Da Literatura: LER OS OUTROS

21-05-2009
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Um livro cada domingo. Pode uma tese de doutoramento em literatura, com enfoque na construção da personagem romanesca, suscitar o interesse de leitores não especializados? Pode. Sobretudo se, fazendo fé em Arnaldo Saraiva, autor do prefácio, devermos a Cristina da Costa Vieira (n. 1973) o «mais extenso e denso estudo português» sobre o assunto. Dividido em cinco grandes áreas — linguística, retórica, narratologia, axiologia e semiologia contextual —, A Construção da Personagem Romanesca (Colibri) chegou às livrarias no fim do ano. Trata-se da versão revista, «e aumentada em alguns pontos», da tese de doutoramento que a autora apresentou e defendeu, em Dezembro de 2005, na Universidade da Beira Interior. O espectro do trabalho é muito amplo: vai de Cervantes a Tolkien, sem esquecer Ray Bradbury ou Margarida Rebelo Pinto (o extenso índice onomástico permite detectar algumas curiosas omissões). Creio que o público comum ganharia com uma exposição menos “tecnicista” de certos trechos. Seja como for, um trabalho de grande fôlego que pode ser lido ao sabor dos nossos autores de eleição.Sobre as eleições no PEN Clube, marcadas para 3 de Março, Maria Alzira Seixo divulgou o seu apoio à lista liderada por Rui Costa. No essencial, M.A.S. afirma: «A lista dos Corpos Gerentes que a direcção cessante apresenta, a concorrer com a nossa, e liderada por Teresa Salema [situa-se] numa continuidade de “linhagem” que não me parece adequada à instilação urgente, no PEN, de um sangue novo, para um novo vigor, de que a agremiação tanto necessita. Os seus projectos de mudança são sérios [mas] sancionam a “dinastia” até agora vigente, e de algum modo prolongam [...] o “mandarinato” que desde há décadas caracteriza o PEN. Até agora, e apenas em dois dias, posso por mim dar conta dos seguintes apoios recebidos: Eduardo Lourenço, Vasco Graça Moura, Helena Carvalhão Buescu, Carlos Mendes de Sousa e Fernando Pinto do Amaral.» Fica registado.Está disponível o site Guerra Colonial, cuja importância me dispenso de sublinhar. A despeito de variadas colaborações, suponho (mas isso não é claro a quem acede ao sítio) que seja da responsabilidade da Associação 25 de Abril. É assim que se faz a História.Henrique Fialho: «Uma cliente aponta para o mais recente número da revista LER e pergunta se pode levar. Respondo-lhe que sim, ao que ela pega num exemplar e guarda-o dentro da mala. São 5 euros, lembro-lhe. Ela pede-me desculpa, retira a revista e volta a colocá-la no expositor de onde a havia retirado. Julgava que era para oferta, diz-me. [...]»Paulo Gorjão: «Há semanas que se fala nos bastidores do PSD na possibilidade de Rui Rio assumir a liderança do partido sem eleições directas. Independentemente da oposição que pudesse existir a uma solução deste tipo, e não tenhamos dúvidas de que ela existiria e teria peso político, não acredito que Rui Rio aceitasse uma solução desta natureza. Precisamente porque tenho a certeza que não o faria — por razões de princípio e de circunstância — julgo que já deveria ter arranjado um pretexto para se pronunciar e para encerrar o assunto.»Pinho Cardão: «Francisco Louçã resolveu agora usar de parábolas para melhor difundir a sua mensagem aos crentes. [...] Não tocado ainda por tanta fé, não percebi bem em que é que o trabalho humano se assemelha ao trabalho reprodutor dos coelhos, pelo que não consegui atingir o profundo significado da parábola. E confesso que bem gostaria de ser iluminado pelo mestre para saber o valor que poderá resultar da colocação de dois trabalhadores numa caixa, embora de outras dimensões, claro, mas vazia de ferramentas, equipamentos e meios de produção. [...]»Tomás Vasques: «Na Convenção do BE confrontaram-se, hoje, a linha marxista-leninista e a linha trotskista. Os marxista-leninistas – a linha minoritária – defendem um entendimento pré-eleitoral com o PCP e que Manuel Alegre rompa com o PS, como condição para o apoio do BE a uma eventual candidatura presidencial. Aliás, no mesmo