Indonésia: «Suharto foi pressionado para invadir Timor-Leste»

28-01-2008
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Internacional

Indonésia: «Suharto foi pressionado para invadir Timor-Leste» - embaixador indonésio Lopes da Cruz

Lisboa, 27 Jan (Lusa) - O antigo Presidente indonésio, Suharto, foi pressionado a invadir Timor-Leste em 1975, afirma o embaixador da Indonésia em Portugal, Francisco Lopes da Cruz.

"Em 1975, quando os americanos (ex-Presidente Gerald) Ford e (o ex-secretário de Estado, Henry) Kissinger estiveram com ele e tomaram uma atitude sobre Timor, ele era contra", salientou Lopes da Cruz à Lusa, num comentário sobre o antigo chefe de Estado indonésio, que morreu hoje em Jacarta, em consequência de complicações cardíacas.

Suharto considerava que o fim do regime marcelista em Portugal, em 25 de Abril de 1974, "ditava uma nova fase nas relações entre Lisboa e Jacarta".

Contudo, o "abandono do território (por parte de Portugal) e o risco de se espalhar o marxismo-leninismo na região levam-me a acreditar que foram pressões externas que levaram a Indonésia a entrar em Timor", disse Lopes da Cruz à Lusa, escusando-se, todavia, a dar mais detalhes sobre a posição do antigo chefe de Estado indonésio, que ao dar "luz verde" à invasão deu início a uma trágica ocupação de Timor-Leste ao longo de 24 anos.

"Dele recordo memórias positivas. As melhores memórias. Era uma pessoa muito calma, com quem aprendi muito", referiu.

O embaixador Francisco Lopes da Cruz nasceu em Maubara, a oeste de Díli, e em 1974, com o fim do regime colonial português, fundou com outros a União Democrática Timorense (UDT).

Defendeu sempre a integração do território na Indonésia, país que viria a escolher para viver e cuja nacionalidade adoptou.

Lopes da Cruz começou a trabalhar com Suharto e com os quatro presidentes que lhe sucederam, tendo sido conselheiro especial do ex-chefe de Estado para Timor-Leste, que mais tarde o nomearia embaixador itinerante e, entre 2000 e 2003, embaixador na Grécia.

"Creio que Suharto ficará na história, embora a imprensa mundial lhe chame ditador, mas confesso que dele guardo as melhores memórias. Falam dele como um ditador, mas um ditador resiste até ao último momento, e ele, quando viu que o movimento de reforma e a democracia eram imparáveis na Indonésia e poderia haver uma guerra civil, resignou", salientou.

Quando Suharto abandonou o poder, transmitindo-o ao seu vice-presidente, Yussuf Habibie, em 1998, Lopes da Cruz visitou-o, acompanhado da família.

"Quando ele resignou fui falar com ele. Levei comigo a minha mulher e as minhas quatro filhas. Já não era o homem que parecia um Deus, rodeado de todos os que o aplaudiam. Deixaram-no de lado", frisou.

"Disse-lhe que se ele resignava, também queria resignar do cargo de embaixador itinerante, e ele respondeu-me que não, que eu não devia resignar e que devia era ir falar com o novo Presidente, Habibie", acrescentou.

Para Francisco Lopes da Cruz, Suharto "deixou obra em Timor".

"Ele construiu a catedral de Díli, o monumento ao Cristo-Rei e apesar de toda aquela governação formou mais de 2 mil timorenses, quase todos da oposição, da FRETILIN", vincou.

"Foi um dirigente que deu um contributo muito grande à nação indonésia.

Lopes da Cruz voltou a falar com Suharto antes de viajar para Lisboa, em 2005, para assumir o cargo de embaixador.

"Falámos um pouco de Timor. Ele estava resignado com a situação. Disse-me que foi a vontade do povo. Se o povo escolheu...", recordou Lopes da Cruz, referindo-se à aceitação resignada de Suharto do resultado do referendo de 1999, que ditou o fim da ocupação e a consequente independência de Timor-Leste, que seria reconhecida internacionalmente em 20 de Maio de 2002.

Suharto, nascido a 08 de Junho de 1921, em Kemusuk Argamulja, perto de Yogiakarta, no centro da ilha de Java, subiu ao poder em 1967, em resultado do golpe militar orquestrado pela CIA a 30 de Setembro de 1965, de que resultou o massacre de entre 500 mil e 2 milhões de pessoas, a maioria do Partido Comunista Indonésio.

