursos, que são necessários como é evidente, eu diria “estamos tramados”. Agora, na era da sociedade de informação temos tudo para triunfar como os outros, na era em que o turismo é das industrias mais importantes, temos aqui riquezas que valem minas de ouro, temos uma vida cultural activa, só temos é que nos modernizar e aceitar as coisas…CP – Também temos a população menos preparada da Europa para isso tudo.GC – Atenção, temos que nos modernizar, actualizar e formar. Primeiro, temos de deixar de ser tacanhos, temos de começar a apostar e a estimar em coisas numa lógica profissional, temos de começar a servir com qualidade… Portugal tem de abandonar, e tem abandonado progressivamente, o espírito do chico-espertismo: “eu se puder ganhar tudo num dia, nem que tenha de vigarizar meia dúzia de tipos, ganho, depois até podem denunciar-me e eu não ganho mais nada…”, não, não pode ser, portanto, servir com qualidade, eventualmente reduzir a margem de lucro, ou de ganho se não for uma actividade puramente lucrativa, e vamos apostar “à la longue”, vamos cativar as pessoas para gostarem daquilo que temos para oferecer, portanto é uma questão de mentalidades. Por outro lado, a questão da mentalidade vencedora, nós não somos inferiores em nada. Os cidadãos que nascem em Portugal não têm o cérebro mais pequeno do que os que nascem na Polónia ou na Alemanha. Teremos esse “handy-cap” (má preparação), obviamente que as nossas taxas de formação, ou falta dela, serão muito elevadas enquanto gerações mais velhas estiveram vivas, e esperemos que vivam muito mais anos, desse ponto de vista não me preocupa tanto, agora, acho é que a nossa juventude tem condições para estar mais bem formada, temos é de continuar a carregar sobre o abandono escolar, mas isso não é com fel, é com mel, temos de tornar a nossa escola moderna, atractiva, e temos de perceber que quando temos jovens que podem estar um dia em frente à televisão sem ver nada que tenha a ver com cultura, quando percebermos que podemos ligar uma “play station” ou outra consola qualquer, ter a possibilidade de estar a jogar, de estar alheado, e de ligar a tudo menos a conteúdos cívicos, temos é de tornar a nossa formação atractiva. Por outro lado, não vejo em que é que o nosso povo tenha de ficar para trás, temos é uma mentalidade pessimista, somos o país do fado e da saudade, gosto muito de fado, sobretudo o de Coimbra, ai sou bairrista, e também sinto muita saudade, mas o facto é que nós somos tipos temos tendência para dizer “epá, que chatice, isto anda tão mau…”. Os espanhóis eram atrasadíssimos, ao pé de nós, eu ia com a minha mãe a Espanha quando o escudo era o dobro da peseta.CP – Não há então que ter medo da Europa.GC – O alargamento da Europa, se por um lado é uma oportunidade, do ponto de vista do equilíbrio interno do poder na UE, por outro é um estímulo. Obviamente que as populações do Leste têm a mão-de-obra barata e muitíssimo qualificada. É bom que se perceba que nós temos de qualificar a nossa mão-de-obra, os nossos empresários têm de ser modernos na gestão, premiar os trabalhadores com mérito, e não a aforrarem os lucros da actividade, isto é, reinvestindo, e esse é também um incentivo do nosso Governo, tem de apostar nas novas tecnologias, e não podem procurar ganhar tudo num dia. Ou seja, a cultura de “Chico-espertismo” e pessimismo tem de acabar em Portugal. Se vencermos isso, acho que temos tudo para triunfar. Não há nenhuma lei natural ou escrita que nos diga que temos de ser inferiores aos outros na sociedade do conhecimento. Se fosse na revolução industrial admito, ai sim estávamos um bocado condenados… Passa tanto pelas mentalidades, os nossos estudantes, os nossos empresários, os nossos trabalhadores, quando se pede que se agilizem as leis do trabalho, não é porque haja um governo de malucos que quer ver toda a gente na rua, é porque de facto, se tivermos leis do trabalho rígidas os outros não vêm para cá. É porque de facto, não é possível continuarmos a ter a abertura indiscriminada de licenciaturas no ensino superior, para coisas que não têm mercado de trabalho. Isto é, o Estado era institucionalmente cobarde, ao abrir nas escolas públicas vagas para cursos como Direito e outras coisas, indiscriminadamente, quando se calhar não estimulava cursos de base científica que tanta falta faziam. E por isso é que li uma vez declarações do presidente da Autoeuropa, que dizia que estava a pensar fazer uma academia industrial para formar trabalhadores, porque os trabalhadores quadros intermédios que ele precisava na empresa, onde tinha muitos empregos para dar, não existiam em Portugal…CP – E em relação à imigração, que também se prende com a Europa. Que abertura é que este país deve ter aos imigrantes?CP – Acho que deve ter, do ponto de vista humano, deve ter tanta como tiveram connosco, no tempo em que precisámos de emigrar.CP – O que achas do sistema de quotas para os países de língua portuguesa, por exemplo?GC – O que acho é o seguinte: nós não temos capacidade de absorver toda a gente. Temos de ter cuidado com o seguinte: nós estamos a tratar muito mal certo tipo de gente… nós temos cá médicos, arquitectos, a fazer trabalhos que nós, como sociedade… É que é muito engraçado, nós somos uma sociedade de coitadinhos, pessimistas e tal, democracia representativa está em crise em Portugal e tal, mas vêm para ai médicos da Ucrânia, engenheiros da Rússia, mais não sei quê, fazer o trabalhinho que os portugueses são demasiado finos para fazer, às vezes, e eu acho que não é uma situação digna. Por outro lado, não estão em causa os milhares de trabalhadores que já cá estavam, nem há um prazo peremptório para a sua legalização. Agora, não podemos admitir que venham para cá trabalhadores para depois os vermos confinados a comer em caixotes do lixo, ou a viver em pardieiros. Se não temos capacidade de absorção… Não é aquela perspectiva xenófoba de dizer “trabalho para os portugueses!”, não, a questão é dimensionarmos as necessidades que temos, vermos que trabalhadores precisamos e em que sectores, o que é bom também para combater a imigração ilegal, termos uma real perspectiva do que precisamos, abrir canais legítimos ou legitimados para que eles venham para cá, porque… epá, faz-me muita impressão… sou proponente, o presidente da Assembleia ainda não despachou favoravelmente, tem os seus critérios, mas sou o primeiro do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Rússia, e faz-me muita, muita impressão, que cidadãos desse grande, grande, país que é a Rússia, com formação académica notável, virem para cá com condições tão indignas, acho que não é humano, acho que os portugueses não podem ser mesquinhos ao ponto de se comprazerem, ou de serem indiferentes, ao facto de ter cidadãos do Leste, ou seja de onde forem, que se alimentem dos restos, e que vivam em condições degradantes, é só isto. Deste ponto de vista, acho que faz sentido impor limitações, mas só deste ponto de vista, não é do género de eles irem virem roubar trabalho aos portugueses, pelo contrário, vêm para cá fazer trabalhos que os portugueses já se acham muito importantes para fazer.E falta-nos, para além de perder o pessimismo e o chico-espertismo, deixar de em certas circunstâncias sermos balofos e comodistas. Mas quanto à imigração, acho que é um problema mas, tenho… Então nas comunidades de Leste, se há coisa que eu prezo neles é a facilidade com que se adaptam e, por outro lado, apesar das condições que lhes são dadas às vezes, regra geral, a cordialidade com que acatam condições de vida que eu acho que nem sempre são as mais dignas.CP – Não achas, por exemplo, que deve ser dada a prioridade aos oriundos de países de língua portuguesa?GC – Quando a União Europeia se alarga a Leste, acho que não temos condições para ir tão longe. Acho que em tempos idos deveríamos ter apostado muito mais forte, para que a CPLP fosse a nossa “commonwealth”. Hoje em dia, limitados como estamos… É óbvio que afectivamente, sinto alguma empatia por povos de expressão portuguesa, agora, acho que os cidadãos do Leste têm também a sua oportunidade aqui. Que empatia tínhamos nós com os franceses?CP – Mudando de assunto, para acabar: Santana Lopes, de quem és fiel admirador. Como é que se pode convencer um português a votar nele para as presidenciais, por exemplo?GC – Para já tinha de convencer os social-democratas a fazê-lo candidato. Não sei se será ele o candidato do PSD, e digo desde já que se for o professor Cavaco Silva, o professor Marcelo ou o dr. Mota Amaral, lá estarei com a mesma convicção. Ou seja, gosto muito do prof. Cavaco Silva, aliás, eu nunca fui contra o dr. Durão Barroso, fui foi a favor de outras coisas, ou seja, não me movem causas negativas, mas sim positivas. No caso do dr. Santana Lopes, imaginando que ele possa ser candidato à presidência da República, e eu já disse que essa seria a campanha da minha vida, porque acredito efectivamente nele, eu diria o seguinte: numa altura em que me perguntam se a democracia representativa está em causa, em que me falam e desânimo em Portugal, precisamos é de um chefe de Estado que corporize um projecto de identidade nacional, que corporize o gozo e a alegria de viver neste país, e de representar as instituições deste país, que faça política sem meias-tintas, sem o politicamente correcto, e sem o simples desejo de aparecer, porque até já nem precisa disso, que faça política com emoção, que aplique inteligência emocional à política.CP – Convinha que o Presidente da República fosse talvez uma figura minimamente consensual. Achas que Santana Lopes garante isso?GC – Acho que ele, pelos cargos por onde passou tem feito obra para todos os cidadãos sem discriminar as cores partidárias, e acho que como PR corporizaria esta noção de ideal nacional, esta alegria de ser português e, por outro lado, desempenharia o cargo de forma a que as pessoas entendam claramente o