Ainda há lodo no cais: Nem «dar» é sinónimo de «educar», nem «ter» é sinónimo de «saber»!

28-06-2009
marcar artigo


Sim, tenho algumas (muitas!) reservas quanto aos efeitos colaterais que poderá ter esta insólita bondade do Governo e empresas de telecomunicações nacionais.Reporto-me ao Magalhães, computador portátil concebido para as crianças portuguesas e que de ora em diante será distribuído pelas escolas deste país a título gratuito ou ao preço da chuva, e sempre com direito a muita pompa e circunstância, que com este Governo não é para menos.Não julguem que esta minha depreciação decorre do facto de na minha idade escolar ter-me limitado aos berlindes, aos livros surripiados das estantes das irmãs e, em dias de festa, ao direito de usufruir durante dez minutinhos de um único computador que habitava na biblioteca da escola e que tinha sempre enormes filas de miúdos em redor, todos eles embevecidos com a então "nova tecnologia". Não me chamem, por isso, Velho do Restelo. Porque bem sei que o avanço das tecnologias de informação e a chamada inclusão digital se traduzem em desenvolvimento e progresso, quer pessoal, quer económico-social...Não obstante, ocorrem-me muitas dúvidas quando vejo alguém (um governo!) a incentivar uma criança de 6 anos a usar um computador, ademais, com acesso à internet. Só alguém tão ingénuo como Maria de Lurdes Rodrigues acredita que as crianças e adolescentes deste país dão um uso profícuo às novas tecnologias. Bem sei que vem equipado com filtros, firewalls, etc. Mas saberão os pais do séc.XX proceder a essas definições? E que dizer dos irmãos mais velhos que tão bem sabem 'dar a volta' aos obstáculos? Ou até mesmo as próprias crianças - para quê substimá-las?!... E depois, em que momentos lhes vão dar uso? Nos tempos mortos da Escola, sem qualquer acompanhamento e preterindo o mundo real pelo virtual? Ou em casa, preterindo o contacto com a família por jogos violentos e viciantes, chats, etc? Se já é grave aquelas crianças que por incúria dos pais vivem enclausuradas no quarto frente à tv, playstation e afins (já para não falar daqueles que com 7 anos têm perfis em comunidades como hi5, facebook, etc. - sim, eu conheço quem..!), o nosso bondoso Governo vem agraciar os pais e os seus rebentos com um equipamento "à maneira", não basta já esta mania do português valorizar mais o "ter" que o "saber"...E por falar em "saber", não vale o argumento de que o Magalhães é o salvador da pátria no que respeita à Educação porquanto as novas tecnologias podem desenvolver capacidades e facilitar o acesso a informação mas estão longe de cumprir o papel da formação.Querem melhorar a educação das crianças deste país? Pois bem, não é preciso pensar muito para perceber que há passos bem mais cruciais - criar infraestruturas que fomentem a socialização das crianças ao invés de instá-las a viver o mundo virtual dos pc's e afins; apostar na melhoria da qualidade ensino/aprendizagem o que passará inevitavelmente por rever os conteúdos programáticos; fazer uma limpeza geral à televisão portuguesa e obrigar o canal público a ter uma grelha de qualidade a pensar nos mais novos; dotar as escolas de modernos meios tecnológicos disponíveis em espaços físicos nos quais as crianças sejam devidamente acompanhadas; promover exaustivamente o Plano Nacional de Leitura, de preferência sem qualquer intervenção da Sra. Ministra, a qual considerou que "o Magalhães chega onde o livro não chegou".... (no comments!), etc etc etc.Isto sim, são medidas com vista à verdadeira democratização e qualificação do ensino. Coisa bem diferente de, em nome da inclusão digital e com vista a subir nos respectivos rankings, fazer distribuição de brinquedos todos modernaços aos miúdos, estilo Pai Natal antecipado...!A lição à Srª Ministra: Nem «dar» é sinónimo de «educar», nem «ter» é sinónimo de «saber»!


