Francisco Louçã insiste em falar na “verdade”. “O partido da verdade”, “falar verdade aos portugueses”, “a política da verdade”. Contra, obviamente, a “política da mentira” e “os mentirosos” – que é toda a ralé que não se revê no partido “da verdade”. Alguém escreveu, há uns tempos, que não há política sem demagogia. Totalmente de acordo. A mensagem política encerra, em si, elementos que concorrem para o seu exercício. Um discurso político vazio de demagogia corre o risco de se tornar hermético, tecnocrata, insípido, uma maçada. Churchill utilizou-a (lembrem-se do emotivo “Blood, Toil, Tears & Sweat”). De Gaulle aussi. Kennedy also. Quando José Manuel Durão Barroso – Mr Barroso na Europa – afirmava, há uns anos atrás em campanha, que o seu governo não iria construir um novo aeroporto porque era sua intenção canalizar o dinheiro para a Saúde, estava descaradamente a pisar o campo da demagogia (os «dinheiros» não se «transferem» assim). Mas a maioria dos portugueses percebeu a mensagem: as prioridades de Barroso seriam outras, que não as obras públicas (se cumpriria, ou não, essa ordem de prioridades, seria questão a avaliar em momento oportuno). Não há volta a dar: a demagogia faz parte do discurso político contemporâneo. Facto, até certo grau, tolerável e, horror dos horrores, necessário. Tanto mais que o seu exercício encaixa que nem uma luva na «orgânica» das sociedades hiper-mediatizadas. São elementos indissociáveis, que se alimentam reciprocamente. Onde está, então, o limite? Observem o Dr. Louçã. A postura do Dr. Louçã é um hino à demagogia. Louçã faz questão de ultrapassar todos os limites vezes sem conta (até os do «bom senso», caro Miguel). A grave encadernação freirática com que Louçã envolve o fraseado moralista que sai da sua boca em tom doutoral, é a prova de que há limites e que esses limites estão a ser violentados. Louçã acusa os outros de mentir e de usar a demagogia, mas, na realidade, faz bem pior. A forma como enche a boca de vocábulos mortais e definitivos, em pose casta e moralista de homem desinfectado, santificado e abençoado sabe-se lá por quem, permite-nos verificar como a demagogia pode ser ofensiva de petulante, insolente e moralista. Repare-se num ponto: Louçã ainda não explicou, uma única vez, de que forma financiaria o seu Estado Socialista. Em boa verdade, Louçã ainda não explicou nada. Subiria os impostos? Quais? Cortaria na Despesa? Como? Estimularia a economia? Como? Quando? Resolveria o problema do fundo de pensões? De que forma? Caso concreto: há três dias atrás, Louçã exclamava, em tom tenebroso, que o Bloco de Esquerda não permitirá a deslocação de empresas para o estrangeiro. Como? Colocando barreiras policiais à porta das ditas? Detendo domiciliariamente os donos do capital? Fechando as fronteiras? Em que mundo vive o Dr. Louçã? É esta a sua Verdade? E se, quando falasse em “Verdade”, fosse dar banho ao cão?
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Francisco Louçã insiste em falar na “verdade”. “O partido da verdade”, “falar verdade aos portugueses”, “a política da verdade”. Contra, obviamente, a “política da mentira” e “os mentirosos” – que é toda a ralé que não se revê no partido “da verdade”. Alguém escreveu, há uns tempos, que não há política sem demagogia. Totalmente de acordo. A mensagem política encerra, em si, elementos que concorrem para o seu exercício. Um discurso político vazio de demagogia corre o risco de se tornar hermético, tecnocrata, insípido, uma maçada. Churchill utilizou-a (lembrem-se do emotivo “Blood, Toil, Tears & Sweat”). De Gaulle aussi. Kennedy also. Quando José Manuel Durão Barroso – Mr Barroso na Europa – afirmava, há uns anos atrás em campanha, que o seu governo não iria construir um novo aeroporto porque era sua intenção canalizar o dinheiro para a Saúde, estava descaradamente a pisar o campo da demagogia (os «dinheiros» não se «transferem» assim). Mas a maioria dos portugueses percebeu a mensagem: as prioridades de Barroso seriam outras, que não as obras públicas (se cumpriria, ou não, essa ordem de prioridades, seria questão a avaliar em momento oportuno). Não há volta a dar: a demagogia faz parte do discurso político contemporâneo. Facto, até certo grau, tolerável e, horror dos horrores, necessário. Tanto mais que o seu exercício encaixa que nem uma luva na «orgânica» das sociedades hiper-mediatizadas. São elementos indissociáveis, que se alimentam reciprocamente. Onde está, então, o limite? Observem o Dr. Louçã. A postura do Dr. Louçã é um hino à demagogia. Louçã faz questão de ultrapassar todos os limites vezes sem conta (até os do «bom senso», caro Miguel). A grave encadernação freirática com que Louçã envolve o fraseado moralista que sai da sua boca em tom doutoral, é a prova de que há limites e que esses limites estão a ser violentados. Louçã acusa os outros de mentir e de usar a demagogia, mas, na realidade, faz bem pior. A forma como enche a boca de vocábulos mortais e definitivos, em pose casta e moralista de homem desinfectado, santificado e abençoado sabe-se lá por quem, permite-nos verificar como a demagogia pode ser ofensiva de petulante, insolente e moralista. Repare-se num ponto: Louçã ainda não explicou, uma única vez, de que forma financiaria o seu Estado Socialista. Em boa verdade, Louçã ainda não explicou nada. Subiria os impostos? Quais? Cortaria na Despesa? Como? Estimularia a economia? Como? Quando? Resolveria o problema do fundo de pensões? De que forma? Caso concreto: há três dias atrás, Louçã exclamava, em tom tenebroso, que o Bloco de Esquerda não permitirá a deslocação de empresas para o estrangeiro. Como? Colocando barreiras policiais à porta das ditas? Detendo domiciliariamente os donos do capital? Fechando as fronteiras? Em que mundo vive o Dr. Louçã? É esta a sua Verdade? E se, quando falasse em “Verdade”, fosse dar banho ao cão?