Ainda há lodo no cais: Ainda a lógica do toucinho

01-10-2009
marcar artigo


Vejamos se nos entendemos, ainda a propósito das caricaturas de Maomé...Sabiam os editores que iriam irritar os muçulmanos, mormente os mais fanáticos?Sabiam, até porque o projecto surgiu na sequência da dificuldade de um autor em arranjar quem desenhasse o profeta.Deviam ter-se abstido da publicação?Creio que não. Uma coisa é pisar o risco, outra é ceder a imposições culturais alheias, quando estamos em nossa casa. Dito de outro modo, entendo que devemos cumprir certas regras (desde que não ofendam princípios inegociáveis de dignidade humana), quando estamos nos países muçulmanos, mas era o que mais faltava, por muito mau gosto que haja nisso, que não se possa desenhar, por cá.A não ser assim, qual o limiar de comunidade muçulmana ou a "patente" de um visitante oficial dessas paragens necessários para que proíbamos o uso de mini-saias?E a homossexualidade, quando passa a ser castigada, até com a morte?E as barracas de entremeada, à porta dos estádios, quando serão incendiadas?Sei que retratar Maomé poderá ser visto como ofensa magna, mas dar um passo atrás, por muito pequeno que seja, equivaleria a iniciar uma série de recuos, que não se sabe onde pararia.A civilização ocidental teve os seus períodos históricos de intolerância, maxime com a Inquisição, e considera-se mais evoluída, hoje, quando já goza de uma ampla liberdade de expressão.Ora só a interpretação que a esquerda libertária (anarca, digo eu) dá ao conceito de multiculturalismo é que nos pode fazer sentir pejo em afirmar que, neste domínio, acreditamos que estamos mais avançados.Tal não implica que olhemos outras culturas e credos como inferiores, ou que não possamos conviver com eles; o que quer dizer-se é que há coisas em que, por já termos dado o "salto em frente" (que me perdoem os maoístas pelo plágio), não devemos ceder um milímetro. A liberdade de expressão é, precisamente, uma dessas conquistas.Depois, há outro plano. Por cá, no mundo dos que, alegadamente, desrespeitam o profeta, há pequenas regras de convivência, como seja, entre outras, a da proporcionalidade da reacção.Assim, e bem vistas as coisas, parece-me que ameaças de morte, pilhagem e destruição de postos diplomáticos, e violência sortida não abonam muito a favor da imagem dos seguidores de Maomé, por muito que sejam uma gota de água num oceano de gente pacífica. Embora a ideia também possa ser cretina, bem andou um jornal, salvo erro, iraniano, que decidiu responder com um concurso de cartoons sobre o holocausto. Já que não conseguiram ser superiores ao jornal dinamarquês, ao menos foram equivalentes...Por ora, o remédio é mesmo esperar que se acalmem os ânimos, mas não pedir desculpa ao nível de Estados, já que, convenhamos, falamos de desenhos.Doravante, há que consensualizar bases de tolerância recíproca, já que a "Idade Média" é tão extrema quanto o "Pós Modernismo", em que alguns europeus gostam de vogar.


Vejamos se nos entendemos, ainda a propósito das caricaturas de Maomé...Sabiam os editores que iriam irritar os muçulmanos, mormente os mais fanáticos?Sabiam, até porque o projecto surgiu na sequência da dificuldade de um autor em arranjar quem desenhasse o profeta.Deviam ter-se abstido da publicação?Creio que não. Uma coisa é pisar o risco, outra é ceder a imposições culturais alheias, quando estamos em nossa casa. Dito de outro modo, entendo que devemos cumprir certas regras (desde que não ofendam princípios inegociáveis de dignidade humana), quando estamos nos países muçulmanos, mas era o que mais faltava, por muito mau gosto que haja nisso, que não se possa desenhar, por cá.A não ser assim, qual o limiar de comunidade muçulmana ou a "patente" de um visitante oficial dessas paragens necessários para que proíbamos o uso de mini-saias?E a homossexualidade, quando passa a ser castigada, até com a morte?E as barracas de entremeada, à porta dos estádios, quando serão incendiadas?Sei que retratar Maomé poderá ser visto como ofensa magna, mas dar um passo atrás, por muito pequeno que seja, equivaleria a iniciar uma série de recuos, que não se sabe onde pararia.A civilização ocidental teve os seus períodos históricos de intolerância, maxime com a Inquisição, e considera-se mais evoluída, hoje, quando já goza de uma ampla liberdade de expressão.Ora só a interpretação que a esquerda libertária (anarca, digo eu) dá ao conceito de multiculturalismo é que nos pode fazer sentir pejo em afirmar que, neste domínio, acreditamos que estamos mais avançados.Tal não implica que olhemos outras culturas e credos como inferiores, ou que não possamos conviver com eles; o que quer dizer-se é que há coisas em que, por já termos dado o "salto em frente" (que me perdoem os maoístas pelo plágio), não devemos ceder um milímetro. A liberdade de expressão é, precisamente, uma dessas conquistas.Depois, há outro plano. Por cá, no mundo dos que, alegadamente, desrespeitam o profeta, há pequenas regras de convivência, como seja, entre outras, a da proporcionalidade da reacção.Assim, e bem vistas as coisas, parece-me que ameaças de morte, pilhagem e destruição de postos diplomáticos, e violência sortida não abonam muito a favor da imagem dos seguidores de Maomé, por muito que sejam uma gota de água num oceano de gente pacífica. Embora a ideia também possa ser cretina, bem andou um jornal, salvo erro, iraniano, que decidiu responder com um concurso de cartoons sobre o holocausto. Já que não conseguiram ser superiores ao jornal dinamarquês, ao menos foram equivalentes...Por ora, o remédio é mesmo esperar que se acalmem os ânimos, mas não pedir desculpa ao nível de Estados, já que, convenhamos, falamos de desenhos.Doravante, há que consensualizar bases de tolerância recíproca, já que a "Idade Média" é tão extrema quanto o "Pós Modernismo", em que alguns europeus gostam de vogar.

marcar artigo