NonioBlog: Louçã não esclarece, reafirma!

24-05-2005
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Quando hoje comecei a ler a crónica de Francisco Louçã no Público, deparei com um esclarecimento.Pensei. Lá vai o homem desculpar-se das barbaridades totalitárias, cujo cheirinho a União Soviética ou mesmo ao mais duro dos comunismos chineses são indisfarçáveis, que disse no debate frente a Paulo Portas e que tive apenas oportunidade de ver e ler em resumo (não vi o debate).Embora tenha recebido da área esquerdista da esquerda algumas “desculpas” baseadas na falta de contexto em que as frases teriam sido transcritas, a verdade é que ninguém ainda conseguiu contextualizar… Assim, pensei, “finalmente o próprio Louçã vai dizer-me qual foi o tal contexto ou, na melhor das hipóteses, vai pedir desculpa por ter dito o que, nem no mais dramático contexto faz sentido".Só que, nem uma coisa nem outra.Louçã, que começa retoricamente por dizer que "as críticas são bem vindas", acaba a dizer em seis parágrafos aquilo que disse no debate em duas ou três frases.Para que não se “descontextualize”, fica aqui o link para o texto por inteiro, que o Público faz o favor de publicar ao senhor, em jeito de “tempo de antena”, mas não resisto a citar uma das suas tiaradas.“A criação da vida é uma responsabilidade e experiência inteiramente pessoal. Ninguém, e provavelmente ainda menos quem a vive, pode tolerar ser tratado com este desprezo infinito da acusação de homicídio pela sua opinião sobre uma lei.”Esta afirmação parece-me a mim por outras palavras, mais ou menos o que disse no debate, para pior, pois afirma de forma taxativa que o tal “criador de vida”, o tal Louçã que “sabe o que é um sorriso de uma criança”, por sabê-lo – ele mais do que quem nunca soube o que é gerar vida – tem até direito a acabar com esse sorriso. A sua sapiência, a sua experiência de vida, altíssima por ter sido pai, confere-lhe o direito de entender, mais do que os outros, se a Lei deve ou não punir, se a Lei deve ou não condenar, por se terminar com esse tipo de sorriso.É assim como dizer que quem não tem carro não tem o direito de legislar sobre o furto de automóveis. “Você nunca conduziu, por isso não se meta no assunto. Muito menos no código da estrada. Se há quem morra nos acidentes de trânsito, isso é um problema exclusivo dos que conduzem e andam de carro, que assim têm mais opinião sobre o assunto e podem decidir sobre as mortes na estada e a sua punição”.A este tipo de argumentação poderia corresponder uma coisa do género: “pois, como o senhor nunca soube o que é governar e nem sequer foi alguma vez Ministro, esteja calado sobre a governação do país e não dê sequer a sua opinião. E como é advogado e não economista, o melhor é mesmo nem falar do deficit porque você não percebe nada disso nem tem o direito de abrir a boca”.Esta visão esquizofrénica, proveniente de uma cultura de egoísmo, viciada num discurso retórico “tribunalesco”, como se das alegações finais perante um Júri despistado se tratasse, está expressa na famosa frase do debate, mas está também contida neste “esclarecimento” de Louçã que assim, contraria os que por este blog passaram, desculpando-o e afirmando que teria sido uma “frase infeliz”. De facto, não o foi. De facto, não alega Louçã que o tenha sido. De facto, Louçã só não é mais perigoso porque nunca será poder em Portugal.Felizmente, a política do “cada um sabe de si” não colhe a simpatia dos portugueses. Claro que esse não é um modelo de sociedade liberal, avançado e civilizado. Penso até, que nem de esquerda é. É apenas uma confusão do senhor Louçã, mero sucedâneo de necessidades eleitoralistas primárias que se cruzam com anarquias perdidas pela história há mais de 30 anos a que, tristemente, os nossos media vão dando uma importância exagerada.É claro que ainda poderia confrontar aqui a contradição de quem se diz contra "modelos de família" e, simulataneamente, ostracisa alguém de um debate político por nunca ter sido pai, mas já não tenho paciência...