EL.

Lusa/Fim

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Indonésia: «Suharto foi pressionado para invadir Timor-Leste» - embaixador indonésio Lopes da Cruz

Lisboa, 27 Jan (Lusa) - O antigo Presidente indonésio, Suharto, foi pressionado a invadir Timor-Leste em 1975, afirma o embaixador da Indonésia em Portugal, Francisco Lopes da Cruz.

"Em 1975, quando os americanos (ex-Presidente Gerald) Ford e (o ex-secretário de Estado, Henry) Kissinger estiveram com ele e tomaram uma atitude sobre Timor, ele era contra", salientou Lopes da Cruz à Lusa, num comentário sobre o antigo chefe de Estado indonésio, que morreu hoje em Jacarta, em consequência de complicações cardíacas.

Suharto considerava que o fim do regime marcelista em Portugal, em 25 de Abril de 1974, "ditava uma nova fase nas relações entre Lisboa e Jacarta".

Contudo, o "abandono do território (por parte de Portugal) e o risco de se espalhar o marxismo-leninismo na região levam-me a acreditar que foram pressões externas que levaram a Indonésia a entrar em Timor", disse Lopes da Cruz à Lusa, escusando-se, todavia, a dar mais detalhes sobre a posição do antigo chefe de Estado indonésio, que ao dar "luz verde" à invasão deu início a uma trágica ocupação de Timor-Leste ao longo de 24 anos.

"Dele recordo memórias positivas. As melhores memórias. Era uma pessoa muito calma, com quem aprendi muito", referiu.

O embaixador Francisco Lopes da Cruz nasceu em Maubara, a oeste de Díli, e em 1974, com o fim do regime colonial português, fundou com outros a União Democrática Timorense (UDT).

Defendeu sempre a integração do território na Indonésia, país que viria a escolher para viver e cuja nacionalidade adoptou.

Lopes da Cruz começou a trabalhar com Suharto e com os quatro presidentes que lhe sucederam, tendo sido conselheiro especial do ex-chefe de Estado para Timor-Leste, que mais tarde o nomearia embaixador itinerante e, entre 2000 e 2003, embaixador na Grécia.

"Creio que Suharto ficará na história, embora a imprensa mundial lhe chame ditador, mas confesso que dele guardo as melhores memórias. Falam dele como um ditador, mas um ditador resiste até ao último momento, e ele, quando viu que o movimento de reforma e a democracia eram imparáveis na Indonésia e poderia haver uma guerra civil, resignou", salientou.

Quando Suharto abandonou o poder, transmitindo-o ao seu vice-presidente, Yussuf Habibie, em 1998, Lopes da Cruz visitou-o, acompanhado da família.

"Quando ele resignou fui falar com ele. Levei comigo a minha mulher e as minhas quatro filhas. Já não era o homem que parecia um Deus, rodeado de todos os que o aplaudiam. Deixaram-no de lado", frisou.

"Disse-lhe que se ele resignava, também queria resignar do cargo de embaixador itinerante, e ele respondeu-me que não, que eu não devia resignar e que devia era ir falar com o novo Presidente, Habibie", acrescentou.

Para Francisco Lopes da Cruz, Suharto "deixou obra em Timor".

"Ele construiu a catedral de Díli, o monumento ao Cristo-Rei e apesar de toda aquela governação formou mais de 2 mil timorenses, quase todos da oposição, da FRETILIN", vincou.

"Foi um dirigente que deu um contributo muito grande à nação indonésia.

Lopes da Cruz voltou a falar com Suharto antes de viajar para Lisboa, em 2005, para assumir o cargo de embaixador.

"Falámos um pouco de Timor. Ele estava resignado com a situação. Disse-me que foi a vontade do povo. Se o povo escolheu...", recordou Lopes da Cruz, referindo-se à aceitação resignada de Suharto do resultado do referendo de 1999, que ditou o fim da ocupação e a consequente independência de Timor-Leste, que seria reconhecida internacionalmente em 20 de Maio de 2002.

Suharto, nascido a 08 de Junho de 1921, em Kemusuk Argamulja, perto de Yogiakarta, no centro da ilha de Java, subiu ao poder em 1967, em resultado do golpe militar orquestrado pela CIA a 30 de Setembro de 1965, de que resultou o massacre de entre 500 mil e 2 milhões de pessoas, a maioria do Partido Comunista Indonésio.

EL.

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