Sim, tenho algumas (muitas!) reservas quanto aos efeitos colaterais que poderá ter esta insólita bondade do Governo e empresas de telecomunicações nacionais.Reporto-me ao Magalhães, computador portátil concebido para as crianças portuguesas e que de ora em diante será distribuído pelas escolas deste país a título gratuito ou ao preço da chuva, e sempre com direito a muita pompa e circunstância, que com este Governo não é para menos.Não julguem que esta minha depreciação decorre do facto de na minha idade escolar ter-me limitado aos berlindes, aos livros surripiados das estantes das irmãs e, em dias de festa, ao direito de usufruir durante dez minutinhos de um único computador que habitava na biblioteca da escola e que tinha sempre enormes filas de miúdos em redor, todos eles embevecidos com a então "nova tecnologia". Não me chamem, por isso, Velho do Restelo. Porque bem sei que o avanço das tecnologias de informação e a chamada inclusão digital se traduzem em desenvolvimento e progresso, quer pessoal, quer económico-social...Não obstante, ocorrem-me muitas dúvidas quando vejo alguém (um governo!) a incentivar uma criança de 6 anos a usar um computador, ademais, com acesso à internet. Só alguém tão ingénuo como Maria de Lurdes Rodrigues acredita que as crianças e adolescentes deste país dão um uso profícuo às novas tecnologias. Bem sei que vem equipado com filtros, firewalls, etc. Mas saberão os pais do séc.XX proceder a essas definições? E que dizer dos irmãos mais velhos que tão bem sabem 'dar a volta' aos obstáculos? Ou até mesmo as próprias crianças - para quê substimá-las?!... E depois, em que momentos lhes vão dar uso? Nos tempos mortos da Escola, sem qualquer acompanhamento e preterindo o mundo real pelo virtual? Ou em casa, preterindo o contacto com a família por jogos violentos e viciantes, chats, etc? Se já é grave aquelas crianças que por incúria dos pais vivem enclausuradas no quarto frente à tv, playstation e afins (já para não falar daqueles que com 7 anos têm perfis em comunidades como hi5, facebook, etc. - sim, eu conheço quem..!), o nosso bondoso Governo vem agraciar os pais e os seus rebentos com um equipamento "à maneira", não basta já esta mania do português valorizar mais o "ter" que o "saber"...E por falar em "saber", não vale o argumento de que o Magalhães é o salvador da pátria no que respeita à Educação porquanto as novas tecnologias podem desenvolver capacidades e facilitar o acesso a informação mas estão longe de cumprir o papel da formação.Querem melhorar a educação das crianças deste país? Pois bem, não é preciso pensar muito para perceber que há passos bem mais cruciais - criar infraestruturas que fomentem a socialização das crianças ao invés de instá-las a viver o mundo virtual dos pc's e afins; apostar na melhoria da qualidade ensino/aprendizagem o que passará inevitavelmente por rever os conteúdos programáticos; fazer uma limpeza geral à televisão portuguesa e obrigar o canal público a ter uma grelha de qualidade a pensar nos mais novos; dotar as escolas de modernos meios tecnológicos disponíveis em espaços físicos nos quais as crianças sejam devidamente acompanhadas; promover exaustivamente o Plano Nacional de Leitura, de preferência sem qualquer intervenção da Sra. Ministra, a qual considerou que "o Magalhães chega onde o livro não chegou".... (no comments!), etc etc etc.Isto sim, são medidas com vista à verdadeira democratização e qualificação do ensino. Coisa bem diferente de, em nome da inclusão digital e com vista a subir nos respectivos rankings, fazer distribuição de brinquedos todos modernaços aos miúdos, estilo Pai Natal antecipado...!A lição à Srª Ministra: Nem «dar» é sinónimo de «educar», nem «ter» é sinónimo de «saber»!

marcar artigo