Ainda há lodo no cais: Sou diferente, logo existo... e recebo

01-10-2009
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Entre os meus vícios – nos quais nunca se encontrou o de fumar (viva a Lei !!!) – está o de ver cinema, indo às ditas salas.Todavia, se há coisa que nunca faço é guiar-me pelas muito letradas prosas dos críticos de cinema que justificam a sua existência e os seus vencimentos, por vezes, fazendo interpretações que nem os realizadores sonharam, apontarem falhas na colocação de uma câmara, que ninguém nota e por compararem os mais intragáveis filmes a obras primas do cinema checo, búlgaro, sueco ou do, salvo honrosas excepções, maçador cinema francês de autor da década de 60 ou 70…Vamos ver se nos entendemos: quando colaborei na elaboração da chamada Lei do Cinema (que creio prever, em grande medida, o que esta maioria aprovou, embora confesse que não conheço o texto da nova Lei) parti de alguns pressupostos basilares, no actual cenário nacional: desde logo, há que democratizar a fruição dos bens culturais, levando o maior número possível a ver nem que seja um bocadinho de produção intelectual – dito de outro modo, no fraquinho “O Crime do Padre Amaro”, além do manifesto aerodinamismo de Soraia Chaves, sempre fica a ideia da tentação de todo e qualquer ser humano.Depois, entendo que, dada a miserável parcela do Orçamento de Estado que sempre se reserva para a Cultura (uma vergonha e a clara prova da falta de visão da maioria da nossa classe política), entendo que, não sufocando as chamadas primeiras obras e o cinema experimental e/ou de autor, é imperioso ligar os apoios à receita de bilheteira; ou seja, deve apoia-se quem, por muito “pop” que seja, consiga comunicar com os nossos concidadãos, levando-os a sair de casa ou, pelo menos, a ligar o leitor de dvd – e, dito isto, sublinho que sei bem o que digo, escusando os anónimos parasitas que gostam de receber sem prestar contas (como se tivéssemos que apoiar coisas para serem fruídas pelos autores e pelos amigos, em sessões de contestação ao mesmo poder a quem estendem a mão, regularmente) de se dar ao trabalho de redigir impropérios; tive até o privilégio de ter pública divergência sobre o assunto, entre outros, com Eduardo Prado Coelho, que sabia o que dizia, por muito que não me lembre de, alguma vez, ter concordado com ele.É com este estado de alma que vos reafirmo que me parece que muitos críticos de cinema – exceptuo, por exemplo, os comentários que vejo na televisão (audiências, a quanto obrigam os nosso “intelectuais” de profissão…) – têm de afirmar a sua diferença, desdenhando o que pode cativar muitos dos seus pares e aclamando o que só uma licenciatura na área das artes, uma personalidade muito alternativa ou uma valente inalação de substâncias plantáveis pode fazer apreciar.Pego em dois exemplos que – que inculto me confesso, pelo menos, a julgar pelos padrões dos nosso “cultos” de serviço – podem ilustrar o que penso: “Call Girl” e “O Assassínio de Jess James pelo Cobarde Robert Ford”.O primeiro filme, realizado por António Pedro Vasconcelos, tem, entre outras, a vantagem de retratar com alguma qualidade muito do submundo da nossa política, como costumamos ouvir falar dele (e, já agora, dos meandros futebolísticos). A mais disso, boas interpretações (Soraia incluída, desta vez) e a superação do trauma causado pelo paupérrimo “Corrupção”.Já o segundo propõe uma lentíssima e quase psicanalítica abordagem da forma como um bandido (Jess James, interpretado – e bem – por Brad Pitt) ganha uma aura lendária ao ponto de ser odiado quem o assassinou pelas costas, naquilo que pode ser uma das primeiras “fabricações” de imagem pública da história recente.O primeiro filme vê-se com agrado (nem que seja apenas numa abordagem “leve”, pelos episódios satíricos), o segundo exige reflexão, contemplação e nem por isso assegura, a meu ver, uma reflexão cívica mais importante do que aquela que a podridão realista de “Call Girl” nos convida a fazer. O primeiro têm a classificação de “medíocre”, num diário de referência; o segundo oscila entre “bom” e “muito bom”…Sendo que a opinião é livre, o que me aborrece é que podiam ser os agentes culturais a ajudar a trazer os nosso políticos de volta para o “mundo real”. Porém, ao falarem de coisas que as pessoas não entenderão ou não estão disponíveis para fruir, optam por manter uma elite que se auto-sustenta e auto-contenta, em tertúlias em que “povo não entra”. Morreram e ninguém lhes disse... A imagem foi "gamada" a um genial desconhecido (para mim)...