sentido, rejeitam o apoio a Helena Roseta para a Câmara de Lisboa, argumentando que nesse “peditório já deram”. Por sua vez, os trotskistas — a linha maioritária —, encabeçada por Louçã, aposta forte na estratégia do “entrismo”. [...] É aí que está a “mina de ouro” eleitoral do BE, já que, só por si, não chega lá. Louçã desdobra-se em declarações, intervenções e entrevistas explicando a sua estratégia: não exige a ruptura de Manuel Alegre com o PS para o apoiar nas presidenciais; está disponível para apoiar Helena Roseta e o movimento “cidadãos por Lisboa” à Câmara da capital; exibe Carvalho da Silva na abertura da Convenção e por aí fora. E não quer nada com o PCP porque Louçã sabe que se o PCP entrar lá se vai o domínio do BE na “ampla frente” anti-PS. As 3 eleições deste ano e as próximas presidenciais são muito importantes para o futuro do BE, mas mais importante ainda será o papel de Manuel Alegre, Helena Roseta e Carvalho da Silva nesta estratégia. A história é madrasta: os bolcheviques de ontem passaram a ser os mencheviques de hoje. Os bolcheviques estão, dentro do BE, em minoria. E estes sabem bem, o que os deve irritar ainda mais, que Trotsky era um social-democrata que aderiu aos bolcheviques às portas da revolução de Outubro. Pessoalmente, estou convencido que Louçã vai dar com os burrinhos na água, ou melhor, ele bem tenta fazer coelhinhos fora do BE, mas vão acabar por sair duas notas de 100 euros.»Vieira do Mar: «Nesta sociedade de informação em permanente mudança e mainãoseioquê, já nem os trolhas são como antigamente. Ontem, ao cruzar-me com um grupo de pessoal das obras que esperava o autocarro na paragem, um deles vira-se para outro, após cuidada observação da minha passante pessoa, e exclama: Ela tem um andar perfeito. “Um andar perfeito”?! “Um andar perfeito”?! É que, apesar da finesse da observação (e até da sua razoável pertinência), e de pela primeira vez não ter sido comparada a um produto comestível ou a um veículo com motor, não sei se ria se chore.» Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

Um livro cada domingo. Pode uma tese de doutoramento em literatura, com enfoque na construção da personagem romanesca, suscitar o interesse de leitores não especializados? Pode. Sobretudo se, fazendo fé em Arnaldo Saraiva, autor do prefácio, devermos a Cristina da Costa Vieira (n. 1973) o «mais extenso e denso estudo português» sobre o assunto. Dividido em cinco grandes áreas — linguística, retórica, narratologia, axiologia e semiologia contextual —, A Construção da Personagem Romanesca (Colibri) chegou às livrarias no fim do ano. Trata-se da versão revista, «e aumentada em alguns pontos», da tese de doutoramento que a autora apresentou e defendeu, em Dezembro de 2005, na Universidade da Beira Interior. O espectro do trabalho é muito amplo: vai de Cervantes a Tolkien, sem esquecer Ray Bradbury ou Margarida Rebelo Pinto (o extenso índice onomástico permite detectar algumas curiosas omissões). Creio que o público comum ganharia com uma exposição menos “tecnicista” de certos trechos. Seja como for, um trabalho de grande fôlego que pode ser lido ao sabor dos nossos autores de eleição.Sobre as eleições no PEN Clube, marcadas para 3 de Março, Maria Alzira Seixo divulgou o seu apoio à lista liderada por Rui Costa. No essencial, M.A.S. afirma: «A lista dos Corpos Gerentes que a direcção cessante apresenta, a concorrer com a nossa, e liderada por Teresa Salema [situa-se] numa continuidade de “linhagem” que não me parece adequada à instilação urgente, no PEN, de um sangue novo, para um novo vigor, de que a agremiação tanto necessita. Os seus projectos de mudança são sérios [mas] sancionam a “dinastia” até agora vigente, e de algum modo prolongam [...] o “mandarinato” que desde há décadas caracteriza o PEN. Até agora, e apenas em dois dias, posso por mim dar conta dos seguintes apoios recebidos: Eduardo Lourenço, Vasco Graça Moura, Helena Carvalhão Buescu, Carlos Mendes de Sousa e Fernando Pinto do Amaral.» Fica registado.Está disponível o site Guerra Colonial, cuja importância me