que é o chefe de Estado está a dizer.E Ainda«É preciso gente que volte a fazer política com emoção, com frontalidade, e a dizer o que lhe apetece, ainda que por isso depois pague com o seu lugar na lista»«Mas isso é mesmo assim, quem escolhe fazer antologias de poesia deixa sempre alguma coisa de fora, e eu sinceramente, procuro não interferir, sou contra concepções oficiais de arte, acho que os políticos não devem interferir nessa matéria. Para além de presidir à sub-comissão de Cultura, coordeno o grupo de trabalho para os assuntos culturais (da AR), que é um órgão consultivo do presidente da Assembleia, e uma das coisas que nós não fazemos, e bem, é decidir, concretamente, sobre obras de arte, nesses casos há um júri de pessoas qualificadas e insuspeitas… é complicado quando um político começa a decidir sobre o conteúdo artístico. Não deve ser acrítico, isto é, deve procurar ver como estão a ser aplicados os recursos públicos, qual é a receptividade junto do público, se está ou não a criar novos públicos, etc., agora, na antiga China da Revolução Cultural é que os políticos se pronunciavam sobre os assuntos culturais, e sou absolutamente contra isso»«É preciso ver que grandes espectáculos passam hoje por Lisboa, Porto e Figueira da Foz. Eu ainda sou do tempo, quando era miúdo, em que as pessoas brincavam, sem desprimor para os figueirenses e para a Figueira, de que gosto muito, que esta era Coimbra B. E a Figueira hoje tem lá espectáculos que não podem ir a Coimbra. Se quero ver cinema comercial em condições, com conforto, vou a Aveiro. Coimbra deixou-se atrasar em termos de modernidade, deixou-se mofar. E acho que aqui o dr. Machado e o PS tiveram aqui grande responsabilidade»«CP – E no entanto, já que falamos de cultura, os principais equipamentos culturais que a cidade está a ver “nascer” foram lançados nessa altura (nos anteriores mandatos socialistas).GC – O dr. Machado esteve lá doze anos, não acabou nada. Ideias toda a gente tem…CP – Não acabou mas deixou para acabar, o que já não é mau.GC – Deixou em fase final, na fase final, provavelmente percebeu que para ganhar outra vez já não bastava a gestão de mercearia que fazia. O senhor também devia ler jornais, e deve-se ter apercebido que a cidade estava a mudar, que as pessoas estavam a ficar mais modernas, e sobretudo fartas de olharem para Viseu com espectáculos, de olharem para Aveiro a modernizar-se e a passar-nos à frente, até ao nível universitário, e já não basta dizer que se é de Coimbra para as coisas acontecerem. Por exemplo, para lá irem os Rolling Stones foi preciso uma gestão moderna, gente com imaginação, e aquela saudável e brilhante loucura do Nuno Freitas. Coimbra foi perdendo charme, foi perdendo posição no todo nacional, foi-se tornando uma cidadezinha adormecida de província, triste…»«CP – E achas então que se está a inverter a situação para Coimbra?GC – Acho. Isto parece uma entrevista sobre o Nuno (Freitas), mas não é. Tenho pena que ele esteja mais retirado para a sua profissão, saúdo por um lado, porque é bom ele ter a sua profissão de médico, sem depender exclusivamente da política, por outro lado, embora o presidente seja um homem moderno do ponto de vista de gestão acho que o Nuno era ali um grande dínamo de modernização e de ideias modernas. Espero que a Câmara continue a modernizar e a dar charme à cidade. Eu dizia isto ao dr. Machado: “falta charme à cidade”. E falta modernização. Como é que é possível que uma universidade tão prestigiada não arranje ali zona para converter Coimbra num Sillicon Valley português, isto é, uma zona de ponta, em termos tecnológicos, do país, porque é que estamos a perder para Aveiro em termos de modernização? Espero que acordem, não de Aveiro, nem da Guarda, nem de Viseu, eu quero é que Coimbra se desenvolva, não haja dúvidas, embora eu agora, sublinho, deva o meu trabalho político ao circulo eleitoral de Lisboa, é cá que trabalho e sempre que me convidam tenho ido a sessões partidárias e não só no distrito de Lisboa, mas sou obviamente um tipo de Coimbra, vivi lá trinta dos meus trinta e dois anos, e continuo a ir lá ao fim de semana, comprei lá uma casa, e está lá a Académica, que é um dos meus vícios.»«Prefiro nem discutir a questão da concepção, e a partir do momento em que temos um feto humano. Prefiro ir para a ciência, que me diga até que ponto é que é seguro, até que altura da gravidez é que é seguro e eticamente tolerável fazer um aborto. Porque, até pode estar ali um projecto de ser humano, uma vida futura, o facto é que se for uma vida futura que vai acabar no caixote do lixo, ou que é parada mais tarde e por métodos artesanais, que tornarão a mãe estéril ou a matarão em caso extremo, então prefiro que ela possa ir ao hospital (…) Sou contra o aborto, agora, já que o há…»«CP – Noto nesta conversa uma certa mágoa relativamente à política da cidade. Sais-te de Coimbra desiludido?GC – Não, pelo contrário. Em certo sentido poderei ter feito a minha própria cama, ou cavado a minha própria sepultura. Tenho é pena, mas não tenho neste momento…CP – Terás é um estilo de intervenção, truculento, que não ajuda nada a cativar simpatias nem à diplomacia…GC – Pois, mas também acho que ter um estilo neutral não é o melhor, quando os políticos estão a ser acossados, por vários lados. Tenho tido, quer os maiores dissabores quer as maiores alegrias à conta do meu estilo, agora, é o meu estilo, não proponho nenhum produto artificial às pessoas, sou o que sou e, sobretudo, acho que o estilo neutral, cinzento, apagado e não emotivo, é o que mais tem permitido aos políticos serem acossados, por esta campanha anti-políticos, que vem de determinados sectores ideológicos, minoritários e, por outro lado, de alguns média. Agora, em Coimbra, tenho as minhas possibilidades de participação quase esgotadas. Porquê? Se eu fosse puramente pragmático diria que comprei as guerras erradas… Por um lado, na sua qualidade de presidente da Jurisdição Nacional (do PSD, em referência a Carlos Encarnação), admito que, se calhar, se fosse hoje, teria usado de outra elegância terminológica, admito-o e faço o mea culpa, mas enfrentei o actual presidente da Câmara. A única coisa que censurei na altura foi que ele… porque eu acho, e perdoesse-me a imodéstia, que me bati com todas as minhas forças na Assembleia Municipal, teria prezado muito se ele me tivesse dispensado pessoalmente, isto é, se me tivesse dito, “não tenho confiança política em si, agradeço-lhe, em todo o caso que fez…”, mas não, não foi assim que se passou, e foi a única coisa que lhe apontei, de resto compreendo perfeitamente que ele não conte comigo. Por outro lado, a nível do elenco partidário, devo lembrar que era candidato numa lista contra o dr. Paulo Pereira Coelho, à distrital, que teve a ver com o apoio que o dr. Pereira Coelho escolheu dar no Congresso de Viseu, eu não concordei, e participei numa lista que se lhe opunha, e como não sou nem autarca na região, nem tenho jeito para meias-tintas, também aceitei, com muita naturalidade, que o dr. Pereira Coelho e os seus seguidores, não contassem comigo. Terceiro vector, para mostrar as guerras todas que comprei em Coimbra, embora pessoalmente e até politicamente, já tenha feito as pazes com o Nuno Freitas, já tenha até dito que ele é o meu candidato, quer à concelhia, quer à distrital do partido, se o entender ser, e acho que está na hora de o ser, porque é uma nova forma de fazer política, acho que o Nuno Freitas é talvez dos políticos mais brilhantes da minha geração. Se por um lado, com ele já fui capaz de fazer esse caminho e hoje temos uma relação cordial, e não vejo nele hipocrisia portanto acho que ele próprio já ultrapassou o diferendo que tivemos em 96, há oito anos, por outro lado, houve ali uma série de lugares-tenentes do Nuno Freitas nessa guerra, que nunca desmobilizaram, isto é, enquanto que eu “desmilitarizei”, digamos assim, e quem quis continuar a fazer política fez, tanto é assim que pessoas que estavam próximas de mim, hoje estão próximas dos apoiantes do Nuno Freitas, ainda na JSD, e fizeram o seu percurso, o Nuno, e bem, manteve a sua estratégia de influência, até pelo carisma dele, não precisou de fazer muito, as pessoas mantém-se organizadas, só que há ai uma fileira de apoiantes, que floresceu durante os anos das trevas, digamos assim, e que ainda hoje, apontam aos mais novos que entram e que nunca me viram na vida, o Capitão como “la bête noir” da política social-democrata de Coimbra. A mim só me chateia porque acho que já estou, desse ponto de vista, morto e enterrado. Dá-me um gozo um bocado perverso, continuo então a incomodar, acho é que não estão a servir bem a organização, mas eu também já provei que não preciso disso, milagre dos milagres, estou eleito por Lisboa, pelos vistos ainda sirvo em algum lado. Agora, não é desilusão com a política de Coimbra, é saber que comprei as guerras… Tenho pena que isso não me permita participar mais, mas temos que assumir as consequências dos nossos actos e eu não estou aqui a lamentar-me, não sou nenhum Calimero, assumo exactamente o que fiz, de todas as guerras que comprei na altura devida, teria usado armas diferentes com o dr. Encarnação, reconheço agora com mais anos em cima, que poderia ter sido mais elegante na expressão, e, se tivesse uma costela pragmática, que custa a despontar em mim, talvez, olhados os resultados, mas eu não sou vidente, não tivesse afrontado, como afrontei, o Nuno Freitas, porque o resultado foi uma divisão que perdura oito anos depois, sem sentido nenhum.»PerfilA segunda vida política de CapitãoGonçalo Capitão, um dos principais jovens líderes social-democratas de Coimbra dos anos 90, não o diz, mas hoje faz lembrar um refugiado político em Lisboa. Desligou completamente da política local conimbricense há dois anos, quando foi eleito para o seu “exílio dourado” parlamentar pelo círculo eleitoral de