Ainda há lodo no cais: A suprema humilhação de servir

01-10-2009
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Ciclicamente, interrogo-me sobre a razão do nosso atraso, sem descobrir um código genético que a tal nos condene, antes vendo feitos passados (por exemplo, os Descobrimentos) e expedientes presentes (Expo 98, luta por Timor-Leste, EURO 2004, Presidência da União Europeia e por ai fora…) que me fazem acreditar que há alma para dar a volta ao resultado.Porém e como tenho dito em várias ocasiões (lembro-me de o fazer, designadamente, a propósito da vitória do Doutor Salazar no concurso “Os Grandes Portugueses”), tornámo-nos tristes, cinzentos, resignados, genericamente mal governados, corruptos, cínicos, invejosos, assediadores, vaidosos (vá-se lá saber porquê…) e uma série de outras coisas que fazem com que nos ocupemos mais do “ter” do que do “ser” e com que invejemos mais o que os outros têm do que lutarmos com brio pelo que nós podemos vir a deter.Dito isto em linguagem corrente, por cá, se alguém consegue algo é porque tem cunha (e, infelizmente, sabemos que não são raras as vezes em que a dita suplanta o mérito), venha ela de parentesco, conhecimento ou momentos de horizontalidade. O problema é que temos muita gente esforçada que tem sucesso (ou podia ter) e que não embarca nessa “via verde” do êxito profissional e que, mercê da falta de confiança que temos uns nos outros, faz parte daquela nuvem que é tomada por Juno; ou seja, é tida por farinha do mesmo saco.Há uns meses, na Dinamarca, ouvi Francis Fukuyama teorizar sobre a confiança social enquanto elemento do que a doutrina anglo-saxónica chama de “capital social”; grosso modo, aquela base de convivência saudável que representa um activo para as nações. Sem surpresa, Portugal aparecia a meio da tabela e, por empatia, tirei, em Aarhus (local da conferência), uma fotografia em que se viam, ao longo das ruas, dezenas de bicicletas (meio de transporte venerado, por lá) sem cadeado, encostadas às paredes. Nem por encomenda, dias depois, em Lisboa (ao pé desse santuário anti-marxista que é o centro comercial Colombo), deparo-me com uma roda de bicicleta (o resto fora arrancado) presa a um poste de sinalização rodoviária… Sintoma desta dificuldade de confraternização é a ideia que tenho de que, em consequência, vemos qualquer lugar que implique servir como uma humilhação, sentimento bem arredio da mentalidade escandinava ou do Civil Service britânico e que justifica as oportunidades que, com brio (a que deveria acrescer a nossa gratidão), agarram os imigrantes que decidem ajudar-nos. O mais recente episódio sintomático – e poderia relatar outros, como o ocorrido num restaurante de província em que o dono finge conhecer a família para tentar cobrar mais dez euros – passou-se no último jogo da Briosa, no qual uma funcionária que prestava serviço numa porta (não interessa qual, já que o assunto é de atitude), sem um “com licença” ou um “boa tarde”, literalmente arrancava os cartões de associado das mãos das pessoas, visto que o sistema electrónico estava a falhar. Não contente com isto e perante a distracção do associado que atendia (que escutava algo que lhe diziam), decide proferir um “vamos, passe!”, em tom que nem as mulas estão habituadas a escutar do carroceiro. Como remate, guardado estava o bocado; não só argumentou que não estava a incorrer em falta de educação, como se recusou a dar o nome para posterior reclamação, desdenhando e dizendo que era suficiente dizer que era a “menina da porta …”…Uso um caso concreto para ilustrar um sintoma geral de fidalguia falida que percorre o nosso povo, Pobres portugueses que à míngua de recursos juntam a falta de valores!…


Ciclicamente, interrogo-me sobre a razão do nosso atraso, sem descobrir um código genético que a tal nos condene, antes vendo feitos passados (por exemplo, os Descobrimentos) e expedientes presentes (Expo 98, luta por Timor-Leste, EURO 2004, Presidência da União Europeia e por ai fora…) que me fazem acreditar que há alma para dar a volta ao resultado.Porém e como tenho dito em várias ocasiões (lembro-me de o fazer, designadamente, a propósito da vitória do Doutor Salazar no concurso “Os Grandes Portugueses”), tornámo-nos tristes, cinzentos, resignados, genericamente mal governados, corruptos, cínicos, invejosos, assediadores, vaidosos (vá-se lá saber porquê…) e uma série de outras coisas que fazem com que nos ocupemos mais do “ter” do que do “ser” e com que invejemos mais o que os outros têm do que lutarmos com brio pelo que nós podemos vir a deter.Dito isto em linguagem corrente, por cá, se alguém consegue algo é porque tem cunha (e, infelizmente, sabemos que não são raras as vezes em que a dita suplanta o mérito), venha ela de parentesco, conhecimento ou momentos de horizontalidade. O problema é que temos muita gente esforçada que tem sucesso (ou podia ter) e que não embarca nessa “via verde” do êxito profissional e que, mercê da falta de confiança que temos uns nos outros, faz parte daquela nuvem que é tomada por Juno; ou seja, é tida por farinha do mesmo saco.Há uns meses, na Dinamarca, ouvi Francis Fukuyama teorizar sobre a confiança social enquanto elemento do que a doutrina anglo-saxónica chama de “capital social”; grosso modo, aquela base de convivência saudável que representa um activo para as nações. Sem surpresa, Portugal aparecia a meio da tabela e, por empatia, tirei, em Aarhus (local da conferência), uma fotografia em que se viam, ao longo das ruas, dezenas de bicicletas (meio de transporte venerado, por lá) sem cadeado, encostadas às paredes. Nem por encomenda, dias depois, em Lisboa (ao pé desse santuário anti-marxista que é o centro comercial Colombo), deparo-me com uma roda de bicicleta (o resto fora arrancado) presa a um poste de sinalização rodoviária… Sintoma desta dificuldade de confraternização é a ideia que tenho de que, em consequência, vemos qualquer lugar que implique servir como uma humilhação, sentimento bem arredio da mentalidade escandinava ou do Civil Service britânico e que justifica as oportunidades que, com brio (a que deveria acrescer a nossa gratidão), agarram os imigrantes que decidem ajudar-nos. O mais recente episódio sintomático – e poderia relatar outros, como o ocorrido num restaurante de província em que o dono finge conhecer a família para tentar cobrar mais dez euros – passou-se no último jogo da Briosa, no qual uma funcionária que prestava serviço numa porta (não interessa qual, já que o assunto é de atitude), sem um “com licença” ou um “boa tarde”, literalmente arrancava os cartões de associado das mãos das pessoas, visto que o sistema electrónico estava a falhar. Não contente com isto e perante a distracção do associado que atendia (que escutava algo que lhe diziam), decide proferir um “vamos, passe!”, em tom que nem as mulas estão habituadas a escutar do carroceiro. Como remate, guardado estava o bocado; não só argumentou que não estava a incorrer em falta de educação, como se recusou a dar o nome para posterior reclamação, desdenhando e dizendo que era suficiente dizer que era a “menina da porta …”…Uso um caso concreto para ilustrar um sintoma geral de fidalguia falida que percorre o nosso povo, Pobres portugueses que à míngua de recursos juntam a falta de valores!…

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