Quando hoje comecei a ler a crónica de Francisco Louçã no Público, deparei com um esclarecimento.Pensei. Lá vai o homem desculpar-se das barbaridades totalitárias, cujo cheirinho a União Soviética ou mesmo ao mais duro dos comunismos chineses são indisfarçáveis, que disse no debate frente a Paulo Portas e que tive apenas oportunidade de ver e ler em resumo (não vi o debate).Embora tenha recebido da área esquerdista da esquerda algumas “desculpas” baseadas na falta de contexto em que as frases teriam sido transcritas, a verdade é que ninguém ainda conseguiu contextualizar… Assim, pensei, “finalmente o próprio Louçã vai dizer-me qual foi o tal contexto ou, na melhor das hipóteses, vai pedir desculpa por ter dito o que, nem no mais dramático contexto faz sentido".Só que, nem uma coisa nem outra.Louçã, que começa retoricamente por dizer que "as críticas são bem vindas", acaba a dizer em seis parágrafos aquilo que disse no debate em duas ou três frases.Para que não se “descontextualize”, fica aqui o link para o texto por inteiro, que o Público faz o favor de publicar ao senhor, em jeito de “tempo de antena”, mas não resisto a citar uma das suas tiaradas.“A criação da vida é uma responsabilidade e experiência inteiramente pessoal. Ninguém, e provavelmente ainda menos quem a vive, pode tolerar ser tratado com este desprezo infinito da acusação de homicídio pela sua opinião sobre uma lei.”Esta afirmação parece-me a mim por outras palavras, mais ou menos o que disse no debate, para pior, pois afirma de forma taxativa que o tal “criador de vida”, o tal Louçã que “sabe o que é um sorriso de uma criança”, por sabê-lo – ele mais do que quem nunca soube o que é gerar vida – tem até direito a acabar com esse sorriso. A sua sapiência, a sua experiência de vida, altíssima por ter sido pai, confere-lhe o direito de entender, mais do que os outros, se a Lei deve ou não punir, se a Lei deve ou não condenar, por se terminar com esse tipo de sorriso.É assim como dizer que quem não tem carro não tem o direito de legislar sobre o furto de automóveis. “Você nunca conduziu, por isso não se meta no assunto. Muito menos no código da estrada. Se há quem morra nos acidentes de trânsito, isso é um problema exclusivo dos que conduzem e andam de carro, que assim têm mais opinião sobre o assunto e podem decidir sobre as mortes na estada e a sua punição”.A este tipo de argumentação poderia corresponder uma coisa do género: “pois, como o senhor nunca soube o que é governar e nem sequer foi alguma vez Ministro, esteja calado sobre a governação do país e não dê sequer a sua opinião. E como é advogado e não economista, o melhor é mesmo nem falar do deficit porque você não percebe nada disso nem tem o direito de abrir a boca”.Esta visão esquizofrénica, proveniente de uma cultura de egoísmo, viciada num discurso retórico “tribunalesco”, como se das alegações finais perante um Júri despistado se tratasse, está expressa na famosa frase do debate, mas está também contida neste “esclarecimento” de Louçã que assim, contraria os que por este blog passaram, desculpando-o e afirmando que teria sido uma “frase infeliz”. De facto, não o foi. De facto, não alega Louçã que o tenha sido. De facto, Louçã só não é mais perigoso porque nunca será poder em Portugal.Felizmente, a política do “cada um sabe de si” não colhe a simpatia dos portugueses. Claro que esse não é um modelo de sociedade liberal, avançado e civilizado. Penso até, que nem de esquerda é. É apenas uma confusão do senhor Louçã, mero sucedâneo de necessidades eleitoralistas primárias que se cruzam com anarquias perdidas pela história há mais de 30 anos a que, tristemente, os nossos media vão dando uma importância exagerada.É claro que ainda poderia confrontar aqui a contradição de quem se diz contra "modelos de família" e, simulataneamente, ostracisa alguém de um debate político por nunca ter sido pai, mas já não tenho paciência...

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