Lisboa, onde reside e trabalha (antes de ascender a deputado mudara-se para a capital enquanto jurista dos quadros da Transgás). Hoje admite, aparentemente com grande tranquilidade e “fair play”, que morreu politicamente para Coimbra ao abrir demasiados conflitos, com as pessoas erradas, no seio do partido. Paulo Pereira Coelho, Carlos Encarnação e Nuno Freitas serão três das principais “frentes” de batalha que abriu em Coimbra e que o leva a dizer com um encolher de ombros: «Em certo sentido poderei ter feito a minha própria cama, ou cavado a minha própria sepultura». Com os dois últimos, pelo menos, já fez ou está a fazer o seu processo de reconciliação, até porque não ambiciona regressar a Coimbra tão cedo: «Não é desilusão com a política de Coimbra, é saber que comprei as guerras… Tenho pena que isso não me permita participar mais, mas temos que assumir as consequências dos nossos actos e eu não estou aqui a lamentar-me, não sou nenhum Calimero, assumo exactamente o que fiz. De todas as guerras que comprei na altura, teria usado armas diferentes com o dr. Encarnação, reconheço agora com mais anos em cima, que poderia ter sido mais elegante na expressão, e, se tivesse uma costela pragmática, que custa a despontar em mim, talvez, olhados os resultados, mas eu não sou vidente, não tivesse afrontado, como afrontei, o Nuno Freitas, porque o resultado foi uma divisão que perdura oito anos depois, sem sentido nenhum». Nascido a 9 de Maio de 1971, o “santanista” Capitão acumula um intenso trabalho político, quer no partido em que é conselheiro nacional, quer no Parlamento, onde no grupo parlamentar social-democrata lidera os pelouros de Educação, Ciência, Cultura, Juventude e Desporto, sendo também presidente da Subcomissão Parlamentar da Cultura, com o trabalho académico, ultimando a sua tese de doutoramento, em torno do tema comunicação social e política, orientada por Marcelo Rebelo de Sousa. Na AR integra ainda as Comissões Parlamentares de Educação, Ciência e Cultura, Assuntos Constitucionais, Reforma do Sistema Político e Revisão Constitucional.

Eis que surge de novo o esplendor deste Portugal. Alguns meses depois de relativa inactividade no blog, eis que ressurge este de forma sistemática e diária, ou nocturna, conforme o respectivo caso em apreço: desta feita ressurge este com um factor novidade. Dada a actual situação profissional e geográfica do Grande Líder do Blog (GLB), desta feita algures na área metropolitana da capital da pátria na qualidade ou falta dela de free-lancer (ou, em português técnico, Lanceiro Livre), tendo para já como principal ocupação ser correspondente daqui para lá. Sendo lá Coimbra. E cá Lisboa. Escreve o GLB para o insígne semanário Campeão das Provincias. E que coisa nova é essa neste regresso para que não seja pífio? Nada menos que entrevistas na íntegra. Ou seja, o jornal publica a entrevista editada e devidamente subordinada à feroz ditadura da paginação para papel, e o GLB publica-as na sua versão XXL. Iniciamos esta nova gesta com um deputado, que no jornal teve hoje (quinta-feira) direito a cerca de 16 mil caracteres, e aqui tem mais de 55 mil o que é óptimo para quem aprecia muitos caracteres e igual conversa. Trata-se de Gonçalo Capitão, moço de gabarito, PSD e/mas bom rapaz, conimbricense de gema e/mas eleito por Lisboa, já adiante se percebe melhor porquê, e com direito a "Perfil". Deverá suceder-lhe (apenas dentro de duas semanas, quando a entrevista retalhada sair no jornal, naturalmente pois que assim é que me parece bem), neste novo ciclo de integrais, o sub-director do Público Eduardo Dâmaso, que sim senhor, também tem alguma coisa a ver com Coimbra. “Temos de deixar de ser tacanhos”Campeão das Províncias – Estás em Lisboa há quatro anos, como tens visto, “de fora”, a evolução de Coimbra?Gonçalo Capitão – Sou hoje em dia um conimbricense de fim-de-semana, mas continuo a ir a Coimbra, inclusivamente estou a comprar lá casa, continua a ser a minha cidade, mas hoje sou apenas um membro da sua sociedade civil, uma vez que politicamente estou completamente inactivo, nem sempre de moto próprio, na política de Coimbra e no PSD de Coimbra. Vejo, sobretudo, desde que mudou o elenco camarário, e sou suspeito, sou do PSD e, sempre que tive voz, fui um dos opositores mais ferozes da política, ou da falta dela, do dr. Machado, e o que vejo é que Coimbra começou a ter um ar mais moderno, mais arejado. E em pequenas coisas, também ai por acção quer do presidente Carlos Encarnação, quer do vereador Nuno Freitas, e todo o elenco, mas destaco aqui o papel modernizador e catalizador destas duas figuras, nota-se que havia pequenas coisas como os espaços verdes, por exemplo, o aprumo nos espaços públicos, que era uma coisa que o dr. Machado, com a falta de gosto que Deus lhe deu, nem isso conseguia fazer. Segundo sei, está-se a por mão naquele descontrole urbanístico que o dr. Machado deixou. Diria que a primeira grande reforma é a nível do bom senso e do bom gosto. Por outro lado, surgem projectos inovadores, e acabam-se obras de que se falava, vê-se finalmente o Polis a avançar em força, vemos São Francisco finalmente a funcionar, vemos projectos inovadores para a Baixa… Sente-se modernidade e sente-se bom gosto. Por exemplo, o apoio que este presidente de Câmara foi capaz de dar à Capital da Cultura, quando, se calhar, foi um momento difícil, porque os deputados de Coimbra questionaram a parte de gestão da Capital, e acho que o fizeram legitimamente…CP – E questionaram outras coisas, como uma colectânea de poesia…GC – Sim, mas o grande cavalo de batalha foi em relação à parte da gestão e da contratualização, e acho que fizeram bem, já que estão lá para isso, para vigiar a gestão dos dinheiros públicos, mas, por outro lado, sabendo gerir essa apreensão, o presidente da Câmara foi capaz de dar um grande empurrão à parte cultural da Capital, que eu sinceramente acho que teve uma oferta absolutamente diversificada, foi dos Rolling Stones ao projecto Percursos, acho que foi um ano notável…CP – E passamos então ao balanço da Capital da Cultura.GC – Faço um balanço positivo. Acho que tivemos uma oferta cultural, para já, como eu defendo, não-elitista. Tivemos lá, desde o Pedro Cabrita Reis, um triunfador na Bienal de Veneza, até ao Mick Jager, que é um triunfador nos palcos de todo o mundo, isto é, houve para todos os gostos. Ou o Percursos, que veio gerar novos públicos, a intervenção na Relvinha, fomos do Derrida ao Eduardo Lourenço, passando pela poesia, que foi tão polémica pelas escolhas que se fez… mas teve uma política de edições e de espectáculos, de divulgação cultural, de criação de novos públicos, de satisfação dos públicos já existentes, aquela exposição do Gótico ao Maneirismo foi uma coisa notável, acho que foi excelente, as realizações… na parte contratual, como digo, estou retirado da política de Coimbra, e não interferiria nesse círculo eleitoral, que está servido por deputados de qualidade, mas diria que, para um consumidor de cultura, usando um termo de mercado que arrepia tanto a esquerda, acho que foi um triunfo para Coimbra.CP – O teu balanço é então positivo…GC – Muito. Positivo. Eu gostei muito, fui um mero espectador, repito. E como mero espectador, tive ofertas que me satisfizeram.CP – Achas então um bom modelo a seguir por este Governo, o das capitais nacionais da cultura? Ou resultou em Coimbra mas pode não resultar noutro sítio?GC – Aí estou de acordo com o ministro da Cultura, é preciso não banalizar o modelo. Isto é, fez-se; fez-se no ano devido, não foi como a Porto Capital Europeia da Cultura, está bem que era uma coisa de outra dimensão, envolveu outras infra-estruturas, etc., mas fez-se tudo a tempo, e horas, e bem, mas… Primeiro, não banalizar o modelo, por outro lado, temos de ser realistas: estamos a falar de um elenco anterior, em que desde o ministro Carrilho, por exemplo, era gastar à tripa-forra, sem qualquer preocupação de encaixe, de uma política cultural, que originou este modelo das capitais da cultura, que se permitiu arrendar um teatro na Expo, o Teatro Camões, por mil contos por dia, com um contrato blindado a trinta anos… Estamos a falar do mesmo governo que nunca se preocupou, por exemplo, nos apoios ao cinema, em ver qual era a receptividade das obras, e dai termos apoiado a Branca de Neve (controverso filme de João César Monteiro), e por outro lado nunca se preocupou por exemplo com apoios pluri-anuais. Estamos a falar de uma casa da Música no Porto, que ainda não está pronta, e cujo orçamento disparou para milhões acima do previsto, capital da cultura essa, cuja maior parte das realizações, das mais importantes, não se realizou no ano em que era capital da cultura. Portanto, assim é possível, pensando assim a cultura é possível fazer isso todos os anos, e até nem sei como é que eles não se lembraram de o fazer todos os dias, promovendo a “esquina da cultura”, cada esquina podia ter uma realização cultural. Ou seja, resultou em Coimbra, acho que foi um sítio muito bem escolhido, não pode provincianizar-se, no mau sentido, a iniciativa, e por outro lado tem de se ter a preocupação do encaixe. Há muitas questões na cultura a resolver, antes de podermos avançar para isso. Quando ainda faltam tantas infra-estruturas culturais, e essa foi uma das principais queixas em Coimbra. CP – Mudando de assunto e apelando à tua veia academista. Como vês o actual momento do clube? Não está famoso, o panorama para a Académica...GC – Não, aliás, não sei se era inevitável, mas a venda do Dário foi um punhal cravado em pleno coração da Académica. Nós éramos “Dário-dependentes”, isso não há dúvida. Uma estrutura, ou um clube, que ainda continua a ter traços sui-géneris mas que tem de viver no mundo do futebol actual, que é um mundo também muito empresarial, tem que se modernizar rapidamente, e não espanta que Coimbra, também com o espírito tacanho que