Entre os meus vícios – nos quais nunca se encontrou o de fumar (viva a Lei !!!) – está o de ver cinema, indo às ditas salas.Todavia, se há coisa que nunca faço é guiar-me pelas muito letradas prosas dos críticos de cinema que justificam a sua existência e os seus vencimentos, por vezes, fazendo interpretações que nem os realizadores sonharam, apontarem falhas na colocação de uma câmara, que ninguém nota e por compararem os mais intragáveis filmes a obras primas do cinema checo, búlgaro, sueco ou do, salvo honrosas excepções, maçador cinema francês de autor da década de 60 ou 70…Vamos ver se nos entendemos: quando colaborei na elaboração da chamada Lei do Cinema (que creio prever, em grande medida, o que esta maioria aprovou, embora confesse que não conheço o texto da nova Lei) parti de alguns pressupostos basilares, no actual cenário nacional: desde logo, há que democratizar a fruição dos bens culturais, levando o maior número possível a ver nem que seja um bocadinho de produção intelectual – dito de outro modo, no fraquinho “O Crime do Padre Amaro”, além do manifesto aerodinamismo de Soraia Chaves, sempre fica a ideia da tentação de todo e qualquer ser humano.Depois, entendo que, dada a miserável parcela do Orçamento de Estado que sempre se reserva para a Cultura (uma vergonha e a clara prova da falta de visão da maioria da nossa classe política), entendo que, não sufocando as chamadas primeiras obras e o cinema experimental e/ou de autor, é imperioso ligar os apoios à receita de bilheteira; ou seja, deve apoia-se quem, por muito “pop” que seja, consiga comunicar com os nossos concidadãos, levando-os a sair de casa ou, pelo menos, a ligar o leitor de dvd – e, dito isto, sublinho que sei bem o que digo, escusando os anónimos parasitas que gostam de receber sem prestar contas (como se tivéssemos que apoiar coisas para serem fruídas pelos autores e pelos amigos, em sessões de contestação ao mesmo poder a quem estendem a mão, regularmente) de se dar ao trabalho de redigir impropérios; tive até o privilégio de ter pública divergência sobre o assunto, entre outros, com Eduardo Prado Coelho, que sabia o que dizia, por muito que não me lembre de, alguma vez, ter concordado com ele.É com este estado de alma que vos reafirmo que me parece que muitos críticos de cinema – exceptuo, por exemplo, os comentários que vejo na televisão (audiências, a quanto obrigam os nosso “intelectuais” de profissão…) – têm de afirmar a sua diferença, desdenhando o que pode cativar muitos dos seus pares e aclamando o que só uma licenciatura na área das artes, uma personalidade muito alternativa ou uma valente inalação de substâncias plantáveis pode fazer apreciar.Pego em dois exemplos que – que inculto me confesso, pelo menos, a julgar pelos padrões dos nosso “cultos” de serviço – podem ilustrar o que penso: “Call Girl” e “O Assassínio de Jess James pelo Cobarde Robert Ford”.O primeiro filme, realizado por António Pedro Vasconcelos, tem, entre outras, a vantagem de retratar com alguma qualidade muito do submundo da nossa política, como costumamos ouvir falar dele (e, já agora, dos meandros futebolísticos). A mais disso, boas interpretações (Soraia incluída, desta vez) e a superação do trauma causado pelo paupérrimo “Corrupção”.Já o segundo propõe uma lentíssima e quase psicanalítica abordagem da forma como um bandido (Jess James, interpretado – e bem – por Brad Pitt) ganha uma aura lendária ao ponto de ser odiado quem o assassinou pelas costas, naquilo que pode ser uma das primeiras “fabricações” de imagem pública da história recente.O primeiro filme vê-se com agrado (nem que seja apenas numa abordagem “leve”, pelos episódios satíricos), o segundo exige reflexão, contemplação e nem por isso assegura, a meu ver, uma reflexão cívica mais importante do que aquela que a podridão realista de “Call Girl” nos convida a fazer. O primeiro têm a classificação de “medíocre”, num diário de referência; o segundo oscila entre “bom” e “muito bom”…Sendo que a opinião é livre, o que me aborrece é que podiam ser os agentes culturais a ajudar a trazer os nosso políticos de volta para o “mundo real”. Porém, ao falarem de coisas que as pessoas não entenderão ou não estão disponíveis para fruir, optam por manter uma elite que se auto-sustenta e auto-contenta, em tertúlias em que “povo não entra”. Morreram e ninguém lhes disse... A imagem foi "gamada" a um genial desconhecido (para mim)...

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