PONTE EUROPA: Cavaco – O prefácio infeliz e ressentido

23-05-2009
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Entende-se agora melhor que um estadista da grandeza moral e dimensão intelectual de António Guterres sentisse a necessidade de dar um sinal forte dos riscos que o seu país corria, renunciando ao lugar de primeiro-ministro para que houvesse um sobressalto cívico que evitasse o pântano quando a coligação negativa da AR boicotava sistematicamente a sua governação.Ninguém mais, depois dele, será capaz de cumprir uma legislatura sem maioria nem de guardar silêncio sobre as patifarias de que foi alvo. Saiu na altura devida, esgotados os esforços para conseguir uma maioria estável, quando Portugal tinha um Presidente da República que era também uma referência da democracia, da ética e da cultura.Não entendeu o País a nobreza do gesto de Guterres e o desapego ao poder, e o campo ficou livre para os contrabandistas. Durão Barroso chegou a primeiro-ministro sobre o cadáver político de Ferro Rodrigues, assassinado por crápulas capazes de violarem o segredo de justiça , de cometerem erros grosseiros e de conspirarem.E, assim, chegámos ao pântano actual, com dirigentes sindicais dos juízes a atacarem as leis e a desafiarem o Governo, com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público a mostrar fortes sinais de politização e apetite pela intervenção política, com o Presidente da República a desafiar a Assembleia da República e a fazer oposição ao Governo.O recém-eleito presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sem a inteligência, a legitimidade e a elegância de Carvalho da Silva, fez ameaças com o caso Freeport, afirmando que há magistrados que se deixam intimidar e que ele próprio, quando o entendesse, as revelaria.Na ditadura era obrigatório dizer bem do Governo ilegítimo. Agora, em democracia, é forçoso dizer mal do Governo legítimo.Só faltava, nesta desgraça que nos corrói, que o PR a quem faltou ponderação e sensatez para suscitar a inconstitucionalidade de alguns artigos do Estatuto dos Açores, assunto em que tinha razão, para afrontar politicamente a Assembleia da República, ficasse ressentido com o isolamento e a derrota política que averbou.A vingança não é apanágio das grandes almas, é a marca de espírito de quem carece de compreensão, cultura e sensibilidade para respeitar os outros órgãos, sobretudo quando não é inferior à sua a legitimidade de que estão investidos.O PR que entregou um prefácio medíocre de um livro de discursos, ao Expresso desta semana, é um político ressentido e vingativo que, desesperado com a oposição dos seus correligionários, se prepara para os liderar. Quando a razão lhe assiste, como no caso do Estatuto dos Açores, perde-a pela forma desastrada que usa. Quando lhe falta a razão, como no diploma da comunicação social, serve-se da forma para errar a decisão.Podia ter aguardado o fim do mandato, tentar acabá-lo com dignidade, não embarcar na luta partidária e lembrar-se da experiência de Eanes com o PRD.Adenda - O prefácio está publicado no Expresso (sítio indisponível).

Entende-se agora melhor que um estadista da grandeza moral e dimensão intelectual de António Guterres sentisse a necessidade de dar um sinal forte dos riscos que o seu país corria, renunciando ao lugar de primeiro-ministro para que houvesse um sobressalto cívico que evitasse o pântano quando a coligação negativa da AR boicotava sistematicamente a sua governação.Ninguém mais, depois dele, será capaz de cumprir uma legislatura sem maioria nem de guardar silêncio sobre as patifarias de que foi alvo. Saiu na altura devida, esgotados os esforços para conseguir uma maioria estável, quando Portugal tinha um Presidente da República que era também uma referência da democracia, da ética e da cultura.Não entendeu o País a nobreza do gesto de Guterres e o desapego ao poder, e o campo ficou livre para os contrabandistas. Durão Barroso chegou a primeiro-ministro sobre o cadáver político de Ferro Rodrigues, assassinado por crápulas capazes de violarem o segredo de justiça , de cometerem erros grosseiros e de conspirarem.E, assim, chegámos ao pântano actual, com dirigentes sindicais dos juízes a atacarem as leis e a desafiarem o Governo, com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público a mostrar fortes sinais de politização e apetite pela intervenção política, com o Presidente da República a desafiar a Assembleia da República e a fazer oposição ao Governo.O recém-eleito presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sem a inteligência, a legitimidade e a elegância de Carvalho da Silva, fez ameaças com o caso Freeport, afirmando que há magistrados que se deixam intimidar e que ele próprio, quando o entendesse, as revelaria.Na ditadura era obrigatório dizer bem do Governo ilegítimo. Agora, em democracia, é forçoso dizer mal do Governo legítimo.Só faltava, nesta desgraça que nos corrói, que o PR a quem faltou ponderação e sensatez para suscitar a inconstitucionalidade de alguns artigos do Estatuto dos Açores, assunto em que tinha razão, para afrontar politicamente a Assembleia da República, ficasse ressentido com o isolamento e a derrota política que averbou.A vingança não é apanágio das grandes almas, é a marca de espírito de quem carece de compreensão, cultura e sensibilidade para respeitar os outros órgãos, sobretudo quando não é inferior à sua a legitimidade de que estão investidos.O PR que entregou um prefácio medíocre de um livro de discursos, ao Expresso desta semana, é um político ressentido e vingativo que, desesperado com a oposição dos seus correligionários, se prepara para os liderar. Quando a razão lhe assiste, como no caso do Estatuto dos Açores, perde-a pela forma desastrada que usa. Quando lhe falta a razão, como no diploma da comunicação social, serve-se da forma para errar a decisão.Podia ter aguardado o fim do mandato, tentar acabá-lo com dignidade, não embarcar na luta partidária e lembrar-se da experiência de Eanes com o PRD.Adenda - O prefácio está publicado no Expresso (sítio indisponível).

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