houve em termos de desenvolvimento industrial… Penso que se tinha muito aquela visão de que Coimbra era muito uma cidade de serviços e de intelectualidade e isso da indústria e dessas porcarias, eram para aqueles tipo de Aveiro e de Leiria, porque é muito sujo, é uma coisa muito desagradável, e hoje o futebol de Coimbra reflecte isso. Porque é que Leiria, que tem meia-dúzia de “gatos pingados”, com todo o respeito, tem a União de Leiria a lutar para cima do meio da tabela? Porque teve um projecto empresarial. Não estou a dizer que a Académica passe a ser totalmente empresarial, muito do nosso charme está em conservarmos o carácter sui-generis do clube, agora, efectivamente, temos de começar a gerir aquilo com outra cabeça…CP – E não achas que há demasiada política à volta da Académica?GC – Há alguma, e sobretudo é a política dos bolsos furados. Há muita gente que enche a boca a dizer que é da Académica, e depois quando chega a altura de arranjar apoios, não aparecem. Espero é que, a partir do momento em que a Académica adopte um perfil mais empresarial, essas pessoas convertam o seu academismo em recursos.CP – Já que falamos de futebol, o que achas do Euro 2004. Achas que é um desperdício ou pelo contrário, o evento que vai dar o pontapé de saída a este país?GC – Não vou tão longe. Apoiei na altura e apoio hoje o Euro 2004. Vamos ser vistos por milhões de pessoas, vamos ter turismo, vai dar a conhecer melhor o país e vai criar o apetite para nos visitarem mais pessoas ainda. E é também uma questão de orgulho e de ímpeto nacional…CP – E será esse tipo de turismo, dos adeptos de futebol, que o país precisa?GC – Mas não são só esses. Esses virão em massa, ver os jogos, mas se calhar à boleia vêm as famílias e se calhar, para além disso, com os documentários e outro material promocional que estão a circular, mais gente virá para outro género de turismo. Agora, não podemos subestimar a indústria de futebol. Estamos a falar de clubes em Inglaterra que compram jogadores de países asiáticos, que sabem que nunca vão por a jogar, mas que só o dinheiro que vendem em camisolas nesses países compensa a contratação. Estamos a falar de milhões de espectadores gerados em cadeias televisivas em todo o mundo, não podemos subestimar isto.Quanto aos dez estádios, parece-me manifestamente exagerado. Lembro-me é que o actual Governo desafiou o PS a dar a sua anuência, porque sabemos o que é que isto envolve para que fossem só seis, mas sabemos o que isto envolve, havia quatro sítios que iam ficar sem o estádio no Euro, e por isso desafiaram-se os autores do projecto a vir a terreiro dizer “sim senhor, concordamos só com seis estádios”. O que é que fez o PS? Ficaram mudos e quedos.CP – E o país? Que sentimentos te suscita este país deprimido e em crise?GC – Nós estamos a viver um momento de apreensão, quer dizer, abateu-se sobre nós uma catástrofe. Contávamos anedotas sobre os miúdos belgas, que o povo português é óptimo para anedotas, toda a gente as contava, e hoje temos a pedofilia cá, cá dentro, e isso tem contribuído muitíssimo para desanimar as pessoas porque de facto é um processo grave, que enoja qualquer cidadão de bom senso, etc.. Por outro lado o cenário também não é muito feliz do ponto de vista da produtividade económica, ou seja, não estamos na época de vacas gordas, em que possamos dizer às pessoas gastem ai à tripa forra, consumam, divirtam-se, sejam felizes, nem o PSD e o CDS fariam isso, essa era a mensagem do Governo anterior, que chegou a ter famílias endividadas em mais de cem por cento dos seus rendimentos. Portanto, não estamos num momento feliz. Por outro lado há uma coisa que se tem de debater, que é a questão dos média. A comunicação social, hoje em dia, entretém-se a acossar os políticos. Isto é, o quarto poder decidiu aliar-se a um deles, o judicial, e a acossar os outros dois, o executivo e o legislativo. Isto porque hoje é fácil vender encurralando os políticos. Fui assistir às estreias do filme Portugal SA e do espectáculo “Deixem-me Rir, do António Feio. Ambos são notáveis, mas o tema é os políticos… Por outro lado, é preciso não esquecer que hoje grande parte dos média, e bem, são privados, portanto, são entidades que visam o lucro, têm que vender; em segundo lugar, é preciso ver que hoje se viola, em muitos casos grosseiramente, o princípio do contraditório. Por outro lado, deve punir-se quem viola o segredo de justiça, não deve obrigar-se os média a revelar as suas fontes de informação, que é essencial para que eles possam continuar a trabalhar, agora, não sei se os média podem continuar impunemente a divulgar informação que viola o segredo de justiça. Ou seja, enquanto os políticos convencionais não acabarem com aquela resistência que têm, de considerar os média como actores políticos teremos um poder, de facto, com mais direitos do que deveres, enquanto não os obrigarmos a jogar com outras regras.CP – Defendes, por exemplo, restrições à sacrossanta liberdade de imprensa?GC – Se com isso se entender uma interpretação mediática do princípio do contraditório, que os média não devem veicular informações sob segredo de justiça embora não sejam eles os culpados dessa violação, sou. Agora, não encaro isso como uma restrição à liberdade de imprensa, acho isso uma restrição à libertinagem de imprensa. Educação: O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) abriu recentemente uma linha telefónica de caça à cunha, e já tem recebido inúmeras denuncias…GC – Se por um lado, é saudável que a sociedade civil se organize para fiscalizar ela própria a política, e o próprio funcionamento das coisas públicas, é de louvar a ideia, mas a intenção do dr. Mário Nogueira (coordenador do SPRC) é outra, ele, o PCP, a FENPROF e todas essas organizações estão completamente furibundos porque com a reformulação dos concursos dos professores, e com o fim do Carnaval do mini-concursos, deixou-se de poder gerir uma certa ocupação de vagas de acordo com calendários muito próprios, cujos dias eram escolhidos a vermelho. Portanto, compreendo a exasperação. Aliás, o dr. Mário Nogueira veio ele próprio denunciar que era possível gerir as coisas de acordo com conveniências, ou seja, ele está a admitir que o sistema até hoje em vigor permitia certas conveniências. Já estou como o Jô Soares, “sou só eu? Cadê os outros?”. Não estou a acusar o dr. Mário Nogueira de nada, o que estou a dizer é que corria que havia ai calendários de ocupação de vagas escritos a vermelho…CP – Isso quer dizer o quê exactamente?GC – O senhor ministro, em quem eu confio, e os governantes deste país na área da Educação diziam que era possível administrar as vagas, com o sistema anterior, de acordo com a conveniência dada aos sindicatos, que avia vagas guardadas para os amigos… Agora, eu resisto a transformar a política no circo de Moscovo, quer dizer, o dr. Mário Nogueira não está nem bem na política portuguesa nem bem no circo de Moscovo. Se a caça à cunha é boa, se eu espero que o dr. Mário Nogueira e toda a gente denunciem situações de irregularidade, a forma como ela é apresentada, o tom, é claramente um aríete, uma arma de arremesso contra o Governo. Ou seja, ainda bem que o dr. Mário Nogueira, o SPRC, estão vigilantes, eu agradeço em nome do PSD esse serviço que estão a prestar à nação, mas é bom que não extraiam dai corolário sobre um governo de corruptos, sobre o sistema de corrupção implantado, porque não tem nada a ver. Ou seja, o dr. Mário Nogueira teria prestado um serviço melhor ao sindicalismo, aos professores, ao Governo, e aos portugueses, se tivesse feito uma linha para denúncia de situações irregulares e não tivesse procurado colher dai dividendos pessoais.Aborto: Tem sido um pouco desconfortável, a tua situação nesta matéria…GC – Nada, porquê?CP – Há muitos mais dirigentes do teu partido ou da direita a favor da despenalização do aborto?GC – Acho que sim, mas eles falarão por eles. E não defendo, precisamente, só a descriminalização, defendo a despenalização. Por várias razões, mas não sem antes, e isto para mim é fundamental, que se invista muitíssimo nas causas a montante, isto é, tem de se ir para as escolas, falar as coisas como elas são, temos que deixar aquele puritanismo algo serôdio de resistirmos a falar com os nossos jovens, não só dos cuidados que devem ter, mas também na prevenção, até contraceptiva que também podem adoptar, temos de ser claros, e caramba, estamos num mundo em que eles acedem a canais por cabo, por satélite, à Internet, sabem tudo. Agora, se continuarmos a achar que é melhor não falar com eles de certas coisas porque Deus nosso senhor acharia mal, quer dizer, é no mesmo mundo que Deus nosso senhor criou que existe a Internet, onde os nossos jovens se informam sobre tudo o que querem.CP – A educação sexual é um ponto mais ou menos consensual…GC – Mas onde temos ido pouco. Por outro lado, ao nível da rede de saúde também temos que difundir isto, por outro temos de ver a questão concreta das prisões, agora, quanto ao aborto, o problema é este: se houver quem o faça de ânimo leve, será uma percentagem ínfima; por outro lado, quem o quer fazer, fá-lo sempre, a questão é se tem recursos para ir a Espanha, e há rumores que dizem, por alto, que mesmo em Portugal há quem faça abortos, não é à toa que está alguém em tribunal, mas diz-se que por ai, por Portugal, há gente que faz abortos, se calhar também na região centro, não sei… Ou seja, depende das condições que têm para pagar e do acesso que têm aos sítios. Que nós sabemos que, desde a contracção à introdução de medicamentos altamente corrosivos pela jovem que está grávida, à parteira de vão de escada, com tantas lesões e mortes à conta disso, até à clínica mais fina no estrangeiro, toda a gente que queira abortar hoje em dia aborta, não há ninguém que não aborte! E por isso prefiro várias coisas: que o façam em segurança, que o façam perante um profissional