Ainda há lodo no cais: Estou velho...

01-10-2009
marcar artigo


O que eu pensei antes de escrever este texto... Porém, eis a primeira confissão: a coberto do relativo anonimato da sessão da meia-noite, lá fui ver o sexto filme e epílogo da saga do Italian Stallion, Rocky Balboa (iniciada em 1976). E as memórias que são recuperadas da adolescência, altura em que, entre outras coisas, me empolgava com coisas destas... Primeira ilação: tudo tem o seu tempo certo, querendo eu crer que não entrei numa espécie de andropausa cinematográfica, mas antes tive um momento de nostalgia... O primeiro filme da saga que vi no grande ecrã - o do desaparecido Teatro Avenida (daqueles com plateia, 1º e 2º balcão e camarotes, lembram-se do género?...), em Coimbra - foi o Rocky IV (1985), talvez a sequela que oferece um case study mais interessante. Basicamente, a história roda à volta da decisão de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) de, na sequência da morte no ringue do seu amigo e ex-adversário Apollo Creed (Carl Weathers), aceitar o que antes recusara: enfrentar o capitão (não eu, sublinho, posto o que o resultado seria diferente) do exército soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren), em Moscovo, se me não falha a memória, na véspera de Natal. Para os amantes da ciência política, embora serôdio, este exercício de propaganda não deixa de ter o seu lugar na História (relembro que viviamos os últimos anos da guerra fria), não podendo deixar de esboçar um sorriso quando lembro o palco (o coração do inimigo), o dia (basta pensar que a religião era o ópio do povo e que, mesmo que assim não fosse, o Natal russo comemora-se em Janeiro e não a 24 e 25 de Dezembro) e as condições de treino (Rocky corre nas montanhas russas e trabalha num estábulo, enquanto Drago corre em pista coberta, tem máquinas sofisiticadas, é electronicamente monitorizado e, criação do "homem novo" oblige, convenientemente injectado com esteróides). Não obstante, guardado estava o bocado para o dia do combate, no qual as forças do bem (entenda-se, E.U.A.) vencem o império do mal (com o devido respeito pela memória do dr. Cunhal, leia-se, U.R.S.S.), já que Rocky derruba o colosso soviético, com direito a um discurso estilo catequese, no fim da refrega, no qual, entre outras pérolas, o campeão americano fala do fim do ódio e da possibilidade de mudança interior que cada individuo teria em si (liberalismo vs. socialismo, versão kitsch), com direito a aplauso da multidão, que o recebera com apupos, e do próprio politburo!!! E ainda há gente que recorre a alucinogénios... Tudo isto orquestrado com sons épicos como Eye of the tiger (Rocky III e IV) e Burning heart dos Survivor, Living in America de James Brown e os instrumentais, para exemplificar. Baixa qualidade?! É provável...Propaganda descarada e "barata"?! Quase de certeza...Marco de uma época em qua ainda se aplaudiam as vitórias dos "bons" nos cinemas e em que não tinhamos que gramar o rilhar das pipocas e a luz dos telemóveis?! Sem dúvida.Um sorriso final de simpatia e nostalgia :)


O que eu pensei antes de escrever este texto... Porém, eis a primeira confissão: a coberto do relativo anonimato da sessão da meia-noite, lá fui ver o sexto filme e epílogo da saga do Italian Stallion, Rocky Balboa (iniciada em 1976). E as memórias que são recuperadas da adolescência, altura em que, entre outras coisas, me empolgava com coisas destas... Primeira ilação: tudo tem o seu tempo certo, querendo eu crer que não entrei numa espécie de andropausa cinematográfica, mas antes tive um momento de nostalgia... O primeiro filme da saga que vi no grande ecrã - o do desaparecido Teatro Avenida (daqueles com plateia, 1º e 2º balcão e camarotes, lembram-se do género?...), em Coimbra - foi o Rocky IV (1985), talvez a sequela que oferece um case study mais interessante. Basicamente, a história roda à volta da decisão de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) de, na sequência da morte no ringue do seu amigo e ex-adversário Apollo Creed (Carl Weathers), aceitar o que antes recusara: enfrentar o capitão (não eu, sublinho, posto o que o resultado seria diferente) do exército soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren), em Moscovo, se me não falha a memória, na véspera de Natal. Para os amantes da ciência política, embora serôdio, este exercício de propaganda não deixa de ter o seu lugar na História (relembro que viviamos os últimos anos da guerra fria), não podendo deixar de esboçar um sorriso quando lembro o palco (o coração do inimigo), o dia (basta pensar que a religião era o ópio do povo e que, mesmo que assim não fosse, o Natal russo comemora-se em Janeiro e não a 24 e 25 de Dezembro) e as condições de treino (Rocky corre nas montanhas russas e trabalha num estábulo, enquanto Drago corre em pista coberta, tem máquinas sofisiticadas, é electronicamente monitorizado e, criação do "homem novo" oblige, convenientemente injectado com esteróides). Não obstante, guardado estava o bocado para o dia do combate, no qual as forças do bem (entenda-se, E.U.A.) vencem o império do mal (com o devido respeito pela memória do dr. Cunhal, leia-se, U.R.S.S.), já que Rocky derruba o colosso soviético, com direito a um discurso estilo catequese, no fim da refrega, no qual, entre outras pérolas, o campeão americano fala do fim do ódio e da possibilidade de mudança interior que cada individuo teria em si (liberalismo vs. socialismo, versão kitsch), com direito a aplauso da multidão, que o recebera com apupos, e do próprio politburo!!! E ainda há gente que recorre a alucinogénios... Tudo isto orquestrado com sons épicos como Eye of the tiger (Rocky III e IV) e Burning heart dos Survivor, Living in America de James Brown e os instrumentais, para exemplificar. Baixa qualidade?! É provável...Propaganda descarada e "barata"?! Quase de certeza...Marco de uma época em qua ainda se aplaudiam as vitórias dos "bons" nos cinemas e em que não tinhamos que gramar o rilhar das pipocas e a luz dos telemóveis?! Sem dúvida.Um sorriso final de simpatia e nostalgia :)

marcar artigo