Ainda há lodo no cais: To Russia without love

01-10-2009
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Creio que estarei livre da acusação de ser um daqueles "ex-jotas" que, prescrita a vida na JSD, passa a renegar as origens. Servi a Juventude Social-Democrata com honra, passei por lá momentos de antologia e, ainda hoje, sempre que me pedem, continuo disponível para ajudar as suas diversas estruturas.Como se não bastasse, creio ter um relacionamento político e pessoal cordato com o seu actual Presidente. Contudo, sendo a JSD uma organização política do nosso PSD, creio que deve sujeitar-se ao crivo analítico dos seus companheiros, algo que, no meu caso, surge a propósito de uma notícia que li na edição on-line do "Sol" : "Cimeira UE/RússiaJSD cancela iniciativa Sem Liberdade, não há VerdadeA JSD cancelou a iniciativa agendada para sexta-feira que previa a colocação de uma faixa em frente ao Convento de Mafra, onde decorrerá a Cimeira UE/Rússia, denunciando a violação da liberdade de imprensa na Rússia". Ora bem, vamos por partes:A liberdade de imprensa é essencial e deve ser defendida. Andou bem a JSD, na ideia.A cimeira UE - Rússia era algo que tinha de correr bem para Portugal, independentemente de partidos e credos. Se fossem avante (salvo-seja) não sei se tinham feito boa figura (duvido).Putin tirou da cartola a proposta de um Instituto euro-russo para monitorizar os direitos humanos, pelo que a coisa teria ficado um pouco "no ar". Ou seja, nestas cimeiras convém não sair antes do filme acabar.Mediatismo é fundamental, mas não apenas pela espectaculaidade. Recomenda-se algo que caia no raio de acção da força política que organiza o protesto. JSD e Moscovo?! Não ganha direitos ou votos por cá e nem se ouve, lá.E por que não algo sobre a mesma liberdade em Angola, quando vier cá o Presidente reunir com a União Europeia? Continuo a discordar do ruído durante a Presidência portuguesa da UE, mas sempre podem influenciar mais e é uma realidade que dirá mais aos portugueses e aos seus partidos. Ou então analisar a situação na Venezuela que não é muito mais branda e onde vivem quase 500.000 portugueses...Depois, entendo que é preciso compreender a Rússia (como outros países que não obedecem à nossa bitola; China, Venezuela, etc...) à luz da sua história passada e presente, não caíndo na grosseira categorização norte-americana que, todavia, ainda se estriba no proselitismo wilsoniano (ou seja, na exportação dos valores americanos como uma missão da nação).A respeito deste último ponto, convirá que se repitam duas ou três coisas que já passaram pelo "lodo": a Rússia nunca foi e, arrisco a dizer, jamais será uma democracia do tipo ocidental; creio até que passa, hoje, pelo seu estado mais democrático de sempre.Nunca os czares, muito menos o regime comunista e, dado do delapidar do erário público, Ieltsin consagraram o que, por cá, chamamos de democracia.Já Gorbachev abriu o regime. Todavia, ao tirar o partido do seu lugar de "trave-mestra" (para usar a expressão de Adriano Moreira) do sistema, fez desabar a vida russa a um ponto que, ainda nos dias que correm, muitos habitantes (muitos mesmo!) da ex-URSS sentem saudades do "nível de vida" que, apesar de tudo, tinham.Vladimir Putin recupera o lado idiossincrático da alma russa, sendo o "pai" que olha pelos russos, defende o Estado, fora de fronteiras, e combate os "glutões", dentro de casa. Como disse, à Rússia falta a cultura democrática, no sentido que lhe damos por cá, e sobram diferenças étnicas (dezenas) e potenciais focos de conflito intra-muros (idem), de que a Tchechénia é apenas a mais colorida ilustração.Diria que a JSD e, já agora, os demais portugueses poderão esperar uma semi-democracia ocidentalmente "adocicada" e desejar que a Rússia se mantenha íntegra e virada para este lado do Globo (a "asiatização" russa é possibilidade recorrente), por razões de segurança e pela questão energética.