de saúde que até pode ser que consiga demover a pessoa de o fazer, e prefiro que o façam com o acesso aos melhores medicamentos e métodos. Em suma, prefiro que ninguém aborte, e por isso sou a favor da aposta nas escolas, da erradicação da pobreza que leva a que muita gente aborte, sou a favor de um esclarecimento geral, para que não haja gravidezes indesejadas, agora, já que há, já que toda a gente que quer põe termo à gravidez, prefiro que o faça em segurança, e, por outro lado, também prefiro que não haja crianças deixadas à porta ou em baldes de lixo. Agora, atacarei todas as causas do aborto, sempre, acho é que não adianta taparmos o sol com a peneira: quem quer abortar, aborta.CP – E relativamente ao novo referendo?GC – Respeito o compromisso do primeiro-ministro, isto é, não me é agradável, na substância da causa, mas respeito. Realmente o que o PSD disse, e bem, que não podemos estar a fazer referendos até ganhar. Faz-me impressão, em certos países europeus, quando se perde um referendo sobre a Europa se diz “faz-se já outro daqui a quinze dias, que é para o resultado…”, então mais valia repetirmos os jogos da Académica até ganharmos. Não pode ser, temos de deixar um prazo razoável para que o resultado do referendo, ainda que não tenha sido juridicamente vinculativo, mas que foi politicamente aceite por toda a gente, tenha o seu período, quer dizer…CP – Aceite por toda gente não sei se foi…GC – O PS, na altura, também se comprometeu a respeitá-lo, o CDS, por razões óbvias…CP – O facto é que nem metade da população participou.GC – Que sirva de lição, que sirva de lição para quando reabrirmos o processo…CP – Há quem diga que hoje a população, fruto do debate suscitado, está hoje mais preparada e disponível para esta matéria.GC – Há várias causas. E aí no aborto funcionou também a sobre-mobilização dos movimentos de convicção religiosa. Isto é, enquanto que os apoiantes da despenalização se acomodaram, pensando que “estava no papo”, os movimentos hiper-activos, muitos de convicção religiosa, trabalharam qual formigas e acabaram por ganhar. Agora, se a população não foi votar e não foi juridicamente vinculativo é uma coisa, mas politicamente, os vários partidos disseram que iriam respeitar, por isso, não é justo fazer-se um referendo, imediatamente a seguir ou pouco tempo depois simplesmente porque há gente que diz que a causa se mantém. Não, acho que devemos, pelo menos até 2006, deixar as coisas como estão, e respeito por isso o argumento do primeiro-ministro, houve um compromisso do PSD, e acho que temos de ser leais com os nossos compromissos, senão as pessoas ainda acreditam menos nos políticos.CP – Parto então do princípio que vais respeitar sem grande dificuldade a disciplina de voto partidária quando isto for votado na Assembleia.GC – Vou respeitar a disciplina de voto. Se fosse só, se me dissessem assim: “não há compromisso eleitoral em relação a referendos, e tal, mas você vota contra o aborto”, aí santa paciência, contra a despenalização da interrupção voluntária, santa paciência, era trair inclusive os primórdios do PSD, que deixou este assunto para a consciência das pessoas. Mas como o argumento invocado, é de compromisso eleitoral, e tem a ver simplesmente com a forma de rever a questão, que tem de ser novamente por referendo, aceito. E mais, muito do que hoje se passou é fruto de uma esquerda que ou foi inábil ou esteve de má fé. Quando eu vejo a deputada do Partido Comunista, Odete Santos, a celebrar em Aveiro quando saíram as primeiras notícias a dizer que o PSD e o CDS admitiam rever esta questão, quando a vejo a dizer que “é a derrota do argumento de protecção do direito à vida!”, quando vejo muitos sectores do PS a dizer que o PSD tinha recuado, quando vejo o Bloco de Esquerda em êxtase é, ou não perceber ou não estar interessado na causa. Sabem que o eleitorado do PSD e do CDS, sociologicamente é mais conservador, sabem que o PSD e o CDS teriam problemas acrescidos em explicar ao seu eleitorado porquê é que avançaram para a descriminalização, e explicar que isso não era a despenalização. Sabemos, e há estudos hoje que já o provam, que as pessoas que quando votaram contra o aborto, votaram contra o aborto, ponto. Não foi contra descriminalização, despenalização, etc.. Portanto, PSD e CDS já iam ter dificuldades em explicar ao seu eleitorado, sociologicamente mais conservador, o porquê… CP – Não se deviam então ter manifestado?GC – Obviamente que os partidos de esquerda ao fazerem aquele Carnaval em torno do aborto e contra a direita, o centro-direita, retiraram espaço de manobra às lideranças, para que pudessem conversar com os seus eleitores sobre o assunto. Portanto, ou houve má fé, ou inabilidade… É o modo de fazer política, que eu critico. Era preciso festejar o recuo da direita? Se estivessem interessados em resolver já a questão do aborto, em vez de amealhar pontinhos para o campeonato político, na disputa da liderança da esquerda, a ver se o Bloco de Esquerda ultrapassa o PCP, se ganha potencial coligativo com o PS, dentro do PS a ver quem é que efectivamente lidera o partido, se não estivessem interessados em jogar ao sobe e desce, provavelmente, perceberiam que mais valia terem sido discretos, terem-se sentado à mesa com os partidos da maioria e terem visto se em consenso, sem alarido, sem ninguém a reclamar vitória, sem ninguém a ter que arcar com derrotas, podíamos explicar aos portugueses, que apesar do aborto ser uma coisa, apesar de tudo, que não é grande ideia, que esta é a opinião da maioria, não deveríamos criminalizar e levar a tribunal as mulheres que já tiveram que arcar com uma coisa que não é agradável, que é abortar. Não era assim que se faziam as coisas? Eu acho que sim. Mas entretiveram-se foi a dizer, nós ganhámos, os outros perderam! Má fé ou inabilidade, da esquerda, claramente.CP – Passando a outra matéria que te tem feito trabalhar aqui no Parlamento, a revisão constitucional. O que é que os portugueses podem esperar deste processo?GC – Infelizmente, se o PS continuar no ambiente de liderança fragilizada em que está e com uma política relativamente cínica, podem esperar pouca coisa, para além do reforço das autonomias insulares, pouco mais do que isso, vamos ver o que se consegue fazer em matéria de limitação de mandatos… Mas devo lembrar que o PS, é só um exemplo, que começou o processo da passagem da (Universidade) Lusíada de cooperativa a fundação, começou-o e tinha pareceres favoráveis dos gabinetes do secretário de Estado Vitalino Canas e do ministro Oliveira Martins, votou a favor de uma comissão de inquérito, apesar de ser favorável, à altura, pelos pareceres que tinham eram favoráveis, na sua grande maioria, até do centro de estudos da Presidência do Conselho de Ministros, eram favoráveis a isto. O mesmo PS que foi a favor de propinas e é a favor de prescrições, teve a abstenção do PSD, em 97, que apesar de não concordar com a propina única, concordava com o princípio. O que é que o PS fez desta vez? A lei de financiamento, que propunha uma propina, já se sabe, variável, e um sistema de prescrições, votou contra. Ou seja, o PS está nesta política táctica, que acho que tem muito a ver com a falta de liderança que tem. Portanto, em matéria de revisão constitucional, embora o PSD tenha propostas de reforma do poder legislativo, de limitação de mandatos, e tudo o mais, vamos ver… eu ainda tenho esperança...CP – Vamos continuar a ter então a nossa constituição “revolucionária”.GC – Ainda tenho esperança que o PS reconsidere, que permita uma revisão constitucional mais ampla. Por exemplo, já não é preciso porque não vamos ter o tratado que implementava a constituição europeia, mas o PS estava bastante renitente a permitir um referendo no próprio dia, vamos ver o que é que dizem em matéria de referendo constitucional, onde me parece que também não vamos em coisas muito favoráveis, são frontalmente contra o senado, vamos ver como se pronunciam em matéria de limitação de mandatos… Parece que onde pode haver entendimento é na questão das autonomias regionais, do aprofundamento da autonomia… Sabe a pouco, mas lá está o PSD a fazer alguma doutrina para o futuro, como Sá Carneiro fazia, aliás…CP – Para além de saber a pouco, não corremos o risco de banalizar um pouco estes processos?GC – Também devemos ter alguma concordância na questão da Alta Autoridade para a Comunicação Social, que é hoje comummente aceite que devia ser reformulada, mas acho que não é uma questão de banalização, nesta altura, tanto que as revisões mais próximas, como a do TPI (Tribunal Penal Internacional) em 97, antes disso a de 92, não trouxeram grandes novidades. Acho que esta podia ser uma revisão constitucional marcante, que podia mexer com algumas traves mestras do nosso sistema político. Até para adequar a política aos tempos modernos…CP – E devia, pelo menos, ser um documento não-fracturante na sociedade portuguesa, transversal e mobilizador em termos nacionais, e não é…GC – Chegámos ao ponto da “tralha ideológica”… Eu acho que sobretudo que é absolutamente anacrónico, continuarmos com a carga ideológica que esta Constituição tem, e por isso, por exemplo ao nível do ensino, da saúde, da segurança social, o PSD propõe equidade, introdução da noção de equidade, isto é, vale a pena continuarmos a falar no Estado, apenas, como motor das coisas, e no carácter gratuito das coisas, ou não será mais justo falarmos do carácter gratuito das coisas para quem realmente precisa? Isto é, há noções ideológicas e socializantes, na nossa Constituição, que não têm nada a ver com o Portugal do século XXI, para já não falar na questão simbólica de um preâmbulo que é o impingir de valores que já não são os nossos, devíamos ter um preâmbulo que fosse relativamente consensual, acho que fica muito bem na versão original, de 76, acho muito bem que os manuais de direito constitucional continuem