dispenso de sublinhar. A despeito de variadas colaborações, suponho (mas isso não é claro a quem acede ao sítio) que seja da responsabilidade da Associação 25 de Abril. É assim que se faz a História.Henrique Fialho: «Uma cliente aponta para o mais recente número da revista LER e pergunta se pode levar. Respondo-lhe que sim, ao que ela pega num exemplar e guarda-o dentro da mala. São 5 euros, lembro-lhe. Ela pede-me desculpa, retira a revista e volta a colocá-la no expositor de onde a havia retirado. Julgava que era para oferta, diz-me. [...]»Paulo Gorjão: «Há semanas que se fala nos bastidores do PSD na possibilidade de Rui Rio assumir a liderança do partido sem eleições directas. Independentemente da oposição que pudesse existir a uma solução deste tipo, e não tenhamos dúvidas de que ela existiria e teria peso político, não acredito que Rui Rio aceitasse uma solução desta natureza. Precisamente porque tenho a certeza que não o faria — por razões de princípio e de circunstância — julgo que já deveria ter arranjado um pretexto para se pronunciar e para encerrar o assunto.»Pinho Cardão: «Francisco Louçã resolveu agora usar de parábolas para melhor difundir a sua mensagem aos crentes. [...] Não tocado ainda por tanta fé, não percebi bem em que é que o trabalho humano se assemelha ao trabalho reprodutor dos coelhos, pelo que não consegui atingir o profundo significado da parábola. E confesso que bem gostaria de ser iluminado pelo mestre para saber o valor que poderá resultar da colocação de dois trabalhadores numa caixa, embora de outras dimensões, claro, mas vazia de ferramentas, equipamentos e meios de produção. [...]»Tomás Vasques: «Na Convenção do BE confrontaram-se, hoje, a linha marxista-leninista e a linha trotskista. Os marxista-leninistas – a linha minoritária – defendem um entendimento pré-eleitoral com o PCP e que Manuel Alegre rompa com o PS, como condição para o apoio do BE a uma eventual candidatura presidencial. Aliás, no mesmo sentido, rejeitam o apoio a Helena Roseta para a Câmara de Lisboa, argumentando que nesse “peditório já deram”. Por sua vez, os trotskistas — a linha maioritária —, encabeçada por Louçã, aposta forte na estratégia do “entrismo”. [...] É aí que está a “mina de ouro” eleitoral do BE, já que, só por si, não chega lá. Louçã desdobra-se em declarações, intervenções e entrevistas explicando a sua estratégia: não exige a ruptura de Manuel Alegre com o PS para o apoiar nas presidenciais; está disponível para apoiar Helena Roseta e o movimento “cidadãos por Lisboa” à Câmara da capital; exibe Carvalho da Silva na abertura da Convenção e por aí fora. E não quer nada com o PCP porque Louçã sabe que se o PCP entrar lá se vai o domínio do BE na “ampla frente” anti-PS. As 3 eleições deste ano e as próximas presidenciais são muito importantes para o futuro do BE, mas mais importante ainda será o papel de Manuel Alegre, Helena Roseta e Carvalho da Silva nesta estratégia. A história é madrasta: os bolcheviques de ontem passaram a ser os mencheviques de hoje. Os bolcheviques estão, dentro do BE, em minoria. E estes sabem bem, o que os deve irritar ainda mais, que Trotsky era um social-democrata que aderiu aos bolcheviques às portas da revolução de Outubro. Pessoalmente, estou convencido que Louçã vai dar com os burrinhos na água, ou melhor, ele bem tenta fazer coelhinhos fora do BE, mas vão acabar por sair duas notas de 100 euros.»Vieira do Mar: «Nesta sociedade de informação em permanente mudança e mainãoseioquê, já nem os trolhas são como antigamente. Ontem, ao cruzar-me com um grupo de pessoal das obras que esperava o autocarro na paragem, um deles vira-se para outro, após cuidada observação da minha passante pessoa, e exclama: Ela tem um andar perfeito. “Um andar perfeito”?! “Um andar perfeito”?! É que, apesar da finesse da observação (e até da sua razoável pertinência), e de pela primeira vez não ter sido comparada a um produto comestível ou a um veículo com motor, não sei se ria se chore.» Etiquetas: Blogues, Nota de leitura

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