Creio que estarei livre da acusação de ser um daqueles "ex-jotas" que, prescrita a vida na JSD, passa a renegar as origens. Servi a Juventude Social-Democrata com honra, passei por lá momentos de antologia e, ainda hoje, sempre que me pedem, continuo disponível para ajudar as suas diversas estruturas.Como se não bastasse, creio ter um relacionamento político e pessoal cordato com o seu actual Presidente. Contudo, sendo a JSD uma organização política do nosso PSD, creio que deve sujeitar-se ao crivo analítico dos seus companheiros, algo que, no meu caso, surge a propósito de uma notícia que li na edição on-line do "Sol" : "Cimeira UE/RússiaJSD cancela iniciativa Sem Liberdade, não há VerdadeA JSD cancelou a iniciativa agendada para sexta-feira que previa a colocação de uma faixa em frente ao Convento de Mafra, onde decorrerá a Cimeira UE/Rússia, denunciando a violação da liberdade de imprensa na Rússia". Ora bem, vamos por partes:A liberdade de imprensa é essencial e deve ser defendida. Andou bem a JSD, na ideia.A cimeira UE - Rússia era algo que tinha de correr bem para Portugal, independentemente de partidos e credos. Se fossem avante (salvo-seja) não sei se tinham feito boa figura (duvido).Putin tirou da cartola a proposta de um Instituto euro-russo para monitorizar os direitos humanos, pelo que a coisa teria ficado um pouco "no ar". Ou seja, nestas cimeiras convém não sair antes do filme acabar.Mediatismo é fundamental, mas não apenas pela espectaculaidade. Recomenda-se algo que caia no raio de acção da força política que organiza o protesto. JSD e Moscovo?! Não ganha direitos ou votos por cá e nem se ouve, lá.E por que não algo sobre a mesma liberdade em Angola, quando vier cá o Presidente reunir com a União Europeia? Continuo a discordar do ruído durante a Presidência portuguesa da UE, mas sempre podem influenciar mais e é uma realidade que dirá mais aos portugueses e aos seus partidos. Ou então analisar a situação na Venezuela que não é muito mais branda e onde vivem quase 500.000 portugueses...Depois, entendo que é preciso compreender a Rússia (como outros países que não obedecem à nossa bitola; China, Venezuela, etc...) à luz da sua história passada e presente, não caíndo na grosseira categorização norte-americana que, todavia, ainda se estriba no proselitismo wilsoniano (ou seja, na exportação dos valores americanos como uma missão da nação).A respeito deste último ponto, convirá que se repitam duas ou três coisas que já passaram pelo "lodo": a Rússia nunca foi e, arrisco a dizer, jamais será uma democracia do tipo ocidental; creio até que passa, hoje, pelo seu estado mais democrático de sempre.Nunca os czares, muito menos o regime comunista e, dado do delapidar do erário público, Ieltsin consagraram o que, por cá, chamamos de democracia.Já Gorbachev abriu o regime. Todavia, ao tirar o partido do seu lugar de "trave-mestra" (para usar a expressão de Adriano Moreira) do sistema, fez desabar a vida russa a um ponto que, ainda nos dias que correm, muitos habitantes (muitos mesmo!) da ex-URSS sentem saudades do "nível de vida" que, apesar de tudo, tinham.Vladimir Putin recupera o lado idiossincrático da alma russa, sendo o "pai" que olha pelos russos, defende o Estado, fora de fronteiras, e combate os "glutões", dentro de casa. Como disse, à Rússia falta a cultura democrática, no sentido que lhe damos por cá, e sobram diferenças étnicas (dezenas) e potenciais focos de conflito intra-muros (idem), de que a Tchechénia é apenas a mais colorida ilustração.Diria que a JSD e, já agora, os demais portugueses poderão esperar uma semi-democracia ocidentalmente "adocicada" e desejar que a Rússia se mantenha íntegra e virada para este lado do Globo (a "asiatização" russa é possibilidade recorrente), por razões de segurança e pela questão energética.

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