a falar dele, mas estamos a conservar um documento anacrónico e, por outro lado, ao não aceitarmos a introdução de certas modificações, estamos a compaginar com a política, com o ritmo actual que ela deve ter. Limitação de mandatos, por exemplo, é uma coisa que já é reflexo da sociedade mediática em que vivemos, a redução dos staffs, os cortes orçamentais, a limitação de mandatos, está estudado pela ciência política, são claramente reivindicações do soberano, isto é, do povo, à classe política, promovidas muito pelo clima de política mediática que hoje temos. Não estou a dizer que esta medida constitucional iria a reboque, mas seria uma adequação aos tempos modernos, nesse capítulo.CP – Há quem diga, aliás, que o actual momento nacional, e não só, se traduz numa crise do próprio regime e do sistema político, os próprios movimentos sociais florescentes, os fóruns sociais, reflectem a procura de novos modelos de organização política. O regime está mesmo em crise, a democracia representativa, tal como existe?GC – Acho que não…CP – Os partidos ainda dão resposta às necessidades das populações?GC – Os partidos estão claramente diferentes, não é à toa que os próprios partidos de direita incluem hoje nos seus programas coisas que eram reivindicações de esquerda, estou a lembrar-me da ecologia, qual é hoje o partido que não tem um capítulo forte para a ecologia?CP – Nos programas e nas campanhas talvez, na prática é outra conversa.GC – Por acaso não concordo, mas ai já é uma questão de discutirmos a política ambiental em concreto. Agora, sistema partidário: as barreiras ideológicas estão claramente situadas, no máximo, no seguinte: eu diria que a esquerda ainda hoje procura harmonizar os resultados à chegada, isto é, acha que o Estado tem um papel correctivo a jusante; a direita, poderá continuar a acreditar, na minha opinião, na noção de mérito, e por isso prefere o estabelecimento de um limiar mínimo, abaixo do qual ninguém deve cair, mas a partir daí admite quer a liberdade individual quer a inter-acção com as instituições privadas e com as organizações ditas da sociedade civil. Tirando isso, muitas das barreiras estão esbatidas, hoje a direita aceita claramente o lado assistencial do Estado, e de correcção das desigualdades. Portanto, não creio que os partidos deixem de ser essenciais ao funcionamento da Democracia.CP – O facto é que há cada vez mais pessoas que questionam esse “status quo”, esse “regime”, apelando por exemplo a conceitos como democracia participativa.GC – Quem é que milita nos fóruns sociais? E quem é que são os grandes paladinos da democracia participativa? São figuras ligadas a que sector ideológico?... São figuras é que perceberam que o modelo partidário oferecido pela esquerda, e os modelos que caíram com Berlim, do outro lado do muro… Essa queda, em grande parte, incinerou muito do dogma que eles andaram a vender toda a vida. Basta ver quem é que anda aí… Eu quando falo em movimentos da sociedade civil, e quando vejo certas figuras, obviamente com o seu prestígio científico, como o professor Boaventura de Sousa Santos, a deificar o modelo de Porto Alegre, pergunto porque é que só gente desse sector ideológico é que representa a sociedade civil, isto é, porque é que apesar de tudo as pessoas mais de centro-direita continuam com confiança nas instituições, e mesmo até gente à esquerda. Há é pessoas que, ou não conseguiram, ou nunca se adaptaram, ou sobretudo se envergonharam com a queda do dogma, e que a maneira de não admitirem que se enganaram durante toda a vida, foi dizer “bem, afinal todo o sistema faliu, não foi só a nossa ideia. Acho é o seguinte: Não podemos subestimar a democracia participativa e o aprofundamento, e, por outro lado, vou mais longe: acho que temos de começar a admitir que Atenas nunca como hoje foi possível, aquele sonho da democracia directa hoje, através das novas tecnologias de informação, das televisões interactivas, das internets, etc., está cada vez mais ai. Nós hoje já temos experiências em Bolonha e em Atenas, respectivamente com a rede Hiperbol e Péricles, que já fazem experiências do ponto de vista da universalização do acesso à rede como um direito, e, por outro lado, a participação democrática directa. Portanto, mais que a democracia participativa, hoje, começamos a ter possível Atenas, isto é a democracia directa. Mas também podemos cair na Babel electrónica, se não tivermos regras… resumindo e concluindo, acho interessante o movimento da democracia participativa, acho é que está a ser muito polarizada por figuras de determinado quadrante ideológico, o que gera desconfiança, e, por outro lado, temos de ir mais longe, e pensar que em certos fóruns limitados já é possível democracia directa, eu defendi eleições directas para a eleição do presidente do PSD em 2000.CP – Não está então ainda esgotado o modelo de democracia representativa, em teu entender.GC – Honestamente acho que não. Acho que no século XIX, quando o parlamentarismo clássico deixou de existir muitas vozes disseram que era o fim da democracia e ela anda ai, a malta continua a votar, a participar até em fóruns televisivos, em fóruns informais, em fóruns sociais, partidários, em todo o lado.CP – Mas também persiste a desigualdade e a pobreza, em todo o lado…GC – Não acaba com as desigualdades. Mas atenção, o próprio ser humano é imperfeito. Se criarmos uma sociedade de autómatos, e se criarmos seres geneticamente produzidos para serem todos iguais, assépticos e completamente automatizados, ai sim teremos um mundo onde a ordem é perfeita. O ser humano em si é imperfeito, todas as suas construções são imperfeitas, e portanto, nunca a Democracia responderá a tudo. Agora, o facto é que se mantém válida aquela asserção de Churchill, que a democracia é o menos mau de todos os sistemas que até hoje se conheceram. Até hoje, nunca ninguém deu uma fórmula que funcionasse melhor, e os arautos da democracia participativa conseguem-no, em modelos à escala de Porto Alegre, mas nunca conseguiram explicar como é que faziam isso à escala de um Estado e, sobretudo, de muitos Estados. Não sou daqueles tipos que está completamente entrincheirado numa noção de democracia, sou a favor da introdução dos meios electrónicos, da expansão da participação dos cidadãos, da modernização dos partidos e das causas, agora, não vejo ainda modelo alternativo à democracia representativa.CP – E Portugal na Europa? Achas que estamos preparados para o alargamento?GC – Primeiro, não há alternativa ao alargamento. Por outro lado, há benefícios do alargamento aos países abrangidos. CP – Aos portugueses interessará mais por exemplo, que os quadros comunitários de apoio passem a ter outro destino…GC – Isso ainda é uma questão não acabada, mas em todo o caso diria o seguinte: o facto de entrarem estados de média e pequena dimensão também nos permite aqui augurar uma política de alianças internas na União Europeia que até pode ser interessante. Agora, sobre a UE, estou como para a globalização. É uma oportunidade, e não uma condenação, isto é, nós, se resistirmos, como propõe o BE e o PCP, negativamente à globalização somos cilindrados, porque o tempo não volta para trás, não vamos voltar a andar à luz da vela, a menos que seja um encontro romântico, nem vamos andar outra vez de carroça, a menos que seja uma encenação. Portanto, o mundo está ai, temos é de estar preparados. Na EU, a forma é nós reagirmos positivamente, afirmarmos o nosso lado cultural, económico, e acreditarmos em nós próprios. Este mundo das comunicações e da actividade cultural, é um mundo de oportunidades, são os novos descobrimentos, e nada diz que nós temos de ficar para trás. Se estivéssemos ainda na revolução industrial, do género de ter grandes fábricas e grandes recursos, que são necessários como é evidente, eu diria “estamos tramados”. Agora, na era da sociedade de informação temos tudo para triunfar como os outros, na era em que o turismo é das industrias mais importantes, temos aqui riquezas que valem minas de ouro, temos uma vida cultural activa, só temos é que nos modernizar e aceitar as coisas…CP – Também temos a população menos preparada da Europa para isso tudo.GC – Atenção, temos que nos modernizar, actualizar e formar. Primeiro, temos de deixar de ser tacanhos, temos de começar a apostar e a estimar em coisas numa lógica profissional, temos de começar a servir com qualidade… Portugal tem de abandonar, e tem abandonado progressivamente, o espírito do chico-espertismo: “eu se puder ganhar tudo num dia, nem que tenha de vigarizar meia dúzia de tipos, ganho, depois até podem denunciar-me e eu não ganho mais nada…”, não, não pode ser, portanto, servir com qualidade, eventualmente reduzir a margem de lucro, ou de ganho se não for uma actividade puramente lucrativa, e vamos apostar “à la longue”, vamos cativar as pessoas para gostarem daquilo que temos para oferecer, portanto é uma questão de mentalidades. Por outro lado, a questão da mentalidade vencedora, nós não somos inferiores em nada. Os cidadãos que nascem em Portugal não têm o cérebro mais pequeno do que os que nascem na Polónia ou na Alemanha. Teremos esse “handy-cap” (má preparação), obviamente que as nossas taxas de formação, ou falta dela, serão muito elevadas enquanto gerações mais velhas estiveram vivas, e esperemos que vivam muito mais anos, desse ponto de vista não me preocupa tanto, agora, acho é que a nossa juventude tem condições para estar mais bem formada, temos é de continuar a carregar sobre o abandono escolar, mas isso não é com fel, é com mel, temos de tornar a nossa escola moderna, atractiva, e temos de perceber que quando temos jovens que podem estar um dia em frente à televisão sem ver nada que tenha a ver com cultura, quando percebermos que podemos ligar uma “play station” ou outra consola qualquer, ter a possibilidade de estar a jogar, de estar alheado, e de ligar a tudo menos