O Acidental: Cavaco e a queda de dois mitos

23-05-2009
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Oiço na SIC/Notícias João Cravinho dizer que Cavaco Silva vai ter de se confrontar com as dispersas expectativas do extenso leque de apoiantes que conseguiu reunir. Se ganhasse as eleições, acrescentou Cravinho, Cavaco teria pela frente a grande dificuldade de gerir e contrariar essas expectativas, até porque muitas delas são opostas ou contraditórias. Como se não fosse essa tarefa de gestão de esperanças o pão nosso de cada candidato eleito em Portugal. Melhor seria aliás que João Cravinho não o lembrasse perante o exercício de poder do actual Governo do PS, que terá já defraudado as expectativas da maioria dos portugueses que o elegeram. O comentador socialista não deixa porém de ter alguma razão. Se formos ler a lista de personalidades que fazem parte da Comissão de Honra e da Comissão Política de Cavaco Silva, ou se dermos uma volta rápida pelos blogues onde constam apoiantes de Cavaco, chegaremos facilmente à conclusão que alguns - ou muitos deles - verão desmentidas as suas expectativas. Ou muito me engano, ou parte substancial dos apoiantes que fazem parte da chamada área liberal, para não falar de dirigentes de partidos políticos, sentir-se-ão mais tarde ou mais cedo enganados se Cavaco for eleito, como tudo indica que será - e logo na primeira volta. Este não é um problema meu. Não tenho qualquer expectativa para ser defraudada. Pode ficar descansado o Presidente Cavaco que não lhe irei jamais cobrar expectativas (para além de que não incomode o meu sossego com manifs à porta de minha casa e não ponha em causa o futuro das minhas filhas). Muito francamente, o candidato também não me desperta qualquer entusiasmo - efeito que inesperadamente parece deter, tal como o "irreverente" Soares, junto de alguns jovens que por aí escrevinham em blogues não oficiais. Isso, definitivamente, já foi chão que deu uvas. Chegado aqui, é preciso dizer a razão fundamental porque, não sendo um apoiante de Cavaco, vou votar nele, como acredito que votará em massa a direita portuguesa. Não é só por realismo. Não é só porque a direita tem pela primeira vez a possibilidade de eleger um Presidente da República que não vai representar a velha esquerda socialista. Não é sequer porque Cavaco seja um líder carismático, porque não me parece reunir as condições mínimas para tal ambição. Vou votar Cavaco porque a sua eleição significará a queda e o fim político de dois mitos da esquerda portuguesa. Em primeiro lugar, um enorme mito chamado Mário Soares, que ainda hoje condiciona o modo como nos é contada a história da democracia portuguesa. Em segundo lugar, um pequeno mito chamado Francisco Louçã, símbolo máximo da demagogia moralista e do populismo trauliteiro da extrema-esquerda portuguesa. A vitória de Cavaco Silva, ao significar a derrota estrondosa destes dois mitos nas urnas, é uma oportunidade boa de mais para ser desperdiçada. [Paulo Pinto Mascarenhas]

Oiço na SIC/Notícias João Cravinho dizer que Cavaco Silva vai ter de se confrontar com as dispersas expectativas do extenso leque de apoiantes que conseguiu reunir. Se ganhasse as eleições, acrescentou Cravinho, Cavaco teria pela frente a grande dificuldade de gerir e contrariar essas expectativas, até porque muitas delas são opostas ou contraditórias. Como se não fosse essa tarefa de gestão de esperanças o pão nosso de cada candidato eleito em Portugal. Melhor seria aliás que João Cravinho não o lembrasse perante o exercício de poder do actual Governo do PS, que terá já defraudado as expectativas da maioria dos portugueses que o elegeram. O comentador socialista não deixa porém de ter alguma razão. Se formos ler a lista de personalidades que fazem parte da Comissão de Honra e da Comissão Política de Cavaco Silva, ou se dermos uma volta rápida pelos blogues onde constam apoiantes de Cavaco, chegaremos facilmente à conclusão que alguns - ou muitos deles - verão desmentidas as suas expectativas. Ou muito me engano, ou parte substancial dos apoiantes que fazem parte da chamada área liberal, para não falar de dirigentes de partidos políticos, sentir-se-ão mais tarde ou mais cedo enganados se Cavaco for eleito, como tudo indica que será - e logo na primeira volta. Este não é um problema meu. Não tenho qualquer expectativa para ser defraudada. Pode ficar descansado o Presidente Cavaco que não lhe irei jamais cobrar expectativas (para além de que não incomode o meu sossego com manifs à porta de minha casa e não ponha em causa o futuro das minhas filhas). Muito francamente, o candidato também não me desperta qualquer entusiasmo - efeito que inesperadamente parece deter, tal como o "irreverente" Soares, junto de alguns jovens que por aí escrevinham em blogues não oficiais. Isso, definitivamente, já foi chão que deu uvas. Chegado aqui, é preciso dizer a razão fundamental porque, não sendo um apoiante de Cavaco, vou votar nele, como acredito que votará em massa a direita portuguesa. Não é só por realismo. Não é só porque a direita tem pela primeira vez a possibilidade de eleger um Presidente da República que não vai representar a velha esquerda socialista. Não é sequer porque Cavaco seja um líder carismático, porque não me parece reunir as condições mínimas para tal ambição. Vou votar Cavaco porque a sua eleição significará a queda e o fim político de dois mitos da esquerda portuguesa. Em primeiro lugar, um enorme mito chamado Mário Soares, que ainda hoje condiciona o modo como nos é contada a história da democracia portuguesa. Em segundo lugar, um pequeno mito chamado Francisco Louçã, símbolo máximo da demagogia moralista e do populismo trauliteiro da extrema-esquerda portuguesa. A vitória de Cavaco Silva, ao significar a derrota estrondosa destes dois mitos nas urnas, é uma oportunidade boa de mais para ser desperdiçada. [Paulo Pinto Mascarenhas]

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