a conteúdos cívicos, temos é de tornar a nossa formação atractiva. Por outro lado, não vejo em que é que o nosso povo tenha de ficar para trás, temos é uma mentalidade pessimista, somos o país do fado e da saudade, gosto muito de fado, sobretudo o de Coimbra, ai sou bairrista, e também sinto muita saudade, mas o facto é que nós somos tipos temos tendência para dizer “epá, que chatice, isto anda tão mau…”. Os espanhóis eram atrasadíssimos, ao pé de nós, eu ia com a minha mãe a Espanha quando o escudo era o dobro da peseta.CP – Não há então que ter medo da Europa.GC – O alargamento da Europa, se por um lado é uma oportunidade, do ponto de vista do equilíbrio interno do poder na UE, por outro é um estímulo. Obviamente que as populações do Leste têm a mão-de-obra barata e muitíssimo qualificada. É bom que se perceba que nós temos de qualificar a nossa mão-de-obra, os nossos empresários têm de ser modernos na gestão, premiar os trabalhadores com mérito, e não a aforrarem os lucros da actividade, isto é, reinvestindo, e esse é também um incentivo do nosso Governo, tem de apostar nas novas tecnologias, e não podem procurar ganhar tudo num dia. Ou seja, a cultura de “Chico-espertismo” e pessimismo tem de acabar em Portugal. Se vencermos isso, acho que temos tudo para triunfar. Não há nenhuma lei natural ou escrita que nos diga que temos de ser inferiores aos outros na sociedade do conhecimento. Se fosse na revolução industrial admito, ai sim estávamos um bocado condenados… Passa tanto pelas mentalidades, os nossos estudantes, os nossos empresários, os nossos trabalhadores, quando se pede que se agilizem as leis do trabalho, não é porque haja um governo de malucos que quer ver toda a gente na rua, é porque de facto, se tivermos leis do trabalho rígidas os outros não vêm para cá. É porque de facto, não é possível continuarmos a ter a abertura indiscriminada de licenciaturas no ensino superior, para coisas que não têm mercado de trabalho. Isto é, o Estado era institucionalmente cobarde, ao abrir nas escolas públicas vagas para cursos como Direito e outras coisas, indiscriminadamente, quando se calhar não estimulava cursos de base científica que tanta falta faziam. E por isso é que li uma vez declarações do presidente da Autoeuropa, que dizia que estava a pensar fazer uma academia industrial para formar trabalhadores, porque os trabalhadores quadros intermédios que ele precisava na empresa, onde tinha muitos empregos para dar, não existiam em Portugal…CP – E em relação à imigração, que também se prende com a Europa. Que abertura é que este país deve ter aos imigrantes?CP – Acho que deve ter, do ponto de vista humano, deve ter tanta como tiveram connosco, no tempo em que precisámos de emigrar.CP – O que achas do sistema de quotas para os países de língua portuguesa, por exemplo?GC – O que acho é o seguinte: nós não temos capacidade de absorver toda a gente. Temos de ter cuidado com o seguinte: nós estamos a tratar muito mal certo tipo de gente… nós temos cá médicos, arquitectos, a fazer trabalhos que nós, como sociedade… É que é muito engraçado, nós somos uma sociedade de coitadinhos, pessimistas e tal, democracia representativa está em crise em Portugal e tal, mas vêm para ai médicos da Ucrânia, engenheiros da Rússia, mais não sei quê, fazer o trabalhinho que os portugueses são demasiado finos para fazer, às vezes, e eu acho que não é uma situação digna. Por outro lado, não estão em causa os milhares de trabalhadores que já cá estavam, nem há um prazo peremptório para a sua legalização. Agora, não podemos admitir que venham para cá trabalhadores para depois os vermos confinados a comer em caixotes do lixo, ou a viver em pardieiros. Se não temos capacidade de absorção… Não é aquela perspectiva xenófoba de dizer “trabalho para os portugueses!”, não, a questão é dimensionarmos as necessidades que temos, vermos que trabalhadores precisamos e em que sectores, o que é bom também para combater a imigração ilegal, termos uma real perspectiva do que precisamos, abrir canais legítimos ou legitimados para que eles venham para cá, porque… epá, faz-me muita impressão… sou proponente, o presidente da Assembleia ainda não despachou favoravelmente, tem os seus critérios, mas sou o primeiro do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Rússia, e faz-me muita, muita impressão, que cidadãos desse grande, grande, país que é a Rússia, com formação académica notável, virem para cá com condições tão indignas, acho que não é humano, acho que os portugueses não podem ser mesquinhos ao ponto de se comprazerem, ou de serem indiferentes, ao facto de ter cidadãos do Leste, ou seja de onde forem, que se alimentem dos restos, e que vivam em condições degradantes, é só isto. Deste ponto de vista, acho que faz sentido impor limitações, mas só deste ponto de vista, não é do género de eles irem virem roubar trabalho aos portugueses, pelo contrário, vêm para cá fazer trabalhos que os portugueses já se acham muito importantes para fazer.E falta-nos, para além de perder o pessimismo e o chico-espertismo, deixar de em certas circunstâncias sermos balofos e comodistas. Mas quanto à imigração, acho que é um problema mas, tenho… Então nas comunidades de Leste, se há coisa que eu prezo neles é a facilidade com que se adaptam e, por outro lado, apesar das condições que lhes são dadas às vezes, regra geral, a cordialidade com que acatam condições de vida que eu acho que nem sempre são as mais dignas.CP – Não achas, por exemplo, que deve ser dada a prioridade aos oriundos de países de língua portuguesa?GC – Quando a União Europeia se alarga a Leste, acho que não temos condições para ir tão longe. Acho que em tempos idos deveríamos ter apostado muito mais forte, para que a CPLP fosse a nossa “commonwealth”. Hoje em dia, limitados como estamos… É óbvio que afectivamente, sinto alguma empatia por povos de expressão portuguesa, agora, acho que os cidadãos do Leste têm também a sua oportunidade aqui. Que empatia tínhamos nós com os franceses?CP – Mudando de assunto, para acabar: Santana Lopes, de quem és fiel admirador. Como é que se pode convencer um português a votar nele para as presidenciais, por exemplo?GC – Para já tinha de convencer os social-democratas a fazê-lo candidato. Não sei se será ele o candidato do PSD, e digo desde já que se for o professor Cavaco Silva, o professor Marcelo ou o dr. Mota Amaral, lá estarei com a mesma convicção. Ou seja, gosto muito do prof. Cavaco Silva, aliás, eu nunca fui contra o dr. Durão Barroso, fui foi a favor de outras coisas, ou seja, não me movem causas negativas, mas sim positivas. No caso do dr. Santana Lopes, imaginando que ele possa ser candidato à presidência da República, e eu já disse que essa seria a campanha da minha vida, porque acredito efectivamente nele, eu diria o seguinte: numa altura em que me perguntam se a democracia representativa está em causa, em que me falam e desânimo em Portugal, precisamos é de um chefe de Estado que corporize um projecto de identidade nacional, que corporize o gozo e a alegria de viver neste país, e de representar as instituições deste país, que faça política sem meias-tintas, sem o politicamente correcto, e sem o simples desejo de aparecer, porque até já nem precisa disso, que faça política com emoção, que aplique inteligência emocional à política.CP – Convinha que o Presidente da República fosse talvez uma figura minimamente consensual. Achas que Santana Lopes garante isso?GC – Acho que ele, pelos cargos por onde passou tem feito obra para todos os cidadãos sem discriminar as cores partidárias, e acho que como PR corporizaria esta noção de ideal nacional, esta alegria de ser português e, por outro lado, desempenharia o cargo de forma a que as pessoas entendam claramente o que é o chefe de Estado está a dizer.E Ainda«É preciso gente que volte a fazer política com emoção, com frontalidade, e a dizer o que lhe apetece, ainda que por isso depois pague com o seu lugar na lista»«Mas isso é mesmo assim, quem escolhe fazer antologias de poesia deixa sempre alguma coisa de fora, e eu sinceramente, procuro não interferir, sou contra concepções oficiais de arte, acho que os políticos não devem interferir nessa matéria. Para além de presidir à sub-comissão de Cultura, coordeno o grupo de trabalho para os assuntos culturais (da AR), que é um órgão consultivo do presidente da Assembleia, e uma das coisas que nós não fazemos, e bem, é decidir, concretamente, sobre obras de arte, nesses casos há um júri de pessoas qualificadas e insuspeitas… é complicado quando um político começa a decidir sobre o conteúdo artístico. Não deve ser acrítico, isto é, deve procurar ver como estão a ser aplicados os recursos públicos, qual é a receptividade junto do público, se está ou não a criar novos públicos, etc., agora, na antiga China da Revolução Cultural é que os políticos se pronunciavam sobre os assuntos culturais, e sou absolutamente contra isso»«É preciso ver que grandes espectáculos passam hoje por Lisboa, Porto e Figueira da Foz. Eu ainda sou do tempo, quando era miúdo, em que as pessoas brincavam, sem desprimor para os figueirenses e para a Figueira, de que gosto muito, que esta era Coimbra B. E a Figueira hoje tem lá espectáculos que não podem ir a Coimbra. Se quero ver cinema comercial em condições, com conforto, vou a Aveiro. Coimbra deixou-se atrasar em termos de modernidade, deixou-se mofar. E acho que aqui o dr. Machado e o PS tiveram aqui grande responsabilidade»«CP – E no entanto, já que falamos de cultura, os principais equipamentos culturais que a cidade está a ver “nascer” foram lançados nessa altura (nos anteriores mandatos socialistas).GC – O dr. Machado esteve lá doze anos, não acabou nada. Ideias toda a gente tem…CP – Não acabou mas deixou para acabar, o que já não é mau.GC – Deixou em fase final, na fase final, provavelmente percebeu que para ganhar outra vez já não bastava a gestão de mercearia que fazia. O senhor também devia ler jornais, e deve-se ter apercebido que a cidade estava a mudar, que as pessoas estavam a ficar mais modernas, e sobretudo fartas de olharem para Viseu com espectáculos, de olharem para Aveiro a modernizar-se e a passar-nos à frente, até ao nível universitário, e já não basta dizer que se é de Coimbra para as coisas acontecerem. Por exemplo, para lá irem os Rolling Stones foi preciso uma gestão moderna, gente com imaginação, e aquela saudável e brilhante loucura do Nuno Freitas. Coimbra foi perdendo charme, foi perdendo posição no todo nacional, foi-se tornando uma cidadezinha adormecida de província, triste…»«CP – E achas então que se está a inverter a situação para Coimbra?GC – Acho. Isto parece uma entrevista sobre o Nuno (Freitas), mas não é. Tenho pena que ele esteja mais retirado para a sua profissão, saúdo por um lado, porque é bom ele ter a sua profissão de médico, sem depender exclusivamente da política, por outro lado, embora o presidente seja um homem moderno do ponto de vista de gestão acho que o Nuno era ali um grande dínamo de modernização e de ideias modernas. Espero que a Câmara continue a modernizar e a dar charme à cidade. Eu dizia isto ao dr. Machado: “falta charme à cidade”. E falta modernização. Como é que é possível que uma universidade tão prestigiada não arranje ali zona para converter Coimbra num Sillicon Valley português, isto é, uma zona de ponta, em termos tecnológicos, do país, porque é que estamos a perder para Aveiro em termos de modernização? Espero que acordem, não de Aveiro, nem da Guarda, nem de Viseu, eu quero é que Coimbra se desenvolva, não haja dúvidas, embora eu agora, sublinho, deva o meu trabalho político ao circulo eleitoral de Lisboa, é cá que trabalho e sempre que me convidam tenho ido a sessões partidárias e não só no distrito de Lisboa, mas sou obviamente um tipo de Coimbra, vivi lá trinta dos meus trinta e dois anos, e continuo a ir lá ao fim de semana, comprei lá uma casa, e está lá a Académica, que é um dos meus vícios.»«Prefiro nem discutir a questão da concepção, e a partir do momento em que temos um feto humano. Prefiro ir para a ciência, que me diga até que ponto é que é seguro, até que altura da gravidez é que é seguro e eticamente tolerável fazer um aborto. Porque, até pode estar ali um projecto de ser humano, uma vida futura, o facto é que se for uma vida futura que vai acabar no caixote do lixo, ou que é parada mais tarde e por métodos artesanais, que tornarão a mãe estéril ou a matarão em caso extremo, então prefiro que ela possa ir ao hospital (…) Sou contra o aborto, agora, já que o há…»«CP – Noto nesta conversa uma certa mágoa relativamente à política da cidade. Sais-te de Coimbra desiludido?GC – Não, pelo contrário. Em certo sentido poderei ter feito a minha própria cama, ou cavado a minha própria sepultura. Tenho é pena, mas não tenho neste momento…CP – Terás é um estilo de intervenção, truculento, que não ajuda nada a cativar simpatias nem à diplomacia…GC – Pois, mas também acho que ter um estilo neutral não é o melhor, quando os políticos estão a ser acossados, por vários lados. Tenho tido, quer os maiores dissabores quer as maiores alegrias à conta do meu estilo, agora, é o meu estilo, não proponho nenhum produto artificial às pessoas, sou o que sou e, sobretudo, acho que o estilo neutral, cinzento, apagado e não emotivo, é o que mais tem permitido aos políticos serem acossados, por esta campanha anti-políticos, que vem de determinados sectores ideológicos, minoritários e, por outro lado, de alguns média. Agora, em Coimbra, tenho as minhas possibilidades de participação quase esgotadas. Porquê? Se eu fosse puramente pragmático diria que comprei as guerras erradas… Por um lado, na sua qualidade de presidente da Jurisdição Nacional (do PSD, em referência a Carlos Encarnação), admito que, se calhar, se fosse hoje, teria usado de outra elegância terminológica, admito-o e faço o mea culpa, mas enfrentei o actual presidente da Câmara. A única coisa que censurei na altura foi que ele… porque eu acho, e perdoesse-me a imodéstia, que me bati com todas as minhas forças na Assembleia Municipal, teria prezado muito se ele me tivesse dispensado pessoalmente, isto é, se me tivesse dito, “não tenho confiança política em si, agradeço-lhe, em todo o caso que fez…”, mas não, não foi assim que se passou, e foi a única coisa que lhe apontei, de resto compreendo perfeitamente que ele não conte comigo. Por outro lado, a nível do elenco partidário, devo lembrar que era candidato numa lista contra o dr. Paulo Pereira Coelho, à distrital, que teve a ver com o apoio que o dr. Pereira Coelho escolheu dar no Congresso de Viseu, eu não concordei, e participei numa lista que se lhe opunha, e como não sou nem autarca na região, nem tenho jeito para meias-tintas, também aceitei, com muita naturalidade, que o dr. Pereira Coelho e os seus seguidores, não contassem comigo. Terceiro vector, para mostrar as guerras todas que comprei em Coimbra, embora pessoalmente e até politicamente, já tenha feito as pazes com o Nuno Freitas, já tenha até dito que ele é o meu candidato, quer à concelhia, quer à distrital do partido, se o entender ser, e acho que está na hora de o ser, porque é uma nova forma de fazer política, acho que o Nuno Freitas é talvez dos políticos mais brilhantes da minha geração. Se por um lado, com ele já fui capaz de fazer esse caminho e hoje temos uma relação cordial, e não vejo nele hipocrisia portanto acho que ele próprio já ultrapassou o diferendo que tivemos em 96, há oito anos, por outro lado, houve ali uma série de lugares-tenentes do Nuno Freitas nessa guerra, que nunca desmobilizaram, isto é, enquanto que eu “desmilitarizei”, digamos assim, e quem quis continuar a fazer política fez, tanto é assim que pessoas que estavam próximas de mim, hoje estão próximas dos apoiantes do Nuno Freitas, ainda na JSD, e fizeram o seu percurso, o Nuno, e bem, manteve a sua estratégia de influência, até pelo carisma dele, não precisou de fazer muito, as pessoas mantém-se organizadas, só que há ai uma fileira de apoiantes, que floresceu durante os anos das trevas, digamos assim, e que ainda hoje, apontam aos mais novos que entram e que nunca me viram na vida, o Capitão como “la bête noir” da política social-democrata de Coimbra. A mim só me chateia porque acho que já estou, desse ponto de vista, morto e enterrado. Dá-me um gozo um bocado perverso, continuo então a incomodar, acho é que não estão a servir bem a organização, mas eu também já provei que não preciso disso, milagre dos milagres, estou eleito por Lisboa, pelos vistos ainda sirvo em algum lado. Agora, não é desilusão com a política de Coimbra, é saber que comprei as guerras… Tenho pena que isso não me permita participar mais, mas temos que assumir as consequências dos nossos actos e eu não estou aqui a lamentar-me, não sou nenhum Calimero, assumo exactamente o que fiz, de todas as guerras que comprei na altura devida, teria usado armas diferentes com o dr. Encarnação, reconheço agora com mais anos em cima, que poderia ter sido mais elegante na expressão, e, se tivesse uma costela pragmática, que custa a despontar em mim, talvez, olhados os resultados, mas eu não sou vidente, não tivesse afrontado, como afrontei, o Nuno Freitas, porque o resultado foi uma divisão que perdura oito anos depois, sem sentido nenhum.»PerfilA segunda vida política de CapitãoGonçalo Capitão, um dos principais jovens líderes social-democratas de Coimbra dos anos 90, não o diz, mas hoje faz lembrar um refugiado político em Lisboa. Desligou completamente da política local conimbricense há dois anos, quando foi eleito para o seu “exílio dourado” parlamentar pelo círculo eleitoral de Lisboa, onde reside e trabalha (antes de ascender a deputado mudara-se para a capital enquanto jurista dos quadros da Transgás). Hoje admite, aparentemente com grande tranquilidade e “fair play”, que morreu politicamente para Coimbra ao abrir demasiados conflitos, com as pessoas erradas, no seio do partido. Paulo Pereira Coelho, Carlos Encarnação e Nuno Freitas serão três das principais “frentes” de batalha que abriu em Coimbra e que o leva a dizer com um encolher de ombros: «Em certo sentido poderei ter feito a minha própria cama, ou cavado a minha própria sepultura». Com os dois últimos, pelo menos, já fez ou está a fazer o seu processo de reconciliação, até porque não ambiciona regressar a Coimbra tão cedo: «Não é desilusão com a política de Coimbra, é saber que comprei as guerras… Tenho pena que isso não me permita participar mais, mas temos que assumir as consequências dos nossos actos e eu não estou aqui a lamentar-me, não sou nenhum Calimero, assumo exactamente o que fiz. De todas as guerras que comprei na altura, teria usado armas diferentes com o dr. Encarnação, reconheço agora com mais anos em cima, que poderia ter sido mais elegante na expressão, e, se tivesse uma costela pragmática, que custa a despontar em mim, talvez, olhados os resultados, mas eu não sou vidente, não tivesse afrontado, como afrontei, o Nuno Freitas, porque o resultado foi uma divisão que perdura oito anos depois, sem sentido nenhum». Nascido a 9 de Maio de 1971, o “santanista” Capitão acumula um intenso trabalho político, quer no partido em que é conselheiro nacional, quer no Parlamento, onde no grupo parlamentar social-democrata lidera os pelouros de Educação, Ciência, Cultura, Juventude e Desporto, sendo também presidente da Subcomissão Parlamentar da Cultura, com o trabalho académico, ultimando a sua tese de doutoramento, em torno do tema comunicação social e política, orientada por Marcelo Rebelo de Sousa. Na AR integra ainda as Comissões Parlamentares de Educação, Ciência e Cultura, Assuntos Constitucionais, Reforma do Sistema Político e Revisão Constitucional.

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